quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Julie & Julia: a batalha intelectualóide entre Ana Elisa e um best-seller

Quando vi o livro nas livrarias pela primeira vez, senti-me atraída pela capa, mas não pela proposta. Deixei-o.

Então comecei a ver pipocar posts em outros blogs a respeito do danado, e comecei a ficar curiosa. Não pela proposta em si, mas por esse estranho rumo que o mundo editorial, a indústria cinematográfica e, principalmente, a fonográfica andam tomando, de encontrar seus novos sucessos em blogs e comunidades virtuais. Prevejo livros de auto-ajuda com títulos como "Como alcançar fama e fortuna através de um blog". Seria engraçado.

Sou uma pessoa incrivelmente cética e sinto um impulso muito natural em ir contra o que todo mundo está fazendo. Sou muito desconfiada em relação a tudo o que é "sucesso de público", "blockbuster", "best seller". Mas também sou do tipo "conheça seu inimigo", e freqüentemente compro livros ruins e vejo programas de tv e filmes porcaria apenas pelo prazer de conhecer melhor aquilo que pretendo criticar. É... ninguém disse que só porque faço bolos eu era uma pessoa FÁCIL.

Por isso comprei o livro: queria muito saber o por quê de tanto barulho. (Mas nem toda curiosidade do mundo me faria ler O Código Da Vinci. Ver o filme já foi tortura suficiente.)

Sendo muito sincera, os primeiros dois capítulos estimularam minha vontade de falar mal das coisas. A mim parecia um "Diário de Bridget Jones — Brigando Com As Panelas Depois Que Me Casei Com Mark Darcy" (é, desta água também bebi). Havia um excesso de referências a sexo ruim e muito pouca a comida; e quando a comida era mencionada era em paralelo a sexo de qualidades variadas. Gosto de sexo e gosto de comida, mas nunca tive nenhuma tara específica por "9 1/2 semanas de amor". O livro acabou encostado por alguns dias, junto à pilha dos "um dia eu termino só porque eu comprei o desgraçado".

Mas Allex resolveu dar-se de presente de natal adiantado um video-game novo. Sem poder ficar à toa no sofá zapeando canais, acabei apanhando o livro novamente, por parecer-me, à primeira vista, tão descompromissado com funções cerebrais quanto zapear canais.

Então, de repente, a coisa começou a ficar mais interessante, no momento em que Julie começa a tratar de comida com o respeito que comida merece. E as bizarras lembranças de infância são substituídas por um relato sincero de seu dia-a-dia de mulher real com problemas reais, com um casamento bom, mas que não é perfeito, amigos bons, mas que não são perfeitos, e jantares excelentes, bons, medianos, ruins e desastrosos. Quando você menos espera, já se identificou com a autora-personagem, e bum! gostou do livro. Droga!

Aí é que reside a grande diferença (acredito eu) entre o blog de sucesso de Julie e outros menos famosos que há por aí. Julie me parece perfeitamente honesta quanto a seus pecados. E verificar que o outro é também humano e acorda de mau humor faz com que você, na condição de leitor, sinta-se menos inadequado. É assim que me sinto, ao menos. Adoro ler sobre jantares de sucesso, mas foi fantástico saber que o creme bávaro de laranja de Julie, assim como minha pannacotta, talhou. É ótimo saber que, apesar de amar o marido, ela também tem vontade de esganá-lo de vez em quando. A saga do sofá lembrou-me de um episódio semelhante, em que um amigo nosso ficara de buscar as poltronas brancas da sala.

Tudo isso, no fim das contas, foi para ilustrar a você que não, eu não recomendo qualquer porcaria. Estou na metade do livro e estou gostando. Sim, também pretendo ver o filme (suspiro derrotado). Dei o braço a torcer em público, e só deus sabe (e meu marido) o quanto eu detesto dar o braço a torcer. De orgulho ferido, digo que esta é uma boa leitura de entretenimento, que provavelmente dará um filme igualmente divertido.

Cozinhe isso também!

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