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quarta-feira, 27 de março de 2019

Caindo do cavalo, levantando de novo, um frango, um croquete, uma torta de maçã, um funcho e sei lá o que mais

Passeando sobre o lago congelado. Tão congelado, que fiz até anjinho de neve, bem no meio dele, deitadona olhando pra cima, a uns 30 metros de distância da beirada.
Gnocchi se diverte horrores no inverno. Mas estou feliz que é Primavera de novo.

 Fevereiro e Março foram meses estranhos. Cansaço generalizado do inverno que nunca tem fim, com direito a palavrões e bufadas a cada abrir de janela de manhã, revelando uma nova nevasca. Chega! Chega de neve! Chega de gelo na calçada! Chega de slush, neve suja, derretida, tornando a rua (e o parque) um pântano! Vejo fotos da Europa primaveril com verde e flores e casacos leves, e a carranca de todo mundo aqui aumenta. Nos poucos dias que surgem com temperaturas positivas, 4 graus, 8 graus, saímos sem gorro e sem luvas, casaco aberto, e Laura diz contente: "parece Verão, mamãe!" Seres humanos se apinham sob os raios de sol, esquentando o rosto e fingindo que o Inverno acabou.

Depois de passar os últimos dois meses resolvendo um momento bastante turbulento relativo a trabalho, a família parece ter voltado à rotina no mesmo momento em que a última (espero) neve se foi e os primeiros pássaros retornam à cidade. A Primavera chegou enfim, ainda que apenas no calendário.

Foram dois meses de bastante... economia. De colocar à prova aquilo que havia tempos eu exercitava pelo mero prazer criativo: gastar pouco e fazer refeições renderem, coisa que nesses meses precisei fazer por necessidade e não escolha. Abri mão de muitos itens orgânicos em detrimento dos comuns, evitei repor qualquer item que não fosse absolutamente necessário (como tahini, ou azeitonas, por exemplo), e eliminei completamente as carnes, que são o elemento mais caro de qualquer cardápio. Baseando nossos pratos no bom e velho arroz e feijão, no entanto, que comprados em sacos grandes saem muito baratos, e evitando preparar sobremesas, mantive a família toda maravilhosamente bem alimentada e dentro do budget emergencial.

Arroz integral, feijão preto, abóbora assada e espinafre refogado. Uma combinação deliciosa, que fez Laura começar a gostar de abóbora E de espinafre.
Em tempo, porque acho que nunca mencionei isso antes: eu nunca refogo o feijão com bacon; o que uso para trazer defumado e complexidade é um pouco de sementes de cominho, refogadas junto com a cebola e o alho, e, recentemente, uma polvilhada de páprica picante. Logo antes de servir, tempero com uma colher de vinagre (cuja acidez aviva o sabor do feijão) e misturo a salsinha ou coentro picado, se houver.

Essa mistura de arroz integral, feijão preto, espinafre refogado com cebola e manteiga e abóbora assada (com casca ou sem, fatiada, temperada com azeite, sal, pimenta, dentes de alho e folhas de sálvia ou alecrim, e levada ao forno médio até dourar dos dois lados) virou uma de minhas favoritas de todos os tempos, e já preparei de novo umas quatro vezes desde a primeira. Allex continua torcendo o nariz para a abóbora, mas come na frente das crianças, que dão um show e raspam o prato com gosto. "Não precisa gostar, papai", diz Laura. "Só precisa experimentar."

Em momentos como esse, foi muito bom já ter no automático o hábito de comprar as frutas e verduras da promoção e de saber reaproveitar as sobras.

A foto é feia mas o sabor é muito bom.

A couve-flor, que estava baratíssima e foi cortada, temperada com sal, azeite, pimenta-do-reino e espalhada numa assadeira, para ir ao forno a 180oC e cozinhar e dourar até chamuscar as pontinhas (uns dez, quinze minutos?) Dourada, misturei  a cebolas fatiadas bem fininhas, que eu deixara marinando em vinagre e sal, e cuja marinada entrou também como tempero dessa salada quente. Eu tinha coentro, então ele entrou na dança, mas poderia ter sido salsinha. Se tivesse azeitonas pretas, teriam ficado deliciosas ali.

Num dia, essa salada quente de couve-flor acompanhou o arroz e feijão. No outro, foi jogada crua e temperada com sal e azeite sobre a massa da pizza com molho de tomates e levada para assar. No meio do cozimento acrescentei o queijo e as azeitonas pretas (que tinha poucas e escolhera não usar na salada, para complementarem a pizza), e enquanto o queijo derretia, elas terminaram de chamuscar e amaciar. Adoro pizza de couve-flor! (E às vezes substituo metade da farinha branca da pizza por integral, porque acho que fica saborosa.)

Quando há batatas (com alho e cebolas, se houver), sempre dou um jeito de preparar alguma versão desse tray bake, cujo processo já descrevi inúmeras vezes aqui: as batatas foram primeiro, a 190oC, e quando já estavam quase perfeitamente douradas, vieram os brócolis, tudo sempre previamente temperado com sal e azeite. Quando esses ficaram prontos, vieram os ovos. E quando as claras estavam já opacas, as ervilhas congeladas entraram apenas para se aquecerem. Coloco a assadeira inteira na mesa, às vezes com um vidro de mostarda ao lado, e o jantar está servido. O trabalho foi de cortar batatas e os brócolis e só, pois o forno fez todo o resto, e com o timer apitando sempre que era hora de acrescentar mais um elemento, tive tempo de cuidar de outras coisas ou mesmo sentar e ler enquanto as crianças tomavam banho. (Vantagem de deixar a pimpolhada se virar sozinha de vez em quando: criança independente é sinônimo de menos ocupações para pai a mãe.)


O que restou do tray bake entrou nessa torta. Esta é uma versão com iogurte do Mark Bittman, que resolvi testar, mas que achei muito seca em relação à de minha mãe, que continua campeã. Talvez ficasse melhor com o recheio original pretendido por Bittman, pois as verduras soltam mais líquido e a massa ficaria mais úmida. A de minha mãe é ótima para aproveitar legumes que já fora cozidos ou assados.



Uma receita, no entanto, que também veio de Mark Bittman, e valeu a pena ser anotada, foram os hambúrgueres de feijão. Eu já havia feito anteriormente pequenos hambúrgueres de grão de bico e abóbora assada que haviam sobrado do jantar anterior, mas sempre preparei tudo muito no olho, mesmo naquela época em que era de fato vegetariana. Gostei de ter uma receita básica com as proporções "corretas", para não ter que ficar brincando de cientista maluca enquanto misturo os ingredientes. 

Hambúrgueres empanados de feijão preto, com queijo derretido por cima e saladinha. Almocinho danado de bom!
HAMBÚRGUERES DE FEIJÃO E AVEIA
(Do livro How to Cook Everything Vegetarian, de Mark Bittman)
Rendimento: 4 hamburgueres grandes oi 8 pequenos

Ingredientes:
  • 2 xíc de qualquer tipo de feijão já cozido (sem o caldo - reserve para outro uso)
  • 1 cebola picada
  • 1/2 xic de aveia laminada
  • sal e pimenta-do-reino
  • (qualquer outra erva, tempero, verduras ou legumes cozidos que queira acrescentar)

Preparo:
  1. Bata o feijão e a cebola no processador até que vire um purê grosseiro. Junte a aveia (e qualquer outro tempero) e pulse algumas vezes até que vire uma maçaroca que você consegue tirar com uma colher de forma razoavelmente firme. Se estiver muito seco, junte um pouco do caldo dos feijões. Se estiver muito molenga, junte mais aveia. Acerte o tempero. 
  2. Forme hambúrgueres do tamanho que quiser (os do tamanho de sua palma, com 2cm de altura são ideais) e coloque em uma assadeira untada de azeite, para que não grudem. Você também pode empaná-los em farinha de rosca  e colocá-los na assadeira sem untar. Leve à geladeira por umas duas horas para que firmem bem antes de fritar. 
  3. Frite os dois lados por 1-2 minutos cada em um pouco de azeite e sirva quente.


Na corrida do simples, foi momento de relembrar uns clássicos de muito tempo atrás, de um livrinho que vendi há muito muito tempo (acho que se chamava As Ervas do Sítio, ou algo assim). É uma massa com molho de espinafre, simplíssima, mas que na minha parca experiência, sempre virava uma sopa rala láaaaa quando eu ainda tinha acabado de mudar para meu apartamentinho com meu então namorado. Acontece que eu nunca deixava a água do espinafre evaporar o suficiente e, ainda influenciada pelo macarrão nadando em molho dos restaurantes de São Paulo até então, sempre colocava mais creme de leite do que o necessário na receita, achando que não havia molho o bastante. Isso fazia com que o molho ficasse todo no fundo da panela e o macarrão totalmente pelado na hora de servir.

Eu tinha uma porçãozinha pequena de espinafre congelado (o equivalente a 1 xícara de espinafre congelado bem apertado na xícara) e um restinho de creme de leite fresco, restinho mesmo, acho que nem meia xícara. Refoguei cebola picada em manteiga até dourar, juntei o espinafre descongelado (que já vinha picado), temperei com sal e pimenta e mexi com uma colher de pau até que ele tivesse sequinho de toda aquela água que ele solta e tivesse absorvido bem a manteiga e o gostinho da cebola. Juntei o creme de leite, misturei bem e deixei apenas levantar fervura, o bastante para o molho engrossar levemente, e desliguei o fogo. Se o creme estiver muito líquido, ele simplesmente não vai aderir ao macarrão. Taí o pulo do gato que eu não sabia quando era jovenzinha. (Fica a dica: molho de macarrão não pode sobrar, aguado, no fundo da panela. Se sobrou, é porque tinha que ter reduzido mais. Bem reduzido, ele adere à massa corretamente e a tempera direito.)

Acertei o tempero. Escorri o macarrão (linguini funciona bem nesse caso), juntei à panela do molho com mais um naco de manteiga e um punhado de parmesão e voi là: linguini ao molho de espinafre. Sucesso geral.

