sexta-feira, 12 de maio de 2017

Pão de queijo francês, bolo de fubá americano, ler livros, seguir vidas


Faz já quase um ano daquelas férias de julho sem televisão que mudaram o jeito como fazemos as coisas aqui e como enxergamos nossa casa. A televisão com certeza voltou, pois ela sempre volta, mas uma mente expandida por boas idéias nunca mais volta ao tamanho original.

Naquela época, com a televisão desligada, começamos a passar muito mais tempo do lado de fora e, quando do lado de dentro, muito mais tempo juntos. Havia algo, no entanto, que me incomodava um bocado havia tempos, mas o qual não me dava ao trabalho de mudar, e que, tendo o empurrãozinho final daquelas férias, finalmente consegui: voltei a ler como lia antigamente. Um livro depois do outro, o que cair na minha mão, romance, sociologia, filosofia, Saramago, José de Alencar, ficção científica, best seller, livro técnico de arte, o que for. Felicidade pura, voltar a ler, hábito que andava em suspensão desde o nascimento dos meus filhos.

Preciso admitir que o que me impedia era pura preguiça. Os dias terminavam cansados, e eu buscava aquele entretenimento fácil debilitador de cérebros da televisão e da internet. Meu tempo andava dominado de tarefas e trabalhos e eu não conseguia nem me dar cinco minutos nem enxergar esse precioso intervalo de tempo em minha rotina para ler meia dúzia de páginas.

Foi daí que as noites sem tv se tornaram noites de leitura. E uma vez que você termina um livro bom em três dias, a empolgação é tanta que você não consegue parar mais.

Nesse meio tempo descobri tardiamente o canal da Tatiana Feltrin, da qual virei absoluta fã. E não se passou muito tempo de TV retornada até que eu estivesse de novo sentada ao sofá assistindo vídeos sobre os livros que os outros leram. Ficava encantada, fazia notas mentais sobre ler esse ou aquele volume, mas no frigir dos ovos o que eu estava fazendo de fato era parando de ler e vivendo uma vida imaginária através dos feitos dos outros.

O mesmo aconteceu quando descobri meu blog favorito, Seis Mais Dois, da Maria Cordeiro. Li de cabo a rabo, concordando com tudo, achando linda aquela vida tranquila, natural, aquelas sextas-feiras em família, aqueles jantares com amigos, aqueles piqueniques no parque, aquela simplicidade dos pães e bolachas descomplicadas de todo dia. Amei tudo aquilo, quis aquele ritmo de vida para mim, e tão logo acabei de ler o post mais recente, saí internet afora buscando outros blogs que fossem semelhantes, para suprir aquela minha carência por mais inspiração, mais vidas que não eram minhas para preencher os espaços dos meus dias, para que eu pudesse sonhar em ser assim um dia e criar aquela perigosa fantasia de que, porque eu tomara conhecimento daquela vida, a tal vida era minha também.

Aí eu tomei uns tabefes da vida que era minha e voltei a meditar.

Meditação, essa coisa linda. Dizia meu guru de Kriya Yoga que meditar é como colocar gasolina no carro: você nunca pode estar tão ocupado a ponto de esquecer de parar para abastecer. ;)

E assim mesmo parece funcionar. Os pensamentos ficam mais claros, e parece que você consegue enxergar as coisas de uma forma mais ordenada.

E numa noite dessas, quando eu procurava enfadonhamente ao que assistir no YouTube (o bom e velho zapear canais e perder tempo valioso de vida fazendo nada de bom), ao escolher um video antigo do Tiny Little Things, ocorreu um estalo no meu cérebro. Assim, como se alguém tivesse atirado um pedregulho na parte de trás da minha cabeça e me chamado de idiota. Lá estava eu, assistindo a um video de alguém falando sobre um livro que eu tinha na minha estante e nunca tinha lido na vida. Tinha a noite toda pela frente, e estava prestes a me contentar em ouvir sobre a incrível experiência que aquela pessoa tinha tido ao ler a história ao invés de eu mesma apanhar o livro e lê-la.

A sensação de desperdício de vida foi tão assustadora, que desliguei a TV imediatamente, arranquei o livro da estante e comecei a leitura. Pensei: Tatiana consegue ler 100 páginas por dia. Como ? Ah, ela não tem filhos, ela lê no ônibus a caminho do trabalho. Todas aquelas desculpas que a gente se dá para os outros conseguirem algo e nós não. Mas e daí? Quanto tempo eu de fato tenho no meu dia em que não estou ativamente com as crianças, ou trabalhando ou em alguma tarefa? Comecei a andar com um livro na bolsa o tempo todo. Até mesmo para apanhar as crianças na escola. Comecei a chegar dez minutos mais cedo apenas para me sentar no banco em frente ao portão e ler mais meia dúzia de páginas antes do sinal da saída tocar. Continuo não conseguindo ler 100 páginas por dia, a não ser que o Allex chegue tarde do trabalho. Senão, sinto muito, livros, mas ainda prefiro a agradável companhia do meu marido. :)

Isso do livro na mão o tempo todo, enquanto mexo o risotto, enquanto as crianças brincam no parquinho, enquanto espero um documento no cartório, fez-me sentir infinitamente mais feliz durante o meu dia. Eram cinco minutinhos só meus, imersa em uma atividade que gosto muito, mesmo que outras coisas estivessem acontecendo concomitantemente.

E então comecei a olhar em volta. As crianças pedindo para brincar um pouco mais na escola antes de irem para casa. Ok. Abro meu livro, leio mais um pouco. Sem pressa. Ergo os olhos. É uma escola. O único livro à vista está em minhas mãos. Adultos, jovens e crianças tem aparelhos eletrônicos nas mãos. Senti-me novamente com quinze anos, matando aula para ler Senhor dos Anéis no corredor.

Pensei em pedaços de uma conversa com a coordenadora. Quando veio um comunicado dizendo que Thomas teria de fazer lições de matemática num tablet. Fui ter com ela, incomodada. Ele tem seis anos. Já tem lição de casa todos os dias. Não precisa ficar mais tempo estudando, ainda mais na frente de uma tela. Precisa ter tempo de brincar. Ele ainda é uma criança. Além disso, nós não temos um tablet.

Ela explicou que o programa de matemática era todo lúdico e divertido e extremamente pedagógico, e que os exercícios eram de quebra-cabeças e lógica. Eu expliquei que lúdico e divertido e extremamente pedagógico é montar quebra-cabeças de verdade, de papel, de madeira, de 200 peças, em que as peças não se encaixam magicamente ao arrastar de um dedo, em que você precisa separar as peças por tipo e pensar numa estratégia. E que mais divertido era aprender lógica e probabilidade jogando Zombie Dice e Dungeon Roll com o pai, ou livros de RPG com a mãe, somando dados e descobrindo se sua soma de 12 é suficiente para matar o ogro que tem 7 de força. Ou fazer frações calculando uma receita de bolo. Quantas medidas de 1/3 de xícara cabem em 1 xícara? Matemática que permite lamber a tigela no final. Lúdico, divertido e extremamente pedagógico é entender no mundo de verdade a aplicação daquilo que se aprende no livro da escola. É mexer com diferentes materiais para criar coordenação motora fina ao invés de exercitar unicamente o dedo indicador em riste e respostas automáticas de uma tela fria com cores berrantes.

Houve um incômodo. Ela quis defender o povo que criou o material pedagógico. Defendeu-se dizendo que o povo da quinta série estava indo mal em português e que por isso eles tinham se empenhado em estimular mais as crianças. Perguntei-lhe porque não estimulavam MENOS. Perguntei-lhe em que espaço da rotina de uma criança de 11 anos que tinha aulas de manhã e à tarde, lições de casa todos os dias, trabalhos todas as semanas e provas aos sábados, haveria um momento de suficiente tédio para que ela de fato escolhesse buscar na instante um livro para ler por prazer. Se todo o tempo dela era ocupado por leitura obrigatória de assuntos que de fato não lhe interessavam. Perguntei por que não faziam uma parceria com uma livraria para montar um stand na porta da escola, onde fica visível, onde atrai olhares, já que não há uma única livraria em nosso bairro. Recebi de volta uma resposta atravessada, dizendo que havia sim uma livraria mas fechara por falta de público, e encerrei a conversa aí, pensando no verdadeiro significado daquela sentença.

Atravessei o pátio da escola carregando meu José de Alencar velho e esfarelento e olhando em volta as crianças que usavam seus "tablets pedagógicos" para ver bobagens na internet. Pensei em algumas crianças de quatro anos que conheço que já sabem ligar o computador e escolher videos de youtube sem supervisão. Suspirei alto, sentei-me no banco e abri meu livro, esperando o sinal tocar. Às vezes meu ouvido captava a conversa dos adultos ao meu lado conversando sobre Candy Crush.

O sinal tocou, as crianças apareceram. Era sexta-feira e cada uma trazia um livro novo para ler no fim de semana. Ás vezes são livros legais, e muitas vezes são livros muito ruins. Mas eles vêm sempre felizes pedindo para ler antes do almoço, e depois do almoço, e depois do desenho, e antes de dormir. E antes de dormir Thomas pede para ler O Pequeno Príncipe de novo. Ou Como Treinar Seu Dragão pela terceira vez. E Laura apanha Pippi Meialonga e abre no colo e insiste em ela mesma ler a história, passando o dedo nas letras ao contrário e inventando as frases segundo a alternância entre sua memória e sua imaginação. E fico maravilhada com a riqueza de sua imaginação. E as palavras que eles conhecem, e as histórias que eles criam enquanto brincam e enquanto desenham. E me lembro do maior elogio que já recebi do meu marido, quando comentei sobre isso com ele: "Ana, o desenho-animado vem pronto; mas quando você lê O Hobbit e o Thomas escuta uma frase como "...e ele fez um cumprimento à moda dos anões", ele precisa criar na mente dele como diabos seria esse cumprimento e porque seria assim e não de outro jeito; eles criam assim porque você lê para eles todo dia livros legais."

Quem é mãe sabe que são raros os momentos em que ganhamos crédito pelo saldo positivo, então isso me deixou muito, muito feliz. De vez em quando a gente faz algo certo.

Dois dias depois ele me enviou um cartoon da New Yorker que eu nunca mais encontrei e procurei muito para ilustrar esse texto. O cartoon mostrava dois bancos de praça. Um com o pai lendo o jornal e as crianças lendo livros, e outro com o pai ao celular e as crianças com tablets e games. E o pai do celular perguntava: "Como você consegue fazê-los ler?"

