sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Tipo assim... fases.

Prazeres: churrasco na neve a 20 graus negativos.


Todos os dias, me sento em frente ao computador, e abro essa página do Blogger, para produzir um post. E nada. Nada vem, nada sai, e é como um bloqueio criativo, mas sente mais como um bloqueio de estrada. Não é o carro que está quebrado. É o caminho, que encontrei com um cavalete de manutenção bem no meio, impedindo passagem. 

Boto a culpa, na cozinha. Uma culpa leviana, que não é apropriada. Que nem criança que apronta e bota a culpa no irmão mais novo que nem aprontar sabe ainda. Mas como esse blog é de cozinha, faz sentido que a cozinha seja a culpada. 

É verdade que a cozinha mudou. Fisicamente, pois a casa é outra, e espiritualmente, se posso dizer assim, por falta de outra palavra. (E sempre que me faltam palavras, Allex ri de mim. Escritora. Palavras não deveriam faltar.) 

Uma amiga minha sempre diz que a cozinha, a cozinha física, muda o jeito como a gente se relaciona com a comida. O ambiente é sempre mais forte, diz o Ayurveda. Que seja, então. Se eu colocar a culpa na minha cozinha nova, vou dizer que, apesar de ampla, ela não tem espaço de trabalho. Aquela bancada grande, na altura certa, em que dava pra dispor frutas e batedeira, e abrir macarrão e cortar legumes, tudo junto ao mesmo tempo, ficou em Toronto. Minha cozinha de Ottawa é do tipo que precisa que eu tire a torradeira da mesa pra abrir massa de torta. É do tipo que eu preciso tirar um ingrediente por vez da geladeira, pra picar e botar na panela, que não tem espaço para dispor tudo à minha volta num organizado mis-en-place, ou, pelo menos, num bonito caos orgânico. Minha cozinha dá preguiça de processo complicado. 

O que eu acho muito engraçado.

Porque quando mudei para cá, achei mesmo que encarnaria a cozinheira que fui no Brasil, lá na época da Aldeia da Serra, quando tive casa e quintal. Achei que ia ter torta, pão, biscoito e geleia, sorvete e queijo, desse jeito vida de fazenda que eu tentava emular enquanto meus filhos pequenos comiam insetos no quintal. Achei que casa no mato chamaria essa pessoa. Mas essa pessoa sumiu.

Larguei o fogão pro Allex pilotar, e parei de me importar em comprar pão do mercado. Foi, assim, um cansaço. Um cansaço daquela rigidez do bom versus porcaria. Um cansaço da chata do orgânico. Um cansaço da Martha Stewart ferida que se armava armadilhas de achar que precisava fazer, que tinha que, que devia. Cansaço do Tenho Que. Tenho Que coisa nenhuma. Não Tenho Que nada. 

Daí que não foi só a cozinha. 

Foi essa mudança não só de endereço. Esse começar de novo, de novo. Casa nova, cidade nova, trabalho novo, que meu trabalho, agora, de escritora-que-paga-conta, não só ilustradora que gosta de escrever, é todo um outro rolê. Tem essa nova fase de criança grande. Criança que cozinha, que volta da escola sozinha, que sai pra brincar e volta duas horas depois, sem precisar de mãe acompanhando no parquinho. Criança que vai sozinha comprar sorvete e pegar livro na biblioteca. Isso de criança que tem cada um seu quarto. Isso de homem em home-office trabalhando num quarto separado. Isso de acender uma vela pra Virgina Woolf e fechar uma porta para trabalhar. Silêncio e foco num quarto só meu. 

E me joguei no trabalho até não ter mais horas em que não estivesse desenhando, escrevendo, ou lendo sobre desenhar e escrever, ou desenhando e escrevendo na internet para promover aquilo que eu desenho e escrevo e vender meus escritos e desenhos. 

Pêndulo. De um extremo ao outro. Pra lá e para cá.