Lembrei com certa alegria e saudades daquela época em que comecei a cozinhar de fato todo dia, recém saída da casa de meus pais, e como um fettuccine com molho de tomates crus parecia o ápice da sofisticação. Logo antes de eu começar o blog, há tantos anos atrás, havia uma inocência deliciosa na cozinha, pois ela era exclusivamente para mim e para quem comia comigo. Eu tinha pouquíssimos livros de cozinha e assistia aos programas do Jamie Oliver, e aquela comida pseudo-italiana simples era o o que havia de mais complexo a que meu ego aspirava. Não havia encontrado blogs e sites de cozinha, eu era a única pessoa da minha idade de meu círculo social que gostava de cozinhar, e a aventura de testar uma receita ou uma técnica nova era uma jornada individual cujo prazer não se equipara a essa estranha ansiedade gerada pela postagem de uma foto e uma receita nas redes sociais. Às vezes simplesmente paro e volto àquela época, e cozinho para mim, e esqueço os ingredientes que usei e como preparei, e o prato fica lindo e colorido, mas o celular está desligado, e sinto um prazer imenso naquela beleza fugaz desaparecendo aos poucos a cada garfada até nunca ter existido, a não ser no sabor no fundo da língua, que se demora antes de dissolver-se para sempre.

O prazer do particular que nossa sociedade começa a desconhecer, ao transformar todo privado em público. (Sim, a ironia de escrever isso num blog a respeito de minha vida e minha comida.)

.....

Quando vieram as boas notícias e pudemos todos relaxar novamente, logo antes do Carnaval, as maçãs que eu havia comprado em promoção foram transformadas num bolo. Ou torta. Ou bolo-torta, porque "torta" em italiano quer dizer bolo, de qualquer forma. Essa receita da Tessa Kiros é facílima e deliciosa. Num primeiro momento achei até que levava pouco açúcar, mas ela é doce o bastante e acho inclusive que pode ser preparada com um pouco menos de açúcar na massa sem nenhum prejuízo. O resultado me lembrou demais os Apfelkuchen (acho que era esse o nome) que eu costumava comer na casa da avó do Allex, e eu não duvidaria se as receitas fossem de fato parecidas. A torta, ou bolo de maçã da avó alemã era maior e mais fina, baixinha, não sei se de propósito ou por razões circunstanciais. Acabamos saboreando a torta no café da manhã de um dia particularmente frio e sem graça, e as maçãs envolvidas nessa massinha macia com certeza foram bom acompanhamento para o cappuccino.


TORTA-BOLO DE MAÇÃS
(Do livro Recipes and Dreams from an Italian Kitchen, de Tessa Kiros)

Ingredientes:
  • 9 colh. (sopa) manteiga em temperatura ambiente (cerca de 130g)
  • 2/3 xic. açúcar demerara
  • 1 ovo
  • 1 2/3 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh(chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh(chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh (chá) extrato de baunilha
  • 4 maçãs (de preferência com alguma acidez) - cerca de 450g
  • açúcar de confeiteiro para polvilhar

Preparo: 
  1. Pré-aqueça o forno a 160oC. Unte com manteiga e farinha uma forma de 22-24cm de diâmetro, de mola ou fundo falso.
  2. Na batedeira, bata a manteiga com o açúcar até que fique bem cremosa.
  3. Junte o ovo e misture bem.
  4. Junte a farinha, o fermento, o bicarbonato e a baunilha e misture em velocidade baixa até que comece a ficar firme demais para o batedor. Pare e termine de sovar ligeiramente com as mãos, apenas até que todos os ingredientes estejam bem incorporados. 
  5. Ponha 2/3 da massa na forma. Pressione firmemente com as mãos a massa no fundo, empurrando-a paredes acima, até que a massa ocupe todo o fundo e cerca de 2/3 da altura da forma, mais ou menos. Pode parecer que está muito fina, mas está tudo bem. 
  6. Descasque as maçãs, retire as sementes e descarte (não jogue no lixo, guarde para fazer geleia!). Pique as maçãs e cubos de 1,5-2cm. 
  7. Distribua os cubos sobre a massa de forma uniforme, checando para não deixar nenhum espaço sem maçãs. 
  8. Esfarele o restante da massa entre os dedos, em pedaços de tamanhos variados, e espalhe esses pedacinhos de massa por sobre a maçã. 
  9. Asse por 55-60 minutos, ou até que a massa esteja dourada e firme. Lá pelo fim do tempo, cubra a massa com uma folha de papel-alumínio se estiver com cara de que começa a queimar.
  10. Remova do forno e deixe esfriar. Polvilhe com açúcar de confeiteiro. O bolo/torta se mantém em temperatura ambiente de um dia para o outro, e depois disso deve ir à geladeira.


Vida de volta ao normal, e marido viajando para o treinamento de seu novo emprego. E daí que resolvi fazer a vontade das crianças e preparar um frango assado, assim numa terça-feira, porque as crianças sempre pedem, e como Allex não gosta, nunca faço. (Também porque frango aqui não é lá muito barato, ainda mais orgânico.)

A receita que escolhi era da Marcella Hazan, simplíssima. Você apanha um limão siciliano, rola ele entre a palma e a bancada para soltar bem os sucos, e espeta todo ele diversas vezes com um palito. O limão vai assim, furado e inteiro, para dentro do frango já bem temperado com sal  e pimenta. Fecha-se a cavidade do frango com linha ou palitos de dente, e ele é colocado na assadeira, sem óleo nem nada, de peito para baixo. Assa-se no forno a 180oC por meia hora, e então com cuidado ele é virado de peito para cima e volta ao forno por mais meia hora. Aumenta-se a temperatura para 200oC e ele fica ali mais meia hora até dourar e e os sucos saírem claros quando a carne é espetada com um garfo na junção da sobrecoxa com o corpo. (Calcula-se uns 25 minutos para cada meio quilo de frango.)

Junto do frango ainda cru, coloquei batatas cortadas e temperadas com sal e azeite, para assarem junto, absorvendo os sucos que o frango libera. Nos últimos quinze minutos, acrescentei os brócolis temperados para assarem e chamuscarem também.

O frango acabou ficando super suculento, ainda que não suficientemente dourado (a pele do peito, no entanto, estava crocante), porque eu esqueci de aumentar a temperatura do forno naquela última meia hora, e ele acabou assando a 200 graus apenas nos quinze minutos finais. Mas priorizei carne suculenta à pele crocante. Frango seco é uma desgraça.

O frango já cortado em pedaços, como foi servido à mesa.

A refeição foi uma alegria, seguida de sorvete de amêndoas com cerejas em calda, que eu preparara do livro The Perfect Scoop. O sorvete ficou gostoso sim, mas também mais doce e mais intenso do que eu imaginava (Laura não gostou, porque não gosta de nada muito doce). Eu provara um sorvete de missô com cerejas em calda na Bang Bang, minha sorveteria favorita em Toronto (porque é a única que não coloca um quilo de açúcar no sorvete), e era isso o que eu tinha em mente: um sabor e uma textura mais delicada. Todo o mini-banquete de frango assado com sorvete de terça-feira acabou servindo para comemorar a queda do primeiro dentinho da Laura. Foi mesmo uma comemoração, pois depois de ter de levar Thomas duas vezes ao dentista para arrancar os dentes de leite teimosos que se recusavam a dar espaço para o permanente já nascido atrás, foi um alívio ver Laura correndo para a sala com minúsculo dente na mão, feliz, contente, e de boca sangrando. ;) A animação dela foi tanta que, no dia seguinte, ela chacoalhou tanto o dente do lado, que também estava mole, que conseguiu fazê-lo cair também, ao que ela teve uma visita dupla da fada do dente, e agora, ao invés de uma janelinha, exibe um janelão com vista pro lago. A gente brinca e pede para ela "fazer o Ogro", ao que ela empurra o maxilar pra frente, com os dentes laterais por sobre o lábio superior e envesga os olhos, meu mini-ogro que sai correndo atrás do irmão com uma espada na mão, fazendo sons de monstro.

"Laura, o que você quer ser quando crescer?" 
"Uma guerreira, mamãe."

Como eu adoro transformar tudo em bolinho, o que sobrou do frango virou croquete. Claro. Tessa Kiros ao resgate, como sempre. Já disse o quanto amo os livros dela? Claro que sim.

Do frango inteiro, eu comera uma sobrecoxa, e as crianças haviam dado cabo das duas coxas, uma sobrecoxa, as duas asinhas e meio peito. Daí que havia sobrado um peito e meio e todo aquele frango desfiado que a gente consegue esmiuçando a carcaça com os dedos, nos lugares em que a lâmina da faca não tira um corte limpo e bonito para apresentar no prato. Depois de dar uns naquinhos de frango pro Gnocchi, que estava aguando do meu lado o tempo todo em que eu mexia na carcaça, considerei que se tratava de meio frango, assim no olho, e, como a receita da Tessa pedisse um frango inteiro, fiz meia receita. Trata-se de um croquete tradicional: carne com molho bechamel grosso, empanado e frito. Renderam bem uns seis ou sete croquetes para cada um de nós, que servi com uma salada simples de cenoura e bok choy (acelga chinesa, a verdura em promoção), fatiada, refogada em alho e óleo de gergelim e temperada com shoyu. 

A parte especial foi ter Laura como ajudante, que moldou e empanou metade dos croquetes comigo. 

CROQUETE DE FRANGO
(ligeiramente adaptado do Livro Apples for Jam)
Faz cerca de 25-30 croquetes, dependendo do tamanho.
 
