
Neste domingo participei da prova da Batavo, na USP. Como andara muito displicente nos últimos meses, achei melhor não me arriscar na prova de 12km, e ficar só com a de 5km. Sábia decisão, pois estava um calor dos infernos, e eu terminei meu dia toda desmilingüida no sofá, como se tivesse corrido a maratona.
Como o clube fornecera um ônibus à equipe, porém, achei que seria gostoso levar um quitute para o pessoal beliscar após a corrida, e passei cerca de 4 horas do meu sábado preparando esses biscoitos de chocolate recheados de caramelo. A receita é de uma revista
Food & Wine, e a foto por si só já era motivo para que eu tentasse preparar os
cookies. No entanto, como nada na vida é fácil, tive algumas pedras (verdadeiras avalanches) no meio do caminho.
Comecemos pelos ingredientes: estou eu sossegada a separar farinha, cacau e afins, quando me deparo com o item "
1 stick of butter". Oooook. É muito tentador acreditar que há padrões industriais no mundo todo, mas a verdade é: qual era a chance de uma barra de manteiga americana ser exatamente 200g, ainda por cima com o sistema maluco de medidas que eles têm por lá?! Google nele. Pesquisa, pesquisa, e descobre que 1 barra de manteiga americana tem 125g, arredondados.
Resolvido o primeiro entrave, consegui navegar pro águas tranqüilas durante a confecção dos biscoitos. A massa é fácil de fazer, ainda mais na batedeira, e quando foi para a geladeira, senti uma imensa e confortável sensação de "tudo vai dar certo".
Tirei-a da geladeira para abri-la e cortá-la. Para minha surpresa, já que nada disso era dito na revista, a massa era muito mole, mesmo depois de 45 minutos de resfriamento, e retirar as rodelas cortadas do filme-plástico sem rasgá-las ou deformá-las era trabalho para um neurocirurgião. Um "biscoitero" de primeira viagem enlouqueceria e mataria a família toda com o rolo de macarrão. Mas eu sou zen, ou ao menos era o que continuava repetindo para mim mesma, como em um mantra, e consegui colocar na assadeira todos os biscoitos intactos.


No forno foi tudo muito bem, e 20 minutos depois, eles haviam inflado e se espalhado ligeiramente, ficando um pouco maiores ainda do que eu gostaria. A revista pedia um cortador de 4cm, mas o meu era de 5.
Hora do caramelo. Todas as vezes em que preparei caramelo, aquecia o açúcar e a água até que dourasse, e só então, fora do fogo, acrescentava creme de leite e manteiga. A receita, no entanto, dizia para colocar tudo na panela, leite e creme inclusos, e apenas a manteiga seria misturada no fim do processo. Alguém sabe me dizer o que acontece quando leite ferve? Alguém? Levante a mão! Você, no fundão. É, ele sobe. Ele sobe e se esparrama no fogão, razão pela qual você nunca deve desgrudar os olhos de uma panela com leite fervendo. Sabe o que acontece quando você faz caramelo com leite? A mesma coisa. Foi virar as costas para pegar a manteiga, e a panela explodiu como um vulcão açucarado, derramando caramelo pegajoso a 120ºC por todo o meu fogão.
Ninguém avisa isso na receita.

Respirei fundo, fiz uma força descomunal para ignorar a lambança, passei o caramelo para uma panela maior e continuei, controlando o fogo, até que ele atingisse a temperatura certa. Derramei-o na assadeira com filme plástico e deixei-o ali, por 40 minutos, como indicado. Ele desenformou maravilhosamente sobre minha tábua, e achei que tudo se resolveria uma vez que eu comesse meu primeiro biscoito recheado. Mas foi tentar cortar o caramelo para me dar conta de que o dia estava muito quente e o recheio não firmara o suficiente. Deixei mais uma hora na geladeira, até conseguir com que o caramelo cortado mantivesse sua forma, mas, cinco minutos após terminar de rechear o último biscoito, vi que os primeiros começavam a derreter, espalhando caramelo para todos os lados.
Levei-os à geladeira, mas não adiantou muita coisa. Foi tirar os benditos por 5 minutos para fotografá-los e pronto, tudo começou a escorrer novamente. Imaginei a meleca que seria levá-los num pote e deixá-los num ônibus debaixo de sol durante mais de 1 hora, e, infelizmente, tive de desistir de dá-los ao pessoal da corrida. O pior: achei-os enjoativos. Allex gostou, mas eu não conseguia comer mais da metade de um deles sem precisar de muita água. Esperava um caramelo um pouco mais sofisticado e menos promessa de diabetes.
Foi então que percebi que tinha cerca de 30
cookies do tamanho de minha mão e não sabia o que diabos fazer com eles. Não tive dúvidas: cortei os biscoitos em pedaços, preparei um sorvete de baunilha e misturei a ele os
cookies, criando meu próprio
Chocolate Caramel Cookie Vanilla IceCream, que, desculpem-me pela ausência de modéstia, ficou sensacional. Pelo bom tempo que fiz na corrida e pela trabalheira que esses
cookies me deram, era o mínimo que eu merecia... Não pode haver melhor uso para sobras de biscoito do que esse, e eu recomendo.
A receita dos cookies está AQUI.