quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Verão, visita, gatilhos positivos, acampamento, livros que transformam e ghee


Eu me lembrava do verão passado com carinho: longas caminhadas com as crianças, descoberta de novas prainhas, novos parquinhos, trilhas escondidas; piqueniques sem pressa no meio do caminho, pés na areia, horas sem fim de leitura silenciosa enquanto meus filhos brincavam soltos por aí.
Mas o tempo passa, a novidade se esvai, e as caminhadas deixam de parecer uma exploração para virarem rotina. Dos parquinhos cada um tem seu preferido, e escolher aonde ir provoca quase sempre conflitos. As crianças agora têm amigos com os quais fazem questão de encontrar, e eu fecho o meu livro para passar longas horas em conversas de elevador com pais de coleguinhas. Não, talvez isso seja injustiça: algumas dessas conversas foram realmente boas em dias que eu precisava trocar figurinhas. Mas sendo a eterna introvertida que sou, preciso de um dia de silêncio para me recuperar de um dia de constante falatório. E esse dia de silêncio calhou que nunca veio. Porque mesmo que você não marque nada com ninguém, os bairros de Toronto são como mini cidades do interior: todo mundo que estuda naquela escola mora no mesmo bairro e frequenta os mesmos parquinhos. Logo, você está sempre fadado a encontrar alguém conhecido.

Além disso, boa parte dos amiguinhos dos meus filhos estava em creches ou summer camps (os tais programas de férias que servem para ocupar seu filho em horário comercial quando você tem que trabalhar ou não está afim de passar seus dias no playground). E como as tais crianças só saem dos camps às 3h30 da tarde, precisei mudar toda aquela rotina boa de sair sem destino por aí, gastar energia logo cedo, almoçar piquenique, e voltar exausto no meio da tarde pra tomar banho e ver um desenho... para o completo oposto: ver desenho de manhã, almoçar em casa, sair pro parque com horário marcado no parquinho de sempre, voltar tarde pra casa, fazer manha pra tomar banho, jantar tarde, ainda querer jogar jogo de tabuleiro depois do jantar com o papai e ir dormir às dez da noite.

Um dos vários almoços piquenique: frutas, wrapp de abacate, queijo e legumes, coco fresco em pedaços, amêndoas e tâmaras, frutas da estação.
O dormir tarde não seria um problema, afinal são férias, tudo bem. Mas quando eles dormem as dez da noite e continuam acordando às seis da manhã, a falta de sono vai acumulando, e Laura, principalmente, vira um bicho quando está cansada (exatamente como eu). Além disso, o meu tão prezado "horário de adulto", tão importante para a manutenção de minha sanidade mental, foi também pro beleléu. Ao invés de ir dormir às dez e meia (porque as crianças estariam na cama desde as oito), vi-me indo pra cama à meia noite, uma da manhã. Pra acordar às seis no dia seguinte ao som de criança brincando e/ou brigando.

Isso poderia ter transformado o verão num estresse.

Mas eu me mantive concentrada nos meus gatilhos positivos. Pois é, aquelas pequenas coisas que você faz para te manter no rumo. Acordar cantando uma musiquinha besta que faz todo mundo dar risada da minha cara. Alongar antes do café para botar a coluna no lugar e fazer a energia fluir. Alongar parece ser o passo número um para me lembrar de me cuidar o resto do dia. Quando não alongo tendo a esquecer de fazer outras coisas importantes para a manutenção da minha sanidade. Uma coisa puxa a outra. Quando alongo, acabo meditando. Quando medito, acabo indo correr. Quando corro, tenho vontade de comer comida fresca e leve. Quando como bem, me sinto melhor ao longo do dia e acabo pintando mais. Quando pinto, sinto-me competente e satisfeita. Quando me sinto competente e satisfeita, sinto-me mais calma para lidar com os conflitos com as crianças. Lidando de forma zen com as crianças, me sinto uma mãe melhor. No fim do dia tomo minha cerveja porque quero e não porque preciso. Vou dormir cedo. Durmo bem. E o dia seguinte já começa com o pé direito.

E tudo começa com a minha saudaçãozinha ao sol. Um alongamento de nada. Meu gatilho.

E mesmo num dia ruim, sei que esse alongamentozinho de dois minutos e meio é aquela migalhinha no caminho de que preciso. Quando as coisas saem do controle e me vejo querendo ir atrás daqueles famosos "confortos" que no fim pioram minha autoestima (os doces, o álcool, o famoso "hoje não vou correr porque meu dia está ruim e eu mereço não fazer nada"), troco por cuidados comigo: ler um livro, tomar um chá, lavar o cabelo, uma caminhada no mato, um lanche que seja bonito e me faça sentir que estou cuidando de mim e me dando amor de verdade, ao invés de me punir com aquilo que a mídia ensina que é amor (se entupir de sorvete no sofá chorando as mágoas - isso resolve como?). Ou simplesmente peço um abraço. Quantas vezes, num dia ruim, a gente lembra de simplesmente pedir um abraço?

Meus gatilhos positivos me mantiveram de bom humor para lidar com as pequenas coisas do verão que não eram de acordo com minhas expectativas (expectativa é uma m*rda). Ajudou também marido chegar em casa num horário bom para jantar conosco e jogar jogos com as crianças enquanto eu relaxava a cabeça passeando o cachorro no parque. Oito horas da noite e a luz era de quatro e meia, as cigarras cantando, os passarinhos se aninhando para encerrar o dia.

Enfim, lá pelo meio das férias o que ajudou mesmo foi a liberdade das crianças. Havia visto internet afora um video sobre Free Range Parenting, um termo meio piada para tratar da liberdade das crianças no mundo moderno, e caí num livro da jornalista Lenore Skenazy: Free Range Kids. O livro compara a liberdade das crianças de décadas anteriores com as atuais, fala dos medos modernos dos quais mães e pais sofrem e combate tudo isso com dados e fatos, mostrando que, pelo menos na América do Norte e na Europa, o mundo está mais seguro para as crianças. Fala sobre confiança. A mesma confiança que tenho em dar facas nas mãos dos meus filhos para que cortem as próprias frutas, ou que tenho em Thomas para usar o fogão e preparar seu próprio ovo frito com torradas de manhã.

Foi num dia no meio das férias, em que Allex estava em casa trabalhando e nós atravessávamos o parque para ir a uma padaria vinte minutos dali que, cansada de ouvir as reclamações de Thomas, virei e perguntei: "Se eu te desse a chave de casa agora e mandasse você pra casa pra ficar com seu pai, o que você faria?" Ao que ele se empertigou todo o respondeu que voltaria numa boa. "Como você volta pra casa daqui?", perguntei. E ele descreveu todo o caminho, incluindo os momentos em que teria de parar para atravessar a rua olhando para os lados e respeitando a sinalização. Explicou como entrar no prédio e como abrir a porta. E disse que ficaria em casa brincando de Lego enquanto papai trabalha. Pensei por um instante. Mas ele acabou indo para a padaria comigo, reclamando até ganhar um croissant de chocolate, que fez toda a andança valer a pena.

Foram dois os motivos que me impediram de mandar meu filho de oito anos para casa sozinho: primeiro, eu não havia discutido esse passo importante com Allex ainda (parecia-me uma decisão que deveria ser tomada junto) e segundo, eu não sabia se isso era legalmente permitido, uma vez que há alguns lugares do mundo que podem botar uma mãe na cadeia por deixar uma criança dessa idade saracoteando sozinha por aí. (Eu pesquisei a lei de Ontario, claro, e é uma mera questão de bom senso.)

Esse episódio me fez pensar bastante a respeito do meu controle sobre meus filhos e olhá-los de uma outra forma: sob a ótica de suas reais capacidades e não das minhas preocupações. Morar numa cidade segura ajuda um bocado, claro.

E a partir daquele dia, comecei a soltá-los um pouco mais. Ciente de que eles são extremamente responsáveis e não saem mexendo no que não devem nem se inventando encrenca, comecei a a deixá-los experimentarem um pouco de liberdade conforme a oportunidade aparecia, sempre conversando muito a respeito de perigos reais e como reagir a cada um deles (desde a abordagem de estranhos até fogo no prédio). Ao fim do verão eu já estava podendo deixá-los em casa enquanto ia ao mercado rapidamente sem o menor problema. E ir ao mercado sozinha é o tipo de sonho de verão que só uma mãe em tempo integral entende.

Hoje, com as aulas já começadas, a alegria do meu filho é poder ir para casa fazendo um caminho diferente do meu. 

As pequenas liberdades deles trouxeram mais paz aos nossos dias e nosso relacionamento. Fui me vendo mais segura deles e de mim mesma. Num outro dia, Thomas veio me pedir um lanche. Olhei para ele e, rindo, expliquei: "Filho, você tem quase nove anos. Quando você era pequeno, eu precisava escolher o que você comia e quando, pra garantir que você ia crescer forte, porque você ainda não sabia fazer essas coisas. Agora você sabe. Tá com fome? Você sabe abrir a geladeira, usar o fogão e a air fryer. Go crazy. Se alimente. Só peço algum bom senso pra não sair fazendo lanche perto da hora do jantar, por favor, e avisar quando alguma coisa acabou ou está prestes a acabar pra eu poder comprar mais."

Ele demorou alguns minutos pra entender o que eu tinha dito e assimilar aquilo. E saiu correndo pra fazer um enorme sanduíche de tudo o que ele encontrou na geladeira.

Claro, ajuda o fato da minha casa não ter comida "porcaria", como Laura diz. E quando tem, eles perguntam se pode pegar. 

