quarta-feira, 4 de março de 2015

Um bolo de limão com cream cheese para uma natureba mas nem tanto


Até agora me pergunto o que foi que aconteceu. Eu sempre torci o nariz pra gente que fazia pesto com semente de abóbora, gente que fazia biscoito com farinha de arroz sem ser intolerante a glúten, gente que botava couve no suco. Pra quê, meu deus? Pra quê patê de tofu, se você pode usar ricotta? Por que estragar um bom sushi com arroz integral?

Ahn...

Porque é gostoso.

Ok. Por partes. A primeira vez que caí num blog mega natureba, com spaghetti de quinua e brownie de batata doce, eu também me senti pessoalmente ofendida. Era como se aquela pessoa me dissesse que toda uma tradição culinária não prestava. Era como cuspir no meu fettuccine alfredo porque a massa era de trigo e o molho, de manteiga. Como se todo o meu esforço em comer direito o que eu julgava (e continuo julgando) natural não fosse o bastante. Mas também havia um ranço de "essa pessoa é melhor do que eu porque ela consegue não comer açúcar". A gordinha com baixa-estima dentro de mim se ressentia desse povo magro de cabelo brilhante que toma suco de couve. A sensação era bem essa. Viva na minha memória, a sensação adolescente de olhar meus amigos que não se entupiam de bolacha Bono e ficar criando desculpas a respeito do meu peso, por exemplo. Desculpas do tipo "é meu biotipo, eu sou grande, tenho dificuldade de emagrecer, meu metabolismo é lento..." Um monte de bobagens que me impediam de de fato levantar a bunda do sofá, parar de comer porcaria e ir atrás do que eu queria. Tão mais fácil ficar xingando quem consegue como se aquelas pessoas saudáveis fossem infelizes, esquisitas, problemáticas. E não eu. Infeliz no meu sofá, morrendo de inveja dos outros.

Tive filhos. Com filhos, tive um impasse. O dilema entre criar lindas memórias afetivas recheadas de bolos e pudins e biscoitos, fantasia que habitara minha mente desde que comecei a cozinhar, e a preocupação em criar hábitos saudáveis, em criar dois pequenos seres humanos que prefiram frutas, que gostem de verduras, que saibam comer bem.

As refeições de repente tinham horários, a rotina estava instituída, e meus filhos aprenderam a não beliscar o dia todo, como eu fazia na minha infância. Lanche tem hora. E no lanche eles comem, mas eu raramente tenho fome, e preocupada em dar conta de outros afazeres enquanto eles estão quietinhos comendo, eu acabo não comendo aquela fatia de pudim. Depois do almoço ou do jantar, enquanto eles comem sobremesa na mesa da cozinha, seja doce ou seja fruta, eu lavo a louça. E, nesse hábito, esqueço de pegar um pouco de sorvete.

Vou lembrar que o doce existe às nove da noite, três horas após o jantar e uma hora e meia depois de colocar as crianças na cama. Mas se eu tiver aberto uma boa cerveja stout, vou achar que o bolo não combina, e vou deixar para amanhã. Só para repetir tudo de novo e, dessa forma, passar meses sem comer um doce e nem perceber.

Esse foi um processo estranho. Um processo inconsciente e sem intenção que fez com que, ao longo dos últimos anos, eu mudasse muito meu jeito de comer. Essa desintoxicação do doce, que eu costumava comer duas, três vezes por dia, somada a um crescente interesse pelos sabores dos grãos e farinhas integrais, o fato de ter mudado para um lugar onde não consigo comprar carnes ou peixes com frequência, e, enfim, o fato de o preço dos meus queijos favoritos estarem pela hora da morte... tudo isso contribuiu para a mudança na minha cozinha.

E de repente eu tinha todos os ingredientes para alguma receita extremamente natureba que eu vira num blog ou na tv, e resolvo tentar. E de um dia para o outro me vendo colocando chia e tahini nas coisas. E fazendo leite de amêndoas. E maionese de castanha de caju. E patê de tofu. E mousse de chocolate com abacate. E suco com couve. Meu deus, até o sushi com o arroz integral.

