quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Tudo é relativo: até dedo sujo no queijo


Antes que você se revolte com a foto, deixe-me explicar. Adoro acampar, mas não o faço tanto quanto gostaria. E quando digo acampar, quero dizer botar a mochila nas costas e andar do ponto A ao ponto B, por alguns dias. Quanto menos interação com qualquer coisa semelhante à civilização, melhor.

A primeira vez que se acampa, principalmente quando se começa já adulto, pode ser ligeiramente traumática. Como assim, não tem banheiro?? Por isso meu primeiro acampamento foi uma baba, em camping, apesar de ser no meio do mato, e até chuveiro de água quente havia.

Conforme você vai pegando gosto pela coisa, vai aumentando a distância entre você e os confortos modernos. E aí é que entramos no verdadeiro assunto desse post. A primeira coisa que você deve pensar quando decide fazer uma travessia é levar pouco peso na mala. Mesmo assim, você terá 11kg nas costas. Boa parte desse peso é comida. [A-há! Tá vendo como tinha comida envolvida no texto?] A boa notícia é que, durante a viagem, você vai se livrando desse peso, uma vez que você o consome. Cada vez que vamos acampar é a mesma briga entre meu senso gastronômico e meu senso de acampamento. A comida deve ser leve de carregar, rápida de preparar, ocupar pouco espaço na mochila e não ser perecível. Quando comíamos carne, o negócio era levar salame. Mas e agora? Queijos amarelos curados, como minas meia-cura ou provolone são a melhor pedida para o almoço, quando não dá tempo de ligar o fogareiro.

Queijo??? Mas queijo não tem de ficar na geladeira???

ABERTURA DE MENTE NÚMERO 1: Não. Queijos curados agüentam bons dias fora da geladeira. Olha você tremendo, com medo de intoxicação... heheheh...

Então, você está andando há horas e a água do seu cantil acabou faz tempo. Está um calor do cão. Você encontra uma quedinha d´água cristalina. Normalmente você encheria seu cantil e colocaria nele uma pastilhinha de cloro, esperando uma meia hora antes de beber. Mas não dá para esperar. Tem uma subida enorme à sua frente e embaixo do sol.

ABERTURA DE MENTE NÚMERO 2: Se estiver no meio do mato há mais de dois dias e com muita sede, você ignora até aquelas aranhinhas que ficam na superfície da água e bebe com gosto, e esquece a partir de então de usar as pastilhinhas de cloro. Até chegar perto da civilização de novo. Aí não tem jeito. Sempre tem uma anta que constrói fossa séptica do lado de nascente de riozinho.

Continua andando e, de repente, encontra um lindo pé de amoras carregado, ou um belo dente-de-leão jovem, ambos piscando para você e dizendo: me coma. Há dias você come miojo e tudo o que você quer é um gostinho fresco na boca.

ABERTURA DE MENTE NÚMERO 3: Se encontrar um arbusto cheio de amoras, vai ignorar completamente o fato de que provavelmente um monte de pássaros e insetos já devem ter remexido naquilo, para não dizer roedores, e provavelmente vai pegar as folhas do dente-de-leão e, quando muito, passar embaixo da próxima quedinha d´água, só para tirar a terra. Sem pastilhinhas de cloro.

Então você pára para o almoço. Senta na grama, abre a mochila e olha para seu pãozinho e seu queijo imaculados. Olha para suas mãos e vê que elas estão recobertas de lama seca. Seu cantil está cheio, mas o próximo rio está a 3 horas de caminhada.

ABERTURA DE MENTE NÚMERO 4: Você vai comer seu pão com queijo com as mãos mais imundas que já teve e tirar uma foto para chocar sua mãe depois, pois nem a pau que você vai desperdiçar sua água para algo tão estúpido quanto lavar as mãos. O que você é? Um bibelot?

É claro, tudo isso é uma piada. Apesar de já ter passado por todas essas situações. E meus acampamentos foram leves, no máximo 3 dias de travessia. Minha cunhada já fez coisa pior, subiu o monte Roraima, e são muitos dias indo e outros tantos voltando. E lá sim é meio do mato. O caso é que, quando você passa 3 dias carregando sua casa nas costas, sem tomar banho, usando a mesma roupa, cobrindo com terra suas necessidades, bebendo água de rio e comendo queijo amolecido de calor com mão suja de terra, você muda RADICALMENTE o seu conceito do que é limpo ou seguro. Você volta para casa e acha tudo uma frescura sem tamanho. Vê como seu corpo é na verdade forte, e como o estamos enfraquecendo ao impedi-lo de lidar com determinados micróbios.

