segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sobre compromisso e educação

Existe uma arte que anda se perdendo: a de se receber pessoas. Não apenas porque menos gente cozinhe em casa e tenha prazer (ao invés de pânico) em receber os amigos e familiares para um jantar. Mas porque quem ainda gosta de fazê-lo tem se sentido cada vez menos estimulado pela falta de consideração de seus próprios convidados. Talvez seja culpa de ferramentas como SMS e Twitter, que tornam a comunicação entre seres humanos cada vez mais lacônica e seca. Talvez os pais de toda uma geração tenham falhado em ensinar o mais básico das boas maneiras, como dizer "bom dia", "com licença", "obrigada" e "desculpe-me". São pequenos mas importantes os rituais de civilidade que estão desaparecendo, e, com isso, um pouco da esperança que eu tinha em ver minha casa sempre cheia de gente amiga.

Quando alguém se propõe a realizar um evento em sua casa, seja ele uma reuniãozinha com os mais chegados ou uma comemoração para cinquenta pessoas, há mais envolvido do que o simples comichão de quem ama ser anfitrião. Quando se envia um convite para, digamos, quarenta pessoas, pedindo R.S.V.P., é esperado dessas pessoas que, no mínimo, elas respondam "vou" ou "não vou". Ao contrário do que se espera, "não vou" é uma resposta absolutamente válida e não fere os sentimentos de quem está convidando.

Digamos que, dessas quarenta, vinte tenham respondido "vou". Alguns entusiasmados ainda acrescentam um "com certeza!" ao final da frase. A partir daí, qualquer bom anfitrião começa a planejar comes e bebes em torno desse número. Um cardápio é criado, mesmo que seja salgadinho e pipoca, e bebida é comprada. O anfitrião cuidadoso ainda leva em consideração as sensibilidades e preferências dos convidados que confirmaram presença, comprando bebidas light, não alcoólicas, e alimentos para quem tem restrições, como vegetarianos ou intolerantes a lactose, por exemplo.

No dia da festa, o anfitrião limpa a casa e arruma a mesa com muito gosto. Coloca uma boa trilha sonora e dá os últimos toques aos comes, esperando o primeiro convidado.

E ele espera.

Há esse estranho hábito no Brasil de não se querer ser o primeiro a chegar numa festa. Então, apesar do convite ser para, digamos, 19h, as pessoas só começam a chegar às 20h30. Todo o planejamento em torno da comida quente já foi perdido quando isso acontece, e o anfitrião já começa sua festa ligeiramente estressado pela espera. PAREM com isso.

Passam-se três horas de festa, e, ao ver que dos vinte confirmados, apenas seis chegaram, o anfitrião fica com a pulga atrás da orelha. Será que os convidados se perderam? Erraram o dia? Esqueceram? O bom anfitrião aproveita a companhia de quem veio e deixa para xingar depois.

E quando a festa acaba, ele xinga. Muito. Vai checar email e celular em busca de algum pedido de desculpas pela ausência, alguma justificativa... e nada. NADA. Vai olhar a geladeira repleta de comida e bebida comprada especialmente, e se pergunta por que essas pessoas sequer se deram o trabalho de aparecer. Afinal, era uma boca-livre em boa companhia. Ou talvez eles não achem que a companhia é tão boa assim.

Não sei o que há com as pessoas hoje em dia. Elas não honram compromissos, sua palavra não vale nada, e não há absolutamente nenhuma empatia nelas, pois não se colocam no lugar do anfitrião. Não se lembram de que receber gente custa caro e dá trabalho. Quando você é convidado à casa de alguém, trata-se de um evento especial, e quer dizer que você é querido por essa pessoa. Talvez amizades hoje em dia estejam restritas ao Facebook. Talvez dê muito trabalho sair de casa e se relacionar ao vivo.

Àqueles que estão sempre conosco, tomando uma cerveja e dando risada... amo vocês.

Todos aqueles que deixam os amigos na mão... vão à m*rda.

Cozinhe isso também!

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