E adoro quando acaba a farinha de trigo e eu não me desespero porque tenho que ir a São Paulo comprar mais farinha orgânica. Fico duas semanas sem comprar e ainda consigo fazer panquecas e waffles e crepes e biscoitos e bolos. De quinua, de teff, de sorgo, de amaranto, de cevada, de centeio, de milho.

E quando acaba o creme de leite, posso engrossar uma sopa com castanha de caju, porque lembro que quem é vegan faz creme de leite com ela. E aprendo a cozinhar sem ovos quando estou sem. E aprendo a cozinhar sem queijo quando está muito caro.

Mas o que mais aprendi nesse último ano foi como eu funciono bem assim. Como essa comida super natureba melhorou minha pele, meu cabelo, meu peso pós-crianças. Minha mãe vinha em casa e ficava preocupada, achando que minha porção de comida era muito pequena. E eu explicava que aquele monte de grãos integrais e legumes me mantinham saciada por mais tempo, apesar de deixar o estômago leve. E, de fato, eu só tinha fome de novo na hora do jantar. Vontade ZERO de beliscar.

Ok, muita coisa pra fazer pra lembrar de beliscar.

Sinto-me tão, tão bem, que me dá vontade de voltar a me proclamar vegetariana. Mas deixo pra lá os rótulos porque é simplesmente mais fácil fazer tantas refeições vegetarianas ou veganas que eu queira, e, no dia que der vontade, comer um sanduíche de mortadela. Ninguém me impede. Nunca assinei contrato nenhum. ;)

E isso eu também aprendi. Que comida natural faz bem, desde que não deixe você estressado a respeito. Eu não penso mais duas vezes na estranheza que é só comprar arroz agulhinha integral mas fazer risotto de arroz arbóreo, branco daquele jeito. Confesso, se tivesse arroz arbóreo integral pra comprar, compraria. Mas se não tem, adoro meu risotto branquinho. Quando vou à minha mãe, como arroz branco e como frango orgânico à milanesa. Me esbaldo, aliás, porque fez parte da minha infância aquele franguinho.

No mesmo dia em que  me faço um suco de couve depois da corrida, preparo também iogurte, leite de amêndoas e sorvete de doce de leite. O almoço é cevadinha com pesto de brócolis e abacate, e o jantar é a "crustless pizza" da Nigella. Assisto a programas da Bela Gil beliscando prosciutto e tomando um negroni. Quero preparar o pernil desfiado da Rita Lobo e as trufas de tâmara do Green Kitchen Stories. Sobre a mesa da cozinha, há biscoitos sem glúten feitos com farinha de teff e um bolo de limão que levou 600g de açúcar orgânico e um monte de cream cheese na massa.

Há quem diga que isso é loucura, que não tenho consistência. Com certeza, hoje, tenho prazer na minha comida. Não tenho invejinha do povo do suco de couve e não desdenho quem nunca comeu quinua. Quero fazer brownies de batata doce e vou preparar minhas próprias linguiças tão logo encontre os intestinos para comprar. Comida é comida e para mim só não pode ser trakinas e miojo. Mas se eu estiver morrendo de fome e um amigo querido me oferecer cebolitos, vou comer e agradecer a gentileza. Se o único cream cheese disponível tem goma, vou comprar um a cada seis meses e não toda semana.

Enquanto isso, me esbaldo com cuidado nesse bolo, que é tudo aquilo que sempre foi perdição para mim. Bolo perfumado e incrivelmente macio, daqueles que você come um pedaço, e outro e outro. Recomendo preparar e levar para dividir com amigos.

A menta na cobertura é tão sutil que pode ser omitida se você não tiver. Única mudança que faria da próxima vez é usar da técnica da Dorie Greenspan e incorporar a casca do limão já esfregada no açúcar, para liberar os óleos essenciais e espalhar melhor na massa. Da forma como estava na receita, de juntar na massa pronta, a casca formou gruminhos que não se espalharam uniformemente.

