terça-feira, 13 de maio de 2014

Caldo de abóbora japonesa, inhame e cogumelos com macarrão

Foto de improviso de um prato de improviso que ficou melhor que o planejado.
Você viu? Você viu como eu me safei no título? Não vou chamar de "sopa japonesa", porque sei que o original não é assim e não quero irritar ninguém hoje. O caso é que de vez em quando eu me empolgo na feira orgânica e levo para casa mais vegetais do que consigo consumir na semana, e então fico à procura, internet afora (incluindo o site que procura nos meus livros), algo que use a maior quantidade de qualquer coisa que eu tenha de uma vez só.

Quando caí nessa sopa, no site da Dona Martha, fui lendo os ingredientes e pirei. Tenho abóbora japonesa? Tenho. Tenho inhame? Tenho. Tenho cebolinha? Tenho. Tenho shoyu? E mirin? E kombu? E cogumelo shiitake seco? E cenoura? Tenho! Tenho! Tenho! Mas... nada de udon. O que eu tenho é um pacotão imenso de somen. E nada de nabo japonês. Ou acelga. Ou esse temperinho que mandam botar no final que não faço a mais tenra ideia do que seja. O mercado aqui do lado também não tinha. Aliás, fiquei triste de ouvir da funcionária que eles pararam de comprar nabo, porque não vendia. E eu sei que o inhame que eu tinha não era o japonês. Ou a cebolinha.

Resolvi trabalhar com o que tinha, pois era melhor meia sopa de um monte de coisa do que um monte de coisa estragando porque eu não quis usar em meia sopa. Principalmente os cogumelos, aliás, cujo sacão imenso comprei há muito tempo, para usar em várias receitas vegetarianas do livro do Mark Bittman, só para meu marido decidir, dois dias depois, que não gosta mais de cogumelos. Então, qualquer prato onde eu possa usá-los, mas que ele possa separar e não comer, está bom para mim. Preciso dar fim àquele sacolão.

Deixei os cogumelos de molho em água quente assim que voltei de deixar o Thomas na escola, e preparei todo o resto cerca de meia hora antes de buscá-lo. Como era muito caldo, resolvi cozinhar o macarrão em água separada. Assim, poderia requentar o caldo no dia seguinte ou congelá-lo, e só cozinhar mais macarrão na hora, direitinho, sem ter de catar fiozinho de macarrão desmanchando na panela.

Confesso que dessa vez olhei para o panelão e pensei: esses moleques não vão comer isso. O cheiro estava uma delícia, mas eu sei que forço a barra de vez em quando, que quando falo "macarrão", Thomas sempre espera molho de tomate por cima.

Para minha surpresa os dois atacaram seus potinhos sem pestanejarem. Laura, como sempre, usando as patinhas para catar tudo e levar à boca, o garfo às vezes numa das mãos como mero objeto de decoração. Thomas, pedindo ajuda com o somen escorregadio. Os dois comeram todos os legumes menos os cogumelos shiitake. E o menino pirou com a colher da sopa, principalmente quando disse que ele podia sorver o líquido fazendo barulhinho. Tomou tudo e pediu mais caldo.

O que eu achei? É tão gostoso, tão gostoso, que parei de comer e catei a câmera para tirar uma foto e postar aqui. Se essa meia sopa com macarrão errado ficou desse jeito, imagina com o udon e os legumes que faltaram? ^_^

Então, espero que os filhos e netos de japoneses por aqui não se ofendam com a adaptação. Aliás, até mesmo deixo aqui uma pergunta, pois, fora a espessura e textura das duas massas que são claramente diferentes, nunca entendi exatamente quando se usa o somen. Pois há pacotes de somen que mostram o macarrão sendo comido frio e outros que mostram dentro de uma sopinha quente. Se alguém souber, agradeço o esclarecimento. Pois no fim, eu uso quando a receita pede (não necessariamente uma receita japonesa), mas queria poder inventar em cima sem sentir as avós dos meus amigos japoneses revirando no túmulo.