Cafés da manhã tem sido assim ultimamente. Aquela época de "hoje tem mingau" não existe mais. Cada um prepara o seu conforme seus gostos. Se pedem ajuda, ajudo. Hoje quiseram montar o próprio almoço para levar para a escola. Aos fins de semana já aconteceu de eu acordar e os dois já terem tomado café da manhã. A mesa estava posta com as coisas que eu costumo comer de manhã e Laura tinha feito meu cappuccino (ok, a máquina é automática, mas ela ainda tem que lembrar a ordem certa de apertar os botões e lembrar de conectar o reservatório de leite que fica na geladeira).

Eu respiro fundo e fecho os olhos quando eles exageram na quantidade de mel na torrada ou quando resolvem colocar maple syrup no cereal que já vem ligeiramente adoçado. Tá tudo bem. Larga. Sei que sou mais feliz controlando menos e tento abafar o monstro Control-Freak dentro de mim quando ele começa a dar as caras novamente, o que sempre acontece quando estou ou muito cansada ou frustrada com outra situação que saiu do meu controle.

Ao invés de estressar com a bagunça e ficar pedindo um milhão de vezes pra tomar cuidado pra não derrubar o leite na mesa, simplesmente peço pra limpar quando acontece. Agora é automático. Eles sempre limpam a mesa quando cai comida e nem preciso pedir mais. E ninguém mais fica estressado.

Um outro livro que me ajudou com isso foi da Rebeca Wild. Eu já havia lido o Calidad de Vida, sobre ritmos de desenvolvimento infantil, e, achando que precisava reler, peguei outro dela por engano, sobre a vida escolar: The Pestalozzi Experiment, que terminou sendo fantástico, lembrando-me de olhar meus filhos sob outros pontos de vista e compreendê-los melhor.

Em termos de olhar as coisas sob outros pontos de vista e entender melhor, dois outros livros foram fundamentais para mim: Wild Power, de Sjane Hugo Wurlitzer e Alexandra Pope (que fala sobre o ciclo feminino como se fossem estações do ano e como a compreensão de cada fase pode ser usada a seu favor como fonte de força ao invés de limitação) e Mulheres que correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, PhD (não é só hype, o livro é de fato EXCELENTE - eu tinha pego na biblioteca, mas no meio da leitura resolvi me comprar uma cópia para ler e reler quando precisar e eventualmente dá-lo à Laura).

O verão que se seguiu à minha viagem à Portugal foi uma jornada de reencontro com minha criança interior e a força feminina escondida embaixo de cobranças e expectativas. Foi um verão repleto de energia, força e alegria.

Foi nessa fase boa que minha irmã chegou, depois de dois anos sem vê-la. Fiquei esses dois anos esperando para tomar Aperol Spritz com ela novamente.



Concentramos em parcos sete dias tudo o que queríamos mostrar a ela. Cataratas de Niagara, Niagara on The Lake (uma cidadezinha linda quase com cara de cenográfica), piquenique e "tubing" (descer o rio de bóia) em Elora Gorge park, longos passeios de bicicleta por Toronto, hambúrguer, brunch e ramen nos nossos restaurantes favoritos, muita cerveja e conversa e muitos, muitos jogos de cartas  e tabuleiro com as crianças.
Elora Gorge Park.
Almoço-piquenique, a quintessência do verão canadense.(Muffins de mirtilo, Pão de queijo, Blue corn tortilla chips, melancia, pepinos.)


Niagara Falls
Quando minha irmã foi embora, deixando na gente essa impressão de o tempo ter passado muito rápido, tratamos de nos inventar coisa pra fazer. Aproveitamos as promoções de fim de verão para comprar algo que queríamos havia muito tempo: equipamento de acampar. Costumávamos acampar antes das crianças nascerem. Mas seja por excesso de trabalho, falta de grana, medo pela segurança ou qualquer outro motivo, enquanto moramos no Brasil, o único lugar em que as crianças acamparam foram na sala de casa.

Estava na hora de corrigir isso.

Reservamos um espaço num parque a pouco tempo daqui e lá fomos nós. Compramos nosso equipamento não pensando nos car-campings que os canadenses costumam fazer durante o verão, mas sim nas trilhas que pretendemos fazer com as crianças um dia. Barraca pra quatro ultraleve, saco de dormir que aguenta frio e isolante térmico. Um fogareirozinho potente e minúsculo e uma panela pequenininha, só pra esquentar água. Foi também uma lona e cordas para poder fazer um abrigo do sol e da chuva além da barraca. Allex se arranjou um livro que ensina a fazer nós e se divertiu descobrindo formas diferentes de amarrar a lona às árvores.

No quesito comida, no entanto, confesso que exagerei. Querendo tornar a experiência suficientemente gostosa para que eles quisessem repetir, levei milho e linguiças e queijo haloumi (que parece o coalho) para fazermos no fogo, itens para sanduíches no almoço, legumes e frutas (banana, melancia e mirtilos) de snack, chips, e para o café da manhã, iogurtes e mingau instantâneo, que me trouxe uma lembrança calorosa dos acampamentos com Allex, durante nosso namoro. (Acho até que tem foto aqui no blog de nós dois comendo gororoba em acampamento).

Lá, as crianças se divertiram ajudando a acender a fogueira e depois esculpindo galhos com serra e canivete para fazer os próprios espetos de marshmallow. Claro, esqueci: também houve uma quantidade absurda de Smores (os marshmallows tostados no fogo que vão dentro de dois biscoitos doces com um quadradinho de chocolate que derrete devagar). Vê-los lidando com as lâminas cuidadosamente, focados, me encheu de orgulho. E temos já um canivete para cada um, que ganharão de presente no próximo acampamento.

Desligamos o celular durante toda a viagem. O silêncio era delicioso. Na hora de dormir, confesso que fiquei aflita. As crianças se incomodariam de dormir no chão duro? Há muita gente que leva colchões infláveis, mas quisemos mostrar a eles como se faz de verdade, como nós costumávamos acampar. Para minha surpresa, entraram exaustos na tenda e dormiram imediatamente, a noite toda. Quando acordei, brinquei com Allex, não sabia se o chão duro havia entortado minhas costas ou finalmente colocado elas no lugar. ;) Sei que não dormi a noite toda. Lembrava-me disso dos nossos acampamentos. De acordar toda vez que me virava no saco de dormir. De ouvir os insetos do lado de fora. De ter essa impressão de despertar por 1 minuto a cada meia hora e então voltar a dormir. Ainda assim, acordei descansada e cheia de energia pela primeira vez em muito tempo.

O tamanho desse menino.
Acender o fogo às cinco e meia da manhã e comer o mingau-gororoba quentinho ouvindo o despertar dos pássaros, pés no mato. Sentia-me em casa. Gnocchi parecia feliz e relaxado ali no mato. Raspando as patas e cavocando a terra e o mato antes de dormir como faz em casa, e ríamos: "É, bichinho, faz muito mais sentido fazer isso aqui do que no apartamento, né?" Celular desligado por dois dias. Mato. Cigarras. Pássaros. Aquela sensação de precisar de tão pouco que o acampamento dá. Acordar descansada, mesmo dormindo no chão. É o silêncio do mato que descansa, ou é o silêncio do celular?

Foi bom ter encontrado um mingau-gororoba de uma empresa orgânica de British Columbia que faz misturas de fato gostosas. Porque aquele da Dr. Oetker que a gente costumava levar em trilhas no Brasil tinha gosto de papelão molhado. :P

Estava tudo indo bem até sermos surpreendidos pela chuva no meio de uma trilha. A desvantagem de desligar o celular é não ter acesso à previsão do tempo. Encharcados, precisamos criar uma estratégia inteligente para não enlamearmos a barraca por dentro. Ajudei as crianças, que ficaram secas e quentinhas na barraca lendo gibis enquanto Allex e eu consertávamos a lona que caíra pelo peso da água e tentávamos usar o que havia de carvão molhado para improvisar um churrasco debaixo da lona, protegidos pela chuva. Gnocchi, cheio de lama, aos nossos pés, assistiu por duas horas a saga para acender o fogo já na escuridão da noite. Allex se afastava e oferecia o lugar mais perto do fogo tímido para que eu tentasse secar meus pés e me esquentar. Meus cabelos ainda pingavam da chuva e naquele momento, vendo meu casaco pesado e encharcado a me cobrir, decidi que era hora de investir numa jaqueta de chuva decente.

As crianças correram rápido da barraca seca para debaixo da lona e sentaram-se conosco para comer. Um cruzamento de mariposa gigante e besouro do inferno voou na nossa direção, atraído pelos head-lamps e Allex quase tacou fogo na própria camiseta com o susto. É um monstro-inseto!, Thomas gritou. Conseguimos manter o fogo aceso tempo bastante para assar as últimas linguiças e espigas de milho e prometemos às crianças Smores de café da manhã, já que seria impossível fazê-los debaixo da chuva.

A chuva caiu intensa e cheia de raios e trovões até as quatro da manhã. Gnocchi, com medo, ficava subindo em cima de mim e tentando dormir em cima da minha cara. Mais uma noite de sono intermitente. Mais uma manhã em que parecia renovada e capaz de conquistar o mundo.

Fizemos Smores até acabar com todos os marshmallows do pacote. As crianças brincaram apagar o fogo com arminhas de água e vieram nos ajudar a desmontar a barraca. Gnocchi, que é boy de apê, era o único ansioso para ir para casa e ficou esperando na porta do carro.

Quando voltamos para Toronto e entramos em casa, ansiosos por um banho quente, aqueles dois dias fora pareciam dois meses.

