Gostaria de dizer que meu caso com o Larousse do Chocolate era de amor e ódio, mas era mais uma questão de ódio e obsessão mesmo. Se por um lado o livro é absolutamente impreciso e cheio de erros, por outro trazia ideias de guloseimas que se fixaram em minha mente de um jeito que sempre que tento mandar o livro embora, ele acaba voltando. Um bumerangue literário.
Uma das receitas que havia anos estava encravada no meu cérebro eram as trufas de chocolate branco e matcha de Pierre Hermé. A foto era interessantíssima, de trufas cortadas ao meio, mostrando um recheio verde intenso, uma camada de chocolate branco por fora e, encobrindo tudo, pistache picado e um delicado pó verde, como limo fluorescente em pedras de rios cristalinos.
Mas essa era justamente a receita que mantinha o livro indo e vindo da minha casa. Se a foto apetecia, a receita não fazia jus. Não havia indicação nenhuma em toda a receita sobre a tal camada incólume de chocolate branco a cobrir a trufa verdinha. Depois, há duas menções do uso do matcha na receita: uma vez no creme de leite e outra vez junto ao açúcar e pistache, na cobertura. No entanto, o matcha aparece na lista de ingredientes apenas uma vez: junto do creme de leite – e não há nenhuma observação quanto à divisão da quantidade para cada etapa. Fora a quantidade do pó, que me parece muita coisa, ainda o texto informa que deve-se rolar as trufas no cacau. Hein?? Quem foi o revisor dessa joça?
Daí que nessa que foi uma das muitas idas e vindas do livro, resolvi que era hora de preparar as tais trufas e tirá-las do meu caminho. Principalmente porque desta vez me considero gata escaldada o bastante para identificar alguns erros básicos em livros de culinária e corrigi-los antes de estragar toda a receita.
E saí adaptando.
Primeiro, dividi a receita ao meio, pois cinquenta trufas de um sabor tão específico (e uma receita tão inexata) me pareciam demais. Em seguida, diminuí a quantidade de matcha. Ok, desta vez foi porque eu só tinha 4 envelopinhos mesmo. Mas não me arrependo, pois o amargor e o gosto herbáceo do matcha ficaram bastante em evidência já nessa quantidade. Não tinha açúcar de confeiteiro e usei o cristal. Também omiti o matcha da cobertura porque não tinha mais. Por último, usei o pistache cru sem sal, porque era o que eu tinha e porque, convenhamos, pistache é caro pra chuchu. (Já dá pra ver um padrão de preguiça de ir ao supermercado se instalando e sendo o grande causador das adaptações.)
O resultado... ficou MUITO bom! :D Aprovado pela cozinheira, marido e pelo pequeno devorador de trufas verdes. O sabor vem em camadas a cada mordida: primeiro o pistache crocantinho, depois o doce e macio do chocolate branco, então o amargo do matchá, e em seguida o pistache envolto em açúcar de novo. Delicioso para quem não gosta de doces apenas doces, mas com algo mais, e, principalmente, para quem aprecia chá verde. o/
O que vai ser do livro? Provavelmente vai ficar por aqui. Mas completamente rabiscado de correções e adaptações e sob um severo olhar de desconfiança. ¬_¬
TRUFAS DE CHOCOLATE BRANCO, MATCHA E PISTACHE
(adaptado do bizarro e não muito confiável Larousse do Chocolate)
Rendimento: cerca de 25 trufas pequenas
Ingredientes:
- 100ml creme de leite fresco
- 6g matcha (chá verde em pó – um pó verde fluorescente)
- 200g chocolate branco de qualidade (usei Lindt), picado
- 50g manteiga sem sal, gelada
- 1/3 xic. açúcar cristal orgânico
- 1/2 xic. pistache cru sem sal (com pele ou não)
Preparo:
- Coloque o creme de leite em uma panela e leve à fervura. Desligue o fogo e junte o matchá, misturando bem até que esteja dissolvido.
- Junte o chocolate picado em três levas, mexendo bem até que esteja dissolvido. Junte a manteiga e misture bem com um fouet, até que o creme esteja liso. Despeje num pote, tampe e leve à geladeira por cerca de 2 horas ou até que fique firme.
- Pique finamente o pistache e misture ao açúcar.
- Faça bolinhas com o creme mais ou menos uniformes, um pouco maiores que uma bola de gude, e role na mistura de pistache. Mantenha as trufas na geladeira, em pote fechado.