Ingredientes:
  • carne de 1 frango inteiro, picada
  • 3 colh. (sopa) manteiga
  • 1 cebola pequena, picada
  • 1 1/2 colh (sopa) folhas de salsão, picadas (eu não tinha salsão e usei um talinho de erva-doce)
  • 1 1/2 colh (sopa) folhas de salsinha, picadas
  • 2 dentes de alho pequenos, picados
  • 1 tomate, picado
  • 1 1/2 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 1 xic. leite
  • 1 ovo
  • sal
  • farinha de rosca
  • óleo para fritar

Preparo:
  1. Derreta metade da manteiga numa frigideira e junte a cebola e uma pitada de sal, mexendo até começar a dourar. 
  2. Junte o salsão, salsinha e alho e misture bem, até que sentir o aroma do alho.
  3. Junte o tomate, amassando bem com a colher e misturando, até que ele se dissolva bem.
  4. Junte o frango picado, misture muito bem, acerte o tempero e transfira para uma tigela. 
  5. Em outra panela, derreta o resto da manteiga. 
  6. Junte a farinha, misturando bem, e então o leite, aos poucos, misturando com um fouet, até formar um molho branco, espesso e liso. Tempere com sal e pimenta e transfira para a tigela com o frango.
  7. Junte o ovo, misture bem, acerte o tempero e leve a tigela à geladeira por pelo menos meia hora, até que tudo firme o bastante para que você consiga formar os croquetes. 
  8. Se ainda estiver mole demais, junte um pouco de farinha à mistura. 
  9. Apanhe colheradas da mistura, e forme os croquetes, do comprimento do seu dedão e com não mais que dois dedos de espessura (achei esse tamanho fácil de manusear - até a Laura conseguiu). Passe o croquete na farinha de rosca, e deixe num prato. Repita com o restante da mistura até ter todos os croquetes estejam formados. Leve à geladeira enquanto esquenta o óleo (uns 2 dedos de óleo na panela). 
  10. Frite os croquetes até que dourem por igual, alguns por vez, em óleo a 180oC. Deixe escorrer sobre papel-toalha e sirva ainda quente.
 

Só eu achei isso lindo?

No dia seguinte, eu ainda tinha farinha de rosca e óleo de fritura, e resolvi dar cabo de tudo com esse funcho empanado da Marcella Hazan. Taí uma vantagem de ter menos livros de cozinha: tantos anos na minha estante, e eu NUNCA preparara essa lindeza. Você coloca o bulbo em pé e corta dele fatias de 1,5cm de espessura, tentando manter a raiz firme para que as camadas não se soltem. Como meu funcho era bem grande, cortei também ao meio, para facilitar na hora de empanar e fritar. Cozinhe as fatias de funcho na água fervente com sal por alguns minutinhos, apenas até o miolo próximo à raiz pareça macio, mas ainda resistente, ao ser espetado por um garfo. Escorra bem, passe as fatias cozidas em ovo batido, depois farinha de rosca, apertando para que os farelos de pão grudem, e frite normalmente, até dourar dos dois lados. 

As crianças e eu comemos o bulbo de funcho frito inteirinho, e houve até briga pelos dois últimos pedaços, que consegui guardar para meu almoço do dia seguinte. Para acompanhar, no jantar, arroz cozido com talos de brócolis e temperado com salsinha, e uma saladinha simples de tomates.  No dia seguinte, em meu almoço solitário, cobri os dois pedaços de funcho empanado com fatias grossas de tomate, orégano e mozzarella, e esquentei no forno minha parmiggiana vegetariana, que acompanhei com uma saladinha de alface.
Meu prato.
Prato to Thomas, que me pediu para fotografar a montagem sua montagem super criativa.

Agora, de volta à vida normal, que depois de dois meses de incertezas, visitas durante o Carnaval (que não existe aqui, by the way), March Break (uma semana de férias escolares) e uma semana com marido fora de casa, eu preciso literalmente sair correndo, e retomar minha rotina: minha meditação, meus exercícios físicos, minha escrita, minha pintura... e veja só: semana que vem meu Matador de Dragões faz 8 anos e eu ainda tenho que descobrir que bolo ele vai querer. :)



quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Verão, visita, gatilhos positivos, acampamento, livros que transformam e ghee


Eu me lembrava do verão passado com carinho: longas caminhadas com as crianças, descoberta de novas prainhas, novos parquinhos, trilhas escondidas; piqueniques sem pressa no meio do caminho, pés na areia, horas sem fim de leitura silenciosa enquanto meus filhos brincavam soltos por aí.
Mas o tempo passa, a novidade se esvai, e as caminhadas deixam de parecer uma exploração para virarem rotina. Dos parquinhos cada um tem seu preferido, e escolher aonde ir provoca quase sempre conflitos. As crianças agora têm amigos com os quais fazem questão de encontrar, e eu fecho o meu livro para passar longas horas em conversas de elevador com pais de coleguinhas. Não, talvez isso seja injustiça: algumas dessas conversas foram realmente boas em dias que eu precisava trocar figurinhas. Mas sendo a eterna introvertida que sou, preciso de um dia de silêncio para me recuperar de um dia de constante falatório. E esse dia de silêncio calhou que nunca veio. Porque mesmo que você não marque nada com ninguém, os bairros de Toronto são como mini cidades do interior: todo mundo que estuda naquela escola mora no mesmo bairro e frequenta os mesmos parquinhos. Logo, você está sempre fadado a encontrar alguém conhecido.

Além disso, boa parte dos amiguinhos dos meus filhos estava em creches ou summer camps (os tais programas de férias que servem para ocupar seu filho em horário comercial quando você tem que trabalhar ou não está afim de passar seus dias no playground). E como as tais crianças só saem dos camps às 3h30 da tarde, precisei mudar toda aquela rotina boa de sair sem destino por aí, gastar energia logo cedo, almoçar piquenique, e voltar exausto no meio da tarde pra tomar banho e ver um desenho... para o completo oposto: ver desenho de manhã, almoçar em casa, sair pro parque com horário marcado no parquinho de sempre, voltar tarde pra casa, fazer manha pra tomar banho, jantar tarde, ainda querer jogar jogo de tabuleiro depois do jantar com o papai e ir dormir às dez da noite.

Um dos vários almoços piquenique: frutas, wrapp de abacate, queijo e legumes, coco fresco em pedaços, amêndoas e tâmaras, frutas da estação.
O dormir tarde não seria um problema, afinal são férias, tudo bem. Mas quando eles dormem as dez da noite e continuam acordando às seis da manhã, a falta de sono vai acumulando, e Laura, principalmente, vira um bicho quando está cansada (exatamente como eu). Além disso, o meu tão prezado "horário de adulto", tão importante para a manutenção de minha sanidade mental, foi também pro beleléu. Ao invés de ir dormir às dez e meia (porque as crianças estariam na cama desde as oito), vi-me indo pra cama à meia noite, uma da manhã. Pra acordar às seis no dia seguinte ao som de criança brincando e/ou brigando.

Isso poderia ter transformado o verão num estresse.

Mas eu me mantive concentrada nos meus gatilhos positivos. Pois é, aquelas pequenas coisas que você faz para te manter no rumo. Acordar cantando uma musiquinha besta que faz todo mundo dar risada da minha cara. Alongar antes do café para botar a coluna no lugar e fazer a energia fluir. Alongar parece ser o passo número um para me lembrar de me cuidar o resto do dia. Quando não alongo tendo a esquecer de fazer outras coisas importantes para a manutenção da minha sanidade. Uma coisa puxa a outra. Quando alongo, acabo meditando. Quando medito, acabo indo correr. Quando corro, tenho vontade de comer comida fresca e leve. Quando como bem, me sinto melhor ao longo do dia e acabo pintando mais. Quando pinto, sinto-me competente e satisfeita. Quando me sinto competente e satisfeita, sinto-me mais calma para lidar com os conflitos com as crianças. Lidando de forma zen com as crianças, me sinto uma mãe melhor. No fim do dia tomo minha cerveja porque quero e não porque preciso. Vou dormir cedo. Durmo bem. E o dia seguinte já começa com o pé direito.

E tudo começa com a minha saudaçãozinha ao sol. Um alongamento de nada. Meu gatilho.

E mesmo num dia ruim, sei que esse alongamentozinho de dois minutos e meio é aquela migalhinha no caminho de que preciso. Quando as coisas saem do controle e me vejo querendo ir atrás daqueles famosos "confortos" que no fim pioram minha autoestima (os doces, o álcool, o famoso "hoje não vou correr porque meu dia está ruim e eu mereço não fazer nada"), troco por cuidados comigo: ler um livro, tomar um chá, lavar o cabelo, uma caminhada no mato, um lanche que seja bonito e me faça sentir que estou cuidando de mim e me dando amor de verdade, ao invés de me punir com aquilo que a mídia ensina que é amor (se entupir de sorvete no sofá chorando as mágoas - isso resolve como?). Ou simplesmente peço um abraço. Quantas vezes, num dia ruim, a gente lembra de simplesmente pedir um abraço?

Meus gatilhos positivos me mantiveram de bom humor para lidar com as pequenas coisas do verão que não eram de acordo com minhas expectativas (expectativa é uma m*rda). Ajudou também marido chegar em casa num horário bom para jantar conosco e jogar jogos com as crianças enquanto eu relaxava a cabeça passeando o cachorro no parque. Oito horas da noite e a luz era de quatro e meia, as cigarras cantando, os passarinhos se aninhando para encerrar o dia.

Enfim, lá pelo meio das férias o que ajudou mesmo foi a liberdade das crianças. Havia visto internet afora um video sobre Free Range Parenting, um termo meio piada para tratar da liberdade das crianças no mundo moderno, e caí num livro da jornalista Lenore Skenazy: Free Range Kids. O livro compara a liberdade das crianças de décadas anteriores com as atuais, fala dos medos modernos dos quais mães e pais sofrem e combate tudo isso com dados e fatos, mostrando que, pelo menos na América do Norte e na Europa, o mundo está mais seguro para as crianças. Fala sobre confiança. A mesma confiança que tenho em dar facas nas mãos dos meus filhos para que cortem as próprias frutas, ou que tenho em Thomas para usar o fogão e preparar seu próprio ovo frito com torradas de manhã.

