sábado, 5 de maio de 2007

Perfume quente de maçã



Todo final de semana eu acordo com vontade de fazer um bolo. Acabo contendo meus impulsos porque sei que terminarei comendo tudo sozinha, já que o Allex não é lá muito boleiro. Mas desta vez não consegui evitar. Manhãs de sábado preguiçosas como essa, de céu azul e tempo frio, parecem despertar em mim uma vontade irresistível de ter pairando pela casa um perfume quente de bolo recém-tirado do forno, com frutas macias quase derretendo por dentro da massa fofa, doce na medida certa para comer acompanhado de uma xícara fumegante de café forte.

Dê-me qualquer espécie de bolo. Mas confesso uma preferência por esses bolos simples, camponeses, do tipo que se faz quando há maçãs demais para bocas de menos. Não é um doce para sobremesa, mas um bolo de "bocados": um bocadinho no café da manhã, um bocadinho à tarde com chá de camomila, uma ultima mordiscadela com leite quente antes de dormir, enquanto você assiste ao último episódio de seu seriado favorito. Há algo de essencialmente confortável nesta mescla de maçã, canela, raspas de limão e passas. Talvez porque essa receita italiana, assim como várias similares, puxe no inconsciente coletivo uma memória de um dia simples, uma avó inventando um modo novo de usar as maçãs que sobraram da colheita, numa época em que não se comprava bolos amantegados em padarias. Uma fatia ainda morna e uma xícara de café saída da Bialetti, fechar os olhos para sentir o sol de maio esquentar o rosto devagar, tentar ouvir algum passarinho no silêncio das 8 da manhã do fim de semana. O que mais eu poderia querer de uma manhã de sábado?

Acampamento chique







Andar 70 km em 3 dias? Dormir no meio do mato? Ficar sem banho? Bolhas nos pés? Picadas de micuins? Nada disso de fato me incomoda quando o que eu quero é me distanciar da cidade e ter a companhia de árvores e pássaros. No entanto, se existe um lado do acampamento selvagem que me irrita é a perspectiva de jantar miojo todas as noites.

Não há outro jeito: quando se faz uma travessia, não se pode levar comida pesada de carregar ou de preparo longo, já que o gás do fogareiro é pouco e existem grandes chances de você estar exausto demais no fim do dia para cozinhar pratos complicados. Quando programei a viagem com meu namorado, porém, deixei bem claro que, como encarregada da comida, as decisões seriam minhas, e eu não pretendia levar macarrão instantâneo ou aquelas horrendas sopas em pó, também figurinhas fáceis em acampamentos.

Os dois pratos escolhidos por mim (e que obtiveram grande êxito tanto no quesito leveza, quanto rapidez de preparo) para três noites foram couscous marroquino com grão-de-bico, ervilhas e especiarias, e tortellini de queijo da Barilla, com azeite extra-virgem e queijo ralado.

O primeiro foi escolhido por ser preparado em 5 minutos e usar apenas um copo de água. Levei na mochila um saquinho plástico com 200g de couscous seco (duas porções generosas), e outro pequenino com meio cubo de caldo de legumes, uma pitada de cominho, menta seca, pimenta-do-reino e sal. Para o tortellini, jantar dos outros dois dias, 2 pacotes de 250g cada (4 porções no total), dois pacotinhos de queijo ralado de 50g, e minha grande descoberta para culinária de acampamento: uma garrafinha de azeite extra-virgem de 125ml, que agora será lavada e guardada para ser reutilizada nas próximas viagens.

O tortellini foi a escolha perfeita: um pacote leva só 7 minutos a mais para cozinhar do que dois pacotes de miojo, cabe exatamente na panela de acampamento e acaba absorvendo toda a água usada; ou seja, não há desperdício. Sua massa de ovos e seu recheio de ricotta, Grana Padano e Parmigiano Reggiano, satisfazem não apenas a fome, mas também o paladar, e permitem que um andarilho cansado vá dormir no chão frio de barriguinha cheia e quentinha, sem acordar com fome no meio da noite (o que sempre acontece comigo ao jantar sopas Maggi e afins).

Agora quero começar a fazer experiências, e buscar receitas que possam ser simplificadas para acampamentos mais longos, em que se sente falta de um gosto mais fresco na boca.
Vale dizer que nossos lanches de queijo meia-cura, mel e frutas secas foram refrescados por ocasionais amoras selvagens encontradas em arbustos no meio do caminho...

Cozinhe isso também!

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