Depois de alguns dias de pé na areia, olhando para um mar que me fazia virar o pescoço de um lado para o outro para enxergar suas extremidades, descobri que adoro baião-de-dois e tapioca. Sim, parece incrível, mas nunca havia provado nenhum dos dois. Foi uma semana de pargo frito, camarão de inúmeras maneiras e caldinho de peixe espesso e amarelo, que me dava a impressão de que seria capaz de levantar um saco de tijolos acima da cabeça; mas agora tudo o que quero é um pouco de verde no prato.
O interessante dessas pequenas férias, além de conhecer um pedaço do Brasil que nunca antes visitara, foi reorganizar minha cabeça e, em conseqüência, meu tempo. Assim que o avião pousou, arranquei o relógio do pulso e meti-o na bolsa, decidida a não mais saber que horas eram a não ser pelo movimento do sol sobre os prédios de Fortaleza ou sobre as dunas de Canoa Quebrada.
O tempo longe do computador e da televisão fez com que eu terminasse um livro que estava pela metade, lesse um inteiro comprado no aeroporto e começasse um terceiro trazido de São Paulo, o que tornou minha mala mais pesada mas com certeza me trouxe de volta a meu antigo ritmo de leitura. Deitada numa rede, cervejinha numa das mãos, devorei, deliciada, o último livro de Michael Pollan: Em Defesa da Comida. Não sou muito de fazer resenhas de livros, mas não há uma pessoa que eu conheça a quem não esteja recomendando essa leitura. Para quem já leva a vida com mais calma, o livro não traz nada de novo em suas recomendações. As regras na parte de trás do livro, inclusive, dão uma idéia errada de seu conteúdo, e eu mesma pensei que o livro não me ensinaria coisa alguma, uma vez que já sigo boa parte (senão todas) das regras de Pollan. No entanto, o que o livro faz é dar respaldo a pessoas que já fazem determinadas escolhas no que diz respeito a estilo de vida e alimentação. É um alívio saber não estamos loucos e sozinhos no mundo, e que o que fazemos de fato faz algum sentido. [Sinto-me menos chata.] Àqueles que já pensam que talvez aquele pacote de bolachas sabor morango não seja uma compra tão boa – mas que ainda assim vão lá e o compram – o livro dá o último empurrão para que abandonem os maus hábitos. E aos glutões que pouco se importam com o que enfiam na boca, as informações sobre a história do cultivo de cereais no ocidente, a industrialização da comida, o "nutricionismo" e a relação de tudo isso com sua saúde debilitada serão certamente um choque.
O mais interessante disso tudo, foi conseguir compreender de fato o por quê de ter emagrecido – além do fato de ter me exercitado um bocado – sem ter aberto mão de nada de que gostasse. Durante oito meses (e ainda hoje) eu comi comida. Não muito. Principalmente vegetais.
Deixo a vocês então imagens relaxantes e essa recomendação de leitura. Imagens relaxantes são primordiais nesse momento, em que há dois encanadores fazendo de meu banheiro um queijo suíço. Só posso ignorar o barulho, apanhar um bocado do sorvete de milho verde da Patrícia, que preparei com as lindas espigas de milho fresquinhas compradas na feira, olhar para as fotos do mar e fingir que as marteladas são na verdade o burburinho das ondas. Suspiro, volto a trabalhar, e fico imaginando onde vou encontrar feijão de corda fresquinho para fazer baião-de-dois por aqui. [Fico também imaginando se posso fazer a goma da tapioca num dia, colocar na geladeira e preparar a tapioca na manhã seguinte. Será que posso? Será?]