Foi num dia no meio das férias, em que Allex estava em casa trabalhando e nós atravessávamos o parque para ir a uma padaria vinte minutos dali que, cansada de ouvir as reclamações de Thomas, virei e perguntei: "Se eu te desse a chave de casa agora e mandasse você pra casa pra ficar com seu pai, o que você faria?" Ao que ele se empertigou todo o respondeu que voltaria numa boa. "Como você volta pra casa daqui?", perguntei. E ele descreveu todo o caminho, incluindo os momentos em que teria de parar para atravessar a rua olhando para os lados e respeitando a sinalização. Explicou como entrar no prédio e como abrir a porta. E disse que ficaria em casa brincando de Lego enquanto papai trabalha. Pensei por um instante. Mas ele acabou indo para a padaria comigo, reclamando até ganhar um croissant de chocolate, que fez toda a andança valer a pena.

Foram dois os motivos que me impediram de mandar meu filho de oito anos para casa sozinho: primeiro, eu não havia discutido esse passo importante com Allex ainda (parecia-me uma decisão que deveria ser tomada junto) e segundo, eu não sabia se isso era legalmente permitido, uma vez que há alguns lugares do mundo que podem botar uma mãe na cadeia por deixar uma criança dessa idade saracoteando sozinha por aí. (Eu pesquisei a lei de Ontario, claro, e é uma mera questão de bom senso.)

Esse episódio me fez pensar bastante a respeito do meu controle sobre meus filhos e olhá-los de uma outra forma: sob a ótica de suas reais capacidades e não das minhas preocupações. Morar numa cidade segura ajuda um bocado, claro.

E a partir daquele dia, comecei a soltá-los um pouco mais. Ciente de que eles são extremamente responsáveis e não saem mexendo no que não devem nem se inventando encrenca, comecei a a deixá-los experimentarem um pouco de liberdade conforme a oportunidade aparecia, sempre conversando muito a respeito de perigos reais e como reagir a cada um deles (desde a abordagem de estranhos até fogo no prédio). Ao fim do verão eu já estava podendo deixá-los em casa enquanto ia ao mercado rapidamente sem o menor problema. E ir ao mercado sozinha é o tipo de sonho de verão que só uma mãe em tempo integral entende.

Hoje, com as aulas já começadas, a alegria do meu filho é poder ir para casa fazendo um caminho diferente do meu. 

As pequenas liberdades deles trouxeram mais paz aos nossos dias e nosso relacionamento. Fui me vendo mais segura deles e de mim mesma. Num outro dia, Thomas veio me pedir um lanche. Olhei para ele e, rindo, expliquei: "Filho, você tem quase nove anos. Quando você era pequeno, eu precisava escolher o que você comia e quando, pra garantir que você ia crescer forte, porque você ainda não sabia fazer essas coisas. Agora você sabe. Tá com fome? Você sabe abrir a geladeira, usar o fogão e a air fryer. Go crazy. Se alimente. Só peço algum bom senso pra não sair fazendo lanche perto da hora do jantar, por favor, e avisar quando alguma coisa acabou ou está prestes a acabar pra eu poder comprar mais."

Ele demorou alguns minutos pra entender o que eu tinha dito e assimilar aquilo. E saiu correndo pra fazer um enorme sanduíche de tudo o que ele encontrou na geladeira.

Claro, ajuda o fato da minha casa não ter comida "porcaria", como Laura diz. E quando tem, eles perguntam se pode pegar. 

Cafés da manhã tem sido assim ultimamente. Aquela época de "hoje tem mingau" não existe mais. Cada um prepara o seu conforme seus gostos. Se pedem ajuda, ajudo. Hoje quiseram montar o próprio almoço para levar para a escola. Aos fins de semana já aconteceu de eu acordar e os dois já terem tomado café da manhã. A mesa estava posta com as coisas que eu costumo comer de manhã e Laura tinha feito meu cappuccino (ok, a máquina é automática, mas ela ainda tem que lembrar a ordem certa de apertar os botões e lembrar de conectar o reservatório de leite que fica na geladeira).

Eu respiro fundo e fecho os olhos quando eles exageram na quantidade de mel na torrada ou quando resolvem colocar maple syrup no cereal que já vem ligeiramente adoçado. Tá tudo bem. Larga. Sei que sou mais feliz controlando menos e tento abafar o monstro Control-Freak dentro de mim quando ele começa a dar as caras novamente, o que sempre acontece quando estou ou muito cansada ou frustrada com outra situação que saiu do meu controle.

Ao invés de estressar com a bagunça e ficar pedindo um milhão de vezes pra tomar cuidado pra não derrubar o leite na mesa, simplesmente peço pra limpar quando acontece. Agora é automático. Eles sempre limpam a mesa quando cai comida e nem preciso pedir mais. E ninguém mais fica estressado.

Um outro livro que me ajudou com isso foi da Rebeca Wild. Eu já havia lido o Calidad de Vida, sobre ritmos de desenvolvimento infantil, e, achando que precisava reler, peguei outro dela por engano, sobre a vida escolar: The Pestalozzi Experiment, que terminou sendo fantástico, lembrando-me de olhar meus filhos sob outros pontos de vista e compreendê-los melhor.

Em termos de olhar as coisas sob outros pontos de vista e entender melhor, dois outros livros foram fundamentais para mim: Wild Power, de Sjane Hugo Wurlitzer e Alexandra Pope (que fala sobre o ciclo feminino como se fossem estações do ano e como a compreensão de cada fase pode ser usada a seu favor como fonte de força ao invés de limitação) e Mulheres que correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, PhD (não é só hype, o livro é de fato EXCELENTE - eu tinha pego na biblioteca, mas no meio da leitura resolvi me comprar uma cópia para ler e reler quando precisar e eventualmente dá-lo à Laura).

O verão que se seguiu à minha viagem à Portugal foi uma jornada de reencontro com minha criança interior e a força feminina escondida embaixo de cobranças e expectativas. Foi um verão repleto de energia, força e alegria.

Foi nessa fase boa que minha irmã chegou, depois de dois anos sem vê-la. Fiquei esses dois anos esperando para tomar Aperol Spritz com ela novamente.



Concentramos em parcos sete dias tudo o que queríamos mostrar a ela. Cataratas de Niagara, Niagara on The Lake (uma cidadezinha linda quase com cara de cenográfica), piquenique e "tubing" (descer o rio de bóia) em Elora Gorge park, longos passeios de bicicleta por Toronto, hambúrguer, brunch e ramen nos nossos restaurantes favoritos, muita cerveja e conversa e muitos, muitos jogos de cartas  e tabuleiro com as crianças.
Elora Gorge Park.
Almoço-piquenique, a quintessência do verão canadense.(Muffins de mirtilo, Pão de queijo, Blue corn tortilla chips, melancia, pepinos.)


Niagara Falls
Quando minha irmã foi embora, deixando na gente essa impressão de o tempo ter passado muito rápido, tratamos de nos inventar coisa pra fazer. Aproveitamos as promoções de fim de verão para comprar algo que queríamos havia muito tempo: equipamento de acampar. Costumávamos acampar antes das crianças nascerem. Mas seja por excesso de trabalho, falta de grana, medo pela segurança ou qualquer outro motivo, enquanto moramos no Brasil, o único lugar em que as crianças acamparam foram na sala de casa.

Estava na hora de corrigir isso.

Reservamos um espaço num parque a pouco tempo daqui e lá fomos nós. Compramos nosso equipamento não pensando nos car-campings que os canadenses costumam fazer durante o verão, mas sim nas trilhas que pretendemos fazer com as crianças um dia. Barraca pra quatro ultraleve, saco de dormir que aguenta frio e isolante térmico. Um fogareirozinho potente e minúsculo e uma panela pequenininha, só pra esquentar água. Foi também uma lona e cordas para poder fazer um abrigo do sol e da chuva além da barraca. Allex se arranjou um livro que ensina a fazer nós e se divertiu descobrindo formas diferentes de amarrar a lona às árvores.

No quesito comida, no entanto, confesso que exagerei. Querendo tornar a experiência suficientemente gostosa para que eles quisessem repetir, levei milho e linguiças e queijo haloumi (que parece o coalho) para fazermos no fogo, itens para sanduíches no almoço, legumes e frutas (banana, melancia e mirtilos) de snack, chips, e para o café da manhã, iogurtes e mingau instantâneo, que me trouxe uma lembrança calorosa dos acampamentos com Allex, durante nosso namoro. (Acho até que tem foto aqui no blog de nós dois comendo gororoba em acampamento).

Lá, as crianças se divertiram ajudando a acender a fogueira e depois esculpindo galhos com serra e canivete para fazer os próprios espetos de marshmallow. Claro, esqueci: também houve uma quantidade absurda de Smores (os marshmallows tostados no fogo que vão dentro de dois biscoitos doces com um quadradinho de chocolate que derrete devagar). Vê-los lidando com as lâminas cuidadosamente, focados, me encheu de orgulho. E temos já um canivete para cada um, que ganharão de presente no próximo acampamento.

Desligamos o celular durante toda a viagem. O silêncio era delicioso. Na hora de dormir, confesso que fiquei aflita. As crianças se incomodariam de dormir no chão duro? Há muita gente que leva colchões infláveis, mas quisemos mostrar a eles como se faz de verdade, como nós costumávamos acampar. Para minha surpresa, entraram exaustos na tenda e dormiram imediatamente, a noite toda. Quando acordei, brinquei com Allex, não sabia se o chão duro havia entortado minhas costas ou finalmente colocado elas no lugar. ;) Sei que não dormi a noite toda. Lembrava-me disso dos nossos acampamentos. De acordar toda vez que me virava no saco de dormir. De ouvir os insetos do lado de fora. De ter essa impressão de despertar por 1 minuto a cada meia hora e então voltar a dormir. Ainda assim, acordei descansada e cheia de energia pela primeira vez em muito tempo.

