quarta-feira, 15 de maio de 2013

Muffin de mãe surtada

De repente você pára de dar conta. De repente faz três dias que não consegue trabalhar. De repente, há pêlos de cachorro para todos os lados. De repente, sua nenê que passava horas dormindo agora quer brincar de ficar sentadinha, exigindo sua atenção constante. De repente seu mais velho não quer cochilar à tarde e resolve correr enlouquecidamente pelo quintal, catando taturanas, exigindo também sua atenção constante. De repente você olha a geladeira cheia e simplesmente não consegue processar a matemática de combinações que pode gerar uma ideia para o almoço. De repente faz um mês que você não escreve no blog.

E você percebe não só tarefas se acumulando à sua volta, mas caraminholas se embaralhando na sua cabeça.

Surto.

E a criança tem que levar algo de lanche na escola, e não pode ser uma batata crua.

Fica feliz então de ter arrancado do freezer na noite anterior um muffin de quinua, avelã e banana, e deixado descongelar durante à noite. De manhã cedo ele está macio e fresquinho como se tivesse sido assado no dia, e é enfiado na lancheira junto com uma limonada feita às pressas e um potinho com cubinhos de queijo meia-cura.

Criança feliz e alimentada, mãe menos surtada.

Esses muffins foram uma agradável surpresa, pois sempre tive um enorme pé atrás com gluten-free-baking. Na verdade, quando recém-saídos do forno, os muffins são um pouco esfarelentos. Mas uma vez frios, sua textura melhora, e ficam mais densos e gostosos. Mas esses muffins de banana são muito saborosos e complexos, e aplacam a neura nutricionista de mães paranóicas quando seu filho resolve que não quer almoçar – dá um alívio pensar que ele está comendo quinua e trigo sarraceno no lanche. ;)

MUFFINS DE BANANA, AVELÃ, QUINUA E CHOCOLATE
(do livro La Tartine Gourmande, de Béatrice Peltre)
Rendimento: 12 muffins

Ingredientes:
  • 40g avelãs ou nozes
  • 2 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 xic. (100g) açúcar cristal orgânico
  • 8 colh. (sopa) (113g) manteiga sem sal, derretida
  • 1/4 xic. iogurte natural integral
  • 1/2 xic. (70g) farinha de trigo sarraceno
  • 1 xic. (120g) farinha de quinua
  • 1/2 xic. (60g) farinha de avelã (avelãs moídas no processador até virarem uma farinha grosseira)
  • 1 pitada de sal
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 3 bananas maduras, amassadas com um garfo
  • 90g chocolate amargo (70%) picado

Preparo:
  1. Toste as avelãs ou nozes numa frigideira em fogo médio até que liberem perfume e dourem ligeiramente. Se estiver usando avelãs, esfregue-as num pano de prato para liberar as cascas e pique-as. Se estiver usando as nozes, apenas pique-as. 
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC e forre uma forma de muffins com forminhas de papel. 
  3. Na batedeira, bata os ovos e o açúcar até que fique claro e fofo. Junte a manteiga derretida e o iogurte e bata até que fique homogêneo.
  4. Numa tigela, misture as farinhas, o sal, fermento e bicarbonato. Junte à mistura de ovos e misture apenas até que não se veja mais farinha. Junte as bananas, avelãs (ou nozes) e chocolate e misture delicadamente.
  5. Distribua nas forminhas e leve ao forno por 25-30 minutos ou até que uma faca inserida no meio de um deles saia QUASE seca. Remova do forno e deixe que esfriem por alguns minutos antes de desenformar e deixar que esfriem completamente. Depois de frios, podem ser embalados num saco plástico e congelados. Para descongelá-los, asse-os no forno a 150ºC por alguns minutos ou tire do freezer para descongelar dentro de um pote durante a noite.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Trufas de chocolate branco, matcha e pistache e livros que vão e voltam

Nas minhas arrumações catárticas, muitas vezes mando coisas embora das quais depois me arrependo. Como quase tudo o que é para doação passa pelo filtro da casa da minha mãe e ela já me conhece bem, quase sempre as coisas permanecem ali por um tempo, como um purgatório de objetos indesejados antes de seu destino final. E, nisso, acabo arrebanhando de volta algumas tralhas. Às vezes para o bem, às vezes para o mal.