Já dizia meu guru de yoga: viva pelo exemplo.

Da mesma forma como lemos blogs e vemos videos para nos inspirar, as crianças nos observam para nos imitarem. Se a única coisa que eles vêm em nossas mãos é um celular, não é difícil adivinhar o que eles farão para fingirem serem adultos. É preciso dar o exemplo. E é por isso que, ao invés de reservar minha noite, com crianças na cama, para ler em paz, eu me esforço para encaixar pequenos intervalos de leitura no meu dia, quando eles passam por mim no meio de uma brincadeira de velho-oeste e vêm me perguntar o que eu estou lendo e se posso ler em voz alta para eles. Nessa brincadeira de curiosidade infantil, numa tarde em que Laura cochilava no sofá, Thomas se aninhou comigo na poltrona e leu comigo oito contos do Neil Gaiman, atento e de olhos encantados, até se acabarem os contos apropriados para sua idade.

É importante para mim que eles peguem amor aos livros, pois acho que isso abre um mundo maravilhoso ao mesmo tempo que mantém seus pés bem firmes no chão. Traz possibilidades de fantasia mas também de aprendizado real e prático. Estimula a curiosidade, e melhora sua concentração muito mais do que qualquer texto eletrônico recheado de distrativos hiperlinks.

Tento o máximo que posso buscar respostas para suas perguntas nos livros ao invés de buscar na internet, outra briga, aliás, que tenho com a escola. Pois se você quer saber quantas pernas tem uma formiga, basta escrever "pernas" e "formiga" no google e apertar o Enter. Você sequer precisa formular saber formular uma pergunta coerente. Numa biblioteca, precisa começar raciocinando: formiga é um bicho. Que bicho? Inseto. Onde encontro informações sobre insetos? Seção de biologia. Qual livro? Qual página? E nem sempre você encontra nos livros uma resposta pronta. Às vezes precisa cruzar informações e desenvolver sua própria hipótese. Sabe isso que a gente costumava fazer o tempo todo? Pensar?

Como quase tudo hoje em dia, parece que nosso cérebro se beneficia quando temos mais trabalho.

Ironia das ironias, enquanto escrevia esse texto, nesse exato ponto, a internet desapareceu, deu tilt, e fiquei 2 dias sem a bendita em casa. Quem mais sentiu falta fui eu, pois não conseguia resolver meus assuntos de trabalho apropriadamente e fiquei justamente sem o meu filme de quinta-feira. O universo jogando na minha cara aquilo mesmo que eu estava escrevendo. As crianças aceitaram rapidamente que não haveria desenho àquela tarde e, enquanto eu discutia com o provedor de internet ao telefone, eles cataram um quebra-cabeças de mapa-mundi, levaram para a sala e ficaram montando e deliberando a respeito dos países que eles gostariam de visitar, os lugares onde moram pessoas que conhecemos, de onde vem a comida chinesa, se há dragões na Noruega e se precisa ou não de avião para chegar ao Japão, que, segundo Thomas, é o lugar especial dele, onde quer e vai morar um dia.

Enfim. Exemplos. Inspiração.

Nós somos como crianças buscando inspiração constante em quem acreditamos ter algo mais bem resolvido que nós. Seja a realização de um guru de yoga, seja a vida descomplicada de uma numerosa família portuguesa, seja alguém que lê oito livros ao mesmo tempo. Mas ao contrário das crianças, que não vêm a hora de partir para a ação e nos imitar, tentar sem vergonha ser como nós, nós, os adultos, parecemos nos refrear e nos contentar em apenas viver através dos outros. Colecionamos centenas de fotos do Pinterest de casas que não são as nossas, lemos sobre hábitos que não colocamos em prática, guardamos no coração ansioso essa vida potencial, porque um dia eu vou fazer isso, um dia eu chego lá, amanhã quem sabe, se minha rotina fosse diferente, segunda feira eu começo, mês que vem eu vou ter tempo, assim que eu terminar esse projeto vai dar pra começar, pena que eu nunca termino esse projeto.

Baumann diz que nessa nossa sociedade líquida procuramos incessantemente gurus (elementos externos a nós) para resolver nossas vidas e criamos metas inalcançáveis (ou metas alcançáveis cuja realização postergamos o quanto possível), pois enquanto temos uma meta, nos sentimos mais firmes no chão. O que acontece quando atingimos nosso peso ideal? O que fazemos quando terminamos de escrever aquele livro? O que eu faço quando já aprendi a costurar? O que eu faço quando finalmente fizer a minha viagem dos sonhos? O que eu faço com esse vazio imenso que sobra quando não há mais o que perseguir? Não é o medo de falhar que paralisa a maior parte das pessoas, mas o medo de conseguir.

Uuuuuuuuuuh.
Profundo, isso.

Enfim. Exemplos. Inspiração.

É preciso ser mais como nossos filhos e dar a cara a bater, enfiar o pé na jaca, guardar menos as experiências para o amanhã e simplesmente desligar a televisão e catar aquele livro de uma vez por todas. Começar alguma coisa e terminar o que se começou.

Inspiração é ótimo. Eu continuo assistindo ao canal da Tatiana e continuo lendo avidamente os posts da Maria. É fácil cair de novo na armadilha de maravilhar-se com o tempo que ela passa com os filhotes, e mergulhar na internet atrás de mais inspiração. Mais fácil ainda é ter o que admiramos tanto naquela vida: basta desligar o monitor e chamar as crianças para jogar um jogo de tabuleiro no tapete da sala. Ao invés de passar o resto do dia enfurnada no computador buscando mais dos reality shows que me viciam, eu leio um post, sinto-me feliz, e chamo as crianças para fazer um bolo.

Isso aconteceu duas vezes. E naquele dia eu tinha planos para fazer um bolo de milho da Dorie Greenspan, quando eu ainda tinha o livro comigo. É muito gostoso cozinhar com as crianças, se você desapegar um pouco da perfeição do resultado e estiver disposto a limpar um pouco de sujeira depois. (Mas em pouco tempo eles aprendem a quebrar os ovos sem que explodam e a não jogar farinha para todo lado, e o máximo que se deve fazer é mandar todo mundo lavar as mãos e a cara depois de enfiar a cabeça inteira na tigela do bolo. E se você tiver um pouco de TOC, basta deixar todos os ingredientes já medidos, e não tem risco de alguma mãozinha enfiar na massa uma xícara a mais de farinha.)

Esse bolo de milho, ouso dizer, correndo o risco de tomar pedradas dos leitores, botou no chinelo a maioria dos bolos de fubá que já fiz com receitas brasileiras. Melhor textura que já vi num bolo exclusivamente de farinha de milho. Nada esfarelento, super úmido. Não sei se de fato precisa dos grãos de milho. Mas muito, muito bom. Quem diria, bolo de fubá americano. ;) Sem preconceitos, povo. Com figos frescos e uma colherada de mel serviria facilmente de sobremesa para amigos.

A segunda vez, interessantemente, foi justo ontem, durante a ausência de internet. Estava um dia lindo, e eu queria muito levá-las ao parquinho ou brincar lá fora. Mas um torcicolo acachapante me impedia  e mesmo o relaxante muscular que eu tomara não fizera nem cócegas. Meio de mal humor, catei o celular e comecei a torrar minha franquia de internet fuçando por aí. Lá fui eu de novo do SeisMaisDois para ler o post novo. E de novo comecei a mergulhar, mergulhar, mergulhar. Ouvi as crianças fazendo sabe-se lá o quê no quintal, e de novo aquilo me despertou.

"Quem quer fazer um bolo com a mamãaaaaaeeeee???"

Diga-me se esse bolo não ficou lindo. :)
Lembrando do bolo de alecrim da Maria, resolvi testar um bolo de louro e laranja do David Leibovitz, cuja receita eu anotara antes de vender o livro. Mal sabia eu que havia encontrado o melhor e mais fácil pound cake que já fiz. Eu AMO pound cakes. São meus bolos favoritos, por conta da textura compacta. Quero muito depois omitir o louro e a laranja e simplesmente fazer um pound cake de baunilha usando essa receita, que além de tudo não precisa de batedeira. :) O truque de colocar uma linha de manteiga no centro do bolo produziu o pound cake mais lindo da minha vida. (Aliás, eu cortei a manteiga gelada em tirinhas bem fininhas com uma faca afiada e montei a linha, ao invés de às colheradas ou com saco de confeitar, como ele sugere.)

Laura veio correndo me ajudar a fazer o bolo, quebrou os ovos,  misturou tudo, ajudou a lamber a tigela no fim e depois a cobrir com o glacê aromático e crocante. E não fui só eu que adorei. Achei que as crianças estranhariam o sabor do louro, que fica bem forte, mas o bolo fez um sucesso estrondoso.

A foto não faz jus ao bolo. Mas tiver de correr pra fotografar antes que ele acabasse.

Inspiração não serve de nada se não inspirar ação. Se não fizer você se mexer, não é inspiração, é entretenimento, é distração. Inspiração de nada serve se só te traz aquela nostalgia melancólica de algo que você nunca viveu.



Noutro momento desses, inspirada pelos blogs minimalistas, embalando os livros que vendera, pensei na receita de gougères do livro da Dorie Greenspan que já estava empacotado para o correio. Deu-me uma vontade imensa de gougéres, e me dei conta de que já fizera éclairs e profiteroles, mas nunca sua versão salgada. Antes que me arrependesse de me despedir do livro, lembrei-me que havia uma receita no I Know How to Cook, minha bibliazinha de cozinha francesa. Em pouco mais de meia hora havia gougères quentinhas saindo do forno, que a pimpolhada recheou com manteiga e devorou no lanche da tarde. Consegui guardar alguns para comer depois com uma tacinha de vinho, versão sanduichinho, com manteiga, uma fatia fina de tomate bem maduro e folhinhas de rúcula. Os dois que sobraram foram de lanche da escola no dia seguinte, exatamente como meus sanduichinhos adultos, pois apesar de serem preparados exatamente como os nossos pães-de-queijo, os gougères se conservam maravilhosamente bem de um dia para o outro. Pão de queijo francês perfeito para o lanche da escola, Fica a dica.


Encerro o texto aqui, com essas receitas deliciosas, pois está na hora de buscar as crianças na escola e eu quero aqueles meus dez minutinhos para terminar de ler A Luneta Mágica, do Joaquim Manuel de Macedo. Que livrinho bom!