O tamanho desse menino.
Acender o fogo às cinco e meia da manhã e comer o mingau-gororoba quentinho ouvindo o despertar dos pássaros, pés no mato. Sentia-me em casa. Gnocchi parecia feliz e relaxado ali no mato. Raspando as patas e cavocando a terra e o mato antes de dormir como faz em casa, e ríamos: "É, bichinho, faz muito mais sentido fazer isso aqui do que no apartamento, né?" Celular desligado por dois dias. Mato. Cigarras. Pássaros. Aquela sensação de precisar de tão pouco que o acampamento dá. Acordar descansada, mesmo dormindo no chão. É o silêncio do mato que descansa, ou é o silêncio do celular?

Foi bom ter encontrado um mingau-gororoba de uma empresa orgânica de British Columbia que faz misturas de fato gostosas. Porque aquele da Dr. Oetker que a gente costumava levar em trilhas no Brasil tinha gosto de papelão molhado. :P

Estava tudo indo bem até sermos surpreendidos pela chuva no meio de uma trilha. A desvantagem de desligar o celular é não ter acesso à previsão do tempo. Encharcados, precisamos criar uma estratégia inteligente para não enlamearmos a barraca por dentro. Ajudei as crianças, que ficaram secas e quentinhas na barraca lendo gibis enquanto Allex e eu consertávamos a lona que caíra pelo peso da água e tentávamos usar o que havia de carvão molhado para improvisar um churrasco debaixo da lona, protegidos pela chuva. Gnocchi, cheio de lama, aos nossos pés, assistiu por duas horas a saga para acender o fogo já na escuridão da noite. Allex se afastava e oferecia o lugar mais perto do fogo tímido para que eu tentasse secar meus pés e me esquentar. Meus cabelos ainda pingavam da chuva e naquele momento, vendo meu casaco pesado e encharcado a me cobrir, decidi que era hora de investir numa jaqueta de chuva decente.

As crianças correram rápido da barraca seca para debaixo da lona e sentaram-se conosco para comer. Um cruzamento de mariposa gigante e besouro do inferno voou na nossa direção, atraído pelos head-lamps e Allex quase tacou fogo na própria camiseta com o susto. É um monstro-inseto!, Thomas gritou. Conseguimos manter o fogo aceso tempo bastante para assar as últimas linguiças e espigas de milho e prometemos às crianças Smores de café da manhã, já que seria impossível fazê-los debaixo da chuva.

A chuva caiu intensa e cheia de raios e trovões até as quatro da manhã. Gnocchi, com medo, ficava subindo em cima de mim e tentando dormir em cima da minha cara. Mais uma noite de sono intermitente. Mais uma manhã em que parecia renovada e capaz de conquistar o mundo.

Fizemos Smores até acabar com todos os marshmallows do pacote. As crianças brincaram apagar o fogo com arminhas de água e vieram nos ajudar a desmontar a barraca. Gnocchi, que é boy de apê, era o único ansioso para ir para casa e ficou esperando na porta do carro.

Quando voltamos para Toronto e entramos em casa, ansiosos por um banho quente, aqueles dois dias fora pareciam dois meses.

A melhor parte do verão foi acampar, disseram as crianças. "Mas eu quero ficar mais no meio do mato da próxima vez", disseram.

Ok.

O verão ainda está aí apenas como dias num calendário. Setembro começa, as aulas retornam, piscinas públicas são esvaziadas, há mais chuva que dias de sol. O lago está frio demais para convidar a um mergulho. Acabaram os piqueniques. Mas a sensação de ser eu, de ser forte, de poder correr longe continua. A vontade de ver meus filhos crescendo e aprendendo me move cada vez mais. Quando confio neles, vejo suas posturas mudarem, vejo quando olham o mundo de peito aberto. Eles acreditam em si mesmos quando acredito neles. E acredito neles quando acredito em mim.

Não vejo a hora de me enfiar no mato de novo. De dormir e acordar com os pássaros. De sentir o chão. É bom sentir os pés firmes no chão. É essa segurança que te dá vontade de tirá-los do chão e alçar vôo.

Ou talvez sejam os quarenta chegando. Sempre disse a meu marido que depois dos quarenta eu iniciaria meu processo de me tornar a velha louca que pretendo ser.  Taí. Velha louca em formação.


.....

E a comida? Isso ainda é um blog de cozinha? Já não sei bem. Tenho cada vez menos vontade de ficar testando receitas por aí. Às vezes acho mesmo é que precisava fazer um post compilando meus favoritos de todos os tempos e que viraram clássicos insubstituíveis. Porque é desses clássicos que tenho vivido. E o que é invencionice, é feito assim de supetão, valendo-me completamente da intuição e daquilo que aprendi nos últimos vinte anos de cozinha. Não tenho lá muitas receitas para dividir aqui, mas talvez tenha sugestões de como pensar a refeição. Será que basta?

Nas últimas incursões da churrasqueira, resolvi fazer camarões, que estavam fresquinhos e em promoção. Ensinei Laura a limpar os camarões e ela se armou de uma faca com ponta afiada e abriu as costas de um por um, tirando os intestinos deles com precisão. Thomas ficou encarregado de temperá-los e passá-los pelo espeto. Uma marinada rápida em azeite, alho picado e salsinha antes de levá-los ao fogo, uns poucos minutos de cada lado. Acompanharam as últimas espigas de milho da estação, também feitas na churrasqueira, e uma salada simples.


Num outro dia, assei diferentes batatas-doces temperadas com azeite e sal até dourarem, em fogo médio, numa assadeira grande. Quando prontas, afastei as batatas para o lado e depositei ali um filé inteiro de salmão selvagem com a pele para baixo, e que eu já tinha temperado com uma salsa verde improvisada, com muito dill e salsinha e raspas de limão. Juntei um punhado de ervilhas congeladas. Assei por uns dez minutos, até peixe e ervilhas estarem cozidos e servi com salada verde. Achei que faltou sal. Ainda tenho dificuldade de salgar apropriadamente cortes grandes de carnes de qualquer animal, por falta de prática.



Num dia em que eu não achei que tivesse muita coisa na geladeira, grelhei fatias finas da única berinjela grande que eu tinha. Recheei com fatias de queijo, que era para ser mozzarella, mas nem sei mais se usei cheddar branco ou Havarti, que eu considero como sendo "o queijo Prato do Canadá". A gente usa o que tem, substitui com o que pode, e faz tempo que parei com frescuras e preciosismos com ingredientes. Libertação emocional começa também com menos perfeccionismo na cozinha. Enrolei as berinjelas em volta do queijo, coloquei os rolinhos na travessa untada com azeite e reguei com uma mistura de tomates cereja, cebola, salsinha e manjericão, que eu temperara com sal e azeite e deixara meia hora sorando e criando o próprio caldinho. Levei ao forno para gratinar e servi com arroz integral e salada verde.

A foto é feia mas a comida é gostosa. :)

Num almoço tranquilo só com as crianças, antes de ir para o parque, dourei mandioca cozida  (sim! aqui acho mandioca no supermercado!) em muito ghee (porque ando fazendo ghee toda semana para terapia ayurvédica dessa minha família de Vhattas, e ando adorando cozinhar com isso, pois o ghee doura tudo lindamente sem queimar como a manteiga). Tirei a mandioca e foi a vez da batata-doce. Voltei tudo para a panela quente para servir com ervilhas-tortas branqueadas. Tudo polvilhado de salsinha, uma espremida de limão, pimenta-do-reino e acompanhado de uma saladinha rápida de tomates, abacates e queijo.


Ghee e uma joaninha que pelo jeito veio com a gente pra Toronto lá do acampamento.
Para quem quiser fazer ghee, eu considero o melhor jeito (e mais prático) ESSE AQUI.

No restante, a comida aqui em casa tem sido, como há já muitos meses, essencialmente improviso. Algo aconteceu durante toda essa transformação de verão que meio que matou minha vontade de comer doces. Ando me refestelando com frutas de um jeito que nunca havia feito antes. Talvez inspirada pelos lindos pratos de fruta fresca que minha filha se prepara de manhã cedo. Talvez as recomendações ayuvédicas, que me fizeram interromper a febre dos biscoitos e dos bolos há uns meses atrás, tenham influenciado minha cozinha mais do que eu imaginava que fariam. Talvez seja a abundância de frutas frescas e gosotas do verão, que depois desaparecem ao primeiro sinal do outono.

A vontade de ficar fazendo bolos e tortas e afins anda meio sumida. Engraçado, ninguém anda sentindo muita falta. As únicas sobremesas que me aventurei a fazer em agosto (e que não eram sorvetes de fruta) ou não deram certo (como a pamonha de forno que nunca firmou) ou ficaram doces demais e ninguém quis (como o crumble de pêssegos da Alice Medrich - aliás, mesmo os doces da Alice, que sempre me pareceram pouco doces, andam puro açúcar para mim ultimamente. Bizarro.)

Agora a cozinha volta à velha rotina: o famoso quebra-cabeça dos almoços escolares, com dois filhos que gostam e desgostam tudo diferente, precisando pensar em comida que não vire paçoca dentro da lancheira revirada, onde não posso enviar nada com castanhas, e onde tento manter a coisa toda relaxada e enviar lanches que "pareçam" as porcarias industrializadas dos amiguinhos mas que não são.

O verão acabou.

PS: eu havia escrito todo um outro post antes desse que eu escrevi e editei tantas vezes que tinha ficado completamente sem pé nem cabeça e eu não gostei dele. Mas apertei Publish sem querer. Deve ter gente que recebeu por email. Desconsidera a loucura da cabeça da pessoa. No fim eu estava muito mais empolgada em contar as desventuras do verão do que ficar elucubrando sobre processos emocionais. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Outubro, planejamento às avessas, sopas econômicas, molhos franceses




Caminho pelo parque com o cachorro, segurando a coleira enrolada na mão enluvada, afundando os pés em pilhas de folhas multicoloridas que craquelam e farfalham ao serem pisoteadas e movimentadas, sentindo o vento gelado na ponta do nariz, nas bochechas que se avermelham, nos cabelos ainda livres dos futuros gorros de lã. E nem acredito que o Outono já chegou novamente.