Gostaria de dizer que meu caso com o Larousse do Chocolate era de amor e ódio, mas era mais uma questão de ódio e obsessão mesmo. Se por um lado o livro é absolutamente impreciso e cheio de erros, por outro trazia ideias de guloseimas que se fixaram em minha mente de um jeito que sempre que tento mandar o livro embora, ele acaba voltando. Um bumerangue literário.

Uma das receitas que havia anos estava encravada no meu cérebro eram as trufas de chocolate branco e matcha de Pierre Hermé. A foto era interessantíssima, de trufas cortadas ao meio, mostrando um recheio verde intenso, uma camada de chocolate branco por fora e, encobrindo tudo, pistache picado e um delicado pó verde, como limo fluorescente em pedras de rios cristalinos.

Mas essa era justamente a receita que mantinha o livro indo e vindo da minha casa. Se a foto apetecia, a receita não fazia jus. Não havia indicação nenhuma em toda a receita sobre a tal camada incólume de chocolate branco a cobrir a trufa verdinha. Depois, há duas menções do uso do matcha na receita: uma vez no creme de leite e outra vez junto ao açúcar e pistache, na cobertura. No entanto, o matcha aparece na lista de ingredientes apenas uma vez: junto do creme de leite – e não há nenhuma observação quanto à divisão da quantidade para cada etapa. Fora a quantidade do pó, que me parece muita coisa, ainda o texto informa que deve-se rolar as trufas no cacau. Hein?? Quem foi o revisor dessa joça?

Daí que nessa que foi uma das muitas idas e vindas do livro, resolvi que era hora de preparar as tais trufas e tirá-las do meu caminho. Principalmente porque desta vez me considero gata escaldada o bastante para identificar alguns erros básicos em livros de culinária e corrigi-los antes de estragar toda a receita.

E saí adaptando.

Primeiro, dividi a receita ao meio, pois cinquenta trufas de um sabor tão específico (e uma receita tão inexata) me pareciam demais. Em seguida, diminuí a quantidade de matcha. Ok, desta vez foi porque eu só tinha 4 envelopinhos mesmo. Mas não me arrependo, pois o amargor e o gosto herbáceo do matcha ficaram bastante em evidência já nessa quantidade. Não tinha açúcar de confeiteiro e usei o cristal. Também omiti o matcha da cobertura porque não tinha mais. Por último, usei o pistache cru sem sal, porque era o que eu tinha e porque, convenhamos, pistache é caro pra chuchu. (Já dá pra ver um padrão de preguiça de ir ao supermercado se instalando e sendo o grande causador das adaptações.)

O resultado... ficou MUITO bom! :D Aprovado pela cozinheira, marido e pelo pequeno devorador de trufas verdes. O sabor vem em camadas a cada mordida: primeiro o pistache crocantinho, depois o doce e macio do chocolate branco, então o amargo do matchá, e em seguida o pistache envolto em açúcar de novo. Delicioso para quem não gosta de doces apenas doces, mas com algo mais, e, principalmente, para quem aprecia chá verde. o/

O que vai ser do livro? Provavelmente vai ficar por aqui. Mas completamente rabiscado de correções e adaptações e sob um severo olhar de desconfiança. ¬_¬

TRUFAS DE CHOCOLATE BRANCO, MATCHA E PISTACHE
(adaptado do bizarro e não muito confiável Larousse do Chocolate)
Rendimento: cerca de 25 trufas pequenas

Ingredientes:
  • 100ml creme de leite fresco
  • 6g matcha (chá verde em pó – um pó verde fluorescente)
  • 200g chocolate branco de qualidade (usei Lindt), picado
  • 50g manteiga sem sal, gelada
  • 1/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/2 xic. pistache cru sem sal (com pele ou não)

Preparo:
  1. Coloque o creme de leite em uma panela e leve à fervura. Desligue o fogo e junte o matchá, misturando bem até que esteja dissolvido. 
  2. Junte o chocolate picado em três levas, mexendo bem até que esteja dissolvido. Junte a manteiga e misture bem com um fouet, até que o creme esteja liso. Despeje num pote, tampe e leve à geladeira por cerca de 2 horas ou até que fique firme. 
  3. Pique finamente o pistache e misture ao açúcar.
  4. Faça bolinhas com o creme mais ou menos uniformes, um pouco maiores que uma bola de gude, e role na mistura de pistache. Mantenha as trufas na geladeira, em pote fechado.

Cozinhe isso também!

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