Bom caldinho para vocês. A receita abaixo está completa e correta, apenas traduzida do site da Dona Martha, que por sua vez tirou do livro Japanese Hot Pots. Minha versão omitiu o nabo, a acelga, o shimeji fresco e usou inhame brasileiro (o pequeno) e somen no lugar de udon.

CALDO DE ABÓBORA JAPONESA, INHAME E COGUMELOS COM MACARRÃO
(Original aqui.)
Rendimento: 4 porções generosas

Ingredientes:

  • 8 cogumelos shiitake secos
  • 1/2 xic. shoyu
  • 1/2 xic. mirin
  • 2 pedaços de 13cm de kombu
  • 1/2 abóbora japonesa (kabocha) pequena (cerca de 500g), descascada, sem sementes, e cortada em pedaços pequenos
  • 115g nabo japonês, descascado, cortado ao meio no sentido do comprimento e cortado em fatias de 1cm
  • 3 inhames japoneses pequenos (cerca de 250g), descascados, cortados em quartos e em pedaços menores se forem mais longos que 5cm
  • 1 cenoura média (cerca de 115g), descascada, cortada ao meio no sentido do comprimento e cortada em fatias de 1cm
  • 1 cebolinha japonesa, fatiada na diagonal, em pedaços de 1cm
  • 115g acelga, fatiada
  • 100g cogumelos shimeji, separados
  • 225g udon
  • Shichimi togarashi, para guarnecer


Preparo:

  1. Coloque os cogumelos shiitake secos em uma tigela, cubra com 5 xic. de água (quente ou fervendo, se não tiver tanto tempo) e deixe por 5 horas em temperatura ambiente. 
  2. Retire os cogumelos, reservando o caldo. Ao caldo, acrescente o shoyu e o mirin. Os cogumelos, apare os talos, se houver, descartando, e corte os chapéus na metade ou em quartos se forem grandes.
  3. Em uma panela grande (de preferência barro ou ferro esmaltado), coloque o kombu, e então cubra com a abóbora, o nabo, o inhame, a cenoura, a cebolinha, a acelga e os cogumelos frescos e os secos hidratados e cortados.
  4. Cubra com o caldo reservado, tampe a panela e leve à fervura. Abaixe para fogo médio e cozinhe por 10 minutos. Destampe, junte o macarrão e cozinhe até que o macarrão esteja cozido. (No meu caso, cozinhei os legumes por vinte minutos, e o macarrão sozinho, para que tudo estivesse no ponto certo, já que somen cozinha mais rápido.) Sirva imediatamente, guarnecido de shichimi togarashi.


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Pão de cenoura e chia para cafés da manhã sem tédio

Meus filhos são como eu: entediam-se muito facilmente com a comida, querem sempre uma novidade. Se isso é fruto da esquizofrenia culinária ou se minha cozinha foi ficando mais esquizofrênica por conta disso... bom, ovo ou a galinha tudo outra vez. Aquilo que costumava funcionar há um tempo atrás, de comprar uma só farinha especial ou um só grão diferente por vez, e preparar todo o pacote antes de passar para o próximo, isso não rola mais aqui. Porque a pimpolhada come no almoço, come requentado no jantar, mas se aquela lentilha aparecer pela terceira refeição seguida, esquece. E ainda que eu ache que isso é uma grandessíssima frescura da parte deles, confesso que entendo, pois eu também olho praquele pãozim francês branco de padaria de segunda a sexta, e quando chega no sábado acordo até sem apetite. (A única coisa que é rotina sagrada para mim é o café. Café sempre, pelamordedeus, senão eu não funciono.)

Para não ficar louca na cozinha, à mercê dos caprichos dos meus dois esfomeados, acabo cozinhando quantidades maiores de um determinado prato e congelando o que não for comido aquele dia, para que possa figurar à mesa novamente numa semana mais preguiçosa ou de almoços menos interessantes.