A melhor parte do verão foi acampar, disseram as crianças. "Mas eu quero ficar mais no meio do mato da próxima vez", disseram.

Ok.

O verão ainda está aí apenas como dias num calendário. Setembro começa, as aulas retornam, piscinas públicas são esvaziadas, há mais chuva que dias de sol. O lago está frio demais para convidar a um mergulho. Acabaram os piqueniques. Mas a sensação de ser eu, de ser forte, de poder correr longe continua. A vontade de ver meus filhos crescendo e aprendendo me move cada vez mais. Quando confio neles, vejo suas posturas mudarem, vejo quando olham o mundo de peito aberto. Eles acreditam em si mesmos quando acredito neles. E acredito neles quando acredito em mim.

Não vejo a hora de me enfiar no mato de novo. De dormir e acordar com os pássaros. De sentir o chão. É bom sentir os pés firmes no chão. É essa segurança que te dá vontade de tirá-los do chão e alçar vôo.

Ou talvez sejam os quarenta chegando. Sempre disse a meu marido que depois dos quarenta eu iniciaria meu processo de me tornar a velha louca que pretendo ser.  Taí. Velha louca em formação.


.....

E a comida? Isso ainda é um blog de cozinha? Já não sei bem. Tenho cada vez menos vontade de ficar testando receitas por aí. Às vezes acho mesmo é que precisava fazer um post compilando meus favoritos de todos os tempos e que viraram clássicos insubstituíveis. Porque é desses clássicos que tenho vivido. E o que é invencionice, é feito assim de supetão, valendo-me completamente da intuição e daquilo que aprendi nos últimos vinte anos de cozinha. Não tenho lá muitas receitas para dividir aqui, mas talvez tenha sugestões de como pensar a refeição. Será que basta?

Nas últimas incursões da churrasqueira, resolvi fazer camarões, que estavam fresquinhos e em promoção. Ensinei Laura a limpar os camarões e ela se armou de uma faca com ponta afiada e abriu as costas de um por um, tirando os intestinos deles com precisão. Thomas ficou encarregado de temperá-los e passá-los pelo espeto. Uma marinada rápida em azeite, alho picado e salsinha antes de levá-los ao fogo, uns poucos minutos de cada lado. Acompanharam as últimas espigas de milho da estação, também feitas na churrasqueira, e uma salada simples.


Num outro dia, assei diferentes batatas-doces temperadas com azeite e sal até dourarem, em fogo médio, numa assadeira grande. Quando prontas, afastei as batatas para o lado e depositei ali um filé inteiro de salmão selvagem com a pele para baixo, e que eu já tinha temperado com uma salsa verde improvisada, com muito dill e salsinha e raspas de limão. Juntei um punhado de ervilhas congeladas. Assei por uns dez minutos, até peixe e ervilhas estarem cozidos e servi com salada verde. Achei que faltou sal. Ainda tenho dificuldade de salgar apropriadamente cortes grandes de carnes de qualquer animal, por falta de prática.



Num dia em que eu não achei que tivesse muita coisa na geladeira, grelhei fatias finas da única berinjela grande que eu tinha. Recheei com fatias de queijo, que era para ser mozzarella, mas nem sei mais se usei cheddar branco ou Havarti, que eu considero como sendo "o queijo Prato do Canadá". A gente usa o que tem, substitui com o que pode, e faz tempo que parei com frescuras e preciosismos com ingredientes. Libertação emocional começa também com menos perfeccionismo na cozinha. Enrolei as berinjelas em volta do queijo, coloquei os rolinhos na travessa untada com azeite e reguei com uma mistura de tomates cereja, cebola, salsinha e manjericão, que eu temperara com sal e azeite e deixara meia hora sorando e criando o próprio caldinho. Levei ao forno para gratinar e servi com arroz integral e salada verde.

A foto é feia mas a comida é gostosa. :)

Num almoço tranquilo só com as crianças, antes de ir para o parque, dourei mandioca cozida  (sim! aqui acho mandioca no supermercado!) em muito ghee (porque ando fazendo ghee toda semana para terapia ayurvédica dessa minha família de Vhattas, e ando adorando cozinhar com isso, pois o ghee doura tudo lindamente sem queimar como a manteiga). Tirei a mandioca e foi a vez da batata-doce. Voltei tudo para a panela quente para servir com ervilhas-tortas branqueadas. Tudo polvilhado de salsinha, uma espremida de limão, pimenta-do-reino e acompanhado de uma saladinha rápida de tomates, abacates e queijo.


Ghee e uma joaninha que pelo jeito veio com a gente pra Toronto lá do acampamento.
Para quem quiser fazer ghee, eu considero o melhor jeito (e mais prático) ESSE AQUI.

No restante, a comida aqui em casa tem sido, como há já muitos meses, essencialmente improviso. Algo aconteceu durante toda essa transformação de verão que meio que matou minha vontade de comer doces. Ando me refestelando com frutas de um jeito que nunca havia feito antes. Talvez inspirada pelos lindos pratos de fruta fresca que minha filha se prepara de manhã cedo. Talvez as recomendações ayuvédicas, que me fizeram interromper a febre dos biscoitos e dos bolos há uns meses atrás, tenham influenciado minha cozinha mais do que eu imaginava que fariam. Talvez seja a abundância de frutas frescas e gosotas do verão, que depois desaparecem ao primeiro sinal do outono.

A vontade de ficar fazendo bolos e tortas e afins anda meio sumida. Engraçado, ninguém anda sentindo muita falta. As únicas sobremesas que me aventurei a fazer em agosto (e que não eram sorvetes de fruta) ou não deram certo (como a pamonha de forno que nunca firmou) ou ficaram doces demais e ninguém quis (como o crumble de pêssegos da Alice Medrich - aliás, mesmo os doces da Alice, que sempre me pareceram pouco doces, andam puro açúcar para mim ultimamente. Bizarro.)

Agora a cozinha volta à velha rotina: o famoso quebra-cabeça dos almoços escolares, com dois filhos que gostam e desgostam tudo diferente, precisando pensar em comida que não vire paçoca dentro da lancheira revirada, onde não posso enviar nada com castanhas, e onde tento manter a coisa toda relaxada e enviar lanches que "pareçam" as porcarias industrializadas dos amiguinhos mas que não são.

O verão acabou.

PS: eu havia escrito todo um outro post antes desse que eu escrevi e editei tantas vezes que tinha ficado completamente sem pé nem cabeça e eu não gostei dele. Mas apertei Publish sem querer. Deve ter gente que recebeu por email. Desconsidera a loucura da cabeça da pessoa. No fim eu estava muito mais empolgada em contar as desventuras do verão do que ficar elucubrando sobre processos emocionais. 

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Junho e Lisboa e Toronto



Quando chamaram meu voo de volta para casa, ouvi atônita aqueles dois chamados simultâneos: Passageiros do voo para Toronto, Canadá... Passageiros do voo para São Paulo, Brasil... Uma enorme estranheza tomou conta de mim, mas os motivos eram completamente inesperados: aquela era a primeira vez em que eu deixara o Canadá para outro lugar que não o Brasil, e era também a primeira vez em que eu estava irrevogavelmente certa de que Toronto era meu LAR. 


Junho fora um mês corrido à maneira que Dezembro costumava ser quando morava nos trópicos: festinhas de fim de ano escolar, apresentações, lanches comunitários, os últimos play dates antes dos amigos desaparecerem em seus dois meses de férias. A mãe tentando usar sabiamente o tempo que lhe resta de crianças na escola: faltam quinze dias para as férias, faltam dez, faltam três, meu deus, hoje é o último dia em que posso terminar esse trabalho sem os filhotes do lado! Montei minha segunda exposição num café de Toronto, mas já nesse momento, pelos horários impostos pelo lugar, precisei arrastar a pimpolhada comigo, pendurando quadros e grudando etiquetas, enquanto pedia aos filhos para tirarem os pés dos bancos e não incomodarem a mesa ao lado. Aqui, comam seu biscoito vegan-gluten-free, que esse café é uber-hipster e é o que tem pra hoje. Não, não pode ter outro, que a gente vai voltar pra casa e jantar. Sim, eu sei que está calor, mamãe também está com calor, o verão chegou, vocês não queriam o verão?, ali, taí, chegou o verão e o verão é quente. Ai, meu deus, os ganchos do café não cabem nos quadros, p*taquelospariu, vem com a mamãe na loja ali do lado pra comprar clipes de papel e resolver isso, que mamãe tem que pendurar os quadros pra vender, e a moça do café é muito educada e sorridente, mas à melhor maneira canadense, não está mexendo um dedo pra encontrar uma solução para o meu problema. Vem, que a mamãe é brasileira e a gente tem jogo de cintura e se vira nos trinta. 

No calor que chegou atrasado e repentino, guardei os casacos e meti-me num par de shorts e uma regata, cabelo póinhóinhóin desarranjado pela umidade e olhei no espelho. E aquela branquidão cadavérica do inverno sob a luz do sol, os bracinhos de ciabatta saindo da cava da camiseta, dando aquele tradicional tchauzinho em câmera lenta, a pele que exposta que já não tem aquele, como se diz mesmo? "viço" dos anos anteriores... fizeram-me olhar o espelho como cachorro que não entende, cabeça pendendo prum lado, sobrancelhas franzidas sobre os olhos. O que era isso que eu estava olhando? Quem era essa pessoa? Saída da elegância invernal, confortável consigo mesma, para essa estranha imagem sem idade nenhuma, uma mulher mais velha vestida d e "xófem" verão passado. Não conseguia definir se eu parecia uma velha tentando se passar por adolescente, se gostava ou não daquela mulher que eu olhava, se se era só um choque me ver de novo num biquini, após dez meses, e pela primeira vez eu me senti com os quarenta anos que se aproximam.