PS: vi um post engraçadíssimo no Facebook sobre um povo que foi preparar uma refeição inteira da Bela Gil e gastou uma fortuna e ficou horas na cozinha. Ri muito, mas lembro que quando fui fazer minha primeira refeição indiana, gastei os tubos com especiarias porque não tinha nada em casa e demorei horrores só pra separar os 17 temperos que iam em cada um dos pratos. Falta de hábito. Se você vai se enveredar por qualquer cozinha que não aquela com a qual você cresceu, vai gastar dinheiro para estocar a despensa com os básicos e vai demorar até pegar o jeito das preparações. Seja cozinha natureba, francesa, indiana, chinesa, vegana, alemã, o que for. Concordo muito com as críticas à Bela Gil como apresentadora, torço o nariz pra muita coisa que ela diz, mas continuo defendendo a comida, que é uma delícia, independente das meias informações que ela fala e das confusões que se arranja. Se você está de saco cheio dela mas quer explorar esse tipo de cozinha, recomendo os seguintes sites (em inglês):

Green Kitchen Stories (um dos meus favoritos, os livros são ótimos)
Deliciously Ella (achei recentemente e adorei. Os videos dela do youtube são fofos.)
Naturally Ella (também descoberta recente.)
Sprouted Kitchen (um pouco menos natureba comparado com os de cima)
101 Cookbooks (sempre, sempre confiável, as receitas da Heidi viravam até papinha das crianças)
Canelle et Vanille (não é vegetariano, mas é gluten free e lactose free, e uma delícia)

No momento, a Bela Gil para mim é uma boa opção por usar ingredientes brasileiros, apesar de tudo. Se você tiver uma boa indicação de site natureba brasileiro, por favor deixe aqui nos comentários. Obrigada! :D

"POUND CAKE" DE CREAM CHEESE E LIMÃO
(Do sempre ótimo Baking for All Occasions, de Flo Braker)
Rendimento: 1 bolo grande

Ingredientes:

  • 3 1/4 xic (370g) farinha de trigo*
  • 1/4 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 255g manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 225g cream cheese, em temperatura ambiente
  • 3 xic. (600g) açúcar
  • 6 ovos grandes, em temperatura ambiente, levemente batidos
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 2 colh. (chá) casca ralada de limão
  • 3 colh. (sopa) suco de limão

(glacê)

  • 90ml água
  • 2 colh. (chá) casca ralada de limão
  • 2 colh. (sopa) suco de limão
  • 2 colh. (sopa) manteiga
  • 1/4 xic. folhas de hortelã apertadas na xícara
  • 1 1/4 xic. + 2 colh. (sopa) (140g) de açúcar de confeiteiro


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte generosamente com manteiga uma forma Bundt ou uma forma de furo no meio com capacidade para 12 xícaras. Polvilhe com farinha e retire o excesso.
  2. Peneire numa tigela a farinha, bicarbonato e sal. Em outra, esfregue o açúcar e a casca de limão com os dedos, para liberar os óleos. 
  3. Na tigela da batedeira, bata a manteiga e o cream cheese em velocidade média por 30-45 segundos, até que fique cremoso e uniforme. Vá acrescentando o açúcar com a casca de limão aos poucos, batendo por uns 5 minutos, até que fique bem claro e fofo.
  4. Vá juntando os ovos batidos devegar, de 2 em 2 colheres (sopa), batendo sempre, não demorando mais que 3 minutos para juntar tudo. 
  5. Junte a baunilha e o suco de limão. Não se preocupe se a mistura parecer talhada. Vá juntando a farinha e batendo em velocidade baixa, apenas até que a farinha tenha sido incorporada, raspando o fundo da tigela com uma espátula de vez em quando.
  6. Transfira para a forma e asse por 1h15 minutos, ou até que um palito saia limpo ao ser inserido no meio. Confira quando der 1 hora, pois o bolo pode já estar pronto. 
  7. Retire do forno e deixe sobre uma grade por 10 minutos antes de desenformar. Enquanto isso, faça a cobertura.
  8. Numa panela pequena, coloque a água, a manteiga, o suco de limão e folhas de hortelã. Leve ao fogo baixo apenas até que a mistura borbulhe nos cantos, desligue e deixe quieto por alguns minutos. Pressione as folhas com as costas de uma colher contra a lateral da panela, para liberar os óleos, e descarte. Junte à mistura de manteiga o açeucar e a casca de limão e misture bem. Desenforme o bolo e use um pincel para espalhar o glacê sobre todo o bolo quente. Deixe esfriar completamente antes de servir. 