Depois de um veranico nas últimas semanas, que nos possibilitou andar por aí de camiseta e até suar um bocado durante as corridas matinais, as temperaturas despencaram outra vez e prometem continuar em queda livre pelos próximos meses.

De um dia para o outro, os caixotes de melancias nos mercados foram substituídos por caixotes de variados tipos de abóbora, as abobrinhas e os pêssegos dobraram de preço, e as peras e as romãs ressurgiram das cinzas.

OUTONO!
Voltamos de fato à velha rotina dos lanches escolares, e da eterna busca pela boa alimentação das crianças na escola, tentando não enlouquecer muito quando seu filho passa o verão inteiro pedindo por maçãs, e quando elas chegam, ele diz que não gosta de comer maçã na escola.

Dai-me paciência.

Quem passa por aqui desde os primórdios desse inglório blog já acostumou com meus infindáveis posts falando que estou buscando (ainda mais) um jeito de diminuir a conta do mercado e tornar a vida na cozinha mais fácil. Fazer o quê? Eu sou assim mesmo, estou sempre buscando um jeito novo de fazer as coisas e procurando melhorar como ser humano-pessoa-mãe-mulher-indivíduo-sujeito-transeunte.

Em tempo: quem lê pode achar que estamos sempre endividados com a conta do mercado, com essa minha nóia de diminuir a conta. A verdade é que sempre estivemos bem abaixo da média de consumo de mercado de uma família de quatro pessoas de classe média, tanto em São Paulo quanto aqui em Toronto, mas principalmente aqui, onde a média é de 200 dólares canadenses por semana SÓ em comida, segundo pesquisa do governo. Gasto menos do que isso, incluindo produtos de limpeza e comida do cachorro. Só bebida alcoólica que não entra na conta, pois como aqui só se compra bebida em loja especializada, fica fácil dividir a categoria no orçamento. (Alguém tem interesse em post sobre supermercado e da transformação da compra em refeições? Se sim, levanta a mão).

Enfim.

O ponto é que acredito que sempre haja espaço para melhorias.

E na minha infindável pesquisa internet afora por ideias para variar a lancheira da criançada (meu marido rola de rir de ver meu histórico de YouTube cheio de video de lancheira), caí nos videos de Meal Planning. Meu Eu Curioso e Filha de Engenheiro imediatamente pensou: ok, por que não?

Eu gosto de planejar bem as compras, e tenho uma lista no Keep com todos os itens de consumo regular mensal com os preços médios ao lado, devidamente compartilhada com o marido para que nenhum dos dois compre a mais coisa que não precisa ou compre mais caro do que o preço usual. Lembra? Filha de engenheiro e casada com homem de marketing. É muita planilha à minha volta me influenciando.

Enfim, de novo.

Como dizia, gosto de planejar, mas não a ponto de ter porcionado até o lanchinho da meia-noite depois da cerveja, e por isso mesmo resolvi testar o método mais hard core. Vai que funciona!

Fui lá feliz e contente, avaliei o conteúdo da despensa e da geladeira, e escolhi os jantares da semana, os almoços das crianças, os snacks deles, e meus almoços e snacks, fiz a lista e fui às compras. Naquele início de outono, com os últimos tomates em promoção, os últimos pêssegos, foi uma luta brutal contra minha vontade de encher o carrinho com tudo aquilo que eu não veria de novo pelos próximos seis meses e de fato me ater à lista. Mas consegui. Pelo menos naquela semana.

Os snacks foram todos fáceis, pois eu vario os lanches das crianças sempre pensando em algo doce, algo salgado, um legume, uma fruta, e eu meio que como sempre a mesma coisa todo dia quando estou sozinha. (Alguém tem interesse numa versão escrita de um daqueles videos de you tube "o que eu como em um dia?" hahaha, se sim, levanta a mão de novo.)

E os jantares escolhidos, considerando que nos fins de semana normalmente improvisamos, comemos fora ou fazemos alguma espécie de sanduíche, foram:
  • Pimentões recheados, porque eu tinha arroz já pronto e uns pimentões que já começavam a querer murchar. 
  • Curry de lentilhas com couve e arroz, porque eu tinha lentilhas congeladas, leite de coco, e um maço de couve precisando ser preparado. 
  • Risotto de alho-poró
  • Farfalle al pesto, porque eu tinha CERTEZA ABSOLUTA de que havia uma porção de pesto ainda congelada.
  • Pizza, porque toda sexta-feira tem pizza
 Deixei a lista das receitas na geladeira, e me senti muito virtuosa com minha diminuta lista de compras. E então a semana começou.

Calhou que durante o fim de semana sobrara pizza e não me lembro mais o quê, e acabei não preparando os pimentões recheados. O arroz e os pimentões continuavam sobrando ali, murchando e implorando uso. No dia que eu reservara para fazer o curry de lentilhas, resolvi que ao invés de colocar a couve no curry, colocaria os pimentões que precisavam ser usados, mas considerei que eles não combinariam tão bem com as lentilhas e, de supetão, voltei as lentilhas ao congelador e tirei para bancada o pote de grão-de-bico. O arroz que eu tinha na geladeira não era o bastante para acompanhar o curry, e já que teria de preparar mais, resolvi já de cara preparar bastante outra vez e dar outro uso para o arroz velho.

E a primeira refeição da semana foi um panelão imenso de curry de grão-de-bico e pimentão, preparado com a refoga de cebola, alho e gengibre no azeite, com canela, cardamomo, pimenta-calabresa, pimenta-do-reino, cúrcuma, grãos de cominho, de coentro, de mostarda, folha de louro, tudo até dourar. Entra o pimentão em cubos até amaciar, e então o grão de bico com seu caldo, cozinhando até reduzir o caldo um pouco. Entra o leite de coco e cozinha até apurar. Um punhado generoso de coentro cobre tudo e sirvo com arroz e uma colherada de iogurte, que as crianças adoram colocar em tudo o que é apimentado para aliviar o ardor. Já falei sobre meus curries AQUI.

O que sobrou do curry com arroz já deixei em potes, garantindo a marmita do marido pela semana toda.

Vai comer curry até enjoar.

Ok, o planejamento começou mal.

O dia seguinte era o dia do Risotto de Alho-poró. Que no frigir dos ovos me deu uma preguiça, porque já havíamos comido arroz no dia anterior e eu ainda tinha arroz velho na geladeira esperando um destino. Suspirei, joguei fora aquela ideia e resolvi preparar uma sopa francesa de alho-poró, ervilhas (que sempre tenho no freezer) e alface (que eu comprara para preparar uma salada de almoço mas que acabara não usando ainda).

 

A sopa não poderia ser mais simples, pois basta colocar tudo na panela de uma vez, cozinhar e bater no liquidificador. Gostosa e leve, ótima para aquele friozinho que vinha e não vinha.

POTAGE SAINT-GERMAIN
(Do livro I Know How to Cook, the Ginette Mathiot)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 60g alho poró fatiado (cerca de metade de um pequeno)
  • 1 pé de alface, rasgado em pedaços pequenos ou fatiado grosso
  • sal
  • 500g ervilhas (pode ser congelada)
  • 1 gema de ovo
  • 4 colh. (sopa) de creme de leite ou sour cream
  • 2 colh. (sopa) generosas de manteiga

Preparo:
  1. Coloque na panela o alho poró e o alface e cubra com 6 1/3 xic. de água. Tempere com uma pitada de sal e leve à fervura, fervendo em fogo baixo por 10 minutos, sem tampa.
  2. Junte as ervilhas e cozinhe por mais 10 minutos.
  3. Num potinho, misture a gema ao creme e reserve. 
  4. Na hora de servir, bata a sopa num liquidificador ou com hand blender até a consistência desejada (pode ser lisa ou pedaçuda - fiz lisa desta vez, mas acho que deixaria mais pedaçuda na próxima). Desligue o fogo, junte o creme reservado e a manteiga, acerte o sal e sirva imediatamente.   

Os croûtons, acredite ou não, foram feitos com as bordas da pizza que minha filha e meu marido nunca comem. Ao invés de jogar fora, corto, torro e guardo num pote. Na eventualidade de uma sopa ou de uma salada, basta dourar em azeite e alho. Afinal, como diz minha filha, pizza é só um pão com cobertura. A borda, que não tem cobertura, é só pão e ponto. Vira croûton e dos bons.

Já que eu ia fatiar alho-poró e lavá-los para a sopa, pois eles vieram bem cheios de terra, achei que seria inteligente já fatiá-los e lavar todos os três logo de uma vez, apesar de usar apenas metade de um para aquele jantar. Enquanto a sopa fervia, botei o restante do alho-poró fatiado na panela com azeite, manteiga e tomilho, e deixei ali, até quase desmanchar, deglaceando a panela com um pouco de água, tampando e deixando que cozinhasse até quase virar purê. Então guardei num pote para que virasse recheio de torta depois. Na empolgação, resolvi fazer o mesmo com a maior parte do enorme pé de couve crespa que eu comprara, antes que começasse a murchar e melar. Refogadinha com alho, foi também para um pote.


E pronto, mais uma refeição do meu planejamento fora para a cucuia.

No dia seguinte, é claro, como eu já tinha o recheio para uma torta pronto, resolvi fazer a massa para estrear a forma de quiche, que não aguentei e acabei comprando na Ikea. Confesso, eu poderia continuar usando a assadeira retangular, mas eu ficava doida na hora de servir os pedaços e ver que os pedaços dos cantos tinham mais bordinha (parte favorita das crianças, ao contrário da borda da pizza) do que os das retas. Pet Peeve novo revelado: quiche tem que ser redondo pra todo mundo ter a mesma quantidade de borda e recheio. Egalité na quiche francesa, CLARO!

Para acompanhar o quiche de alho-poró, uma salada de alface, salsão e o último tomate da geladeira.