Ou melhor... me senti com idade nenhuma. Num limbo.

Liguei para minha melhor amiga: tô com crise de meia idade. Não sei quem eu devo ser com quarenta anos. Eu tava sussa até agora, de repente o espelho quebrou e não sei mais quem eu sou. Quem eu sou com quarenta anos? Eu sei que não sou mais quem eu era com trinta e poucos ou com o vinte e alguns. E agora, José? Que é que eu faço. 

Venha para Portugal me visitar, ela disse. 

E eu fui. 

Às vezes a gente precisa do farol para indicar o caminho.
Uma conversa rápida com o marido fenomenal que me apoia nas minhas loucuras e arranjamos o esquema das crianças na escola e alguém para passear o cachorro no meio do dia. Ele conseguiu horários alternativos de trabalho com a chefe dele, e em menos de vinte e quatro horas daquele convite, eu já estava de passagem comprada. O universo conspirou tanto, que até passagem promocional por metade do preço eu achei. 

E no meio de Junho dei um beijo na testa de cada filho, catei minha malinha e fui respirar ares portugueses na casa da minha querida amiga que eu não via havia dois anos. O abraço longo e amoroso, apertado de prender a respiração, compensou o voo com as galinhas da companhia aérea promocional mequetrefe. Enquanto andávamos até seu carro, sorrisos imensos, parando cinco vezes em vinte metros para mais abraços, fui sentindo os ares familiares entrando em mim e energizando meu corpo cansado. Familiar por aquela presença que me conhece tão bem, familiar por olhar em volta e ver aquele Brasil antigo de Lisboa, a arquitetura das casas de São Paulo, o idioma estampado nos outdoors. A mesma sensação de retorno às origens que senti quando fui à Itália pela primeira vez, mas agora eu compreendia não as minhas origens, mas do lugar onde nasci.


pão com chouriço
Fotografei o cone infantil de sorvete e mandei para Allex. No Canadá, sempre pedimos cones infantis para os adultos, pois a bola de sorvete que se faz para as crianças é do tamanho de uma bola de tênis.
Foram apenas cinco dias. Cinco dias de conversa infinita e mais abraços apertados. De O Que É Que Vamos Comer Hoje? De Quero Tanto Te Mostrar Esse Lugar! Fomos a Óbidos, Cascais, Sintra... comi todos os pastéis de nata que pude, e travesseiros de Sintra, e queijadas, e Toucinho do céu, e Sardinhas e pão com chouriço na festa dos Santos, e Pastéis de Bacalhau, e Polvo a Lagareiro olhando para o mar, e Bacalhau com batatas ao murro e sorvete de maracujá, e pão com manteiga de padaria e suco de laranja espremido na hora. Porque pão na chapa com suco de laranja em padaria de bairro é das poucas coisas que realmente me fazem falta do Brasil. As porções de comida eram consideravelmente menores do que as canadenses (e mais baratas), o que senti como um alívio. Que bom que a gente não se matava de comer numa refeição só e sobrava espaço para experimentar um pão-de-ló e tomar mais um café.

Não comi nada em Portugal que não estivesse gostoso.

 
Acordávamos cedo com minha amiga cantarolando uma musiquinha que, brinco, ficou gravada na minha mente para sempre. As crianças eram sempre cheias de energia, e a mesa do café era farto, como sempre era quando eu a visitava no Brasil. Queijos, presunto, muitas frutas devoradas inteiras pelas crianças. Café da manhã sem pressa, sem horário. Bota todo mundo no carro, bicicleta de criança, vamos passear. As crianças participam da conversa. Música. Estrada. Histórias de família. Esperanças e planos para o futuro. Passeios longos, caminhadas sem pressa em cidadelas antigas, ruas estreitas de escorregadias pedras portuguesas. Um calorzinho com vento fresco que pede vestido com echarpe. Cafezinhos bons e docinhos delicados em lugares de tetos antigos e janelas de madeira. Luz aconchegante. Sanduíches de sardinha e vinho verde. Crianças brincando com os brinquedos e os livros dos cafés. 


Banho de descarrego.
Cheiro de mar. Quem nada em lago não tem medo de água fria. Enquanto os portugueses sentavam na areia de agasalhos sob um ventinho frio de vinte e um graus, larguei as roupas e fui e eu e meu biquini brasileiro, minha barriguinha de mãe, minha pele branca de bicho de goiaba encasulado num inverno de oito meses, e me joguei no outro lado do Atlântico, cabeça submersa, tocando as mãos na areia do fundo, e emergindo com o sal na boca, estranho, tão estranho, porque não é lago. A água gelada pinicava minha pele e então esquentou. Nadei muito, deixei a corrente me levar, boiei à deriva um pouco, olhando as nuvens la´em cima, sentindo o cheiro salgado daquele mar que eu não via havia anos. 

Saí da água feito sereia que ganhou pernas, renovada, recriada, um mundo novo a explorar sob meus pés.

De volta à casa, a rotina bem conhecida, jantar, banho nas crianças, um vinho, uma conversa até tarde da noite, o cansaço do dia palpitando de energia viva sob a pele. Olho para fora, para as ovelhas sendo recolhidas na quinta em frente, o pôr do sol nas montanhas lá no fundo, ah, montanhas, sinto saudades suas, naquela terra plana onde moro, e ouço as vozes de pai e mãe explicando o mundo para os filhos, cantando músicas, contando histórias, dizendo boa noite. Roupas coloridas balançam no vento do lado de fora das janelas.

Tenho sorte de poder participar da rotina de uma família amorosa. E no outro dia vamos fazer uma visita à Maria, do Seis Mais Dois que virou Sete. Outra família que nos recebe de braços abertos, calorosa e gentil, e a realidade é sempre melhor do que o que se vê pelos filtros do Instagram, se você souber observar. A realidade das vidas dos outros, quando temos a sorte de viver com eles, de conectar e estar ali, é o aconchego do imperfeito, é a paz que vem quando a gente aceita a vida como é e não como dizem que tem que ser (ou como achamos que tem que ser). É vida que não cabe em página de revista e em foto de Instagram. É um alívio de se sentir parte de um mundo de verdade, de romper aquele filtro mágico que recobre a realidade dos outros na internet. O imperfeito que está bem e é lindo por isso mesmo. Que permite que nossas cobranças se dissolvam. Que permite que respiremos. Estar ali com aquelas duas famílias foi um presente divino do universo, o farol que acendeu suas luzes para me guiar naquele mar.


Num dia de uma volta sozinha em Lisboa, paro no fim da tarde para ouvir uma banda tocando numa praça. Tomo um vinho no meio da rua, sentada na beira do canteiro da praça com mais umas trinta pessoas. Olho o Tejo nessa luz de noite de verão que não escurece, ventinho frio sob a jaqueta jeans. Eu estava tranquila.

O tempo passa devagar. O tempo tem passado devagar desde que cheguei a Lisboa. Respiro devagar. As ideias fluem mais lentamente e com mais atenção. Vejo um grafite de um guaxinim ali, mas é tão a cara de Toronto. Sinto saudades. Pela primeira vez sinto saudades de Toronto. Lisboa é linda e antiga, é comida maravilhosa, familiaridade, mar. Mas sinto saudades de meus filhos, queria que estivessem comigo, e penso neles naquela cidade. Eles teriam adorado o mar e o castelo São Jorge. Teriam adorado os pastéis de nata e os frutos do mar. Mas como eu, cansariam rápido da dinâmica da cidade, pediriam mato e parque e trilha e bicho. Muito bicho. Falei dos bichos? Toronto tem bichos que não são grafite. Guaxinins aos montes. E esquilos. E chipmonks. E cisnes, e gansos e patos e corujas e falcões, que há dias que vejo mais de três sobrevoando baixo acima de minha cabeça. E coelhos, vi coelhos durante uma corrida cedo no parque. E noutro dia, para espanto geral, dei de cara com um coiote que ficou muito curioso com minha presença e me olhou nos olhos por longos minutos até assustar com minhas palmas e correr mato adentro. Bichos.




Penso na infinidade de playgrounds de Toronto. Como é fácil ter filhos ali. Com as calçadas grandes para andar de bicicleta. As trilhas que se conectam nos corredores verdes e vão te levando do lago para o rio, para o bosque, para a praça, para a floresta, para a lagoa, para o rio, para o lago de novo, borboletas voejando à sua volta e você esquecendo que aquela é uma cidade grande. Enquanto estou em Lisboa tomando meu vinho verde e pensando essas coisas, Allex me manda um video: Laura pedalando a primeira vez de bicicleta sem rodinhas. Pronto, meus dois filhos são crescidos agora.

Despeço-me com a promessa de um novo encontro, uma nova travessia de oceanos. Levo um doce português comigo no avião, para curar as mágoas da refeição aérea desastrosa. Agradeço e continuo agradecendo por dias ainda aquele convite singelo e transformador.

Estou ouvindo a chamada no aeroporto e despeço-me também da dúvida. O voo para São Paulo não faz mais parte da minha vida. Quando o avião decola, despeço-me não da Europa, mas da ideia de Europa que assombrava minha mente: e se tivéssemos ido para a Itália ao invés do Canadá? Quando o avião sobrevoa Toronto no meio de uma linda tarde de céu azul, vejo meu prédio ali perto do lago. É a primeira vez que consigo ver minha casa de um avião. Ele se destaca, assim como todos os poucos prédios, naquela imensidão verde que cobre a cidade. As árvores antigas são maiores que as casas, e  Toronto de cima é quase amazônica no verão. Meu coração se enche de amor e gratidão por aquelas árvores, aqueles parques, aquela infinidade de playgrounds que meu filhos amam tanto explorar. Um playground novo a cada cem metros. É uma cidade para crianças. 