E teve o dia em que achei que eu tinha largado a cozinha e que não podia. Tinha Que. E num surto de FOMO de confeitaria, ciente de que meus filhos não lembravam o que era uma éclair, passei quatro horas em pé na cozinha, fazendo pâte à choux (duas vezes, que a primeira deu errado), creme de confeiteiro e ganache, e montando tudo aquilo do jeito que dava, sem as ferramentas que eu tinha lá nos áureos tempos da Aldeia. E ainda que a éclair tenha ficado deliciosa, e a família inteira tenha pedido pra fazer de novo, eu não consegui tirar da boca aquele gosto ruim da constatação de que eu preferia ter passado aquelas quatro horas escrevendo. 

Era o fim? Não era o fim. Era o começo. Ou a volta. Ou a roda girando outra vez. Ou uma elipse, fazendo a volta, cruzando o ponto onde eu um dia fui trabalho e não cozinha, e seguindo em frente. 

Parece que vivo meus dias de dez anos atrás, eu disse. A rotinha de corrida e trabalho, e almoço leve e fazer jantar, e não inventar doce que não precisa, não passear cachorro nem levar criança na escolinha, é essa vida pré-filhos, pré-cão, pré-blog, pré-rede social.

Nas férias escolares de inverno, essas duas semanas que engolem Natal e Reveillon, quando desliguei também o Instagram, fui atirada de volta a 1996. Ou qualquer outra data em que eu já passava minhas tardes escrevendo histórias e lendo livros, sem emails para responder e nem um celular me assediando. O tempo passou devagar. 

E devagar o tempo tem passado, imersa em criação depois de criar crianças. Há quem diga que é natural que os filhos larguem a mãe e o pai assuma nessa idade. Pensamento que me veio só depois que aconteceu. E vejo as crianças penduradas no pai, e ele tomando conta, batendo papo, cuidando, brincando, ensinando. A balança da vida doméstica pesando mais pro lado dele, encontrando um novo equilíbrio. E devagar olho no espelho e a mãe em mim se acalma, senta num canto, abre um livro, e deixa outra Ana tomar conta. Essa Ana faz jantares gostosos que ela quer comer, e não surta com nutrição. Essa Ana compra pão e sorvete. Mas faz focaccia quando dá vontade, e biscoito, porque quis. Não porque Tem Que. Não Tem Que nada. Se Tem Que fazer jantar e não tá a fim, essa Ana larga a cozinha pro marido e vai tomar um banho. Essa Ana não Tem Que. Essa Ana Quer. Querer é bom. E se não quer, tá tudo bem. Saber largar quando não quer também é bom.

Nisso, veja só, quem fez Spekulatius esse ano foi o Allex.

E essa Ana pensava que Tinha Que escrever no blog. Mas aquilo que Tem Que não sai mais. E essa Ana esperou QUERER escrever no blog. Ainda que tenha saído um texto em que ela fala de si mesma em terceira pessoa. Sorry. Eu ainda tenho esse bloqueio de olhar pro blog e achar que TENHO QUE escrever sobre comida.

Uma coisa que eu sei que eu não quero mais, que o TEM QUE quase matou o blog tantas outras vezes, é ficar copiando e colando e traduzindo receita. Faz muito tempo, vamos combinar, que a internet saturou de receitas. Até porque, agora que tenho tão poucos livros, minha comida vem sempre das mesmas quatro fontes: Tessa Kyros, Marcella Hazan, Ginethe Mathiot, Suzanne Goin e Alice Medrich. Recomendações que faço de olhos fechados, e cujas receitas já coloquei tanto aqui, que acho mesmo que devo direitos autorais a todas elas. Fiz a torta de limão meyer com chocolate da Suzanne Goin, o Boeuf Bourguignon da Ginethe Mathiot, o fricassê de frango com louro da Marcella Hazan, a focaccia da Tessa Kyros, e os chocolate hazelnut meringues da Alice Medrich. Mas no fim, me dou conta, depois de tantos anos cozinhando, os processos são sempre os mesmos, e me dá preguiça de falar de comida como se fosse sempre uma grande novidade. 

Talvez comida, ESSA relação com a comida, tenha saturado também na minha cabeça.

