terça-feira, 14 de abril de 2015

Sobre livros de cozinha: começando a selecionar quem fica e quem vai


Tem aquele dia em que você compra aquele vestido para o corpo que quer ter um dia, quando resolver começar a frequentar a academia que você paga há meses.

E tem aquele dia em que você compra um livro de cozinha natureba pensando em quando você vai ser aquela pessoa fantástica que faz leite de aveia e usa óleo de coco no lugar do desodorante.

Eu consegui, há muitos anos atrás, eliminar o hábito de comprar roupas para a pessoa que eu não sou mas quero ser. Eu compro o que cabe agora, no meu corpo, no meu armário, no meu estilo de vida e, principalmente, no meu bolso. Mas durante todos esses anos, continuei comprando livros de culinária para o dia em que vivesse numa fazenda e ordenhasse minha própria vaca. Para o dia em que eu recebesse quinze pessoas importantes para um jantar de oito pratos. Para o dia em que houvesse uma hecatombe nuclear e eu fosse a única pessoa que soubesse fazer pão no mundo. Para o dia em que eu fosse aquela mãe perfeita que faz refeições com carinhas felizes. Para o dia em que eu me tornasse o tipo de pessoa que leva para os amigos éclairs de chá verde e maracujá com intrincados desenhos de fondant colorido. Para o dia em que eu virasse uma avó que só faz comida italiana tradicional. Para o dia em que eu vivesse na França e tivesse acesso a queijos incríveis que nem chegam ao Brasil. Para o dia em que eu tivesse um pomar para transformar o excesso de frutas em uma parede inteira de vidros de geleia. Para o dia em que eu quisesse fazer um autêntico banquete libanês. Para o dia em que eu me tornasse aquela pessoa fantástica que faz leite de aveia e usa óleo de coco no lugar do desodorante.

E é bizarro que eu esteja escrevendo isso agora, porque eu já escrevi isso antes. Em algum lugar entre uma mudança de apartamento e outra, provavelmente quando estava grávida do Matador de Dragões ou quando ele era nenê, e tentando me livrar de pesos mentais através da expurgação de bens materiais.

Naquela época mandei embora saias curtas que achei que não usaria mais por ser mãe (ledo engano) e livros de cozinha que julgava complicados demais para o parco tempo que me restava para cozinhar. Mandei livros embora como se eu fosse ser aquela pessoa para sempre. Não deu outra, peguei quase tudo de volta da casa dos meus pais e de minha irmã.

Mas agora é um pouco diferente. Sinto que minha cozinha amadureceu. Eu já sei muito bem o tipo de coisa de que gosto e o que não gosto. Qual comida me nutre o corpo e qual me nutre o coração. E conheço minhas flutuações de humor e de paladar. E agora que não preciso mais pensar em qual prato melhor vira papinha, ou como colocar escarola no prato de uma criança que não come nem salsinha, vejo-me selecionando o que quero cozinhar de uma forma diferente. Primeiro, pelo que tenho em casa, para não gastar dinheiro à toa. Segundo, pelo que mais me apetece ao estômago. Terceiro, pelo que melhor se adequa ao tempo que tenho e à situação. Para isso, o Eat Your Books tem me ajudado MUITO. E por conta dele, tenho usado mais meus livros e revistas do que o que costumava usar.

No entanto... percebi que mesmo com a ajuda do EYB, alguns livros continuam encostados. Muitos deles. Ou porque não estão indexados ou porque suas receitas nunca se encaixam nos meus parâmetros de seleção.

Vendo meu estúdio mais entulhado em livros de receita do que em material de arte, resolvi que é hora de fazer um corte brutal na minha coleção. Porque se antes eu comprava livros loucamente, hoje em dia fuço, fuço, fuço, e não encontro nada de muito diferente daquilo que já tenho. Preciso mesmo de mais um livro com receita de pesto ou de bolo de limão? (O mesmo, aliás, vai acontecer com equipamento de cozinha: formas e utensílios sem uso por um ano irão embora.)