*Ela pede "cake flour". Meça a farinha de trigo. Para cada xícara, retire 1 colh. (sopa) e substitua por 1 colh. (sopa) amido. Misture bem com um fouet.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Borcht com Pirochki, para quem não vive sem legumes


As coisas andam tão corridas, que esse era para ser um post de Reveillon, veja só. Com resoluções e o caramba. Engraçado como um mês depois você já se dá conta de que resoluções não levam a nada e que o melhor é simplesmente viver sua vida da melhor forma possível e não encanar muito com as coisas. [Viu? Isso era uma das resoluções, tentar ser menos dura, e levar as coisas de um jeito mais leve – só pra dizer que essa resolução tem beirado o impossível de manter.]

E tive mesmo de não encanar muito nos últimos meses, pois fui absorvida pelo trabalho durante as férias escolares, com direito a duas viagens internacionais que soaram bem mais interessantes do que foram de fato. Precisei de muita a ajuda de marido, mãe e sogra, para poder dar conta de tudo e basicamente qualquer atividade que eu tivesse planejado para janeiro (que era para ser minhas férias) teve que ser cancelada.

Agora o trabalho está um pouco mais tranquilo e as crianças voltaram para a escola, e estamos todos ainda nos adaptando à nova rotina, agora que a pequena Madame Bochechas também tem aulas. Consigo trabalhar a manhã toda, e um pouco mais à tarde, porque os dois cochilam após o almoço. (Aleluia!)

E tenho mais tempo para pensar melhor as refeições do meio da semana e até mesmo para voltar a fazer pão com regularidade.

E se as viagens a Trinidad não foram aquela coisa maravilhosa de dias no Caribe que as pessoas esperavam quando eu contava do trabalho, valeu para poder organizar a cabeça de novo e me dar conta de coisas nas quais não havia ainda prestado atenção.

Após uma reunião de três horas, o cliente pediu almoço para a equipe na sala de conferência antes da reunião seguinte... de três horas. Sempre que pediam comida no escritório a mistura era mais ou menos a mesma: algo indiano, algo chinês, algo com sotaque africano. Sempre um peixe ou uma carne com um molho doce e bem apimentado, algum curry, algum arroz ou macarrão chinês com legumes.

Muito gostoso. Comi bem todos os dias.

Mas não foi assim com todos nós. A equipe era chamada de "Nações Unidas", porque era composta de uma brasileira (eu), uma norueguesa, um romeno, um guatemalteco, um peruano e um chinês. O guatemalteco, logo notei, nunca comia nada. Naquele dia, havia um pãozinho indiano simples e delicioso, para ser comido junto com um curry que quase me fez lamber o prato. O rapaz comia apenas o pão.

O peruano lhe perguntou a respeito de sua dificuldade com a comida local.

"Não gosto de comida apimentada. Ou com muitos temperos. Não consigo comer."
"A comida na Guatemala não é apimentada?", perguntei.
"Não, é bem neutra de temperos, na verdade."

Pela localização geográfica, presumi que fosse muito quente na Guatemala, e que por isso, lá também, como todos os locais quentes, muita pimenta fosse usada. Mas não, a Guatemala é a "terra da primavera eterna", ele me explicou. E a comida reflete o clima ameno.

"Mas o que seria o básico da comida de lá? Do que você sente falta?", perguntou o peruano.
"Ah... feijão. Eu preciso de feijão. Se não tem feijão no meu prato, não é uma refeição", disse ele.
"Feijão? Hum... Para mim é arroz. Acho muito estranho não ter arroz. Fica faltando alguma coisa, não satisfaz", disse o peruano. "E você, Ana?"

Pensei um pouco.

"Como brasileira, acho que seria a combinação dos dois. No Brasil, pelo menos no sudeste, acho que arroz e feijão juntos são muito importantes."

Eles pareceram satisfeitos com essa resposta, mas eu, não. Continuei a comer meu curry de vagens, chuchando o pãozinho no molho cremoso e apimentado, e matutando no assunto. O que torna minha refeição uma refeição de fato? O que não pode faltar no meu prato? Do que mais sinto falta quando estou fora da minha casa?