E eu tenho preferido manter meus jantares meus. Fiquei incomodada quando meus filhos começaram a me perguntar, antes de cada refeição, se eu não ia tirar foto antes de comer. Não, não vou. Vou só curtir mesmo. Vou comer. E às vezes até está lindo mesmo, e eu tiro uma foto. Porque eu quero. Não porque Tem Que. O que eu quero mesmo é comer comida boa que me deu prazer de preparar. PRAZER. Sem pensar demais no assunto. Sem muito planejamento. Sem ficar matutando história pra acompanhar receita.

É bom saber respeitar as próprias fases. 

Se tem uma coisa que a gente tem aprendido nesses anos de pandemia e quarentenas e escola online e o caramba é a ter prazer na vida e se divertir como possível.

A vida já tem muito Tem Que. Tem Que pagar conta. Tem Que fazer imposto de renda. É bom largar os Tem Que que não tem quê. Fazer a pergunta: Mas eu Quero? Já passei dos quarenta anos, e se eu seguir a média da expectativa de vida, quer dizer que estou na metade do meu caminho. Já passei metade da vida achando que Tinha Que um monte de coisa. Quero mais é prazer e tranquilidade nessa outra metade. Vida Tranquila. Tá escrito na minha geladeira. E logo embaixo de Vida Tranquila, tá lá, em letrinhas coloridas: Me Deixa. Mas Ana, cê vai fazer isso? Me Deixa. Mas Ana. cê não vai fazer aquilo? Me Deixa. 

Me Deixa ir, me deixa mudar, me deixa curtir essa nova fase, e me jogar na escrita, e nessa pessoa que surge depois de uma década de maternidade casas Bahia - dedicação total a você. Haha. Afinal foi esse trabalho intenso que produziu duas crianças que agora ficam tranquilas e acham graça da mamãe trancada no quarto escrevendo e o papai fazendo biscoito. Ciclos.

Tenho encontrado um equilíbrio bom. Logo logo, quem sabe, a vontade de descrever processos culinários volte. Ou não. Talvez vocês se acostumem comigo falando de qualquer outra coisa.

Esse domingo é aniversário da Laura, e ela pediu pra eu fazer coxinha. "Fazer não faço não, Laura, que dá um trabalho danado. Mas vou achar alguém em Ottawa que faça e eu compro. Tá bom?"

Tá ótimo. ;)

(Aviso aos navegantes: os comentários no blog foram fechados, não porque não me importo, mas porque eu tinha a cada post 3 comentários de verdade e 87 spams, e eu meio que cansei de ficar usando meu tempo pra deletar essas porcarias. Se você quiser fazer um comentário, POR FAVOR, comente: me mande um email. Eu também continuo no Instagram, porque ainda não inventaram outro jeito de ilustrador e escritor divulgar trabalho e não se tornar invisível. haha. Beijocas.)


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Powe Point e um chili vegano


Você sabe que o Instagram tem dias contados quando ele vira uma imensa apresentação de PowerPoint com correntes e frases motivacionais.

Se você entendeu essa referência, então você tem, pelo menos, a minha idade. Quem, nascido antes de 1989, não se lembra dos e-mails com PPT cheio de foto de gatinho e cachoeira e um monte de baboseira de auto-ajuda, e promessa de que, se você repassar aquela apresentação pra sete amigos, vai ganhar na loteria? 

Quem é jovem sofreu desse mal no Whatsapp. Mas quem recebeu PPT do tio da prima no e-mail da AOL é raiz.

Eu, que sou velha, fico vendo essa imensa roda da fortuna das mensagens motivacionais seguindo seu ciclo em todas as plataformas, da época do Pen Pal (eu escrevia CARTAS, tá?) até o TikTok. Só que eu não tenho TikTok, porque até eu tenho limites, e eu sou o tipo de velha que fica irritada com a juventude atual e sai gritando através da dentadura pra molecada sair do meu gramado. 

É brincadeira. Eu não uso dentadura.

Enfim.

