sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vermelho assado em molho de tomate

Uma das coisas de que mais gosto no hábito de ir à feira é estabelecer uma relação de confiança com as pessoas que lhe vendem sua comida. Coisa mais difícil de se fazer em determinados supermercados, em que os postos de trabalho são rotativos e ninguém se lembra de que você esteve lá ainda no dia anterior. Um vendedor me ganha normalmente quando ousa falar mal do próprio produto: "Não leve esse brócolis não, que está feio, vou pegar outro em outra banca" ou "A anchova não está nada boa hoje; posso recomendar algo melhor e mais barato?" Quando você entende que pode confiar naquela pessoa atrás da bancada é a melhor coisa do mundo. E agradável é também voltar duas semanas depois (pois como gosto de muita variedade, os legumes acabam durando duas semanas), e o vendedor perguntar se você gostou daquela variedade de mostarda que você nunca provara antes de ele recomendar, ou se aquele peixe assado inteiro deu certo, ou se experimentou a receita dos feijões-de-corda.

Ando gostando de conversar com meu novo peixeiro. Descendente de japoneses, simpático e prestativo, ele me ensina qual peixe usar para a receita que descrevi e sai dando seus pitacos e me repreendendo quando estou prestes a fazer bobagem, o que acho muito engraçado. Foi ele quem sugeriu o uso do Vermelho para esta receita que apenas pedia por "peixe branco firme".

"Nunca comi Vermelho. É bom?"
"É sim. Eu gosto muito."
"Mas ele vai bem com molho de tomate?"
"Vai sim, ele não é suave o suficiente para sumir no molho."
"Você deixa ele preparadinho para mim, só para que eu corte do tamanho certo?"
"Claro, mas vou deixar a pele."
"Não, não precisa, é tipo ensopado."
"Confie em mim, vou deixar a pele. É gostosa!"
"Então tá, né..."

Enquanto converso com ele, um homem mais velho, cabelos brancos na cabeça e nos antebraços, cigarro pendendo do canto dos lábios, abre o peixe inteiro, limpa, retira as escamas, fileta. Ele se movimenta rápida e violentamente com o facão enorme e suas feições me fazem pensar num marinheiro velho de histórias infantis, envolvido em pirataria.

O Vermelho funcionou lindamente nessa receita de Tessa Kiros, que quis preparar assim que comprei o livro. Ela pedia 1kg de filés, o que deve dar o dobro do que usei, mas mantive a mesma quantidade de molho, pois molho de tomate nunca é demais. ;) Parecia perfeito para uma noite quente. O peixe se desmanchando num molho espesso de tomates, limão siciliano e alho, para ser comido aos bocadinhos, usando belos nacos de pão italiano como talheres, e acompanhado de uma cerveja gelada e refrescante. O tipo de refeição que arranca você de repente da cidade cinza e o transporta para qualquer lugar de areia branca, brisa fresca e salgada, sussurros das ondas tocando suas orelhas.

VERMELHO ASSADO COM TOMATES
(quase nada adaptado do livro Falling Cloudberries, de Tessa Kiros)
Tempo de preparo: 10 min. + 1h-1h10 de forno
Rendimento: 4 porções se houver acompanhamento, 2-3 se for prato único, com pão


Ingredientes:
  • 2 filés com pele e sem espinhas, de um Vermelho de 1,25kg (pesado inteiro - não pesei os filés)
  • 1 lata de tomates italianos sem pele
  • 1 punhado de salsinha fresca picada
  • 4 dentes de alho grandes, picados
  • suco de 2 limões sicilianos
  • 1 1/2 xic. salsão picado
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 3 colh. (sopa) azeite
  • sal e pimenta-do-reino