Tirei da estante tudo aquilo que não uso faz tempo. Apanhar alguns e sentei na cama com um bolinho de post-it coloridos na mão e marquei nos livros tudo aquilo que me apetecia, tendo ou não ingredientes, para fazer agora ou daqui a um ano, para ver se os livros mereciam ao menos serem testados. Tentei me lembrar de pratos que já tinha preparado deles e se os faria novamente. Essa é a primeira fase do processo: se nada no livro me parece suficientemente interessante para me atiçar a curiosidade culinária, então, UT.

["Ut" foi uma brincadeira idiota que surgiu na primeira mudança de casa, quando criei a "out box" para os itens que deveriam ser mandados embora. No meio da seleção, começamos a inventar sotaques, e o "out" virou "ut". E ficou. Se vai embora, vai pro "ut".]

Esses dois são campeões do vai-e-volta da casa de minha mãe:

Comecei com o Saturday & Sundays – Seasonal Weekend Menus, de Kay Francis. Um livro australiano comprado há muuuuuuuuuuuuuitos anos atrás (talvez dez?), numa época em que eu tinha uma dificuldade brutal de montar cardápios quando as pessoas vinham comer em casa.

O livro era razoavelmente centrado em carnes, e eu ainda era vegetariana. Havia muitas coisinhas doces interessantes que eu queria fazer, mas ainda sofria daquele mal de quem espera uma ocasião especial, para não "desperdiçar a receita". ¬_¬ Também olhava para opções como uma travessa de pão de centeio, queijo de cabra e rabanete com extrema desconfiança, e não acreditava que pudesse servir isso aos meus amigos na época. O tempo passou, passou, eu aprendi a montar cardápios, eu deixei de ser vegetariana, e quando fui olhar o livro de novo, as receitas já não pareciam tão diferentes de tudo o que eu preparara ao longo dos anos. Um repeteco de outros livros mais usados. Além disso, os ingredientes já não estão mais dentro da minha realidade, pois não saio mais comprando aspargos e queijos de cabra franceses e nunca na vida comprei ostras.

O QUE COZINHEI DO LIVRO?
  • Num natal em que minha mãe trouxe o tender, usei um cardápio do livro que usava porco assado da mesma forma que o tender, e preparei um relish de tomate muito gostoso e uma salada de aspargos (viu?), batatas novas e avelãs, que teria ficado deliciosa se eu não tivesse me esquecido de tirar as cascas das avelãs... :P
  • Em outra ocasião, preparei a tarte de pêssegos assados com mascarpone e base de nozes e cardamomo. Muito promissora, foto linda, mas pouco saborosa.
  • E, numa noite qualquer, uma massa com beterrabas e atum fresco, essa sim, estranha e gostosa e que veio inclusive parar aqui no blog: FETTUCCINE COM BETERRABAS, RADICCHIO E ATUM

Parece-me pouco para um livro que ficou na minha estante pelos últimos dez anos. :(

Numa primeira olhada, pensei: FORA. Aí folheando novamente, achei que havia algumas coisinhas para preparar e testar de vez o livro. Porque você fica morrendo de dó de mandar embora e morrendo de dó de perder o que pode ser sua receita favorita de alguma coisa que você nunca cozinhou. No entanto, enquanto comecei a fazer a lista de ingredientes a comprar para poder executar os pratos que marcara, percebo que é toda uma profusão de prosciutto, ricotta, queijo de cabra e coisinhas encarecedoras de orçamento doméstico, ou coisas como soufflé de queijo e cerefólio servido com bacon e cogumelos. Tipo, posso usar receitas que eu já tenho pra isso.

RECEITAS SEPARADAS PARA TESTAR:

  • panforte
  • muffins de ameixa seca, nozes e xarope de maple
  • pão de nozes
  • bruschetta com purê de berinjela, menta e alho
  • pãezinhos de especiarias com creme de mascarpone e canela (olha a coisa ficando cara com o mascarpone)

VEREDITO: UT

Agora o Nature, do Alain Ducasse, é outra história. O livro é lindo, cheio de fotos bonitas e ilustrações fofas. Até capa é fofa. De verdade. É um livro gostoso até de segurar. Maaaas... não sei quem foi a besta que sugeriu listar os ingredientes coloridos DENTRO da receita ao invés de no início, de forma ordenada. Parece uma boa ideia, mas o que acontece é que você precisa ficar caçando no texto tudo aquilo de que precisa para cozinhar, e vira e mexe, esquece alguma coisa. E no meio do preparo percebe que não tem algo crucial. Ou o título da receita sugere algo simples, até perceber que há ingredientes ali difíceis de achar ou caros, como queijos específicos, aspargos (loucamente, aspargos para todo o lado), ervas que quase nunca têm na feira, como estragão, cerefólio e azedinha, cogumelos morille (tem no santa luzia e custa um mês de supermercado), e carnes como "fromage de tête", que é um tipo de um patê, um embutido, feito da cabeça do porco. Oi? Não tem disso aqui não.