Torcendo para que esse texto inspire a ação de muita gente. ;)

(Disclaimer: aqui todo mundo lê bastante mas todos vêm TV e jogam video-game - com supervisão.)

BOLO DUPLO DE MILHO
(Do livro Baking Chez Moi, da Dorie Greenspan)
Rendimento: 1 bolo em forma de bolo inglês

Ingredientes:
  • 1 3/4xic (203g) farinha de milho
  •  1 1/2 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1/2colh (chá) sal
  • 1/2colh (cha) grãos de coentro moídos
  • 115g manteiga em temperatura ambiente
  • 1 xic (200g) açúcar
  • 3 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 3 colh (sopa) leite integral
  • 1 xic. (125g) grãos de milho frescos cozidos, descongelados ou em lata (escorridos e secos em papel toalha)

Preparo:
  1. Unte uma forma de bolo inglês de uns 22cm, enfarinhe e coloque a forma sobre uma assadeira. Pré-aqueça o forno a 180oC.
  2. Numa tigela, misture com um fouet a farinha de milho, fermento, sal e coentro. 
  3. Na batedeira, bata a manteiga em velocidade média, até que fique cremosa. Adicione o açúcar aos poucos e bata por 2 minutos, até que esteja bem misturado. Não tem problema se ficar um pouco granuloso.
  4. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição.
  5. Em velocidade baixa, junte os ingredientes secos. Como o milho não tem glúten, não precisa se preocupar se bater demais, mas você só precisa de uma massa amarela e uniforme. Junte o leite.  
  6. Adicione o milho e misture com uma espátula para espalhar bem os grãos.  Aproveite para verificar se não ficou nenhum ingrediente seco mal misturado no fundo da tigela.
  7. Derrame na forma, alisando a superfície para que fique uniformemente espalhado. Leve ao forno por 55-65 minutos, até que uma faca saia seca do meio. Se depois de 30-40 minutos, o bolo estiver dourando demais, cubra com um telhadinho de papel alumínio, solto. 
  8. Transfira o bolo para uma grade e deixe que esfrie por 5 minutos pelo menos antes de tentar desenformar.

BOLO INGLÊS DE LOURO E LARANJA
(Do livro My Paris Kitchen, de David Lebovitz)
Rendimento: 1 bolo inglês

Ingredientes:
(bolo)
  • 6 colh. (sopa) (90g) manteiga + 1 colh (sopa)
  • 10 folhas de louro, frescas ou secas
  • 1 2/3 xic. farinha de trigo
  • 1 xic açúcar
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh (chá) sal
  • 3 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 1/2 xic creme azedo (sour cream: creme de leite fresco + 1 colherinha de vinagre, deixado por algumas horas em temperatura ambiente)
  • Casca ralada de 1 laranja
  • 1/2 colh (chá) extrato natural da baunilha
(glacê)
  • 1 xic açucar de confeiteiro, peneirado
  • 1 1/2 - 2 1/2 colh (sopa) suco de laranja fresco
  • 1 colh (chá) licor de laranja, como Grand Marnier ou Cointreau

Preparo:
  1. Numa panela pequena, derreta os 90g de manteiga com 3 folhas de louro. Desligue o fogo, tampe e deixe em infusão por 1 hora. 
  2. Pré-aqueça o forno a 180oC. Unte com manteiga uma forma de bolo inglês de uns 22cm de lado, enfarinhe e forre o fundo com papel-manteiga. 
  3. Passe um pouco de manteiga em uma das faces das folhas de louro restantes (o jeito mais fácil é simplesmente esfregar de leve a folha na superfície do tablete de manteiga) e posicione as folhas no fundo da forma, com a parte amanteigada virada para baixo. As folhas não serão comidas. Elas apenas darão sabor ao bolo. Na hora de cortar as fatias, elas são descartadas.
  4. Numa tigela grande, misture a farinha, o açúcar, o fermento e o sal. 
  5. Em outra tigela, misture os ovos, o creme, as raspas de laranja e a baunilha até que fique homogêneo.
  6. Reaqueça a manteiga da panela, para que se liquefaça novamente e descarte as folhas. 
  7. Use uma espátula para misturar os ovos à farinha apenas até que esteja homogêneo. Então junte a manteiga e misture até que a manteiga seja absorvida. 
  8. Derrame na forma com cuidado para não mover as folhas. Alise a massa com a espátula. Então, disponha a manteiga restante por cima da massa, fazendo uma linha central no sentido do comprimento. (Achei mais fácil cortar tiras bem finas da manteiga do que fazer às colheradas). 
  9. Leve ao forno por 40-50 minutos, até que uma faca inserida no centro saia limpo. 
  10. Deixe que esfrie por 10 minutos sobre uma grade e então desenforme, retirando o papel manteiga da parte debaixo. 
  11. Quando esfriar, prepare o glacê, misturando todos os ingredientes até obter uma pasta lisa e opaca e que escorra devagar pelo bolo. Espalhe por cima do bolo e deixe que solidifique completamente. 
 GOUGÈRES
(Do livro I Know How to Cook, de Ginette Mathiot)
Rendimento: 6 porções (cerca de 3 por pessoa, dependendo do tamanho)

Ingredientes:
  • 1/2 xic manteiga sem sal (cerca de 100g)
  • 1 colh (chá) sal
  • 1 xic. farinha (cerca de 125g)
  • 4 ovos grandes, batidos
  • 1 3/4xic queijo Gruyère ralado 

Preparo:
  1. Numa panela grande, aqueça 1/2 xic água, a manteiga e o sal até que a manteiga tenha derretido, e então deixe abrir fervura. 
  2. Imediatamente e de uma vez, adicione a farinha, misturando energicamente com uma colher de pau. Abaixe o fogo para o mínimo e continue batendo por cerca de 1 minuto, até que a mistura se desprenda facilmente das laterais da panela. 
  3. Unte um prato grande com um pouco de manteiga e espalhe ali a massa e deixe que esfrie até temperatura ambiente. 
  4. Volte a massa para a panela desligada e junte os ovos gradualmente, até obter uma massa lisa, uniforme e brilhante. (Essa é a massa choux salgada. Se junto do sal, você usar 1 1/2 colh (sopa) de açúcar, voilà, você tem a pâte à choux doce para éclairs e profiteroles).
  5. Junte o queijo, misturando até que ele esteja bem espalhado. 
  6. Pré-aqueça o forno a 220oC. Unte uma assadeira grande com manteiga. 
  7. Com um saco de confeitar, ou uma colher, disponha porções de massa do tamanho de ovos pequenos, dando alguns centímetros de espaço para que os pãezinhos inflem. 
  8. Coloque a assadeira no forno e imediatamente reduza a temperatura para 205oC. Asse por 15-20 minutos para gougères individuais como esse, até que fiquem bem inflados e mais dourados do que você deixaria pães de queijo brasileiros. Atenção, pois se não assarem o suficiente (como aconteceu com minha primeira leva, que achei que já estavam dourados o bastante), eles desinflam. 
  9. Retire e sirva-os com o recheio que quiser, quentes ou em temperatura ambiente. Guarde os restantes embrulhados num pano de prato para que se conservem frescos até o dia seguinte. 

quinta-feira, 2 de março de 2017

Um mês de Dorie Greenspan, a bizarrice do Hygge, livros e coisas que se vão

 

Daí que num dia desses caí num artigo bizarro sobre um livro dinamarquês sobre HYGGE. O artigo dizia que o tal livro seria tão influenciador de comportamento quanto o livro da japonesa que ensina a dobrar roupa havia sido no ano passado. Curiosa que sou com relação a comportamento de massa e estilo de vida de outros povos, fui atrás para saber do que se tratava, e... fiquei preocupada com a humanidade.

O livro fala sobre o estilo de vida dinamarquês, e como esse povo cercado de inverno por todos os lados faz para ser (segundo aqueles pseudo-estudos que surgem do nada), o povo mais feliz do mundo. O livro vende que o segredo para a felicidade eterna é uma vida caseira, cercada de gente da qual você gosta, em momentos gostosos em que você de fato está com essas pessoas e não com seus celulares, e, principalmente, o habito de chegar em casa, colocar uma roupa confortável, fazer um chá, acender umas velas e ficar aconchegadinho num canto gostoso do sofá, à meia luz, lendo um bom livro.

Oi.

Prazer.

Meu nome é Obviedade.

Fiquei em choque ao ver quanta gente está escrevendo a respeito, fazendo videos a respeito, como se o ato de ficar gostoso no sofá, com uma calça de moletom, um chá, um livro e uma luz aconchegante fosse uma grande novidade no reino do bem-estar.

Brinquei com o marido que eu sou a pessoa mais Hygge do mundo. Porque eu faço isso toda santa noite desde que me conheço por gente. Que mundo bizarro é esse, em que você precisa de um livro pra ensiná-lo a simplesmente relaxar a bisteca e curtir um momento em paz num cantinho aconchegante? O povo está assim TÃO alucinado que não sabe mais relaxar?  o_O

Bom.

Ainda bem, eu ainda sei relaxar, então não devo estar tão louca assim. Naquela foto ali em cima, eu tinha acendido uma velinha perfumada que minha mãe me deu de Natal, e estava aconchegadinha em uma de suas mantas. Acho que aprendi a arte do aconchego com ela. Ela que continua produzindo mantas de sofá e xales de bebê, feitos à mão, cheias de amor, de uma tal forma que eu não conheço uma pessoa que, tendo uma de suas mantas, não sinta ciúmes da mesma quando outra pessoa resolve usá-la. O exemplo mais próximo que tenho é meu marido: morre de ciúmes da manta verde que ganhou da sogra há quinze anos, quando ela a tricoutou para que ele se enrolasse para jogar video-game no inverno. Tá vendo? Hygge. Minha mãe é dinamarquesa e nem sabe. ;)

Quem tiver curiosidade, pode fuçar no Instagram da mamãe, cheia de mantas uma mais linda que a outra, todas à venda (ela envia pelo correio!): @ceciliagaiarsa

E foi num dia destes, aconchegadinha no sofá, que resolvi fuçar nos livros parados na estante. 