Carne? Não, não preciso de nenhuma.
Arroz? Neh.
Feijão? Neh.
Queijo? Nem isso.

A resposta me surpreendeu um bocado e me encheu de satisfação ao mesmo tempo: verduras. Preciso de verduras e legumes no meu prato. Sempre. Nem que seja apenas uma folha de alface num sanduíche de queijo. Um pouco de couve para acompanhar o arroz com feijão.

Uma vez fiz uma frittata de mortadela da Nigella, que, apesar de deliciosa, causou-me muita estranheza: depois de uma vida fazendo frittata de legumes e verduras, ver proteína com proteína daquele jeito me pareceu pesado e redundante, e senti falta de algo bem verde e leve para suavizar a refeição. Posso comer um prato inteirinho de verduras e legumes, e para mim é almoço completo. Mas um prato sem eles parece tragicamente abandonado no meio do caminho.

Essa constatação me deixou muito feliz comigo mesma. Como disse a meu marido outro dia, parece que hoje, mesmo comendo carne eventualmente, eu poderia ser uma vegetariana melhor do que jamais fui. Consegui chegar num ponto em que realmente estou satisfeita com a minha alimentação. Meu prato me faz levantar da mesa leve e cheia de energia.

E fico contente vendo os pimpolhos seguindo o mesmo caminho.

Depois de pastar um bocado com o Matador de Dragões nos seus Terríveis Dois Anos, quando ele não queria provar nada verde e empurrava o prato para longe, e berrava e não comia e me deixava louca, finalmente posso simplesmente preparar o almoço com a maior quantidade de legumes e verduras possíveis, e não ficar muito encanada se aquilo será aceito ou não pelas crianças.

Porque mesmo que sem entusiasmo, eles pelo menos provam. Um influenciado pelo outro. Madame Bochechas passou voando pela fase do "não quero-não gosto", já que quer imitar o irmão, e se o irmão está comendo quiabo, então ela vai comer quiabo também. Ou Laura recebe palmas por comer toda a couve, e o ciúmes faz com que Thomas leve um garfo cheio de couve à boca, pedindo palmas também.

Às vezes tenho que me refrear e não ficar tão encanada com o fato de eles comerem tudo do prato ou não. E simplesmente fazer festa por terem provado algo novo. As broncas acontecem mais quando a brincadeira é tanta à mesa, que cotovelos batem em garfos e comida sai voando pelos ares. Ou quando Laura resolve colocar comida atrás da orelha.

Mas de vez em quando eles me surpreendem. Muito. Como quando você coloca à frente deles uma tigela de Borcht e pasteizinhos de repolho e eles comem sem titubear, sem pedir ajuda, viram as tigelinhas na boca e pedem mais, chucham os pasteizinhos no caldo púrpura brilhante, perguntam o que são as sementinhas ali dentro (alcaravia), repetem os nomes como conseguem e se esbaldam, quase não deixando nada para papai e mamãe.  

Penso de novo nisso de "cardápio infantil" ou "paladar infantil" e acho tudo uma grande bobagem. Vejo os dois tomando sopa de beterraba com repolho e comendo frutas de sobremesa e fico contente, acreditanto que eles também vão sempre buscar colocar uma folhinha de alface dentro de seus sanduíches de queijo. E que, principalmente, no dia em que estiverem na Tailândia, ou no Japão, ou na França, ou na Alemanha, ou em qualquer lugar do mundo, ou mesmo na casa de um amigo, nunca vão passar fome ou recusar comida de um anfitrião generoso. E essa perspectiva me deixa muito feliz.