Volto para abraços apertados. Volto para meu novo familiar. Estou em casa. Estou em paz. Estou zen.
Boto meus shorts, prendo o cabelo desarranjado pela umidade e vejo no espelho uma mulher de (quase) quarenta anos que está bem. Subimos em bicicletas e pedalamos vinte quilômetros por trilhas ao longo do lago, até prainhas pequenas. As crianças nadam com peixes. A água é gelada. Entro de roupa e tudo para refrescar.



Voltamos e botamos linguiças na churrasqueira. E tomates e abobrinhas e pimentões e cebolas. E no dia seguinte comemos os legumes que sobram com torradas e queijo e salada.


Quando Junho acaba, volto contente para o café para recolher meus quadros e descobrir que vendi alguns. Corro atrás da próxima empreitada. Quero vender todos.

Julho começa com o fim da minha breve crise de meia-idade. Renovada pela convivência com uma família linda e amorosa. Pelo banho de descarrego no mar gelado. Volto zen. Volto com amor e certeza por minha cidade, pelo meu momento, pelo meu lugar no mundo. Munida de toda a paciência do universo, de quem respira devagar. Paciência com as crianças. Paciência com os outros. Mas principalmente comigo. Dou-me conta do quanto julgar os outros me faz intolerante comigo mesma. Então apenas paro. Respiro. Aceito.

Não vejo a hora de poder dizer com orgulho que tenho quarenta anos.

The purpose of life is to enjoy.


......

E o que se cozinhou em Junho por aqui? 

Pouca coisa nova, no meio da correria. Rolou muita improvisação, isso sim.


Lembrei-me de um hábito que tinha com as crianças no Brasil, de comer queijos de sobremesa. Isso funciona bem aqui, pois a pimpolhada não come doce durante a semana, a não ser que seja um bolo ou biscoito de lanche da escola. Eles adoram queijo de sobremesa, e eu me divirto comprando um queijinho diferente por semana. Acompanham castanhas, que Thomas adora, e uma porção pequenina de frutas, que Laura devora.



Andei cavocando de novo o livro da Suzanne Goin, e dele saíram essa sopa de agrião com torradas com relish amanteigado. A sopa é uma delícia e o relish fez sucesso imediato. Mas achei muito bizarro descartar os legumes cozidos. Guardei-os e no dia seguinte transformei-os em recheio de quiche. Nham!


Dica: eu achei que a sopa ficou deliciosa, mas um pouco mais rala do que gostaria. Não sei se me faltou agrião ou se o caldo não reduziu como deveria. De qualquer forma,  numa próxima vez, eu colocaria menos sal no começo para poder reduzir um pouco mais o caldo antes de bater com o agrião. 

SOPA DE AGRIÃO COM TORRADAS COM RELISH
(Largamente adaptado do Sunday Suppers at Lucques, de Suzanne Goin)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 7 colh. (sopa) manteiga
  • 1 xic. cebola fatiada + 2 xic. cebola picada
  • 2 alhos-porós pequenos fatiados
  • 1 cenoura, descascada e fatiada
  • 2 talos de salsão, fatiados
  • 1/4 de maço de tomilho
  • 1/4 de maço de salsinha + 2 colh. (sopa) salsinha picada
  • 1 pitada de pimenta caiena
  • 5 xic. folhas de agrião (cerca de dois maços)
  • 2 colh. (sopa) cebolinha picada
  • 1 colh. (sopa) estragão picado
  • 1 xic. creme de leite fresco
  • 1 limão
  • sal e pimenta do reino
(torradas com relish)
  • 1 baguette em fatias diagonais
  • 1/4 xic. azeite
  • 6 colh. (sopa) manteiga, amolecida
  • 1 colh. (chá) anchova picada
  • 2 colh. (chá) cebola picadinha
  • 1 colh. (chá) suco de limão
  • 1/4 colh. (chá) raspas de limão
  • 1 colh. (chá) salsinha picada
  • 1 colh. (chá) cebolinha picada
  • sal e pimenta

Preparo:
  1. Aqueça uma panela grande. Derreta nela 4 colh. (sopa) de manteiga da sopa e junte a cebola fatiada, o alho-poró, cenoura e salsão. Misture bem e tempere com 1 colh. (sopa) sal e um pouco de pimenta. Cozinhe por 5 minutos e junte as ervas, sem tirar dos talos, para facilitar retira-los depois. Cozinhe em fogo médio por mais 5 minutos até que os vegetais caramelizem. 
  2. Junte 10 xic. de água e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe pro 30 minutos. Passe por uma peneira e reservando o caldo. (Reserve também os legumes para outro uso, retirando os talos das ervas.)
  3. Volte a panela vazia ao fogo. Junte 3 colh. (sopa) manteiga e junte a cebola, 1 pitada da pimenta caiena, 1 colh. (chá) de sal  e pimenta. Cozinhe por 5 minutos, mexendo sempre, até que amoleçam. Junte o caldo, aumente para fogo alto e leve à fervura.
  4. É preciso bater a sopa aos poucos. Coloque 2 1/2 xic. de agrião e as ervas no liquidificador. Junte 1 1/2 xic. do caldo quente e bata até que fique homogêneo. Vá juntando o restante do agrião e batendo, acrescentando caldo se necessário, e volte a sopa à panela do que restou de caldo. Misture bem, Junte o creme de leite e misture, acertando o tempero.  Tempere com uma espremida de limão, se quiser. 
  5. Para as torradas, aqueça o forno a 190oC. Coloque as fatias de pão numa assadeira e pincele com o azeite. Leve ao forno por uns 10 minutos ou até que dourem. Deixe que esfriem.
  6. Numa tigela, misture todos os outros ingredientes até que vire uma pasta. Acerte o tempero. Espalhe a pastinha sobre as torradas frias e sirva com a sopa.



E esse peixe delicioso, marinado, grelhado, servido sobre um arroz verdíssimo e com rúcula fresca por cima. Um molhinho de pepino e iogurte para acompanhar.


Para deixar bem claro: essas são as medidas originais das ervas ´picadinhas. Mas, de verdade, eu já fiz assim ipsis literis e já saí jogando simplesmente "punhados" das ervas, e fica igualmente ótimo. Então não precisa ficar medindo loucamente não.

PEIXE COM ARROZ VERDE E PEPINOS NO IOGURTE
(Largamente adaptado do Sunday Suppers at Lucques, de Suzanne Goin)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
(peixe)
  • 6 filés de peixe branco com pele (o Vermelho é uma boa opção no Brasil)
  • casca ralada de um limão
  • 1 colh. (sopa) folhas de tomilho
  • 2 colh. (sopa) folhas de salsinha picadas
(pepino com iogurte)
  • 450g pepino
  • 1/2 colh. (chá) sementes de cominho
  • 3/4 xic. de iogurte
  • 1/2 colh. (chá) alho picadinho
  • 2 colh. (sopa) cebola picadinha
  • uma pitada de pimenta caiena
  • 2 colh. (sopa) folhas de menta, picadas
  • 2 colh. (sopa) azeite
(arroz verde)
  • 3 xic. água
  • 1/2 xic. salsinha
  • 1/4 xic. folhas de menta ou hortelã
  • 2 colh. (sopa) cebolinha
  • 1/4 xic. folhas de coentro
  • 2 colh. (chá) semente de erva doce
  • 1/4 xic. azeite
  • 3/4 xic. de funcho picado
  • 3/4 xic. cebola picada
  • 1 1/2 xic. arroz branco
  • 1 colh. (sopa) manteiga
  • sal e pimenta do reino
(finalização)
  • 1 maço de agrião, sem os talos mais grossos
  • 6 raminhos de coentro
Preparo:
  1. Tempere o peixe com as raspas de limão e as ervas, cubra e refrigere por 4 horas. 
  2. Faça o arroz: Leve a água para ferver e desligue o fogo. Coloque num liquidificador todas as ervas do arroz e 1 xic. da água quente. Bata até virar um purê bem verde e homogêneo.Junte o restante da água e termine de bater. Quanto mais lisinho for o caldo de ervas, mais bonito fica o arroz.
  3. Doure as sementes de erva-doce na panela em que vai fazer o arroz. Transfira as sementes para um pilão e transforme em pó (se ficar com preguiça, só doure e depois junte ao restante no passo seguinte). 
  4. Aqueça o azeite na panela do arroz e junte o funcho picado, a cebola, as sementes de erva doce, e 1/2 colh. (chá) de sal. Cozinhe em fogo médio até a cebola e o funcho ficarem macios, sem dourar. Junte o arroz, mais 1 colh. (chá) de sal e pimenta do reino. Mexa bem, e junte o caldo de ervas. Experimente e acerte o sal a gosto.  Leve à fervura, reduza o fogo e junte a manteiga. Cubra e cozinhe por uns 15 minutos ou até o arroz ficar pronto, normalmente. Afofe com um garfo, acerte o tempero e reserve.
  5. Enquanto o arroz cozinha, faça os pepinos: Fatie os pepinos bem fininhos e tempere com 1 colh. (chá) de sal. Deixe sorar por dez minutos.
  6. Toste o cominho (dica: as sementes já estão tostadas o bastante quando você sente o perfume delas) numa frigideira e pulverize num pilão. 
  7. Drene os pepinos, seque com uma toalha e junte aos outros ingredientes. Acerte o tempero e reserve. 
  8. Aqueça uma frigideira grande por uns dois minutos. Tempere o peixe com sal e pimenta dos dois lados. Coloque um fio de azeite na frigideira e espere um minuto para esquentar. Coloque o peixe com a pele para baixo e cozinhe por 3 a 4 minutos até a pele ficar crocante. Vire o peixe, abaixe o fogo para médio-baixo e cozinhe por mais alguns minutos. 
  9. Transfira o peixe para a travessa do arroz quente. Sirva com o agrião por cima, mais um fio de azeite, uma espremida de limão e os pepinos para acompanhar.





quarta-feira, 15 de maio de 2019

Biscotti per il caffe, Torcidinho e Alcachofra de infância, duas mesas, uma panela e um Panzerotti


Em Fevereiro eu disse que a Primavera não chegava nunca. Em Março eu disse que a Primavera não chegava nunca. Em Abril eu disse que a Primavera não chegava nunca. E agora estamos em Maio, passamos a última semana com chuva, vento e miseráveis 5 graus, e a Primavera parece só dar as caras em teoria.

