sábado, 18 de agosto de 2007

Revistaiada

Eu ando bastante cansada das revistas brasileiras. Costumava comprar duas: Gula e Cláudia Cozinha. Eram muito interessantes de se folhear e arrecadar idéias para brincar na cozinha. Mas eventualmente me irritaram.

A Gula, porque muitos de seus pratos exigem trocentos ingredientes para um único vinaigrette, o que acaba saindo caro, e porque com o passar do tempo, ela passou a ter mais textos e propagandas do que receitas em si. Seguindo a sazonalidade, começou a ficar repetitiva: toda Páscoa, a edição é de bacalhau e chocolate, todo natal tem peru, etc e tal. Sem falar na moda dos vinhos, que dominou metade de suas páginas.

Enquanto a Gula pecava pelo excesso de frufru, a Cláudia Cozinha pecava pelo excesso de Amélia. Todos os doces tinham gosto de maizena, porque nenhuma receita que deveria levar creme de confeiteiro de fato o levava, por ser considerado "trabalhoso". Seus pratos eram lindos nas fotos, mas na boca tinham aquele gosto meio nhanha, meio tudo misturado, sem sabores distintos. Que é algo que me dá nos nervos às vezes na cozinha caseira brasileira, e que tento evitar. Gosto de sentir os gostos dos ingredientes e saber de cara o motivo de eles estarem no meu prato. O que é para ser azedo, o que é para ser salgado. Não me venha com gororobas sem textura e com gosto de tempero pronto Maggi, que eu dou pití. Bom, a Cláudia Cozinha até que tentou ir na cola da Gula, mas deram com os burros n´água e voltaram a ser um suplemento da revista Cláudia (que não faz parte de minha lista de leituras).

Aconteceu então que de uma coleção enorme de revistas, eu guardei meia dúzia de recortes de coisas que de fato haviam dado certo e desencanei de comprar revistas. Até que (sempre tem um "até que") me deparei com as importadas. De assistir a Top Chef, conheci a Food & Wine Magazine, cujo site uso freqüentemente e recomendo: ótimas receitas à disposição. Resolvi comprar a revista, certa vez, e me deparei com outra, a La Cucina Italiana, que eu folheara durante minha viagem na Itália. Ela é praticamente um livro de receitas, com poucas propagandas e pouco texto. Dá boas releituras de pratos clássicos e regionais italianos, modernizados, com ingredientes fáceis de se encontrar por aqui, e uma área inteira só com técnicas de cozinha passo-a-passo, com fotografias. Para quem não lê italiano, existe a versão em inglês.

Depois passei para a Saveurs, revista francesa sem site, com uma espécie de versão em inglês, a Saveur (sem "s" no final), cujo site também é muito bom. Eu prefiro a versão francesa, que tem um pouco mais de textos, mas as receitas são super diversificadas, e muitas vêm em cartões destacáveis no fim da revista, com lindíssimas fotos. Alguns laticínios franceses são mais difíceis de achar, mas facilmente substituíveis, como foi o caso da torta de ervilhas com Fromage de Brebis, queijo de ovelha firme mas macio, que substituí por Peccorino não maturado, também de ovelha.

Hoje, comprei a Gourmet, americana. É um pouco mais fininha, mas também recheada de fotos e receitas. O interessante destas revistas importadas (além de serem mais baratas que livros de culinária, e você conseguir umas mais antigas a preços iguais aos de revistas brasileiras) é ter uma visão mais ampla da comida. Não é comida marroquina, de um livro marroquino. É comida marroquina sob o ponto de vista de um francês. É interessante ver o que um italiano faz com pedaço de alga Nori: risotto de polvo cru e alga, por incrível que pareça. Você se afasta um pouco dos clássicos e experimenta novos sabores e novas utilizações de ingredientes conhecidos. Mas claro, isso só vale para os que não têm preguiça de ler em outro idioma...

Cozinhe isso também!

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