Costumo brincar dizendo que as crianças que moraram no meu prédio quando eu era nova têm os organismos mais fortes do mundo, pois todas nós brincávamos no mesmo tanquinho de areia, onde gatos de rua zanzavam livremente durante a noite, fazendo exatamente o que você imagina. O que nos torna imunes a tudo é o fato de que todo mundo se lembra do gosto daquela areia.

Claro, eu lavo muito bem minhas mãos antes de cozinhar qualquer coisa, prendo os cabelos com um lenço, e quero minha cozinha organizada e brilhando sempre. Odeio louça suja e tenho paúra de embalagens semi-abertas. A imagem de qualquer inseto rondando minha cozinha é demais para mim.

Mas algumas coisas que supostos cientistas e médicos falam na TV (ainda mais onde!) simplesmente não me convencem. A não ser que estejamos falando de práticas industriais.

Afinal, o que não mata engorda. E achei que seria bom explicar um pouco mais sobre mim e porque sou assim tão desconfiada...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Elucubrações acerca de uma minúscula despensa

Minha despensa não é das maiores. Aliás, ela é minúscula. Composta de duas únicas prateleiras de 30x100cm, é preciso uma mente organizada e um grande autocontrole para não comprar mais do que elas comportam. Alguns problemas de estoque (e limpeza) resolvi com estas duas caixas de vime. Uma sem tampa, para os temperos, que manuseio todos os dias, e uma com tampa, tipo baú, para itens de confeitaria, que costumam sair do lugar uma vez por semana apenas. Farinhas e grãos de embalagens abertas vão para potes de vidro. E as validades, você me pergunta? Ah, depois da primeira vez que você deixa encher de caruncho quase 1kg de polenta italiana, você nunca mais deixa o pote encostado por mais de dois meses. Potes com coisas que vencem mais rápido, como farinha integral, ficam na frente. Na prateleira debaixo, massas, itens de café-da-manhã, alho e cebolas numa tigela branca, enlatados.

Tenho com minha despensa a mesma cisma que tenho com minha geladeira: gosto de vê-la esvaziando. Sinto-me muito competente e eficiente quando consigo usar toda a comida que tenho disponível. Então corro ao mercado para encher novamente as prateleiras de todos os itens sem os quais simplesmente não sei cozinhar. E esses, acredito, são os dez itens mais insuportavelmente cruciais na minha despensa, sem os quais fico na cozinha feito barata-tonta:


  1. Azeite extra-virgem: uso para absolutamente tudo; só uso outros óleos quando especificados numa receita ou para fritura por imersão.
  2. Manteiga sem sal: compro de quatro a seis pacotinhos de cada vez, pois entro em depressão quando não há manteiga em casa.
  3. Alho: bobeou, estou refogando alho. Se não tiver cebola, eu me viro. Se não tiver alho, f*deu.
  4. Tomates italianos pelados em lata: a salvação de todo macarrão de fim do mês e a promessa de tomates com gosto de tomates.
  5. Farinha de trigo: se tiver farinha na despensa, não preciso sair correndo para comprar nem massas nem pão.
  6. Ovos orgânicos: aqui em casa vão umas 2 dúzias por mês. Mas também, olha a quantidade de omelete, torta, massa, bolo e sorvete que sai dessa cozinha...
  7. Leite integral: o marido é umbezerro, mas fora isso há todos os itens mencionados acima: bolo, sorvete, massa, torta, molho...
  8. Arroz arbóreo: arroz comum aqui em casa é de vez em quando. O arbóreo, no entanto, é obrigatório. Se estiver acabando, corro para repor, porque nada é mais prático para duas pessoas do que um prato único e versátil como o risotto.
  9. Couscous marroquino: quando estou sem inspiração e pergunto ao Allex o que ele quer comer, a resposta é essa em 99% das vezes.
  10. Queijo parmesão: não dá para fazer massa sem ter queijo ralado em cima; não dá para fazer um risotto, sem queijo no final; não dá para fazer uma fritatta sem ele. Não dá para viver sem ele e ponto. Principalmente se for bom. E de pedaço, para ralar na hora. Meio quilo por mês.
Se tivesse um décimo-primeiro item, incluiria ervas, qualquer uma, fresca ou seca. Mas não, não vamos abusar. Dez está bom. Mas fico curiosa para saber se todo mundo tem essas mesmas necessidades gastronômicas (para não dizer vitais), de modo a prosseguir calmamente em sua vida culinária. E aí? Qual é o seu Top 10 "se não tiver isso na despensa eu peço uma pizza"?

Cozinhe isso também!

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