Foi na semana anterior ao meu aniversário, quando eu sofri os efeitos da combinação bombástica de um Inferno Astral, uma Lua Minguante, um Mercúrio Retrógrado e uma TPM, tudo junto e misturado. Foi osso. E enquanto eu roía esse osso, eu notei que tinha pegado bode do Instagram, do mesmo jeito que peguei do Facebook, anos atrás. Eu me divirto criando as narrativas nos Stories, e uso o timing da mudança de tela como se fosse a pausa num stand-up comedy. Tem um lado engraçado meu que aparece lá porque a plataforma cria a circunstância para isso. A mídia é a mensagem, já dizia titio Marshall McLuhan. O formato dos posts foi ótimo para finalmente começar a publicar minhas poesias e perder a vergonha de vez de trazer à luz toda sorte de arte. Como eu escrevi por lá um dia: a partir de hoje eu me dou o direito de escrever poesia tosca e fazer arte ruim. Vivam com isso. 

(Eu gosto das minhas poesias e da minha arte, e não acho nada nada ruim, mas só me libertei de confiar na opinião dos outros para validar o modo como me sinto a respeito da arte que produzo. ;) 

A auto-estima agradece.

Foi mais ou menos o mesmo processo de quando criei o blog Desenhoquê. Quem lembra, levanta a mão. Tem três gato pingado de mão levantada. Ótimo. Se vocês também riram da piada do PowerPoint, parabéns. Bando de velho que nem eu. 

Enfim. 

Foi o mesmo processo do blog, de colocar para fora arte que eu ainda não sabia exatamente como formatar e expor de uma forma tradicional. Foi bom para testar a temperatura da água antes de mergulhar dando uma bomba no lado fundo da piscina. 

Estava divertido, eu confesso. Tia Ana tava gostando de uma rede social. Eu via fotinhos e Stories de amiguinhos e coleguinhas. Conheci mulheres legais que me inspiraram por lá. Fiz live de lançamento do meu livro. Conversei com gente que me lê aqui faz tempo, mas com quem era difícil bater papo pelos comentários. Conheci amigas aqui no Canadá.

NO ENTANTO com letras maiúsculas e em negrito, o mocinho do Facebook não dá ponto sem nó e começou a brincar de Puppet Master com os usuários do Instagram. Vamos falar pro pessoal que os posts deles só são vistos se eles fizerem Stories. Vamos falar pro pessoal que os Stories deles só são vistos de eles postarem todo dia. Vamos falar pro pessoal que a gente só recomenda os posts que têm like. Agora só os que têm comentário. Agora só os que foram salvos. Agora só os que foram compartilhados. Agora a gente só impulsiona os posts cujos Stories têm interação com o público. Agora a gente só impulsiona perfil de gente que faz Reels, porque a gente tem que competir com Tik Tok.

They say JUMP you say HOW HIGH?

A plataforma é feita não só para engolir a vida de quem consome conteúdo e entretenimento ali, mas, principalmente, para manter o "criador de conteúdo" escravo dos caprichos do senhor Mestre Algoritmo.

Porque quem precisa expor seu trabalho para ser comprado acaba tendo que se enfiar numa rede social cedo ou tarde, a não ser que tenha tido a sorte de se estabelecer no mercado antes do advento do Orkut. Ninguém mais vai no cliente mostrar portfólio na pastinha. Nenhuma editora cria um grande plano de comunicação e marketing para um autor desconhecido.

Você começa no Instagram pensando: vou publicar minha pintura de gatinho aqui, e as pessoas vão ver que eu faço pinturas de gatinhos e vão comprar pinturas de gatinhos. Cinco anos depois, você está fazendo dancinha e bebendo refrigerante por um tubo de papel higiênico para garantir que o Instagram recomende aquela sua pintura de gatinho pra alguém. Mas como você passa metade do seu dia produzindo conteúdo para garantir que o algoritmo aumente o alcance da sua audiência, você não pinta um gatinho novo há três meses. E apesar de ter conseguido trinta e dois mil seguidores (cento e vinte e sete dos quais eram haters e você teve que bloquear mais de uma vez), só 1% das visitas à sua loja de pinturas de gatinhos impulsionadas pelo Instagram resultam em vendas. 