Depois das semanas de janeiro em que consegui alimentar a família (muito bem) por quase meio mês usando só o freezer e a despensa, sem ter que ir à feira ou ao mercado, resolvi unir o útil ao agradável e testar um livro do qual cozinhara pouco, E AO MESMO TEMPO, testar um outro jeito de planejar as refeições. Eu sempre fui de fuçar nos livros, escolher algumas receitas para fazer e meio que girar em torno delas durante a semana, mas sempre depois de ir à feira e comprar o que eu bem quisesse. Daí que sempre apareciam receitas interessantes às quais faltavam dois ou três ingredientes, e eu saía para comprar os tais itens, o que acabava estourando meu orçamento no fim do mês.

E manter-se no orçamento tem sido uma coisa muito importante aqui em casa.

Eu já tinha decidido vender os livros da Dorie Greenspan sobre comida francesa e mais outros aqui de casa, mas resolvi que antes eu queria cozinhar deles algumas coisas que nunca tinha preparado, para desencargo de consciência. Abri o danado e selecionei umas doze receitas com ingredientes mais ou menos em comum e que não envolvessem nada exorbitantemente caro, fiz a lista de compras, e prometi a mim mesma tentar não fugir daquilo até o fim do mês, e ver o que eu conseguiria produzir na cozinha com as sobras daquelas receitas feitas inteiras e se isso me faria economizar algumas patacas.

A lista das receitas selecionadas do livro, em princípio, foi essa:
- Tourteau de Chèvre (que eu não fiz)
- Gougères (que eu não fiz ainda)
- Pissaladière
- Corn soup
- Côte d´Azur Cure All Soup (que não fiz)
- Orange Scented Lentil Soup
- Chuncky Beats and Icy Red Onions
- Couscous Salad
- Eggplant "Tartine"
- Roast Chicken for the Paresseux (que eu não fiz)
- Fresh Orange Pork Tenderloin
- Boeuf à la Mode
- Roasted Salmon and Lentils
- Swiss Chard Pancakes (Farçous)
- Salted Butter Breakups
- Honey Spiced Madeleines

E a lista de compras de ingredientes, esta aqui, considerando alguns poucos itens que eu já tinha em casa, como grão de bico no freezer, por exemplo:
- Queijo Gruyère (um nacional qualquer)
- Cebolas (um monte, por causa da Pissaladière)
- Cenouras
- Salsão
- Batatas
- Pepinos
- Berinjelas
- Beterrabas
- Tomates Cereja
- Pimentões coloridos
- Azeitonas Pretas
- Azeitonas Verdes
- Anchovas
- Laranjas
- Extrato de tomate (que eu fiz ao invés de comprar)
- Lentilhas
- Couscous marroquino
- Farinha de trigo
- Tomilho (o meu morreu)
- Milho verde
- Coentro
- Lombo de porco
- Frango (acabei não comprando)
- Salmão
- Acém (acabei comprando músculo de novilho orgânico)
- Folhas de salada

Fui às compras, então, e resisti bravamente à tentação de comprar qualquer item fora da lista que não fossem os básicos leite, manteiga, ovos e farinha. Confesso que senti dificuldade na banca de orgânicos da feira. Como resistir a lindos chuchus e abobrinhas? Só que não estavam na lista e eu não escolhera fazer nada do livro que levasse chuchu ou abobrinha. Mordi o dedo, contive a tremedeira e consegui me ater à lista. Ufa.

Ter a lista das receitas colada ali na geladeira e todos os itens necessários já comprados tornou minha rotina de cozinha muito mais fácil. Escolhia já no dia anterior o que fazer de almoço e jantar de acordo com o tempo que eu teria para cozinhar, e já pensava se as sobras poderiam ser congeladas ou reaproveitadas de outra forma já no dia seguinte. Nisso, o livro ajudou bastante, tendo pequenas notas sobre a conservação do prato ou quais partes poderiam ser feitas com antecedência. Todos os ingredientes estavam ali, dos principais aos temperinhos, e não ter de ir outra vez ao supermercado já foi grande fator de economia.

No dia das compras me planejei para "processar" tudo o que podia e que sabia que estragaria mais rápido, ou mesmo preparar pratos inteiros para ir direto ao freezer, como foi o caso da sopa de milho. Fiz a sopa no momento que as espigas estavam mais frescas e ela foi inteira direto para o freezer, em porções suficientes para dois diferentes jantares para dois adultos e duas crianças. A sopa só foi consumida no meio e no fim do mês, e foi muito prático ter aquilo ali já pronto. Ela era deliciosa, cremosa, adocicada, e a farofinha de bacon por cima ficou muito boa. Super diferente de outras sopas de milho? De fato não, mas muito boa.

CORN SOUP
Rendimento: diz 4 porções, mas somos em 4 e comemos duas vezes. Nossas porções de sopa são pequenas, no entanto, nunca comemos mais que 2 conchas cada um.

Ingredientes: 
  • 3 espigas de milho, debulhadas (reserve a espiga)
  • 3 xic. leite
  • 2 colh (sopa) manteiga
  • 1 cebola grande, picada
  • 1 talo médio de salsão, fatiado fino
  • 1 cenoura média, descascada e fatiada fino
  • 1 dente de alho, picado
  • 2 xic. água
  • 2 ramos de tomilho
  • 2 ramos de alecrim
  • 1 folha de louro
  • Pimenta-do-reino branca moída na hora
(guarnição)
  • cebolinha picada
  • 1 pitada de pimenta caiena 
  • 2 tiras de bacon cozido até ficar crocante e picadinho

Preparo:
  1. Coloque as espigas reservadas no leite e leve à fervura. Desligue, cubra a panela e deixe em infusão enquanto prepara o resto da sopa. 
  2. Em outra panela grande, derreta a manteiga. Junte a cebola, uma pitada de sal e cozinhe em fogo baixo, por 5 minutos, até que a cebola amacie bem mas não doure. Junte o salsão, a cenouta, grãos de milho, alho e sal e cozinhe até que os legumes estejam macios. 
  3. Junte a água, o leite com as espigas, as ervas, e 1 colh (chá) de sal. Leve à fervura, abaixe o fogo e e cozinhe por 20 minutos. 
  4. Retire as espigas, o louro e quaisquer ervas que você consiga pescar fora e descarte. Bata a sopa no liquidificador com cuidado. Acerte o tempero e sirva com a guarnição. Sem a guarnição, a sopa congela maravilhosamente.

Em seguida, apanhei os tomates ultra-maduros que eu comprara mais baratos na banquinha de orgânicos e pelei, tirei as sementes, cortei e joguei na panela com sal na proporção de 1 colh.(sopa) de sal para cada 1kg de tomate. É muito? Claro que é. Mas o objetivo é conservar meu extrato de tomate por 1 ano. Cozinhei até os tomates desmancharem, até o molho reduzir a um terço de seu volume, e então bati no liquidificador para ficar bem liso. Espalhei numa assadeira o mais uniformemente possível e levei ao forno bem baixo por meia hora. Nesse tempo, espalhei novamente, juntando o molho reduzido un pouco mais pro canto, limpando a parte exposta da assadeira com um papel-toalha, e voltando ao forno. E assim, de meia em meia hora, juntando, limpando, juntando limpando, até aqueles 4kg de tomates iniciais virarem um potinho de 3/4xic. Espesso, brilhante, de um impressionante vermelho escuro. Coloquei num pote esterilizado, cobri de azeite e levei à geladeira, onde meu extratinho vai durar um ano, desde que eu cubra de azeite sempre que pegar umas colheres.

Essa receita não era da Dorie, mas de um livro de cozinha calabresa que eu já vendi. Mas como a carne assada dela pedia extrato de tomate, achei que valia a pena fazer o meu, delicioso, orgânico, sem porcarias, antes da carne.

E a carne ficou muito boa. Usei músculo de novilho, orgânico, que estava num preço muito bom, e essa foi a carne braseada que fiz que ficou mais saborosa e macia. Não era quase em nada diferente das outras receitas básicas de carne braseada no vinho, a não ser pelo fato de ela marinar no vinho e com todos os legumes durante a noite e depois ser cozida por umas 2-3 horas no forno nesse caldo. Também as anchovas e o extrato de tomate contribuem bem para o umami do prato. Muito bom. Muito mesmo. Mas dado que o resto do processo é o mesmo das receitas mais clássicas francesas e italianas, apenas pensei que da próxima vez que fizer qualquer uma delas, vou mariná-la no vinho antes de cortá-la em pedaços e incluir na refoga dos legumes as tais anchovinhas. As fotos que achei internet afora, procurando um link para a receita, mostram uma linda carne fatiada. A minha se desmanchou inteira ao tentar cortá-la, o que eu não considero de modo algum um defeito. :)

Achei besta ficar usando uma frigideira para fazer tudo e transferir para o panelão, coisa que eu só faria se minha caçarola não pudesse ir direto no fogo. Como podia, selei tudo na caçarola mesmo. Não usei conhaque, pois n~~ao tinha (deglacei com água mesmo) e não usei caldo de carne, pois acho um pleonasmo usar caldo de carne numa carne que já vai cozinhar com os legumes e ervas que dariam sabor ao caldo. 