"Não se preocupe", disse uma amiga croata. "A primavera acaba logo logo."

Rio pra não chorar. Até os canadenses estão reclamando.

Hoje faz o que deve ser o terceiro dia de sol desde o início da Primavera e provavelmente o sétimo de temperaturas acima de 12 graus. Depressivo sim, mas para quem passou meses com dígitos duplos negativos, 17 graus com sol é a pura alegria do verão. Quando fez 11 pela primeira vez, Laura tirou o casaco e rodopiou a saia pela rua, gritando "o calor voltou! o calor voltou!". Com 14, achamos que o tempo estava suficientemente agradável para estrear a churrasqueira.

Referência é tudo na vida.



Enquanto a churrasqueira não chega na temperatura ideal para o prato principal, deixo pimentões ali chamuscando. Se as árvores ainda estão secas e o parque tem mais lama que grama, ao menos os pimentões trazem para dentro essa cor linda de sol de que tanto precisamos. Chamuscados os pimentões, vão para um saco ou pote fechado, para esfriarem e soltarem a pele. Fatiadinhos, sem as sementes, são temperados com bastante azeite, alho e manjericão, uma pitada de sal e pimenta, e viram condimento para as linguiças que vão para a grelha em seguida. Ou simplesmente sobre pão grelhado, com uma fatia de queijo. O que sobra é coberto com mais azeite e mantido num pote de vidro tampado na geladeira, e dura bem uma semana assim, para entrar em sanduíches, saladas ou como molho de macarrão.



Laura agora sempre pede que compre pimentões em dia de acender a churrasqueira.

Apesar da temperatura, da chuva, dos ventos, as flores surgem. A primeira grama de primavera é de um verde fluorescente que parece conter toda a  energia do mundo. Um verde vivo contra os troncos molhados de chuva, de um azul escuro intenso sobre marrom. Os pássaros estão todos aqui. O silêncio do inverno não mais existe. Um passear pelo parque é um estímulo aos ouvidos. Um farfalhar de folhas ali, onde os esquilos se escondem, Robins, Picapaus, Red Winged Black Birds cantando sem pausa por sobre minha cabeça. Os filhotes de guaxinim explorando o mundo com ares perdidos. O caminhão de sorvete. O homem do cachorro-quente. Os seres humanos que brotam como que da terra, como toupeiras despertando da hibernação, deixando suas tocas poeirentas para deixar o sol bater em seus rostos pela primeira vez no ano, olhos semicerrados, narizes coçando de pólen, joelhos pálidos de fora.

A luz, mesmo que cinza de dia feio, vem cedo. Estranho que sejam sete da manhã e tomemos café de luzes apagadas. Sento-me à mesa nova, uma mesa grande, onde agora caberemos todos mais confortavelmente, comida e comensais, e beberico meu cappuccino, olhando para fora. Pela primeira vez, há vida lá fora às sete da manhã. Bandos de patos e gansos voam em formação para os gramados onde vão passar o dia se alimentando. A construção do prédio ao lado já está a todo vapor. A luz. A luz prateada de mais uma manhã cinzenta fere meus olhos sonolentos ligeiramente, mas me enche de energia para começar o dia direito.

Os dias têm começado com Biscotti. Essa descoberta linda no meu café da manhã. Passei muito tempo da minha visa assando biscotti (e toda sorte de biscoitos italianos) para serem mergulhados no vinho doce. Laura sempre os achou muito duros e crocantes para serem comidos de lanche. E eles haviam sumido de minha vida por conta da proibição de castanhas na escola desde que chegamos aqui.

Até o dia em que decido preparar biscotti de amêndoas, clássicos cantuccini, de pura saudade que tinha deles. E pesquisando aqui e ali, descubro que os italianos na verdade comem biscoitos no café da manhã, e não como lanche da tarde.

É uma descoberta muito besta, mas que de repente fez todo o sentido do mundo. Mergulhados no cappuccino, no leite puro ou no café com leite, sua crocância se atenua como fazia no vinho, mas de repente seus sabores sutis, adultos, sua quase ausência de doçura comparados com os biscoitos americanos, combinam-se perfeitamente com a doce gordura do leite. Biscoitos italianos no café da manhã são como uma fatia de "bolo de nada", aqueles bolos de laranja ou baunilha bem suaves. Se fossem cookies de chocolate ou outros exemplos de biscoitos norte-americanos, talvez parecessem uma indulgência tão cedo no dia. Mas esses, particularmente, fazem um café leve e agradável.


As crianças mergulharam alegremente no conceito de biscoito de café da manhã, da mesma forma que mergulharam os biscotti no leite quente. E olhe só, minha filha que detesta castanhas adorou os cantuccini.

Agora quando digo que estou fazendo Biscotti, eles já sabem que é não é um cookie qualquer: é biscoito para o café.

Os cantuccini foram receita de Tessa Kiros, fáceis e até hoje os mais parecidos com o que meu paladar se recorda do que provei na Itália. Já fiz cantucci excessivamente austeros e, mais do que nunca, excessivamente doces, como são quase todas as receitas vindas de chefs americanos e ingleses. Já os fiz muito duros, que Laura detestava, e muito macios, que dissolvem ao serem mergulhados, arruinando a experiência. Esses eu considero ideais. E por Laura ter gostado deles, têm agora o carimbo de "minha receita oficial de cantuccini".

Um outro me chamou a atenção na internet por conta do nome: biscotti della nonna ou Biscotti da Inzuppo. Literalmente, biscoito pra ensopar. Parecem Lady Fingers (biscoito champagne) na aparência, mas são bem mais secos, simples e menos doces. Deixaram-me com vontade de preparar Savoiardi (o nome italiano de biscoito champagne), que, curiosamente, não me lembro de jamais ter feito. Foi um igual sucesso com as crianças.


O último preparado foram Biscotti delle Suore, o biscoito das freiras.  Em forma de S, é uma massa fácil de preparar, leva quase nada de açúcar, e é assada duas vezes, como os cantucci. Esse, aromatizado com sementes de erva-doce, entrou para minha lista de favoritos. Thomas adorou, como sempre adora todos os biscoitos que preparo. Laura pareceu confusa num primeiro momento pela presença da erva-doce.



"Mas mãe, esse biscoito é salgado ou é sweet? Ele tem aquelas mesmas seeds do outro, sabe? Aquele que era assim, long and thin and twisted."

Ela fala do Torcidinho. E sim, meus filhos estão fazendo uma bela de uma salada russa de inglês com português, o que às vezes é muito engraçado, mas tem me feito pegar um pouco mais no pé dos dois a respeito de concordância verbal e uso de preposição. Quando acontece esse troca-troca de palavras, repito suas frases com as palavras em português, para que não percam o vocabulário. Mas quando aparecem com frases inteiras e histórias contadas todas em inglês, sou chata num tom leve, e vou logo avisando: "Mamãe fala português.", ao que eles trocam o idioma novamente.

Quando brincam juntos, quase sempre o fazem inteiramente em inglês, trocando de volta para o português quando percebem que não estão se fazendo entender ou não estão convencendo um ao outro. As brigas são sempre em português. ;)

Vejo que eles têm dificuldades com palavras novas em português. É mais fácil aprenderem a falar Artichoke do que Alcachofra (que Laura transformou em Alfachoca). Os fonemas ingleses já fazem mais sentido na cabecinha deles.

Conjugação verbal é outra batalha. "Se eu fizesse" vira "se eu fazia", "que eu venha" vira "que eu venho", "eu fiz" vira "eu fazi", e já houve clássicos como "que eu vinhesse", "ter fazido", "ele iu", e muitos mais. (Isso considerando que eles saíram do Brasil conjugando verbos super bem - desaprenderam mesmo!) Sem contar as expressões idiomáticas traduzidas literalmente, como "mamãe, POSSO TER um pedaço de bolo?" (can I have a piece of cake), ou "Eu NÃO POSSO ESPERAR pela festa" (I can´t wait for the party), "ela VAI SER seis anos amanhã" (she will be six years old tomorrow) e "o dinossauro É ESSE GRANDE!" (...is THIS big, ao invés de "grande assim").