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Corte os filés em pedaços de 7cm de largura e os distribua em uma única camada em uma travessa grande refratária, assadeira ou caçarola baixa que vá ao forno.
  2. Em uma tigela, misture todos os outros ingredientes e esmague os tomates com um garfo. Acerte o tempero.
  3. Despeje o molho sobre os peixes e dê uma sacudidela na travessa, para que o molho se espalhe e cubra todos os pedaços de peixe. Cubra com papel alumínio e leve ao forno por 30 minutos.
  4. Retire o papel alumínio, aumente o fogo para 200ºC e asse por mais uns 40 minutos, até que o molho tenha engrossado e o peixe pareça dourado em alguns pontos. Fique de olho para que não fique tão espesso a ponto de queimar o molho (35 minutos foram suficientes no meu forno).
  5. Sirva com mais um fio de azeite e pão com crosta para acompanhar. (A autora diz que fica muito bom frio, também, mesmo direto da geladeira. Vamos ver, pois sobrou um punhadinho que está lá na geladeira...)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Para os dias quentes: massa de torta feita com óleo

De vez em quando me escrevem com dúvidas a respeito da massa para tortas que uso sempre. A maior dúvida é sempre na hora de abrir, pois dizem que a massa é mais difícil de manipular do que esperavam. Infelizmente tudo o que posso dizer nessas horas é: pois é, é isso mesmo. Eu uso uma boa quantidade de manteiga na massa, pois gosto dela bastante flocosa. Isso faz com ela seja um desastre em dias (ou mãos) quentes. Ainda assim, é uma massa que perdoa alguns deslizes: se ela estiver se despedaçando ou grudando, você pode jogá-la aos bocados na forma e ir juntando como der, sem pensar no resultado estético, e ela mesmo assim ficará gostosa. Só não terá aquela linda bordinha bem desenhada.

O caso é que nesse calorão, nem eu me atrevo a fazer pâte brisée. É frustração na certa. No desespero por torta, usava a batedeira planetária com a pá. O único problema é que ela demora um pouquinho e acaba deixando os pedacinhos de manteiga muito pequenos e uniformes, e a massa fica um pouco firme demais para meu gosto.

Para dias quentes, muitos recomendam o processador. Ele mistura tudo rápido o suficiente para que a manteiga continue gelada e tudo dá certo no final. Isso anda me dando uma coceirinha atrás da orelha. Isso e a possibilidade de fazer massa folhada e mais um monte de outras receitas dos meus livros que pedem o processador. Além disso, meu liquidificador mequetrefe está à beira do suicídio.

Eu quero um processador. Mas o que eu quero, da Cuisinart, grandão, não encontro, sumiu das lojas por aqui. E fica a pergunta: vocês têm processador? Gostam? Usam? Recomendam?

Enquanto Papai-Noel não me traz um, no entanto, nós seres humanos precisamos de torta. E minha salvação nesse calor infernal foi encontrar uma boa massa de torta feita com óleo, mais fácil de manusear, pois não depende da temperatura. Por isso, também não é preciso gelá-la, e você pode fazer a massa enquanto o forno pré-aquece, e preparar o recheio enquanto a massa assa com feijões dentro. Ou seja, torta de última hora, jantar vapt-vupt! Usem óleo de canola, que tem pouco sabor, ou algum óleo/azeite que vá combinar com o recheio, pois o sabor fica tão forte quanto o gosto de manteiga numa torta comum.

MASSA DE TORTA COM ÓLEO
(do livro Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Rendimento: 1 torta de 20-22cm de diâmetro, rasa.
Tempo de preparo: 10 minutos


Ingredientes:
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1/2 xic. óleo de canola
  • 2 colh. (sopa) leite, leite de soja ou água
Preparo:
  1. Misture o sal e a farinha em uma tigela. Em outra, misture o óleo com o leite. Junte os líquidos à primeira tigela e misture até que se pareça com uma massa.
  2. Forme uma bola, achate-a e abra-a no tamanho desejado entre duas folhas de papel-manteiga, até que a massa tenha uns 3mm de espessura.
  3. Retire o papel-manteiga de uma das faces e inverta a massa sobre a forma da torta. Não se preocupe se ela se quebrar, é só juntar na forma, pressionando bem. Remova a segunda folha.
  4. Asse-a como qualquer outra massa, de acordo com a receita original. Você não precisa gelar a massa.

Cozinhe isso também!

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