BOEUF À LA MODE
Rendimento: de novo, diz que serve 6 pessoas, mas aqui em casa deu 1 refeição para os 4 e mais dois almoços só eu e as crianças. Pratos pequenos. Segredo da vida longa e da cintura estreita. ;)

Ingredientes:
  • 1 pedaço inteiro de acém com 1,7-2kg, limpo mas não totalmente sem gordura
  • sal e pimenta-do-reino
  • 1 cebola, em meias-luas finas
  • 1 cenoura. descascada e em pedaços
  • 1 talo de salsão, em pedaços
  • um bouquet garni com 1 folha de louro, as folhas do salsão, 2 ramos de salsinha, 1 ramo de alecrim, 2 ramos de tomilho, amarrados
  • 1 garrafa de vinho tinto (750ml)
  • 1 colh (sopa) azeite
  • 4 xic de caldo de carne (usei água e o caldo ficou muito saboroso assim)
  • 3 colh (sopa) óleo (usei azeite de novo)
  • 3 colh (sopa) conhaque (omiti)
  • 4 anchovas
  • 2 colh (sopa) extrato de tomate

Preparo: 


  1. Massageie a carne com sal e pimenta e coloque numa tigela bem grande ou ziploc bem grande. Junte os legumes, as ervas e o vinho, o azeite, misture e feche bem o ziploc ou cubra a tigela com filme. Leve à geladeira por toda a noite. 
  2. No dia seguinte, remova a carne da marinada e seque com papel-toalha. Deixe voltar à temperatura ambiente.
  3. Coe a marinada, reservando os legumes e ervas e colocando o líquido numa panela. Leve essa panela ao fogo alto e reduza pela metade, cerca de 10 minutos. Junte o caldo (ou água), leve à fervura novamente, desligue e reserve.
  4. Aqueça o forno a 180oC. Coloque a caçarola de ferro em fogo alto com 2 colh (sopa) de óleo. Sele bem a carne, dourando de todos os lados. Retire para um prato grande e tempere com sal e pimenta. 
  5. Coloque mais uma colher de óleo na e junte os legumes coados. Cozinhe por uns 10 minutos. Como eles estão úmidos, não vão pegar muita cor, mas vão pegar gosto. Tempere com sal e pimenta, junte o conhaque se estiver usando, raspando o fundo com uma colher de pau, e junte o conteúdo da panela à carne. 
  6. Volte o panelão para o fogo e misture 1/2 xic. do caldo reservado ao extrato de tomate e anchovas, amassando para dissolver tudo muito bem. Junte o restante do caldo, as ervas, sal e pimenta, coloque de volta a carne e os legumes e leve à fervura. 
  7. Desligue, cubra com papel alumínio, coloque a tampa por cima e leve ao forno por 1 hora. Você pode ou não abrir tudo pra ver como estão as coisas e virar a carne de quiser. Mas não precisa. Cozinhe por mais 1h30 ou 2h, (tempo total 2h30-3h) ou até que a carne esteja macia. 
  8. Experimente o molho. Retire a carne e reduza mais, se preferir. Descarte o bouquet-garni. Sirva a carne fatiada com purê de batatas.



A salada de beterrabas com cebolas era simples e não tinha nada de muito diferente a não ser o mel no vinaigrette de mostarda. Confesso que o mel de fato arredondou os sabores, trazendo a mostarda e a cebola mais para o universo adocicado da beterraba assada. Fez muito sucesso com as crianças, e prometi a mim mesma lembrar sempre do mel nas próximas vezes. Mas é só isso. Um vinaigrete de mostarda que leva uma colherinha de mel, em cima de beterrabas assadas e cebolas fatiadas e geladas. Outra que fez sucesso foram essas panquecas de espinafre, Farçous. Meramente uma panqueca de espinafre, feita nas mesmas proporções de uma panqueca americana, mas batida com algumas ervas, cebola e alho, e um pouco de espinafre (já que não havia swiss chard), que você meio que frita ao invés de fazer de só dourar. Apesar de não ter ficado convencida pela fritura, as panquecas ficam saborosas e de fato congelam fantasicamente bem. A receita inteira faz umas 40 unidades, e vão do freezer para uma assadeira e em menos de 5 minutos estão quentinhas para o almoço. MUITO práticas e renderam 3 refeições diferentes, com salada verde, com a tal salada de beterraba e com salada de tomates. Mas não acredito que vá usar de novo a receita do livro (porque faço panquecas assim sem receita) ou mesmo fritá-las, que achei que deu mais trabalho que o necessário.


A pissaladière foi uma receita que escolhi para criar base de comparação com outras que já fiz. E essa, acredito, foi a melhor de todas. Pequena, alimentou bem acompanhada de salada verde dois adultos e duas crianças numa única refeição. A massa é crocante e delicada, bem fina, e a cobertura de cebolas, ainda que clássica, estava bem temperada e numa boa proporção. Pode ser também que eu finalmente tenha aprendido a caramelizar cebolas, coisa que eu não tinha coragem de levar a cabo há dez anos atrás, quando morria de medo de queimá-las. ;) Fico sem saber, então. Thomas, que não é muito fã de cebolas, adorou e repetiu a pissaladière e decidiu que agora  não tem mais cisma com elas.

O lombo com laranja ficou delicioso, apesar de um prato feio, daí a não ter fotografia. Não sei se me convenceu aquele monte de casca e polpa de laranja no molho, mas o sabor estava muito bom e todos rasparam o prato. Talvez não Thomas, que achou a coisa toda meio esquisita. "Garçom, derrubaram suco no meu prato!", disse Allex, engraçadinho. Mas a verdade é o que sabor era muito bom e o prato é muito fácil e razoavelmente rápido. Ficou ótimo com arroz. Faria de novo? Acho que sim, mas talvez adaptando para aquele jeito que a Rita Lobo fez, na TV, só com o suco. A receita é bem parecida, a não ser pelas cascas e gomos que a Dorie usa e pelo fato de a Rita usar bacon e legumes.

Mas o que faria de novo mesmo é o curry basicão da página seguinte do livro, no qual usei a outra metade do lombo que sobrara. Esse sim ninguém estranhou e todo mundo lambeu a tigela. Mas curry é curry. É sempre bom e é sempre igual. O tipo de curry que faço a olho e com os pés nas costas, uma mão segurando a Laura e um olho no Thomas embaixo da mesa. O porco ficou muito bom mas confesso que sumiu um pouco ali: podia ser carne, podia ser frango, podia ser peixe, podia ser tofu, meio que o sabor continuaria o mesmo. Mas seria sempre delicioso. É curry, afinal. Acho que uma excelente receita-base para quem nunca faz curry.


E com o que sobrou de laranjas veio essa sopa de lentilhas, maravilhosa, diferente. Pimpolhada adorou o iogurte na sopa, e o desenho bonito do branco sobre o marrom austero dela. De novo, pense numa sopa de lentilhas com azeite, cebola, salsão, cenoura, caldo de legumes e lentilhas. Basicona. A única diferença foi colocar um pedaço de casca de laranja de 3x6cm, sem a parte branca, 6 grãos de pimenta-do-reino, 1 cravo e um pedaço de gengibre de uns 3cm, picado. (Isso para uma sopa usando 1 xic de lentilha). O pulo do gato é bater tudo no liquidificador junto, especiarias, casca e tudo. Ficou muito bom. O coentro para finalizar foi adição minha.



Para dar um tempo nas carnes, fiz a salada de couscous com pimentão, grão de bico e frutas secas, que ficou muito saborosa. Mas, novamente, tive a sensação de que não precisava de fato de uma receita de livro para executar aquele prato. Depois de tanto tempo cozinhando, aquela mistura de sabores era meio intuitiva. Ao menos Dorie não esconde isso e ela mesma menciona na nota o fato de a receita nunca ser feita da mesma forma, sendo constantemente improvisada. Ainda assim, um bom almoço, com direito a repeteco, pois faz muitas sobras.

Agora essa berinjela assada coberta de uma salada/vinaigrette de tomate, pepino, azeitonas e alcaparras me surpreendeu um bocado. Todos adoraram e o que eu acreditei que renderia sobras para o jantar, foi devorado imediatamente numa só refeição. Merece infinitos repetecos com infinitas variações. Só pincelar com azeite fatias grossas de berinjela e levar ao forno até dourar e ficar macia. E cobrir com essa saladinha de tudo isso aí picado: pepino, tomate-cereja, salsão, cebola, alho, azeitona verde, alcaparra, orégano, sal pimenta e vinagre. Fácil.

E outra que será repetida à exaustão foi essa misturebinha de fígado de frango. Não é patê, não é terrine, é só uma coisinha rápida para comer com o pão. Servi no almoço com uma salada de tomates mas depois me vi assaltando a geladeira tarde da noite para acabar com o que estava no potinho, tão, tão, tão bom. Não sei se foram as cebolas caramelizadas, se a pimenta-da-jamaica ou a mera sugestão de servir com maionese. Mas eu amei esse negócio e vou fazer pelo resto da vida. É só esquentar numa frigideira 1/2 xic. de azeite e fritar 2 cebolas picadas. Drene as cebolas e então doure 450g de fígados de frango limpos e cortados ao meio no óleo restante na frigideira, por uns 2 minutos cada lado, para que cozinhem mas ainda fiquem rosinha por dentro. Seque em papel toalha, deixe descansar um minutinho, pique grosseiramente e junte à cebola. Reserve o óleo da frigideira. Tempere o fígado e a cebola com sal e pimenta, 1/4 colh (chá) de pimenta-da-jamaica e 1-2 ovos cozidos picados. Se parecer muito seco, junte o óleo da frigideira. Aperte bem numa terrine ou potinho, cubra bem e gele por algumas horas. Sirva no pão com maionese caseira. Nham!

Aliás, essa receita não estava na minha lista. Mas quando fui visitar minha mãe, ela me deu uma bandejinha fígado congelado, e resolvi que aproveitaria para testá-la, ao invés de fazer o clássico patê de sempre ou o crostini de fígado à toscana de sempre. Esse aliás, foi um ponto incrivelmente positivo do livro: ele é muito coerente, e me vi cozinhando cem por cento do tempo dele, mesmo na hora de improvisar com as sobras.

E assim de improviso saiu esse "cake" salgado de bacon, gruyére e figo seco, acompanhado de uma salada de tomate com molhinho de mostarda e iogurte. Um Cake Salé comum no preparo. O que sobrou virou piquenique na piscina do clube, cortado em cubinhos e acompanhado com tomatinhos cerejas e pepinos, e fatias grossas foram levadas de lanche da escola. As crianças adoraram e Laura AMOU comer "bolo" no almoço, sem ser de sobremesa. :)

Também rolou Spaetzle com ervas num domingo em que as crianças pediram linguiças na churrasqueira. E na lista de pratos para fazer no fim do mês, quando tudo o que é fresco já acabou na gaveta de legumes, sobrou ainda Gnocchi à la parisienne e gougère para acompanhar uma sopinha simples. Ainda não fiz nenhum dos dois, mas pretendo.

Até nos doces acabei me enveredando. O quatre-quarts, aquele bolo clássico francês, em que todos os ingredientes têm o mesmo peso, é muito fácil e foi devorado em duas sentadas. Achei confuso apenas Dorie mencionar que o topo fica bem dourado, quando o meu dourou apenas nas laterais, e todas as fotos que encontrei internet afora mostravam o mesmo domo pálido. Depois do quatre-quarts, fiz também sablés de chocolate e croquants, biscoitos que Thomas e Allex adoraram.  Menciono isso porque Laura, como sempre, preferiu comer bananas a biscoitos. Não há um único biscoito que eu tenha feito até hoje que ela de fato goste. Ela morde uma vez ou outra, diz que está satisfeita, que não gostou muito e vai pegar uma fruta. Essa é a única frescura alimentar dos meus filhos da qual eu não reclamo. ;)

Os sablés são os mesmos de sempre, ficaram bons mas iguais a quaisquer outros sablés de chocolate. Os croquants são bons para quando se quer usar claras congeladas: Basta misturar 2 claras a 1 1/4xic de açúcar, 1 xic. de castanhas picadas grosseiramente (usei avelãs e amêndoas) e 1/2 xic. + 1 colh(sopa) de farinha. Vai ficar uma massaroca nada ver com massa de biscoito. Coloque numa assadeira com silpat em porções de 1 colh (chá ) com espaço de 5cm entre elas. Tente deixar montinhos com forma de bolinhas. Leve ao forno a 205oC por 8 minutos ou até dourarem.