Se você se identificou com isso, sinto muito, mas quer dizer que você está trabalhando de graça para o Instagram e distribuindo sua arte pelo mundo feito confete, sem ganhar nada em troca, e que essa história de "se eu postar meus gatinhos aqui, eles vão saber que eu faço e vão comprar" é uma falácia gigantesca.

Anassaura aqui lembra da vida pré-internet e pré-celular. Vivi metade da minha vida sem e-mail, e dois terços dela sem um smart-phone. Quando, recentemente, fui fazer back-up das minhas fotos na minha conta do Google que, veja só, ENCHEU, foi uma revelação ver meus álbuns de fotos subitamente passando de duas fotos por mês com câmera digital para dezenas de fotos por mês quando ganhei meu primeiro smart-phone, e para centenas de fotos quando resolvi entrar no Instagram. 

Prova cabal de como a tecnologia mudou meu jeito de me relacionar com o mundo. E eu não gostei disso.

Naquela semana antes do meu aniversário, eu estava cansada do Instagram. Como entretenimento, o conteúdo mais me estressava do que entretinha. Todo mundo ali está tão deprimido quanto eu. Todo mundo ali está p*to da vida com as mesmas coisas (ou mais) que eu. E quem não está passa o dia postando frase motivacional e está tão ausente da realidade que me faz perguntar que drogas a pessoa está tomando, e onde eu compro um pouco pra mim. Tinha um perfil de que eu gostava, por conta do humor cru, que esses dias postou uma frase fofa e a legenda: a pessoa para quem você repassar esse post, vai saber que você acha ela forte, bonita, legal, fofa, tralalá... 

CORRENTE.

Taqueospariu. Os millenials ficam brigando com a geração Y pra saber quem é mais cringe, e não perceberam que foram dominados pelos Baby Boomers

Unfollow.

O Instagram está chato pra chuchu. Esse é o termo técnico. A vida de todo mundo é sempre igual. Quem tem uma vida muito maravilhosa me faz sentir mal a respeito da minha vida e quem tem uma vida muito horrível me faz sentir mal a respeito da minha vida. Mas hein? 

(Isso não quer dizer que eu ache as pessoas lá chatas. Muito pelo contrário. É a plataforma que torna tudo chato.)

Pra terminar, naquela fatídica semana, o Instagram foi atacado e ninguém conseguiu fazer nada nele por um dia inteiro. Certeza que foi a conjunção cósmica do Mercúrio Retrógrado e minha TPM. Certeza. 

Enfim. Me caiu uma ficha. E pronto, se eu precisava de mais provas para confirmar minha idade avançada, taí. Caiu a ficha. Eu usava orelhão. Quem não lembra a delícia que era o cheiro de metal suado que vinha do bocal quente do telefone quando você tirava ele do gancho logo depois de outra pessoa usar? Ai, que saudade. Só que não.

Mas me caiu a ficha. A famosa epifania. Se calha dessa joça de rede social cair de vez, eu perco quase 100% do contato com meu púbico. As pessoas interessadas nas minhas crônicas descabidas, minha poesia sem pé nem cabeça, minhas aquarelas de bolovo e minhas tirinhas sem noção perdem COMPLETAMENTE o acesso ao meu trabalho, a não ser que tenham um dia se interessado em clicar no link do meu perfil e salvar o endereço desde blog de cabelos brancos, mas cheio da dignidade.  

Mesmo o blog, que apesar de ter endereço próprio, ainda é completamente armazenado pelo Google, é instável. PORQUE NÃO ESTÁ NA MINHA MÃO, mas na mão de empresas e algoritmos. Já tive gente me escrevendo dizendo que imprimiu o blog todo, pro caso de eu um dia apagar. Eu não faria isso. Mas quem disse que o Google não faria? 

Ai, eu sei. Teoria da conspiração é muito coisa de velho. Você não tem ideia: eu costumava escrever em cadernos e máquinas de escrever até os dezoito anos, porque eu achava que "computadores perdem coisas". Já ouviu teu avô dizendo isso? Pois é. Eu nasci com oitenta anos. 