Esse Borcht é vegetariano, olhe só. Eu sempre achei que Borcht levasse uma tonelada de carne. Só que não. Pelo menos essa versão. Essa sopa é mais saborosa e mais leve do que parece. Em temperatura ambiente, foi refeição em dias de calor brutal. O certo é colocar creme azedo por cima, mas uma colherada generosa de iogurte firme também serve. E não deixe de fazer os pasteizinhos, que são fáceis e deliciosos. E tanto a sopa quanto os pastéis congelam maravilhosamente bem. Foi minha saída, pois só no meio do preparo dei-me conta de que fazia Borcht e Pirochki para DEZ PESSOAS. o_O

BORCHT com PIROCHKI (vegetariano)
(do livro Culinária Ilustrada Passo a Passo, Legumes e Verduras, da PubliFolha)
Rendimento: 8-10 porções

Ingredientes:
(Borcht)

  • 1 repolho de 1,5kg, cortado em quartos e fatiado bem fino
  • 2 cenouras médias, picadas
  • 3 cebolas médias, picadas
  • um punhado de endro, picado
  • um punhado de salsinha, picada
  • 750g tomates, pelados e picados grosseiramente
  • 6 beterrabas médias, cozidas (ou assadas), descascadas e raladas grosso
  • 60g manteiga
  • 2 litros de caldo de galinha ou água
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • suco de 1 limão
  • 2-3 colh. (sopa) vinagre de vinho tinto
  • 125ml creme azedo (sour cream), para servir

(Pirochki)

  • 60g queijo minas
  • 2 colh.(chá) sementes de alcaravia (kümmel)
  • 175g farinha de trigo
  • 1 ovo
  • 60g manteiga sem sal, amolecida
  • 2 colh. (sopa) creme de leite
  • 1 ovo para pincelar


Preparo:

  1. Depois de picado o repolho, reserve 1/2 xic. de chá para rechear os pirochki.
  2. Para a massa dos pastéis, coloque a farinha numa tigela com a manteiga, o ovo e o creme de leite, 1/2 colh (chá) de sal e misture com a ponta dos dedos, juntando a farinha aos outros ingredientes aos poucos, até obter uma farofa grossa. Forme uma bola.
  3. Polvilhe uma superfície com farinha e sove a massa sobre ela por 1-2 minutos, até ficar bem lisa e soltar da superfície e dos dedos. 
  4. Embrulhe bem a massa em filme plástico e deixe na geladeira por 30 minutos. 
  5. Enquanto isso, faça a sopa. Derreta a manteiga em uma panela BEM GRANDE. Acrescente a cenoura e a cebola e cozinhe, mexendo, por uns 5 minutos, em fogo baixo, até os legumes fiquem macios, sem dourar. Retire 1/4 dos legumes passados na manteiga para o recheio dos pirochki.
  6. Junte à panela o repolho, a beterraba, o tomate, o caldo (ou água), açúcar, sal e pimenta a gosto e deixe abrir fervura.
  7. Abaixe o fogo e cozinhe por 45-60 minutos. Prove, corrija o tempero, se necessário, e adicione mais caldo ou água se a sopa estiver muito grossa (dependendo da panela, pode secar muito rápido, então fique de olho!). Desligue o fogo e reserve enquanto prepara os pirochki. Na hora de servir, junte as ervas picadas, o suco de limão e o vinagre e acerte o tempero. 
  8. Para o recheio dos pirochki, coloque o repolho reservado em uma tigela, cubra com água fervente e deixe ficar 2 minutos. Escorra, passe por água fria e escorra de novo, espremendo bem com as mãos. Pique finamente.
  9. Misture o repolho picado, o queijo, as sementes de alcaravia e as cenouras e cebolas refogadas. Tempere com sal e pimenta. 
  10. Polvilhe uma superfície com farinha e abra a massa com rolo até 3mm de espessura. Recorte discos de massa com um cortador ou um copo de borda fina. Deve render de 25-30 discos, mais ou menos. 
  11. Use uma colher de chá para colocar o recheio no centro dos pastéis. Pincele as bordas com um ovo batido com 1/2 colh. (chá) de sal. Feche bem os pasteizinhos em forma de meias-luas e coloque em uma assadeira. Pincele-os com o ovo batido. Leve à geladeira por 15 minutos.
  12. Aqueça o forno a 200ºC. Quando o forno estiver quente, asse os pastéis por 15-18 minutos, ou até que dourem. 
  13. Sirva os pastéis ao lado do borcht quente ou em temperatura ambiente, com uma colherada de creme azedo por cima. 






Cozinhe isso também!

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