  
 E o que fazer com aquela couve preparada e aquele arroz fazendo aniversário? Coloquei no processador com ovos, parmesão, mozzarella ralada, salsinha, cebola picada, e um pouco de farinha para dar liga, temperei e pulsei umas duas ou três vezes, só para misturar e triturar uma parte do arroz, bem pouco, apenas para que os grãos grudassem e eu conseguisse transformá-las em bolinhas. Temperei-as com um fio de azeite e levei-as à AirFryer (marido continua na Philips e trouxe uma para casa, e hoje mordo a língua, pois a danada é ótima para fazer bolinhos como esse).

Os bolinhos da foto são de outra semana, que eu preparara usando talos de dente de leão. Como as crianças adoraram, apesar do amargor dos talos, escondidinho sob a doçura do queijo, achei que com couve também iriam bem, e o que havia de arroz e couve foi o bastante para que os dois levassem de almoço escolar cinco bolinhos cada por dois dias seguidos, para chuchar no ketchup.


Vou sentir saudades desses tomates. Tchau, tomates!!
Mas nem tudo estava perdido. Havia ainda UMA refeição para cumprir à risca e acreditar que meu Meal Planning funcionara afinal:o macarrão com pesto. Abro meu freezer contente apenas para constatar que... tipo... não. Não era pesto, era clara de ovo congelada. 

F*ck.

Cato os tomates-cereja que eu comprara para Laura levar de lanche e transformo em molho, refogando em azeite e um punhado de cebolinhas picadas (que também sempre tenho no freezer), incrementando com ervilhas no final. 

 

A única coisa que ficou no lugar foi a pizza mesmo.

Nos almoços das crianças ainda consegui me manter mais ou menos dentro do planejado, mas os snacks acabaram sofrendo imensa influência dos quereres de cada um e do que tinha disponível no fim das contas, Laura comera no café da manhã todos os kiwis que eu reservara para o lanche, eu usara os tomates-cereja no jantar, nenhum dos dois quis levar hommus com salsão, e foi isso aí. Eu queria ter feito crepes para mandar enroladinho em bananas e uma "Nutella" de sementes que achei no mercado (porque as crianças não podem levar Nutella de verdade para a escola, já que é uma Nut-Free School - meus olhos rolando enquanto escrevo isso, que eu sei que povo aqui tem alergias, mas isso de Nut Free me atrapalha horrores). Mas, claro, não fiz, não deu tempo, porque estávamos com visitas em casa, e acabei transformando as bananas em bolo - um bolo MUITO bom, por sinal, e esse canal também foi responsável pela nova receita de pão de queijo que ando fazendo, já que é uma bela adaptação com ingredientes canadenses. 



O que foi que nós aprendemos essa semana, amiguinhos?

Que meu negócio é mesmo o improviso, e que na minha cozinha a comida sai mais gostosa quando eu preparo o que quero comer aquele dia. Que sim, é MUITO prático você deixar já prontos os ingredientes que você sabe que se preparam sempre da mesma forma, como a couve e o alho-poró, ou ter leguminosas cozidas no freezer, ou preparar arroz de batelada, até como comentei no último post. Mas que é muito difícil, sem saber como vai ser seu dia durante a semana, se comprometer a um determinado cardápio assim, sem arredar pé. Já fiz isso na minha vida, e sempre me lasquei, pois ficava estressada por querer preparar um cozido de três horas nos quarenta minutos que haviam sobrado, ou me frustrava quando todo mundo queria pedir pizza em dia que eu planejara fazer torta.

Cada cozinheiro, no fim, tem um ritmo e um jeito diferente, e TÁ TUDO BEM. Eu, aparentemente, faço mais o estilo Rapa de Geladeira. Sou ótima de planejar, mas péssima pra implementar o plano (na cozinha e na vida, aliás). Mas me dá uma geladeira cheia de resto que parece não ter lé com cré, e eu crio uma refeição para quatro pessoas. E eu adoro isso! :)

No fim, foi uma semana divertida, mas descobri que meal planning rígido assim não é mesmo para mim.

Em contra partida, o que ficou evidente, com minha diminuta lista de compras para essas refeições da semana, é o quanto tendemos a overbuy. Seja por FOMO (Fear of Missing Out), que nos faz querer ter aquele ingrediente "pro caso de...", ou seja por falta de conhecimento detalhado de seu próprio padrão de consumo... toda vez que uma fruta estraga na fruteira ou uma garrafa de creme de leite vence na geladeira, pode não ser fruto de sua inabilidade de cozinhar ou reaproveitar alimentos, mas simplesmente porque você não precisava ter comprado aquilo aquela semana. O fato de eu saber que toda semana teremos duas noites de macarrão e uma noite de pizza, que uma noite pelo menos arroz será o acompanhamento, coisa que era impensável para meu estilo de cozinha no Brasil, me ajuda a não comprar a mais, salvo naquela semana louca de verão em que fui hipnotizada pela abundância e variedade do mercado. E esse semana de planejamento, mesmo não tendo seguido à risca NENHUM prato planejado, me fez ver que, de fato, é preciso MUITO POUCA comida por semana para manter minha família. Bem menos do que eu comprava no Brasil.

Lembro principalmente da minha época confeiteira-louca, em que passava os fins de semana preparando bolos e biscoitos e pães e tortas e sorvetes, e achava que tinha de ter sempre na despensa diversas farinhas e chocolates e toda sorte de ingredientes especiais...

Meu deus, como eu comprava mais do que precisava! E COZINHAVA mais do que precisava. Consequentemente, todo mundo comia a mais também.

Hoje, NUNCA tenho chocolate em casa. Quando quero um doce com chocolate, coloco na lista da semana e compro a quantidade exata de chocolate quando for o dia de mercado.
Tipo meu bolo de aniversário de sempre. O clássico.

De novo, menos opções em casa baixam minha ansiedade, menos comida estraga, é mais fácil decidir o que preparar no dia.Vamos então voltar para o que estava funcionando. Eu adoro mexer em time que está ganhando, mas não tenho nenhum problema em admitir que fiz porcaria e voltar atrás. Seja gerenciando cozinha ou criando filho, não existe solução mágica nem fórmula única: você sabe o que funciona para você, e se não estiver funcionando, tem toda a liberdade de tentar outros caminhos.

E O QUE MAIS SAIU DESSA COZINHA ESSE MÊS?

Tenho feito muitos poucos doces merecedores de um post. Desde que me mudei sinto que uma das coisas das quais me desapeguei foi da Ana-Confeiteira-Louca-Obcessiva. Principalmente porque as crianças estão fora o dia todo, prefiro mandar um bolo com frutas do que um bolo de chocolate para a escola, e durante o verão meio que tentei mandar apenas frutas mesmo, sem nenhum doce. Ninguém fica chateado se não tem sobremesa depois do jantar, e de fim de semana costumávamos levar as crianças para tomar sorvete, então parece que não teria muito bem motivo para ficar fazendo bolos e biscoitos e tortas e pudins dia sim, dia não, como era no Brasil. Converso sempre com uma amiga que acredita na influencia do ambiente: uma cozinha te dá mais vontade de cozinhar isso ou aquilo do que outra. E acho que ela tem razão. Tudo aqui me impele à praticidade. Não sinto falta de preparações complexas, nem no fazer, nem no paladar. É estranho, mas é bom. O bolo de sempre está bom. Às vezes faço algo diferente, mas desde que seja super simples, e de preferência que as crianças possam fazer junto.

No entanto, tenho me arriscado a voltar a algumas técnicas básicas que eu sentia que não havia dominado completamente ainda. O ventinho gelado no rosto e nas mãos me joga de volta às carnes. Mas mesmo elas acabo não preparando muito. Primeiro porque carnes boas são caras. Segundo, porque não tenho tempo de preparar um assado durante a semana, ou os pratos que realmente gostaria de tentar, e durante o fim de semana minha vontade de ir para a cozinha desaparece. Nesse momento, o marido que aprendeu a fazer waffles e é o responsável pelos cachorros-quentes de linguiça e pelos hambúrgueres caseiros, toma conta. Eu entro na cozinha para tomar meu café e bater uma porção de maionese fresquinha para os sanduíches.


Isso de voltar a fazer maionese começou a me empolgar, no entanto. Vi um episódio de Mind of a Chef, com a chef Gabrielle Hamilton, em que ela preparava meu café da manhã favorito, Eggs Benedict, e dizia: o que faz esse molho funcionar é a acidez; tem acidez suficiente no início para estabilizar as gemas para receberem toda essa manteiga. E seu método para molho Hollandaise era completamente diferente de tudo o que eu vira até então. Primeiro, tentei aplicar isso à maionese, que andara talhando miseravelmente nas últimas trinta e duas vezes que eu a preparara. Eu achava que era o tipo de óleo, que era o ovo gelado de geladeira... nunca pensei que fosse simplesmente pouca mostarda. Olhei para a gema na tigela e coloquei uma colher de sopa de mostarda de Dijon, quase do tamanho da gema, ainda gelada de geladeira. E comecei a incorporar o óleo (3/4 xic - 1 xic, dependendo do tamanho da gema), uma colher de sopa por vez. E foi assim que comecei a acertar a maionese SEMPRE. Tenho feito toda semana e fica sempre perfeita. Limão para temperar, sal e pimenta do reino e NHAM! Enquanto havia tomates, meu almoço foi uma fatia de pão dourada no azeite, uma passadela generosa de maionese caseira e fatias de tomate bem maduro e doce, temperado com sal e pimenta. Perfeição.