Teorias da conspiração à parte, eu senti que meu trabalho estava muito vulnerável, muito dependente de plataformas instáveis e que têm mais poder de bloquear meu acesso e apagar minha conta do que eu tenho de apelar a qualquer uma dessas ações. (O Instagram bloqueou a primeira conta que eu abri, porque eu postei três fotos em seguida e ele achou que eu era um Bot, e eu nunca mais tive a conta de volta.)

E meu trabalho tem que ser meu. E eu tenho que trabalhar para mim e para meus leitores e clientes, e não para o Instagram. Bode.

Desde o ano passado, enquanto eu escrevia meu livro, eu flertava com as plataformas de crowdfunding, tentando imaginar uma forma de ter mais controle sobre o meu trabalho. Mercúrio retrógrado e o apagão do Instagram me deram um empurrãozinho, e eu criei uma Newsletter, Boletos & Borboletas, para quem quiser receber semanalmente uma crônica e uma tirinha inéditas e exclusivas, e ao mesmo tempo colaborar financeiramente para que eu possa dedicar mais tempo terminando de escrever meu novo livro e editando o livro das tirinhas do Diário Ilustrado, ao invés de ter fazer dancinha e beber refrigerante pelo tubo do papel higiênico.


 

Já saíram duas edições, nas últimas segundas-feiras, e quem assinar a Newsletter ainda em outubro, têm acesso ao conteúdo delas no Mural da minha página do Apoia-se. A colaboração é mensal, como a assinatura de uma revista. No Mural, há textos e fotos sobre processo criativo, influências, leituras, e até receitinha e sorteio de caricatura já rolou. 

Sempre me incomodou isso de parecer que eu tenho um grupo de leitores aqui e e outro no Instagram. Porque tem gente que me conheceu por lá e só lê o que eu posto lá, e tem gente que me conheceu aqui e não tem Instagram nem quer ter. E eu acho uma chatice isso de quem não faz parte da intersecção dos dois grupos não ter acesso a todo o meu material. Então pronto. Essa é uma forma de ter um contato mais direto com quem de fato se interessa pelo meu trabalho, e não quer só bisbilhotar minha vida (que no Instagram tá cheio disso também). É um jeito de me sentir mais segura de que, mesmo que a plataforma do Apoia-se desapareça, meu trabalho ainda está comigo e com meus leitores. E eu tenho alguma segurança financeira para me dedicar mais aos textos, inclusive do blog, e menos para ficar agradando algoritmo em rede social. 

O Instagram continua, mas com menos intensidade do que antes. Porque Instagram me deixa ansiosa, ansiedade me dá insônia, e, sem piada nenhuma agora, insônia me dá depressão, e eu já vivi esse ciclo vicioso vezes suficientes para saber que é hora de quebrar o padrão.

O Blog, queridinho do meu coração, continua no mesmo ritmo. Se você gosta dos textos daqui e gostaria de ler mais, toda semana, pode assinar minha newsletter lindinha. Se gosta, mas um texto por mês tá mais que bom, obrigada, pode também apoiar com bem pouquinho, só para manter a coisa funcionando. Com um trocado por mês você tem acesso a todo o material que eu posto no Mural (menos a newsletter) e participa dos sorteios.

Essas primeiras duas semanas de newsletter trouxeram um ar de calma à minha rotina, muito mais parecida com a Vida Tranquila que eu sempre busquei. Engraçado isso de tomar café-da-manhã sem postar foto do seu cappuccino. Coisa de gente velha. 

Prometo não mandar nenhum PPT com foto de gatinho na newsletter.

 

VAI LÁ NO MEU APOIA-SE: https://apoia.se/anaelisagranziera

.... 

ENQUANTO ISSO...

...Allex anda empolgado com sua panela elétrica de slow cooking, veja só, e adaptou a receita de chili con carne que eu mencionei no outro post, para ser vegetariana... e ficou maravilhoso! O chili fica ótimo com pãezinhos de milho, com tortilla chips e guacamole, sensacional com sou cream (se você não for vegano), com arroz e abacate, e num Buraco Quente, que é como a gente de São Paulo conhece aquele sanduíche que você faz tirando o miolo de um pão francês e preenchendo o buraco de carne moída com molho. 