E, outra vez, a despensa tornou a se encher de grãos, feijões, farinhas, sementes... Porque podemos até comer panqueca o tempo todo, mas ela bem que pode ser de beterraba, de centeio, de quinua, de maçã, de abóbora, o que for. E o pãozinho pode ser de forma, mas não precisa ser branquinho o tempo todo. Pode ser infinitamente variado. E quando vi um pão de cenoura e gergelim no site do Dan Lepard, pirei de vontade de prepará-lo. Não que eu precise esconder cenoura no pão. Cenoura é coisa que os dois catadores de caracóis e montadores de torres de lego comem muito bem, em qualquer formato e preparação. Mas simplesmente porque eu nunca havia feito um pão com cenoura antes. [Também nunca havia preparado bacalhau, veja só, mas isso fica pro próximo post.]

No fim acabei adaptando a receita, pois não tinha laranjas nem gergelim. Omiti as laranjas, trocando o suco por água e troquei o gergelim por semente de chia – falei que andava numa fase naturebinha; comprei a chia para preparar a mousse de chocolate vegan da Bela Gil. E o resultado foi um pão delicioso pra comer torradinho com bastante manteiga e geleia de maçã, e também ótimo para um sanduichinho de queijo pro lanche da escola. Engraçado como o sabor da cenoura é evidente, mas talvez por comer sabendo o que tem dentro. Me pergunto se um desavisado identificaria o gosto.

Agora o que anda me pegando de jeito mesmo é a velocidade com o que os pães desaparecem. Lembro-me de uma vez em que comentaram sobre ter filhos adolescentes, e como a leitora em questão preparava uma quantidade brutal de pães por semana para alimentar os moçoilos. Achava que fosse certo exagero, até ver que um pãozinho de forma como esse acaba em três dias aqui em casa. E só no café da manhã. o_O Como podem os pequenos serem já tão ogros? É bom vender muitas telas, para poder comprar farinha o bastante para poder alimentar os monstrinhos quando tiverem dezesseis anos. ¬_¬

PÃO DE CENOURA E CHIA
(Pouco adaptado daqui.)
Rendimento: faz 1 pão de forma

Ingredientes:

  • 175g cenoura
  • 250ml água morna
  • 7g fermento biológico seco instantâneo
  • 25ml azeite de oliva
  • 450g farinha de trigo
  • 50g farinha integral ou de espelta
  • 2 colh. (chá) sal
  • 2 colh. (sopa) sementes de chia (e mais um pouco para decorar)


Preparo:

  1. Esfregue bem as cascas das cenouras para limpá-las, seque e rale-as bem fininho numa tigela grande. Junte a água morna e o fermento e deixe descansar cinco minutos.
  2. Junte o azeite, as farinhas, o sal e as sementes e misture bem dentro da tigela, incorporando toda a farinha até obter uma massa razoavelmente firme, mas grudenta. Cubra com filme plástico e deixe descansar por 10 minutos.
  3. Sove a massa na bancada ligeiramente untada de óleo por um minutinho ou dois. A massa estará ainda grudenta. Polvilhe com pouca farinha, apenas o bastante para ajudá-lo a formar uma bola. Volte-a para a tigela, cubra, e deixe fermentar por 1 hora.
  4. Unte uma forma de pão de forma (a que eu uso é mais alta, então o pão fica mais quadrado) com manteiga ou azeite. 
  5. Na bancada ligeiramente enfarinhada, achate a massa num formato retangular e dobre as abas para o meio, como um aviãozinho de papel, então uma aba sobre a outra, apertando bem para selar. Coloque a massa com o vinco para baixo na forma, cubra e deixe fermentar por mais uma hora.
  6. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Quando a massa estiver crescido bem, pincela a superfície com água, polvilhe com mais um pouco de chia e faça um corte com 2cm de profundidade na superfície do pão. Leve ao forno por 50 minutos ou até que esteja dourado e emita um som oco quando você bater-lhe com os nós dos dedos. Retire da forma e deixe esfriar completamente sobre uma grade antes de consumir. 





Cozinhe isso também!

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