Foi um mês que correu muito fácil em matéria de culinária. O salmão feito num pedaço inteiro por 12 minutos no forno ficou no ponto perfeito, e as lentilhas que acompanhavam... bom, ficaram lentilhas. Os butter breakups ficaram maravilhosos, e depois vou fazê-los de novo para poder fotografar e colocá-los aqui no blog direitinho. As madeleines são madeleines comuns, mas com deliciosas especiarias e um gostinho de mel. Mas decidi que não faço madeleines com tanta frequência a ponto de querer manter aquela imensa forma de 36 madeleines. Então quem quiser comprá-la, está à venda.

O mês terminou e o resultado foi uma economia gigantesca no mercado, onde comprei apenas os itens da lista acima e mais leite, ovos, farinha e manteiga. Comemos muito bem, não gastamos muito, e agora posso mandar o livro de consciência limpa.

Mas Ana, por que diabos você vai vender o livro se você gostou dele?????

Porque apesar de tudo ter ficado muito bom, o livro é bem grande para o espaço que tenho para ele no momento, e ocorre que fora algumas ideias de sabores diferentes, a base das receitas é clássica e, de novo, já tenho meus livros clássicos de coração. Anoto as receitas que quero fazer de novo e desapego. Quando fizer uma carne braseada da Marcella Hazan, vou marinar a carne e juntar anchovas. O chopped liver eu já decorei na minha cabeça. Há ainda muitas outras receitas no livro que me interessaram, mas também há nos livros que escolhi manter, e agora estou numa fase em que realmente, de verdade, quero zerar, gabaritar, arrasar com os poucos livros que escolhi para serem meus livros clássicos da vida toda. O que não quer dizer que não pretenda continuar cozinhando de outras fontes e passando essas dicas a vocês também. Vocês, essas três pessoas queridas que ainda lêem o blog, depois que o youtube bombou e todo mundo parou de ler. ;) hahah

Se ainda resta alguém querendo pegar um livro usado mas muito bom, fica aqui a lista dos livros e tranqueiras que não tenho usado mesmo. Desapego monstro. Rumo à etapa final. ;)
As tranqueiras de cozinha Le Creuset estão todas fantasticamente excelentes, nem parece que usei tanto. Embalo tudo maravilhosamente bem para que nada quebre e faço reza brava. Hahaha.
Se alguém se interessar por alguma coisa, mande-me um email para lacucinetta@gmail.com com seu endereço completo para cálculo de frete, ok?

Como sempre, agradeço imensamente a todos que por todos esses anos acompanharam o meu acúmulo de livros e utensílios, e que agora estão ajudando na libertação dos mesmos. :D
Antes que alguém ache ruim, só posto isso aqui porque sei que aqui tem muita gente que gosta de cozinha, de livros, de formas, e que "me conhece" o bastante para saber que não estou sacaneando ninguém. O que não sair por aqui vai acabar sim no Mercado Livre e afins, mas acho sempre meio chateação vender e comprar de gente que a gente não conhece... :(

Novamente, obrigada! :D

Vou ali ficar toda "Hygge" com os livrinhos que sobraram, lendo um José de Alencar emprestado da mamãe e tomando um chazinho de erva-doce. ;)

R$50,00 + frete
SUZANNE GOIN - Sunday Suppers at Lucques (sobrecapa com sinais de uso, interior em excelente estado)
DAVID FRENKIEL & LOUISE VINDAHL - Green Kitchen Travels (excelente estado) 
DARINA ALLEN - Forgotten Skills of Cooking (capa rasgada na lombada, interior como novo)
STEPHANIE ALEXANDER &  MAGGIE BEER - Sabores da Toscana (em português de portugal) - pouquíssimos sinais de uso e excelene estado
KIM BOYCE - Good to the Grain (excelente estado)
NIGEL SLATER - Notes from the Larder (capa ligeiramente gasta, interior perfeito) 

R$35,00 + frete
FRANCINE SEGAN - Dolci - Italy´s Desserts (excelente estado)
FRANCES MAYES -In Tuscany (excelente estado)
JOHn SEYMOUR - The SElf Sufficient Life and How to Live It

R$25,00 + frete
MARC VEYRAT & GÉRARD GILBERT - La cuisine paysanne   (excelente - tamanho pocket, mas lindo, cheio de fotos)
THE MULTI-CULTURAL CUISINE OF TRINIDAD & TOBAGO & THE CARIBBEAN (novo)
MICHAEL POLLAN - Cooked 
THE ABC OF COOKERY (Livro produzido pelo governo britânico para educar as pessoas a cozinhar durante a primeira guerra)

TRANQUEIRAS:
MOEDOR de grãos de ferro Botini - R$65,00 + frete 
CANUDOS de alumínio para cannoli pequenos (10cm), 12 unidades - R$15,00 + frete
Forma de MUFFIN MINI com 24 cavidades, da Wilton - R$35,00 + frete
LE CREUSET - Cj de 6 ramequins com capacidade de 1xic, vermelhos, perfeito estado, como novos - R$270,00 + frete
LE CREUSET - Cj. de 8 ramequins com capacidade de 1/2xic, vermelhos, perfeito estado, como novos - R$240,00 + frete (R$30,00 cada)
LE CREUSET - 1 mini-cocotte com tampa, cor de laranja, capacidade de 1 xic., perfeito estado, como nova - R$55,00 + frete 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Uma semana sozinha, um aniversário de 4 anos, dando cabo de muita comida

Mesa de aniversário da Laura, com mais cachorro-quente na panela vermelha e pão de queijo na verde. :)

E aí as crianças foram para a casa dos avós. Liberdade? Descanso? Relaxamento? Capirinhas na beira da piscina (inflável)?

Não. Eu tinha trabalho a entregar e uma festinha a preparar.

No primeiro dia sem as crianças, foi que me dei conta de que comprara muita comida para uma semana sozinha. Não sei por quê, foi meio no automático, provavelmente indo à forra depois de passar 3 semanas sem a banquinha de orgânicos. E foi na tentativa de já dar cabo de um pacote inteiro de quiabo, que resolvi prepará-lo justamente para uma pessoa que detesta quiabo: meu marido. Claro, eu fui boazinha. Lembrei-me de uma receita no livro do Mark Bittman, How to Cook Everything Vegetarian, que dizia que esse era o prato de quiabo para quem odeia quiabo. Resolvi pôr à prova sua tese.

Tese comprovada. Fritar o quiabo elimina terminantemente a baba, e ele fica crocante e delicioso nessa salada com tomates e coentro, polvilhado de curry, e cebolas em meias-luas marinadas no azeite e limão. "Não parece quiabo!", disse Allex, servindo-se uma segunda vez.

Só não digo que essa salada deliciosa foi um sucesso retumbante por conta do trabalho que tive para limpar o fogão depois. O óleo estava na temperatura correta e resolvi mergulhar nele o primeiro punhado generoso de quiabo... que fez o óleo quente espumar e subir numa loucura tal que eu nem tentei tirar a panela do fogo como geralmente faço quando isso acontece com caramelo ou leite. Simplesmente desliguei o fogo e observei, desistente e conformada, o caos e a destruição, a piscina de óleo quente depositada por sobre todo o fogão e escorrendo pelas laterais em direção ao chão.

Mega divertido. Só que não.

Então fiquem avisados: usem uma panela bem alta e coloque bem pouquinho quiabo por vez na primeira leva. :(


SALADA DE QUIABO FRITO PARA QUEM ODEIA QUIABO
(Adaptado um nada do ótimo How ro Cooki Everything Vegetarian, de Mark Bittman)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes
  • Óleo para fritura
  • 450g quiabo, sem os cabinhos e fatiados no sentido do comprimento
  • 1/2 cebola roxa, em meias luas finas
  • 2 tomates pequenos, sem sementes e cortados em tirinhas
  • 1/2 limão espremido ou a gosto
  • 1/4 xic coentro fresco 
  • 1 1/2 colh (chá) garam masala (a receita original usa chaat masala, que não se encontra aqui)
  • 1/2 colh. (chá) sal

Preparo
  1. Esquente o óleo até 180oC. Frite o quiabo em levas pequenas, mantendo o óleo quente, por 5-7 minutos, até que fiquem bem douradas e crocantes. Retire com uma escumadeira para um papel absorvente. 
  2. Misture a todos os outros ingredientes e sirva imediatamente. 

Naquele mesmo dia, Allex foi viajar a trabalho por alguns dias. (Espantado pelo quiabo? Acho que não.) E eu me vi de fato sozinha. Na minha mente, eu teria diversos momentos relaxantes entre os trabalhos a entregar e as coisas a fazer para o aniversário da Laura (porque você mal respira depois do Reveillon e o aniversário da pequena já chegou, e depois de passar um ano indo a aniversários os mais escalafobéticos, ela tinha a expectativa de ter sua própria festa, apesar de não se incomodar com a simplicidade que imponho à mesma). Mas claro que não foi assim. Antes de tudo eu precisava tirar da frente alguns probleminhas, como aquela gaveta cheia de legumes de verduras que estragariam antes do restante da população da casa voltar.

Priorizei o pote de creme de leite da fazenda que minha querida amiga Marina me dera. Mais firme que cream cheese, aquilo era nata pura, e não consegui pensar em mais nada a se fazer com ela além de biscoitos de nata. Se as crianças estivessem em casa, teria usado em uma torta ou uma panna cotta. Mas sozinha, era preciso preparar algo que durasse mais, até seu retorno.