Fico feliz de ver que, apesar da confusão na hora de falar, eles ainda têm curiosidade com a língua-mãe. Laura às vezes pede ajuda para escrever frases inteiras em português, ainda que eu tenha que soletrar com a pronúncia em inglês para evitar a famosa bagunça do "I", "E" e "A". Thomas, por sua vez, já entendeu que a coisa toda de "sound the letters" para formar os fonemas das palavras também funciona em outras línguas, e começou a pegar livros e gibis em português para ler sozinho. Entendo sua dificuldade, enquanto ele lê em voz alta, todas as palavras soando num primeiro momento com sotaque de gringo. Mas tão logo ele reconhece o significado, repete em português correto, e assim ele vai, aprendendo a ler sua própria língua sozinho.

Ao vê-lo esparramado no sofá, óculos sobre o nariz pontudinho, cenho franzido, sério, pernas compridíssimas dobradas para apoiar o livro aberto, dou-me conta do seu tamanho. Menino gigante. Essa semana veio me dizer que quem lê 100 livros num ano ganha um pirulito e o nome marcado na lousa da professora. Lá veio ele feliz e contente dizer que faltam só 15, e que ele vai trazer dois por dia da escola, para poder bater sua meta mais rápido. (Lembrando que na escola aqui eles trazem um livro por dia para ler como lição de casa, mais o livro da biblioteca que podem manter por uma semana.)

Meu Matador de Dragões não é perfeito. Ele apronta pra burro na escola. Mas vê-lo tomar gosto por leitura me enche de orgulho. 

A segunda fornada ainda tinha no papel as migalhas da primeira.

Eles não são nadinha perfeitos, mas eram exatamente como eu me lembrava.

Fazer Torcidinho para meus filhos me encheu o coração de alegria. Foi dar uma mordida para ser transportada novamente à minha infância. Eles não ficam bonitos como os que lembro de trazer da casa de minha avó, mas o gosto é o mesmo, a crocância, o modo como derretem na boca, deixando um sabor delicioso de manteiga dourada e um aroma delicado de erva-doce. Teriam sido sucesso absoluto se Laura não tivesse achado os biscoitos muito salgados. Aparentemente, pesei na mão na hora de polvilhar com sal a superfície antes de ir ao forno. (Cada vez que vou ao mercado há uma marca diferente de sal marinho, e cada um tem um teor diferente de "salinidade". Com esse último, percebi que muita coisa acabou ficando mais salgada do que normal mesmo.) Prometi maneirar da próxima vez, e ela prometeu experimentar de novo.

TORCIDINHO
 (adaptado do livro Dona Benta de sabe-se lá que ano)
Rendimento: o bastante para o lanche da tarde de meia dúzia de netos. 

Ingredientes
  • 100g manteiga gelada
  • 250g farinha de trigo
  • 1 colh (chá) sal
  • 1 colh (chá) fermento químico em pó
  • 6 colh. (sopa) leite
  • 1 colh (sopa) sementes de erva-doce
  • 1 gema para pincelar

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180oC.
  2. Numa tigela, misture a farinha, sal e fermento. Esmigalhe a manteiga com a farinha, esfregando entre os dedos, até obter uma farofa grosseira. Junte  o leite e as sementes de erva-doce e amasse com as mãos apenas até que a massa fique uniforme. 
  3. (Eu que sou moderninha, fiz no processador: pulsei a manteiga com a farinha, sal e fermento, uma ou duas vezes, só para fazer a farofa. Juntei o leite e pulsei mais umas duas vezes até a massa começar a querer grudar. A massa É SECA e deve ser sovada até se juntar bem, mas se estiver se esmigalhando muito facilmente, junte uma colher extra de leite.)
  4. Abra a massa com o rolo, com pouca farinha, apenas para não grudar, até a espessura de mais ou menos meio centímetro (se ficar muito fina vai quebrar na hora de torcer). Pincele a massa com a gema batida. 
  5. Corte com uma faca em tiras compridas de 1cm de largura. Torça ligeiramente as tiras e disponha numa assadeira forrada com papel-manteiga. 
  6. Leve ao forno por 10-15 minutos, virando uma vez no meio do cozimento para que não queimem embaixo e dourem por igual. 
  7. Retire do forno e da assadeira e deixe que esfriem sobre uma grade.

Não foram apenas biscoitos as coisas novas que experimentamos. Ao dar de cara com um pé de escarola, coisa banal no Brasil, mas que por aqui é sazonal e eu quase nunca encontro, resolvi fazer um prato que não preparava desde que saí do país, e que é um de meus favoritos: peixe grelhado com escarola. Não era só a ausência da escarola, no entanto, que me fez ficar quase dois anos sem preparar algo tão simples. Também foi o problema da panela.

Veja bem, eu vendi todas as minhas panelas antes de sair do Brasil, menos a caçarola vermelha que Allex me deu de aniversário uma vez. Chegando aqui, pesquisei um monte, e acabei comprando um jogo de panelas de inox da Cuisinart em promoção (porque aqui só se compra coisa em promoção, já que todas as políticas de preço são feitas para o preço promocional ser o preço real, mais ou menos como meia entrada de cinema no Brasil), que estava bem avaliada e não ia comer nosso orçamento de imigrante recém-chegado.

Ah.

Nunca me arrependi tanto de vender minhas panelas WMF. Aquelas, alemãs, que haviam sido presente de casamento, duraram quinze anos, até eu vendê-las, sem nenhum dano estrutural. Nunca entortaram, nunca soltaram um rebite, nunca me deram problema. As Cuisinart... que deveriam ter fundo triplo e tudo o mais... entortaram na primeira vez que deglaceei a panela com vinho gelado. Ouvi um POC! vindo da frigideira, e seu fundo entortou e abaulou de uma vez e definitivamente. (Detalhe: eu nunca tive torneira de água quente na pia da cozinha lá no Brasil, e aquelas panelas WMF iam do fogão pra pia cheia de água fria direto, e NUNCA NUNCA NUNCA entortaram.)

:(

O fundo abaulado não seria um problema num fogão brasileiro, tradicional, em que a panela vai apoiada numa grade e o fogo se espalha por baixo dela toda. Mas aqui você aluga o apartamento e o fogão já vem junto. E eles são todos elétricos. E o meu, com essa superfície de vidro, só transfere calor para a parte da panela que está de fato encostada nela. Ou seja, metade da panela queima a comida, metade da panela deixa ela crua.

Além disso, a maior frigideira que viera no jogo não era grande o bastante para comportar dois filés de peixe ao mesmo tempo. E na primeira vez que tentei fazer peixe para a família inteira, terminei com filés meio queimados, meio crus, totalmente grudados na panela, e quando o último ficou pronto, o primeiro já estava gelado.

E por isso havia parado de fazer peixe grelhado.

Até o dia em que a octagésima torrada queimada me deu nos nervos e resolvi dar um basta. "Vou comprar uma frigideira nova", avisei. "Então pega um negócio bom de verdade dessa vez Ana, chega de solução provisória", disse Allex, já sabendo que eu ia querer economizar e pegar mais uma panela de inox que entortaria.

Pesquisei, pesquisei, e o início da Primavera trouxe toda uma temporada de liquidações em lojas de decoração e cozinha. E, sentindo saudades daquela minha caçarola verde que também vendi, que comportaria a quantidade brutal de comida que meus filhos andam comendo ultimamente (e, né? adolescência logo logo vem aí e eu tenho um moleque em casa), achei que um panelão seria mais interessante que uma frigideirinha.

E me arranjei de novo meu frigideirão-caçarola. Esse fundo ninguém entorta. ;)

E foi justo com o peixe e escarola que estreei a bonitona. A primeira alegria foi o pé inteiro de escarola caber nela de uma vez para ser refogado.

Escarola é minha verdura amarga favorita!

A segunda alegria foi o peixe não ter grudado, eu ter conseguido fazer dois filés por vez com folga, e poder ter voltado tudo para a panela para servir.


A terceira alegria foi meus filhos, que reclamavam do amargor da escarola no Brasil, terem crescido e decidido que adoram escarola. Principalmente desse jeito.

Esse é um dos meus pratos favoritos de todos os tempos. Daqueles que me enche a boca de água só de pensar e que lá no Brasil eu preparava sempre que tinha escarola na feira. Talvez eu já tenha publicado a receita aqui antes. Mas por via das dúvidas, vai de novo.

PEIXE GRELHADO COM ESCAROLA
(sim, é da Tessa de novo, mas já fiz tanto que já sei de cor.)

Numa frigideira bem grande, coloque duas colheres (sopa) de azeite e dois ou três filés de anchova. Ligue o fogo médio-baixo e vá amassando a anchova com as costas de uma colher de pau. Quando a anchova tiver dissolvido, junte um grande dente de alho fatiado fininho. Assim que perfumar e começar a querer dourar, junte a escarola cortada em tiras grossas (um pé inteiro, lavado e seco). Tempere com POUCO sal e mexa até que ela comece a murchar. Aumente o fogo e continue cozinhando até que ela esteja macia e quase toda a água do fundo da panela tenha evaporado. Junte um punhado de azeitonas pretas picadas e uma colher (sopa) de alcaparras. Acerte o sal e a pimenta e transfira para uma travessa, mantendo aquecida. 
Na mesma frigideira, aqueça mais um fio de azeite, um dente de alho pequeno, inteiro, e algumas folhas de sálvia. Tempere com sal e pimenta alguns filés de peixe branco de sua escolha (já fiz com linguado, pescada, e peixes mais altos e firmes). Passe os filés em farinha dos dois lados, bata o excesso, e frite os filés no azeite aromatizado, uns minutinhos de cada lado. (Quando o alho dourar, tire-o da panela.) Quando terminar de fritar os filés, retire-os da panela, desligue o fogo e esprema meio limão sobre ela, esfregando o fundo da panela com uma colher de pau para soltar a gordura grudada e fazer um molho. Regue o peixe com esse molho e sirva com a escarola preparada ainda quente.


