segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Saudades do suspiro da vó

Se existe algo que evoca minha infância e minha relação com minha avó materna (falecida há mais de 10 anos) são os suspiros. Talvez fosse seu forno muito velho, que ela deixava com a porta entreaberta durante horas, talvez fosse simplesmente a mão boa da velha: os supiros da minha avó Lydia eram muito brancos, gorduchos, crocantes por fora e quase um marshmallow por dentro. Apesar de ser uma das poucas fórmulas que ela deixou escrita, ninguém nunca conseguiu replicá-los.

Por causa daquele infame sorvete de morangos, eu tinha muitas claras de ovos congeladas, que guardei em saquinhos. Deixei-as descongelando durante toda a tarde, até voltarem à temperatura ambiente, e comecei meu merengue à noite. Bate as claras, coloca açúcar de confeiteiro e um montão de açúcar baunilhado, para quebrar o gosto de ovo, já que estava sem limões em casa para usar as raspas. Bate-bate-bate. Bate mais. Ai, como demora para pegar o ponto. Ainda bem que tem a batedeira. Quando estava super firme, olhei bem para a assadeira forrada de papel manteiga e resolvi que não os faria às colheradas como minha avó. Queria testar meu saco de confeitar, cujos bicos andavam ali, na caixa, largados.

Ainda sou muito desajeitada, e estava muito — MUITO — calor. Então aqueles montinhos pregueados que saíram perfeitos, já estavam ligeiramente derretidos quando terminava a fileira. Mesmo assim, descobri que ADORO brincar de confeiteira, e estou maluca para arranjar alguma outra receita que possa usar todos os bicos de diferentes formatos e tamanhos. Senti-me como uma criança na praia, brincando com castelinhos de areia molhada, deixando os montinhos úmidos escorrerem por entre os dedos e secarem instantaneamente em formas góticas criando torres altas sob o sol.

Coloquei meus suspirinhos no forno, em duas bateladas, uma em cada forno. É incrível, mas não encontrei uma única receita em lugar algum que me dissesse de que tamanho fazer os suspiros e por quanto tempo enforná-los. Então fiz o teste: ambos os fornos na mesma temperatura (150ºC); o de baixo com porta fechada por 30 minutos, e o de cima com porta aberta por 1 hora e 20 minutos. A fornada debaixo ficou perfeita, quebradiça mas molinha por dentro, talvez apenas um pouco mais morenos do que eu gostaria (buscava aqueles merengues branquinhos da minha avó). A fornada de cima, tive de tirar 20 minutos antes, pois estavam começando a cheirar a açúcar queimado; ficaram muito moreninhos e secos por dentro, e o aroma de queimado afetou seu gosto. Não ficaram ruins: só não os serviria a visitas. Os clarinhos foram hoje para o trabalho com o Allex, e os moreninhos, para meu freezer, para serem esmigalhados sobre frutas e cremes sempre que eu quiser.

domingo, 23 de setembro de 2007

Pão de milho da mãe da Lelê

Encontrei essa receita da mãe de uma amiga em um caderno antigo. Lembro-me de quando passei a tarde em sua casa, comendo desse pão macio e perfumado. No entanto, acabei alterando a receita original para que produzisse apenas 1 pão ao invés de 2 e para que eu pudesse usar a farinha de milho orgânica sentada em minha despensa. Quando deram os 20 minutos de forno especificados na receita, o pão já estava dourado e exalando um delicioso perfume de milho. Allex, impaciente, saiu logo cortando um pedaço do pão quente, mas percebi que ele ainda estava um pouco cru por dentro. Não tem como, é muito difícil seguir temperaturas e temos baseado no forno dos outros. Bota o pão de volta na forma, retorna ao forno e fica mais quase 20 minutos, até que sai perfeito, macio e ligeiramente úmido. Minha maior preocupação com pães de milho é que a maior parte fica com sabor forte e textura seca, meio farelenta. Este não. Talvez seja o milho verde que faça toda a diferença. A receita original (para 2 pães) era toda duplicada a não ser pelos ovos, que eram 3; usava apenas farinha de trigo (1kg), e a medida do milho e do leite eram de 1 "lata" para cada um, razão pela qual preferi converter para xícaras. Era excelente do jeito que era, e vale a pena ser tentado também.

PÃO DE MILHO DA MÃE DA LELÊ (adaptado aos meus caprichos)
Rendimento: 1 pão de forma
Tempo de preparo: 30 minutos + 1h30 de fermentação + 40 min. de forno


Ingredientes:
  • 350g de farinha de trigo para pães ou orgânica
  • 150g de farinha de milho fina orgânica
  • 5g de fermento ativo seco instantâneo ou 15g de fermento fresco
  • 2 1/2 colh. (sopa) de açúcar orgânico claro
  • 1/2 xíc. de milho verde orgânico (100g)
  • 1/2 xíc. de leite integral morno
  • 1 ovo extra-grande orgânico
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 25g de manteiga
Preparo:
  1. Bater no liqüidificador todos os ingredientes menos as farinhas (em temperatura ambiente, a não ser pelo leite, que deve estar morno). Enquanto isso, misture as duas farinhas em uma tigela grande.
  2. Despeje sobre elas a massa do liqüidificador. Misture com uma colher ou espátula, até que você consiga sová-la com as mãos.
  3. Polvilhe uma superfície com farinha de milho e sove nela a massa por cerca de 10 minutos. Se estiver muito seca, vá acrescentando água ou leite (1 colher de sopa por vez, 3 no máximo) até que fique macia, desgrudando das mãos e absorvendo toda a farinha e pelotas da mesa. Forme uma bola bem lisa, coloque em uma tigela polvilhada de farinha de milho e cubra com um pano úmido. Deixe por 1 hora ou até que dobre de tamanho.
  4. Afunde a massa com o punho, puxando as laterais para o centro e forme uma bola de novo. Numa superfície enfarinhada, abra a massa como um retângulo e dobre-a 2 vezes, 1 aba sobre a outra. Amasse com os punhos e abra um retângulo na largura da forma, enrolando em seguida como um rocambole. Unte com manteiga e enfarinhe (com farinha de milho) a forma e coloque o pão. Cubra com um pano e deixe 30 minutos.
  5. Ligue o forno, enquanto isso, a 205ºC. Com um borrifador ou um pincel, umedeça a superfície do pão e as paredes do forno já quente. Leve o pão ao forno por cerca de 40 minutos, até que esteja bastante dourado e que faça um som bem oco ao bater-lhe os nós dos dedos em baixo (tire o pão da forma com luvas para testá-lo). Uma delícia quentinho assim, com bastante manteiga.

Cozinhe isso também!

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