Descobri que ninguém da minha família tinha uma receita de confiança, e foi por isso que acabei usando uma receita do Cybercook, que não costumo usar com muita confiança. Mas a receita fazia sentido e usava exatamente a quantidade de nata que eu tinha, então resolvi testar. Os biscoitos precisaram de um pouco mais de tempo do que a receita pedia para ficarem crocantes e ficaram gostosos. No entanto, eu usaria metade do fermento (ou talvez até um terço), pois eu conseguia sentir um gosto metálico do excesso dele no fundo da língua. Também talvez tentasse aumentar um pouco a quantidade de farinha e diminuísse ou mesmo eliminasse o amido de milho, uma vez que ele tornou o biscoito seco e esfarelento como um sequilho, enquanto eu esperava uma crocância mais certeira e a gordura do creme derretendo na boca, como acontece com bons biscoitos amanteigados. Mas acho que isso é meramente gosto pessoal. A receita original está AQUI.



 Olhei então para a gaveta de legumes. As folhas de salada serão consumidas rapidamente, pensei. pois adoro almoçar salada.

A couve. O que fazer com ela? PESTO DE COUVE com as folhas. Os talos, congelei para usar em dias sem nada verde na geladeira. Adoro frittata de talo de couve, e meu marido me enchia os pacová pela frugalidade natureba, até ler um artigo sobre como os talos da couve têm mais nutrientes que as folhas. Há! Fiz quatro potinhos cheios de pesto (usando castanha de caju no lugar do pistache), cada um o bastante para temperar o jantar de uma família de 4 e foi tudo para o freezer.


Ok. O que mais? Agrião. Separei as folhas para comer em minhas saladas e os talos viraram sopa imediatamente. Eu uso sempre mais ou menos ESSA como base, e omito todos os acompanhamentos. Paro simplesmente em manteiga + cebola + batata + caldo de legumes + talos de agrião. Não uso limão, mas fica gostoso com ele também. Às vezes jogo meia dúzia de folhas junto para deixar mais verde. O que mantém o gosto fresco e a cor verde brilhante da sopa é colocar o agrião só na hora de bater. Pois se ele ferver, a sopa fica marrom e o agrião fica com um gosto metálico estranho. Sopa de agrião sempre é bem vinda, pois Thomas adora.

Então apanhei todas as aparas do que eu comprara na feira àquela semana e fiz uma nova batelada de CALDO DE LEGUMES para ir ao freezer. E peguei os talos e raízes do coentro e fiz pasta de curry tailandesa, de novo do livro do Mark Bittman. Eu adorava esse negócio, e Thomas comeu MUITA papinha com curry tailandês quando bebê, mas foi ficando cada vez mais difícil de achar e cada vez mais caro. Não consegui achar o lemongrass propriamente dito, que é o nosso capim-limão, mas a parte do bulbo, e não as folhas. Acabei comprando o capim-limão mais bojudinho que encontrei, tirei as folhas externas ressecadas, piquei loucamente só as bases que pareciam mais macias. O gosto ficou excelente, mas mesmo com esses cuidados, o liquidificador e o processador não deram conta, e tive que passar numa peneira para tirar toda aquela fibra dura com jeito de mato, coisa que não aconteceria com a parte certa do ingrediente. Passar pela peneira deixou a consistência mais líquida, mas o sabor continuou lá. Congelei em porçõezinhas do tamanho de um cubo de gelo para poder usar depois. Nisso, descobri que também dá pra congelar as folhas do capim-limão já picotadas num saquinho pra ir direto pra panela para virar chá. :)

Se você encontrar o bulbo do capim-limão para uso em culinária asiática, esta receita é muito boa: 

PASTA VERMELHA DE CURRY TAILANDÊS
(Do ótimo How ro Cooki Everything Vegetarian, de Mark Bittman)
Rendimento: 3/4 xic

Ingredientes:
  • 10 pimentas dedo-de-moça, sem as semenstes ou a gosto
  • 4 folhas de limão  ou 1 colh (sopa) casca de limão
  • 1 pedaço de uns 2-3cm de gengibre fresco, descascado, picado
  • 1 colh (chá) sementes de coentro
  • 1 colh (chá) sementes de cominho
  • 2 bulbos de lemongrass, descascados, aparados e picados grosseiramente 
  • 1/2 cebola picada
  • 4 dentes de alho descascados e picados
  • 2 colh (sopa) de raízes e talos de coentro bem picados (usei as raízes e início dos talos de um maço)
  • 3 colh (sopa) óleo

Preparo:
  1. Coloque as sementes numa frigideira e toste em fogo médio até que fiquem perfumadas. Coloque no processador com o restante dos ingredientes, menos o óleo, e processe até virar uma pasta. Processando, acrescente o óleo aos poucos. Você quer uma pasta razoavelmente homogênea. Coloque em um pote esterilizado e guarde na geladeira por até 2 semanas. Ou separe em porções menores e congele.

Depois disso tudo, tive de dar uma pausa para de fato almoçar. As saladas da semana foram sensacionais, admito, e agora eu precisava dar cabo das frutas do Reveillon que as crianças não haviam terminado de comer. 

 

Lichias. Confesso, não sou louca por elas. E elas ficaram ali me olhando, e eu não me animava a catar a tigela e comê-las puras de sobremesa. Busquei na fantástica internet algo para fazer com elas e caí NESTA SURPREENDENTE SALADA DE AGRIÃO, ABACATE E MANGA, fruta que prontamente substituí pela lichia. Não é novidade nenhuma uma salada de agrião com manga. Mas o que torna magnífica essa mistura simples de frutas doces e cremosas e verduras picantes é o molho de alho, gengibre e pimenta. É claro que a salada original ficou mais colorida, com o amarelo da manga, e as cebolas roxas, como você pode ver na foto produzida pela revista. A minha, com cebolas brancas e lichias ficou meio monocromática. Mas absolutamente deliciosa! A foto não faz jus. Merece repetecos infinitos, e eu compraria lichias só para prepará-las assim. Comi devagar enquanto separava lembrancinhas de aniversário em saquinhos.


O dia seguinte foi dia de assar o bolo da Laura. E, aproveitando o forno quente, umas beterrabas que estavam pela hora da morte. Assei-as, descasquei-as, cortei-as em cubinhos e meti-as no freezer. Beterrabas assadas congelam maravilhosamente bem. Mas aí começou aquele maldito complexo de mãe sozinha em casa... Eu só precisava assar o bolo. Mas não. No melhor estilo do episódio de dia das mães da série The Middle, eu resolvi que eu precisava limpar o forno (e rearrumar todos armários da casa, e separar todo o lixo eletrônico para reciclagem, e reorganizar os livros, e refazer meu planejamento do ano, enfim) . Antes de fazer o bolo. E lá fui eu. Limpinho, limpinho. Resolvi esse ano quebrar a tradição e preparar um bolo diferente. Eu visualizara aquele bolo lindo, branco, recheado de geleia de morango, da Dorie Greenspan. Tinha exatamente o número de claras congeladas de que precisava para o bolo e depois para o recheio. Seria perfeito. A cara da Laura. Não fosse o fato de que aparentemente a remoção da sujeira do forno fez com que ele parasse de funcionar. Depois de dez anos funcionando perfeitamente, ele resolveu que não estava mais afim. Parece que o forno era meio apegado às massas de bolo carbonizadas que jaziam em seu piso e agora sua solidão foi demais para suportar. E o forno desligou no meio do cozimento do bolo. E EU NÃO VI. 

Quando percebi o que ocorrera, o tempo de assar já havia terminado e o forno estava quase frio. Quase tive um treco. Liguei o forno de novo, e olhei aquela massa que crescera mais ou menos mas ainda estava cru e não dourara com um aperto no coração. Fechei o forno, suspirei e pensei que se tudo desse certo no final, a receita era de fato muito boa. 

Incrivelmente, depois de mais meia hora de forno, O BOLO DEU CERTO. Juro. Só por isso deixo aqui a receita do bolo em si, mas não da cobertura, pois acabei não terminando a receita. Ele ficou um pouco mais baixo do que deveria por conta da rebelião do forno, e por isso achei arriscado cortar ao meio para fazer aquela montagem toda de quatro camadas finas. Comecei a me dar conta de que de novo estava entrando naquele pânico de aniversário que me faz exagerar e trabalhar demais, e então resolvi simplificar. Congelei o bolo até a véspera da festa. Na manhã do evento, pincelei o bolo com um xarope simples de baunilha, e recheei e cobri de morangos e chantilly fresco, sem cortá-los ao meio. Ficou lindo, uma delícia e deu menos trabalho. O bolo foi devorado e Laura ficou muito contente, pois ela sempre pedia um bolo de morangos em seu aniversário e esse foi o primeiro ano em que encontrei os morangos orgânicos saborosos na data. :)
Laura incomodada com a barulheira do Parabéns, Thomas planejando assoprar a vela antes da irmã.
BOLO BRANCO DE ANIVERSÁRIO*
(ligeiramente adaptado do livro Baking From My Home to Yours, da Dorie Greenspan)
Rende 2 bolos de 20-22cm, dependendo da forma

Ingredientes:
  • 2 1/4xic farinha de trigo 
  • 1 colh (sopa) fermento químico em pó
  • 1/2 colh (chá) sal
  • 1 1/4 xic leite integral
  • 4 claras de ovo grandes
  • 1 1/2xic açúcar
  • 2 colh (sopa) de raspas de limão
  • 115g manteiga em temperatura ambiente

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180oC. Unte com manteiga 2 formas de 20cm (com uns 5cm de lado, ou a massa vai transbordar) ou preferencialmente de 22cm. Forre o fundo com papel-manteiga. Coloque as formas sobre uma assadeira.
  2. Peneire a farinha, fermento e sal em uma tigela e reserve.
  3. Misture as claras com o leite em outra tigela e reserve.
  4. Coloque o açúcar e raspas de limão na tigela da batedeira e esfregue com os dedos para liberar os óleos do limão. Junte a manteiga e e bata por 3 minutos,até que a mistura esteja bem fofa e clara. 
  5. Junte 1/3 da mistura de farinha em velocidade média, só até incorporar. Junte metade do leite com claras, então a farinha, as claras, e o restante da farinha, incorporando bem. Deixe batendo bem por uns 2 minutos, para ter certeza de que está bem misturado e aerado. 
  6. Divida a massa entre as duas formas, alisando a superfície, e leve ao forno por 30-35 minutos, ou até que os bolos estejam secos e elásticos ao toque e um palito inserido no meio saia limpo. Deixe esfriar sobre grades por 5 minutos antes de passar uma faca nas laterais, desenformar e retirar o papel-manteiga cuidadosamente. Deixe que esfriem completamente antes de rechear, cortar ou embalar para geladeira ou freezer. 
 * O bolo da foto não parece tão branco, mas seu miolo era sim bem branquinho. Se você cobrir as laterais com um buttercream ou outra cobertura branquinha, o bolo fica todinho clarinho. :)

Mais um dia se passou, e depois de terminar a aquarela que eu precisava entregar e sair para comprar tudo o que precisava para a festinha, preparei-me essa que é uma de minhas saladas favoritas: salada de folhas e nozes com verjus.

