sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Bolinhos azuis de fato


Sempre fiquei bastante intrigada ao ler livros de culinária em inglês com o tal do "blueberry", traduzido como mirtilo, mas muito pouco ou nada conhecido aqui no Brasil. À primeira vista, qualquer desavisado poderia confundi-lo com jabuticabas pequenas, por serem esferas pequenas e absolutamente negras, com um fundo azul intenso como os lápis de cor que usávamos para pintar o céu noturno.

Quando finalmente vi as frutinhas no supermercado, senti-me mais que estimulada a comprá-las e experimentá-las. No entanto, seu preço era ligeiramente proibitivo. Confesso ser ainda um pouco medrosa na cozinha: se existe algo que detesto é desperdiçar comida (mais do que desperdiçar dinheiro), então demoro um pouco a me convencer a comprar e usar um ingrediente inusitado. E se os blueberry muffins — que parecem ser o uso mais freqüente das frutas — forem para um paladar muito americano? O que faço com os 12 bolinhos prontos? Então me contive e não as comprei.

Algumas semanas depois, porém, saiu a notícia da abertura do primeiro Starbucks no Brasil, no Shopping Morumbi (assim que eles decidirem abrir uma loja em meu bairro estarei mais do que pronta — como toda boa viciada em cafeína — a experimentar seus cafés). Rapidamente entrei no site brasileiro para fuçar em seu cardápio. E lá estava ele: blueberry muffin, em toda a sua glória. E o que me chamou mais a atenção foi a crítica, em diversas mídias, exaltando a estratégia da rede multinacional em adaptar seus produtos ao paladar tupiniquim.

Pronto: era disso que eu precisava. Se o tal do bolinho de mirtilos continuava firme e forte no menu, lado a lado com o pão de queijo, então eu estava pronta para testá-lo. Corri ao mercado e vi que havia ainda por cima uma opção em termos de preços: o dobro das frutas congeladas custava metade das frescas. Normalmente eu preferiria as frescas, é claro. Mas tendo lido já diversos livros que recomendam igualmente o uso das congeladas, não tive dúvidas.

Dez minutos de um nada de esforço depois, vocês conseguem ver o resultado da empreitada: blueberry muffins, dourados, incrivelmente fofos, ligeiramente adocicados, pontilhados de uma explosão roxo-azulada que escorre massa afora a cada mordida. Sensacionais com um pouco de manteiga ou por si sós, acompanhados de uma xícara de café. Recomendo a qualquer pessoa completamente analfabeta na cozinha tentar produzir essas delícias à prova de incompetentes. E para os preguiçosos, resta apenas experimentar os famosos lá no shopping.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Torta de pé

É, é isso mesmo. Torta de pé. Ontem resolvi tentar uma receita de uma das revistas Cláudia Cozinha que tenho, que estava guardadinha havia muito tempo, para uma ocasião especial: torta de massa folhada com batatas e roquefort. Parece deliciosa, não? É, pois é, foi o que pensei também.

Massa folhada não é algo exatamente difícil de se fazer. É uma massa de farinha e água comum que se recheia de muita manteiga, dobra-se, passa-se o rolo por cima e começa-se tudo outra vez. Várias e várias vezes. É trabalhosa. Num acesso de dona-de-casa-quebra-galho, então, fui ao supermercado e comprei um pacote de massa folhada congelada Arosa. Fiquei um pouco consternada ao ler os ingredientes e constatar que a gordura da massa era vegetal hidrogenada ao invés de manteiga, mas deixei passar, pensando que a maior parte dos estabelecimentos que servem massas folhadas usa as versões industrializadas como aquela, então não faria muita diferença.

Cozinhei minhas batatas, descasquei-as (e aproveitei para comer algumas, pois estavam muito macias e saborosas), fiz o creme de gorgonzola (que até onde experimentei estava bom, bastante forte) e montei a torta sobre minha esplêndida massa folhada recém-descongelada. Tudo para o forno e, meia hora depois, o aroma e a aparência eram com certeza promissores.

Ao tirar a primeira fatia da torta, no entanto, veio a surpresa: em algum momento do cozimento, o creme de gorgonzola tornara-se cinza e esponjoso, e o gosto picante e salgado do queijo fora substituído por um sabor ligeiramente acre e um odor de dedão de pé muito pouco apetitoso. As batatas haviam absorvido parte do creme e tornado-se molengas e sem textura, com pouco gosto para contrastar com o creme de dedão de pé. E a massa, minha maior decepção de todas, se tinha algum gosto (qualquer gosto, realmente), era o de óleo velho, como daquelas batatas fritas molengonas de boteco: um gosto sutil de noz queimada que amarra na lateral da língua.

Viva o ketchup e o molho inglês, que salvaram a noite e me fizeram decidir nunca mais comprar massa congelada que não tenha manteiga. E também que é melhor recortar as poucas receitas que de fato já deram certo da minha pilha de revistas e abandonar o resto ao seu destino, e que esse destino não seja nunca mais minha cozinha.

Cozinhe isso também!

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