Substituir carne por tofu não é golpe de gênio. Mas RALAR o tofu foi. Ele forma os gruminhos que emulam a carne moída e, tendo comido a versão com carne e sem, vou dizer que se você não disser para ninguém, é difícil perceber a troca. 

Quando reclamei do Facebook, falei de vida devagar e pão sourdough. Reclamando do Instagram, deixo um Chili Vegano pra ser cozido bem devagar, em fogo baixo, para apurar o sabor. No dia seguinte, fica melhor ainda. 

Eu postei o link da receita original aqui já, mas agora vou colocar a adaptação traduzida. 

 

CHILI VEGANO DO ALLEX

(adaptado daqui)

Rendimento: seis porções grandes ou mais

 

Ingredientes: 

  • 2 cebolas grandes, picadas (cerca de 3 xic)
  • 1/4 xic azeite ou óleo vegetal
  • 1 colh (sopa) alho picado
  • 2 cenouras, raladas grosso
  • 1,3kg de tofu firme, metade em cubinhos pequenos, metade ralado na parte grossa do ralador (ele vai ralar formando grumos de diferentes tamanhos, e é o que você quer. Alternativamente, você pode esfarelar o tofu com as pontas dos dedos. Não precisa ficar uniforme.)
  • 1/4 xic chili powder*
  • 1 colh (sopa) cominho em pó
  • 2 colh (sopa) páprica
  • 1 colh (sopa) orégano seco
  • pimenta calabresa seca, em flocos, a gosto.
  • 2 xic purê de tomate, passata, ou seu molho de tomate simples favorito
  • 1 1/4 xic água
  • 3 colh (sopa) vinagre de sidra ou o vinagre que você tiver
  • 1 3/4 xic. feijão VERMELHO em lata ou cozido (se não tiver o feijão vermelho, pode ser o preto) 
  • 2 pimentões verdes, sem miolo e sementes, picado (Allex colocou mais um pimentão vermelho também)
  • sal e pimenta-do-reino 

* chili powder, ao contrário do que parece, NÃO É só pimenta em pó. É pimenta caiena, alho em pó,cominho, páprica, orégano, e pode ter outros ingredientes também. Se você não tiver, pode aumentar a quantidade dos outros temperos. Experimente o seu chili powder antes de colocar a quantidade toda. O chili powder daqui realmente NÃO É muito apimentado. Daí a quantidade grande.

Preparo:

  • Numa panela grande e de fundo grosso, aqueça o óleo em fogo médio-baixo, e junte as cebolas e uma pitada de sal, misturando, por 5 a 10 minutos, até que estejam macias. 
  • Junte o alho, a cenoura ralada, e cozinhe por um minuto mais. 
  • Aumente o fogo para médio e junte o tofu em cubos e o ralado grosso, mexendo, até que algumas partes do tofu comecem a dourar. 
  • Junte o chili powder, cominho, páprica, orégano, pimenta, e cozinhe por mais um minuto. 
  • Junte o tomate, água e vinagre, e leve à fervura bem branda, cozinhando, com tampa, por 35-40 minutos. (Se sua panela não for muito pesada, vale a pena dar uma misturada de dez em dez minutos, para garantir que o fundo não está pegando.)
  • Junte os feijões cozidos, pimentões, sal (cerca de 2 colh. chá, mas experimente antes de colocar tudo) e pimenta-do-reino, e cozinhe por mais 15 minutos, ou até que os pimentões estejam macios e o chili esteja cremoso e reduzido o bastante para que você possa comê-lo com tortilla chips sem que ele escorra para fora da tortilla.  
  • Sirva no mesmo dia, no dia seguinte, ou congele para depois, porque ele se conserva muito bem em potes fechados na geladeira ou no freezer. (A receita não pede, mas eu acho que folhas de coentro por cima no final ficaria maravilhoso.)

Cozinhe isso também!

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