Verjus??? É um xarope bem ácido feito com uvas ainda não maduras, mas que eu confundi com xarope de mosto de uva na hora de preparar o tempero, pois meu livro lindo de cozinha toscana feito por uma australiana que reviveu o uso do verjus (verjuice em inglês), está traduzido para português de Portugal, e minha cabeça louca achou mesmo que "agraço" fosse mosto cotto. Num dia, tendo encontrado uvas Isabel orgânicas e feito de novo aquele sorvete fantástico, resolvi ferver um pouco as cascas que sobraram e reduzir esse suco até obter um xarope espesso e doce: meu Mosto Cotto improvisado. Guardei meu xaropinho na geladeira num vidrinho esterilizado e tenho usado assim no lugar do verjus, em saladas, misturando a azeite, limão, sal e pimenta para fazer um molhinho. É um resultado completamente diferente do que seria o verjus, pois o mosto cotto é doce e não ácido. Mas por isso mesmo é maravilhoso. Um vinagre balsâmico e um pouco de açúcar podem substituir bem, acredito. Esse molhinho sobre diferentes alfaces, nozes picadas e lascas de parmesão ( e cogumelos salteados no alho, em um segundo almoço-repeteco) foram um almoço leve e excelente, que me deixou tão de bom humor, que resolvi preparar os cupcakes que Laura pedira para seu aniversário.

Como estava meio preguiçosa, no entanto, quis algo rápido que não precisasse ficar batendo manteiga. Pensei que talvez a receita básica de bolo de baunilha que faço sempre rendesse bons cupcakes... mas pensei errado. Eles grudaram irremediavelmente nos papeizinhos.

Estava prestes a jogar tudo fora quando me dei conta de que os bolinhos estavam deliciosos. Só tinham grudado. Saí cavocando todos os papéis de cupcake com uma colher e colocando aqueles miolos esfarelados em uma tigela grande. Guardei na geladeira e fiquei pensando... deve haver algo que eu possa fazer com isso.

Depois de matutar a respeito, e enquanto reorganizava a planilha de custos das minhas obras para decidir os descontos para a loja e planejar as novas séries, lembrei dos cake pops! (Por que uma coisa levou à outra? Não sei, mas eu estava olhando para uma planilha de excel e calculando aproveitamento de papel de aquarela quando pensei nos pirulitos de bolo. Aliás, acho "pirulito de bolo" um nome bem mais simpático que "cake pops"). Cake pops, essas coisas lindas e confeitadas e coloridas, espetadas em palitos compridos, que sempre têm em aniversário de bufê, meus filhos sempre pegam, dão uma mordida, descobrem que não têm gosto de nada e devolvem. Cake pops são feitos de miolo de bolo! Há!

Apanhei o miolo delicioso do bolo, coloquei no processador, e bati com duas colheres de sopa de água, o bastante para dar liga e aqueles farelos virarem algo como massa de biscoito. Fiz bolinhas, espetei-as em palitos, passei-as em chocolate derretido, depois em confeitos coloridos, (ignore o modo simples como digo isso e pense numa pessoa desesperada com chocolate até os cotovelos e confeitos grudados por toda a mesa, e tudo escorrendo, e derretendo, e virando a maior lambança) e deixei-os na geladeira, de cabeça para baixo, até que o chocolate endurecesse. Foram sucesso na festinha. Desses, meus filhos comeram e repetiram. Estavam mesmo uma delícia, apesar de, esteticamente, terem lembrado daqueles memes de "expectativa X realidade". >_<

Aproveitei a overdose de doce para fazer os beijinhos e os brigadeiros.

Antes de dormir, tirei do freezer uma apara de massa de torta da qual me lembrei e, no dia seguinte, forrei uma forma de muffin grande com ela. Fiz uma versão miniatura da compota de cerejas de sempre, que engrossei com uma colherinha de amido de milho e joguei dentro da massinha. Fechei pinçando com os dedos, pincelei com leite, polvilhei de açúcar e coloquei no forno por uns 20 minutos até dourar.

Melhor

Tortinha

Ever.



Eu sei me tratar bem quando quero. :P

O saldo da semana foi positivo. Quando o marido voltou de viagem, eu estava enchendo balões, pendurando bandeirinhas (as mesmas que eu fiz no aniversário de 3 anos do Thomas, e que viraram tradicionais nos aniversários aqui em casa) e terminando de preparar aquela falsa maionese de coentro e castanha de caju da Bela Gil para mergulhar os leguminhos na festinha no dia seguinte. A festa deu certo apesar da chuva torrencial que deixou todo mundo trancafiado dentro de casa, o bolo foi devorado e ninguém nunca soube que ele quase não vingou. Eu consegui entregar todos os trabalhos pendentes, e até consegui reorganizar meus custos para poder calcular os descontos na loja, o que deu um trabalho do cão e exigiu todo o poder de matemática que meu cérebro de Humanas conseguiu juntar. (Se você sempre quis ter uma obra original em casa, um quadro para decorar sua sala ou sua cozinha que fujam dos pôsteres de sempre que têm por aí, mas sempre achou meio caro, saiba que QUASE TODA A LOJA ESTÁ EM PROMOÇÃO, algumas obra com 50%. Isso tem um motivo, que depois eu explico com calma. Dêem uma olhada lá: www.anaelisagg.iluria.com)

Esta aquarela está R$200,00 e com frete grátis. :D

Passada a correria do aniversário, começaria a correria do material escolar. Mas tudo bem. Não resisti a receber meus pimpolhos de volta com os pedidos cupcakes que não aconteceram no aniversário. Redimi uma receita do Magnolia Bakery, que fica de fato deliciosa. Da primeira vez que preparei, há MUUUUITOS anos, eles grudaram nos papéis e ficaram tão esfarelentos que eram impossíveis de serem comidos. Desta vez ficaram leves e perfeitos. A cobertura, no entanto, eu não quis repetir, pois me pareceu MUITA manteiga e MUITO açúcar. Ao invés disso, usei uma cobertura de baunilha da Alice Medrich, que fica bem doce mas muito muito gostosa. Quando servi para as crianças, Laura comeu toda a cobertura e deixou o bolinho e Thomas comeu todo o bolinho e deixou a cobertura. (Até que eu percebi que um bolinho inteiro era muito pra eles, e que se eu o dividisse ao meio eles comiam tudo.) Então eu estava saindo para minha aula de sábado, e Allex, que não gosta de bolos, perguntou: "quantos desses bolinhos têm que ter aí quando você voltar?" "Por quê? Você pode dar para as crianças, eu fiz para elas...", respondi. "Não, é porque EU quero comer isso. Ficou muito bom!". Allex comeu bolinho E cobertura.

É bom ter minha família de volta.



CUPCAKES DE BAUNILHA
(Adaptado dos livros More From Magnolia e Sinfully Easy Delicious Desserts)
Rendimento: 12 cupcakes

Ingredientes
(bolinhos)
  • 1 1/3 xic + 1 colh (sopa) farinha
  • 1/2 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1 pitada de sal
  • 115g manteiga em temperatura ambiente
  • 1 xic açúcar
  • 2 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 1/2 xic leite integral
  • 1/2 colh (chá) extrato natural de baunilha
(cobertura)
  • 1/2xic creme de leite fresco
  • 1 xic açúcar
  • 1/4 colh (chá) sal
  • 2 colh (chá) extrato natural de baunilha
  • 8 colh (sopa)(115g) manteiga fria mas um pouco amolecida

Preparo
  1. Faça os bolinhos. Pré-aqueça o forno a 180oC. Forre uma forma de muffins com papéis apropriados.
  2.  Numa tigela, misture a farinha, fermento e sal. Reserve.
  3. Na batedeira, bata a manteiga até que fique cremosa. Junte o açúcar aos poucos e bata por vários minutos, até que fique bem fofo e claro.
  4. Junte os ovos um a um, batendo bem a cada adição.
  5. Incorpore os ingredientes secos em três adições, intercalando com o leite misturado à baunilha. Não bata em excesso, apenas misture. Use uma espátula para raspar o fundo e as laterais, para ter certeza de que a mistura está homogênea. 
  6. Divida a massa entre as formas de muffin, e leve ao forno por 20-25minutos, até que um palito inserido em um dos bolinhos saia limpo.
  7. Deixe esfriar na forma por 15 minutos antes de retirar cuidadosamente. Termine de esfriá-los sobre uma grade antes de decorá-los. (Se eles parecerem fofos demais e difíceis de serem manuseados por uma criança, parecendo que a retirada do papel vai despedaçá-los, algumas horas na geladeira depois de decorados resolve esse problema e o papel sai super fácil.)
  8. Faça a cobertura: misture o creme, o açúcar e o sal em uma panela pequena. Limpe as laterais da panela com uma espátula molhada para retirar cristais de açúcar, pois eles podem cristalizar a cobertura depois. Cubra a panela, coloque em fogo médio e aqueça até que a mistura esteja borbulhando em toda a superfície. 
  9. Destampe, baixe o fogo para que a fervura seja branda e constante e cozinhe, sem mexer, por 1 minuto. Use a espátula pararaspar a mistura quente para uma tigela grande. Deixe que esfrie, sem mexer, até praticamente temperatura ambiente, o que deve demorar uns 45 minutos. Enquanto isso, coloque a tigela vazia da batedeira no freezer, para que esteja bem gelada na hora de bater a mistura. 
  10. Coloque a mistura na tigela gelada e ligue a batedeira com o batedor de arame. Gradualmente vá incorporando colheradas da manteiga fria, até que a mistura esteja fofa e homogênea. Se ainda parecer muito mole para confeitar um bolo, leve a tigela toda ao freezer por uns dez ou quinze minutos e bata novamente.  A mistura deve ficar firme o bastante para ficar sobre o cupcake sem escorrer. 
  11. Confeite os bolinhos frios e mantenha-os na geladeira. Pode retirar da geladeira umas duas horas antes de servir para que a cobertura fique mais cremosa e o bolinho menos gelado.

Cozinhe isso também!

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