Eu demorei muito, na verdade, para ter coragem de comprar a panela. Assim como para trocar a mesa da sala ou mesmo vender minha mesa de desenho, que era de vidro e metal. Havia uma coisa em mim que não queria admitir que eu tinha errado, que tinha tomado decisões às pressas.

Quando compramos a mesa pequena da sala, não queríamos gastar muito, mas, principalmente, achamos mesmo que não receberíamos gente em casa nunca, e que um espacinho só pra quatro estava bom. Ledo engano, a casa logo recebeu amigos, família, e mesmo para nós quatro a mesa não bastava. Era um quebra-cabeça para fazer caber os pratos, os copos e as panelas para as crianças se servirem. Quando meus pais vinham visitar e tínhamos de fazer caber seis numa mesinha de 120x70cm, então... vixe.

Quando comprei minha mesa de desenho, eu ainda tinha em mente a vida profissional que eu tinha no Brasil, os trabalhos que fazia lá, os clientes que tinha lá, o espaço, principalmente, que eu tinha em minha antiga casa. Eu queria muito voltar a desenhar, mas a confusão emocional da mudança não deixava, e me convenci de que o que faltava era a mesa, sem perceber que o que faltava era paz de espírito. Aqui, a mesa de vidro revelou-se desconfortável, pouco prática e me desestimulava a sentar para trabalhar. Ela acumulou pó por meses até me sentir em paz para usá-la diariamente, e foi nesse uso diário que percebi o erro que havia cometido. Mas eu tinha uma certa vergonha de admitir que tinha errado, que tinha feito uma compra ruim e meio que por impulso, ainda mais recém-chegada num país novo, e dizer que queria me livrar dela parecia quase ofensivo.

Com as panelas foi igual.

Quando cheguei com meu panelão vermelho aqui no Canadá, minha ideia era comprar uma panela por vez, segundo a necessidade aparecesse. Eu andava cozinhando de forma muito simples, e, num primeiro momento, parecia lógico apenas comprar uma frigideira e uma panelinha funda com cabo. Mas a muquirana em mim ficou aflita, pois pelo preço de uma frigideira excelente, eu poderia comprar um jogo inteiro de panelas que parecia muito boa. Estava em promoção, era uma oportunidade, faz muito mais sentido, eu dizia a mim mesma.

Só que não fez. Como todas as outras decisões tomadas às pressas e baseadas unicamente em ansiedade e dinheiro. Nessas três coisas (e em tantas outras), eu poderia ter esperado um momento mais calmo para tomar a decisão de compra e ter acertado mais. As frigideiras entortaram, a maior delas não era grande o suficiente para o que eu de fato precisava, o caldeirão é maior do que preciso, elas não distribuem tão bem o calor quanto as minhas antigas, indo de geladas a queimando num instante, e o fundo torto delas faz com que girem e deslizem perigosamente sobre a superfície de vidro do fogão, tornando muito difícil deixar as crianças cozinharem comigo.

E daí que comemoramos o emprego novo do marido trocando a mesa numa promoção da Ikea (que acabou saindo o mesmo preço da mesa pequena). Consegui vender minha mesa de desenho para uma vizinha e usar o dinheiro para comprar uma prancheta portátil de madeira, que foi para cima da antiga mesa de jantar, que é agora minha mesa de trabalho, infinitamente mais confortável.



E por último, o panelão. Ele é vendido como Braiser (uma panela de brasear), mas é um excelente frigideirão, e quando paro para pensar, era a panela que eu mais usava no Brasil e sabe-se lá o que me deu pra decidir vendê-la. O almoço de Páscoa também foi feito nela, uma perna desossada de cordeiro assado à toscana, com azeite, alho, alecrim e sálvia, braseado com um pouco de vinho branco e batatas bolinha.  Foi minha primeira vez assando cordeiro, e ele acabou passando um pouco do ponto rosé. Mas mesmo assim ficou muito bom. O que sobrou dele, desfiei e cozinhei com molho de tomate e congelei: ragù de cordeiro para comer com polenta. (Prefiro sempre congelar restos de carne em forma de ragù, pois o molho de tomate protege a carne de freezer burn).

IEEEEEEEIIII!!! As panelas cabem no meio da mesa! E a gente não come mais enfiando o cotovelo no prato do outro! :D
Ficou com certeza mais fácil tirar ISSO do forno do que a assadeira fininha onde eu assava carne com batata antes, que sempre entortava na hora que eu ia colocar na bancada e derramava molho engordurado pelos cantos.
O cordeiro passou bastante do ponto, mais ficou tudo danado de bom.


Olha quem estava embaixo da mesa só esperando as sobras do cordeiro caírem do meu prato.

O acompanhamento foram alcachofras recheadas (alcachofras limpas, abertas, espinhos retirados, recheadas de alho, salsinha e raspas de limão, um fio de azeite, cozidas em um pouco de água por trinta minutos, mais ou menos). Alcachofras são uma de minhas coisas favoritas, e uma memória culinária intensamente associada a meus pais. Todos os anos, perto do meu aniversário em Outubro, meus pais traziam alcachofras do mercado. Esse presente que eu esperava por estações inteiras. E enquanto elas estivessem na época, nós as comeríamos, cozidas, inteiras, solitárias nos pratos de louça, cada um com seu potinho de Pinzimonio (azeite, sal e pimenta-do-reino), para mergulhar as folhas e raspar com os dentes. Quando não houvesse mais folhas, meu pai me ensinaria a arrancar com os dedos em pinça as pétalas mais delicadas, cor-de-rosa, e então os espinhos, deixando o fundo cinzento da alcachofra com delicados furinhos de onde eles se haviam desprendido. Eu derramaria todo o restante do azeite temperado sobre aquele fundo e o comeria com garfo e faca, fazendo sons felinos de satisfação, saboreando aquela recompensa pela paciência de limpar e comer uma alcachofra pelas pétalas. 

Comida que tem ritual me encanta. 

E ver meus filhos fazendo o mesmo, arrancando as pétalas verde-acastanhadas, mergulhando no azeite e raspando a carninha pálida entre os dentinhos brancos, me enche de amor.  

Talvez por isso eu esteja adorando tanto assistir a videos de velhinhas italianas cozinhando. Sinto saudades de minhas avós e sinto saudades de meus pais no Brasil. Mas me lembro da importância do ritual na cozinha. 

Foi do canal da Nonna Maria que vieram esses panzerotti. 

Panzerotti eram algo que eu me prometera preparar havia já muito tempo, desde o dia em que Allex e eu comemos um no Panzerotti da Luini, em Milão. O excesso de projetos culinários do passado me impediu de levar esse a cabo, e a preguiça de fritura em panelas pequenas aqui também. Depois da bagunça que fora fritar pastel na minha frigideira de 26cm, eu não tinha planos de fazer isso de novo. 

Até o advento do panelão. 

Os panzerotti fritaram lindamente e foram a alegria da sexta-feira e do resto do fim de semana. Porque a receita que leva mais de 1kg de farinha dizia que fazia panzerotti para 4-5 pessoas, mas obtive 24 panzerotti do tamanho de um pastel de feira, e fiquei me perguntando se um ser humano conseguiria numa sentada só mandar ver 6 panzerotti assim de uma vez. Thomas comeu 3, o que me surpreendeu um bocado (pra onde vai tanta comida naquele corpinho magrelo?). Eu comi dois e estava satisfeitíssima. A parte boa é que eles requentaram super bem na Air Fryer, ficando crocantes de novo.

A dica que eu dou é colocá-los no óleo de barriga para baixo primeiro. Pois se colocados virados para cima, o ar que resta junto com o recheio vira um grande balão, e você não consegue virá-los ao contrário para terminarem de fritar. (Você também pode ser mais caprichoso que eu e de fato tentar tirar o ar de dentro deles na hora de rechear. Mas eu fiz todo o processo com criança junto, e eles fecharam um monte dos panzerotti, então, né... o controle de qualidade caiu.)



Não é pra ser um comercial de panela, nem um post de Haul de compras. Mas é um pouco a respeito de se perdoar quando a gente faz burrada. Principalmente burrada com dinheiro. Todo mundo já fez uma compra ruim e se arrependeu depois. E todo mundo já ficou guardando aquela blusinha feia que não cabe por anos ainda com etiqueta, ou sentando todo dia naquele sofá desconfortável, simplesmente por medo de dar o braço a torcer. Claro, muitas vezes não dá pra voltar atrás. Passei o último ano inteiro olhando para as duas mesas e queimando comida em panelas deslizantes porque a conta não fechava, não dava pra resolver. Assim que deu, deu. Vendi o que dava pra vender pra não morrer no prejuízo, e resolvi o que eu podia. Precisava ser o panelão vermelho? Precisar, não precisava, eu poderia ter ido atrás de outra panela de inox de qualidade. Mas confesso que fiquei com tanto medo de ela estragar igual à outra, que, como Allex disse, fui atrás de uma solução mais definitiva. Chega de solução provisória. Ferro fundido não entorta. Ela é pesada pra chuchu, então não desliza. E cabe uma quantidade abissal de comida dentro. E dois pés de escarola. Então pronto. Estou feliz com o bichinho na minha cozinha. 

Maio foi mês de coisas novas, novas receitas. Agora só precisa vir o calor de uma vez por todas, porque essa coisa de frio já virou velharia e cansou.

Cozinhe isso também!

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