Isso me animou a tentar seu Hollandaise. Eis um molho que eu NUNCA conseguira acertar, principalmente porque todo mundo dizia que só funcionava em grande quantidade. Nada de fazer só uma xícara de hollandaise, como faço com a maionese. Afe. Mas O MÉTODO DELA parecia ótimo para pequenas porções, além de ser menos cheio de fricote, sem bater tigela em banho-maria e afins. Numa manhã de sábado em que o marido fora viajar a trabalho, resolvi me aventurar e preparar eggs benedict para as crianças. Ok, eu não tinha english muffins nem bacon canadense (ironicamente), então usei metades de bagels e Black Forest Ham. Há um tempo já que tenho me aperfeiçoado na arte do ovo poché, e descobri que o ovo grudado no fundo e espalhado era mera culpa da água em temperatura errada. Ela tem que estar realmente quase naquele ponto de começar fervura brava, quando as bolhas começam a fazer pequenas torres finas subindo à superfície. Se as bolinhas no fundo da panela estiverem muito pequeninas, a água não está quente o bastante e o ovo vai espalhar no fundo. Na temperatura certa, ele não encosta no fundo e o próprio movimento de ebulição leve da água envelopa o ovo na própria clara. Não precisa nem fazer o redemoinho. Uso uma caçarola larga, e coloco vários ovos ali, em sentido horário para saber qual tirar primeiro, e todos saem perfeitos.


Fiz um terço da receita do Hollandaise, que achei suficiente para nós três, com um pouco de sobra. E funcionou tão maravilhosamente bem, o molho ficou tão incrivelmente sedoso e saboroso, que as crianças acharam graça dos meus pulinhos e minha risada. Os bagels, no fim, ficaram muito grandes para esse preparo, mas as crianças pediram o resto do molho e chucharam não apenas o resto de seus bagels mas os outros que surrupiaram de cima da bancada, até que não houvesse mais molho. 

Por conta desse sucesso, num almoço solitário, resolvi fazer ainda um ovo que eu nunca preparara antes, e que de tanto aparecer nos últimos Masterchefs, me causara curiosidade: o ovo Mollet. Lembrei na hora de uma receita do livro da Heloísa Bacellar, de ovo mollet com molho Meurette, que na época em que eu comprei o livro (há mais de dez anos) me parecia tão trabalhoso, que nunca me aventurei a tentar. Como não tinha mais o da Heloísa, catei meu livro francês I Know How to Cook, dividi mentalmente a receita de sauce Meurette para compor apenas meu prato, e pus-me ao trabalho. E trabalho que nada! Você coloca a água dos ovos para ferver em uma panela e o molho em outra. Enquanto o molho cozinha, você descasca os ovos e doura os pães, e em quinze a vinte minutos o prato está pronto, dependendo de quantos ovos está fazendo e da sua destreza na cozinha.


Servi meu sauce Meurette sobre o ovo Mollet e cogumelos refogados sobre uma torrada integral esfregada com alho, e digo que foi uma refeição simples e sensacional. Meu molho não ficou vermelho porque o único vinho que tinha em casa naquele  momento era o Marsala. É o tipo de prato que quero preparar para as crianças, que amam ovos moles e cogumelos. Nham, nham, nham.

OEUF MOLLET EN MEURETTE 
(Ligeiramente adaptado do livro I Know How to Cook, de Ginette Mathiot)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 6 ovos
  • 3 xic. vinho tinto 
  • 1 cebola pequena, picada
  • 1 galho de tomilho
  • 1 folha de louro
  • 2 ramos de salsinha
  • 1/3 xic. manteiga em temperatura ambiente, mais um pouco para dourar o pão
  • 1 1/2 colh. (sopa) farinha de trigo
  • sal e pimenta do reino
  • 6 fatias de pão
  • 1/2 dente de alho

Preparo:
  1. Cozinhe os ovos: leve uma panela pequena com água bastante para cobrir os ovos à fervura, tempere com uma pitada de sal, e deixe uma tigela com água gelada reservada ao lado. Coloque os ovos na água com uma escumadeira e cozinhe por 5 minutos. Retire com a escumadeira e coloque imediatamente os ovos na água gelada, para parar o cozimento. Quando estiverem frios o bastante para tocá-los, descasque CUIDADOSAMENTE, pois eles estarão bem mais moles do que um ovo cozido normal. Reserve num prato. 
  2. Numa frigideira, coloque o vinho, cebola e as ervas e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe até que reduza pela metade (se estiver fazendo uma quantidade menor do que a receita, isso acontece MUITO rápido).
  3. Misture 2 colh. (sopa) da manteiga com a farinha para formar uma pastinha e junte ao molho, misturando com um fouet para incorporar e não formar bolotas. Ferva por 1 minuto até que engrosse.
  4. Com o fouet, misture o restante da manteiga e passe por uma peneira para uma tigela, descartando os sólidos. (Eu apenas tirei as ervas e servi com as cebolas, porque, convenhamos, eu queria comê-las.) Tempere com sal e pimenta e reserve.
  5. Em outra frigideira, derreta um pouco de manteiga e e doure os pães. Esfregue o dente de alho nas fatias douradas, e coloque uma em cada prato. Coloque o ovo descascado cuidadosamente por cima e cubra com o molho.(Salsinha picada por cima foi fricote meu.)

E o que mais?

Teve ESSE PÃO integral com aveia da Deb do Smitten Kitchen que foi devorado sumariamente, tão bom. Pense num pão macio.
Também para quem não gosta de desperdiçar nada... Havia comprado um saco imenso de peras, pois elas surgem e vão embora tão rápido quanto o sol do inverno Norueguês. As peras daqui são super doces e saborosas, mas por algum motivo, Laura decidiu que não gosta de pera e Thomas... bem, Thomas não gosta de fruta. Ê fase. Quem lembra de foto do Thomas se esbaldando com tudo quanto é fruta quando pequeno não reconheceria o menino hoje. 

Como já tinha bolo pronto e eu não queria desperdiçar as peras, transformei-as nessa compota da Alice Medrich, e agora a criançada tem colocado pera em calda no mingau, no sorvete, e, principalmente, no iogurte, pois o contraste do doce melífero e perfumado da compota e o azedinho do iogurte faz com que isso pareça sobremesa de restaurante cinco estrelas. Um abuso de bom. Tanto, que quando as peras acabaram mas o caldo ainda era abundante, voltei-o para a panela e cozinhei mais peras frescas nele. E todo mundo ficou contente por ter mais peras em calda pra comer. Vai entender.


PERAS EM CALDA
(Do livro Sinfully Easy Delicious Desserts, de Alice Medrich) 

Ingredientes:
  • 1/2 colh. (chá) sementes de erva-doce
  • 1 1/3 xic. água
  • 2/3 xic. suco de limão siciliano
  • 1 3/4 xic. açúcar
  • 4-5 peras maduras mas ainda firmes, cortadas em quartos e com as sementes removidas

Preparo:
  1. Combine a água, o suco de limão, as sementes e o açúcar numa panela e leve à fervura em fogo alto. Abaixe o fogo e cozinhe por cinco minutos. 
  2. Junte as peras, cubra com uma tigela ou pires de diâmetro pouco menor que a panela, para mantê-las afundadas na calda, e cozinhe em fogo baixo por 3-5 minutos, dependendo da firmeza das frutas.
  3. Remova a panela do fogo. Deixe que esfriem, sem remover o pires, por 1 hora. Então passe para um recipiente com tampa e leve à geladeira até a hora de servir. A compota dura cerca de uma semana, e se melhora conforme os dias passam. 
 Nisso de reaproveitamento, acompanhei um passeio de escola de Thomas a uma fazenda, onde as crianças colheram diversos vegetais que os professores então decidiram cozinhar para que as crianças experimentassem. Quando comentei com a professora sobre não esquecer de usar as folhas dos nabos e da erva-doce, ela disse: "Não teremos tempo de consumir tudo isso, eu acho. Quer as folhas para você?"

Ieeeei! Claro!

No mesmo dia as folhas de nabo, com seus talos, foram branqueadas até amaciarem, e então refogadas em nacos generosos de manteiga e alho. Acompanharam batatas-doce assadas e um arroz de forno em que usei as partes externas da erva-doce, machucadinhas, que a professora havia descartado com as folhagens. Fatiei essas partes fino e caramelizei com cebolas, incorporando ao arroz de transantontem com ovo, parmesão, salsinha e folhas de erva-doce. Parmesão polvilhado por cima e nacos de manteiga, e forno nele até dourar. 


O resto das folhas de erva-doce (que eram MUITAS) viraram um pesto sem queijo, apenas com alho, pinolis e azeite, que bati no processador e congelei, para usar em massas, legumes e para esfregar num peixe da próxima vez.

Falando em economia doméstica, a sopa abaixo parece pouca coisa mas é deliciosa e fez muito sucesso com as crianças. Também do livro francês. Chama-se, justamente, Soupe Économique! Você leva à fervura 6 1/2 xic. de caldo caseiro (qualquer caldo! usei o meu de legumes, mas um de carne ou galinha deve ficar sensacional!) junta 500g de batatas raladas com casca (raladas na parte grossa do ralador) e cozinha por 10 minutos ou até que a batata esteja macia e quase desmanchando no caldo, que automaticamente engrossa com o amido da batata. Na hora de servir, basta juntar 2 generosas colheres (sopa) manteiga e acertar o sal e a pimenta. Servi com o que restara da focaccia al rosmarino que eu preparara no dia anterior, pois ter algo para chuchar na sopa sempre foi o segredo para as crianças experimentarem a sopa e começarem a comê-la sem queimarem as bocas com o caldo muito quente.

(As fotos dos jantares tendem a ficar mais feias agora com a luz artificial, já que o sol anda se pondo mais cedo.)


Por último, a família que veio visitar também trouxe junto um presente de minha amiga querida do coração lá do Brasil, que é ceramista e tem um talento incrível. Já tomo meus cafés de meio da manhã numa xícara sua, minhas frutas ficam dispostas sobre um prato seu, azul e branco, e ela agora fez para mim um prato para minhas torradas de almoço, para que estejamos mais juntas, de alguma forma, e não tenhamos tantas saudades de nossos extensos chás com bolo, cheios de boa conversa. 

Dêem uma olhada no trabalho dela e do ATELIÊ GAROA, na sua loja e em seu Instagram: @ateliegaroa


Cozinhe isso também!

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