Folheio, folheio, e não tem nada que eu queira fazer. Até tem, minto. Tomates Concassés. Preciso fazer tomate concassés do Alain Ducasse? Não, tenho pelo menos mais oito receitas dos tais tomates em outros livros. Gazpacho. Idem. Panisse. Idem. Com certeza outros livros não tem Foie Gras poché com nabos. Mas tipo... olha pra mim. Pega na minha mão. Me diz que eu vou cozinhar um dia fois gras poché com nabo. Pois é.

O QUE COZINHEI DO LIVRO?

Dentro daquele problema da listagem de ingredientes, calhou que sempre faltava alguma coisa. E dentro do perfil das receitas de chefs como o Alain Ducasse, um ingrediente que falta é um sabor ou textura que não está lá, tornando o prato incompleto e insatisfatório.

  • Crêpes à la farine de sarrasin, andouille et poireaux (crepes de sarraceno com alho poró e andouille). Ok. Obviamente falta a tal andouille, um embutido especificamente francês que não se encontra aqui. Na época eu não comia carne. Poderia substituir por um salame? Não sei. Faria de novo? Não me lembro se era bom o bastante para repetir e crêpe é um negócio que hoje em dia faço sem receita.
  • Soccas et légumes d'une niçoise (um tipo de crepe de farinha de grão de bico recheado com os mesmos ingredientes de uma salada niçoise). Bom? Ótimo. Meu marido e eu adoramos. Mas tive de omitir metade da enorme lista de ingredientes que levava erva-doce, que eu nunca encontro orgânica, pimentões confit, tomates confit e tapenade (que eu teoricamente já deveria ter feito e só no meio da receita você se dá conta disso). Fiz uma salada niçoise como sei fazer e enfiei dentro dos crepes. Então é metade mérito do livro, metade meu. 
  • Cocotte de quinori, légumes croquants et pistou d'herbes (ou mais ou menos isso AQUI.) Adaptado, como sempre. Gostoso. Mas eu nem lembrava que tinha feito até dar uma busca no blog. 
  • Orge perlé, salsifis et rasins de Corinthe cuisinés ensemble. Tipo isso AQUI. Como eu disse no post, ficou interessante. Feito com cevadinha descascada como pede o original deve ficar menos rústico. Como eu fui a única que terminou o prato aquele dia, nunca mais preparei. 
  • Aubergines en clafoutis ou ISSO. Não segui a receita à risca pois era para fazer porções individuais de clafoutis, o que torna a sua vida um inferno se você precisar servir ramequins recém-tirados do forno a duas crianças pequenas. Tipo, não. Ficou bom? Ficou ótimo, como todo clafoutis doce ou salgado que sai do meu forno. Nunca comi clafoutis ruim. A mistura berinjela + queijo de cabra + manjerona é fantasticamente inovadora a ponto de eu precisar de um livro para me lembrar dela? Tipo, não. 
Faria tudo isso de novo? Acho que sim, mas da mesma forma como não segui as receitas originais, sinto que não preciso delas para reproduzi–las. Até porque, elas estão aqui no blog do jeito que eu fiz e não do jeito que estão no livro. Olho, olho, vejo coisas que quero preparar, mas a quantidade de receitas com cogumelos chanterelle e outros ingredientes que não tenho por aqui me dão preguiça de manter o livro. Assim como me dá preguiça ter que escrever uma lista de ingredientes à parte da receita para ver se tenho tudo ou não antes de começar a cozinhar. 

Algumas receitas me parecem interessantes para tentar, muitos pratos parecem deliciosos e de preparo simples... se eu ainda morasse em São Paulo, com acesso fácil a peixes frescos de qualidade, carnes confiáveis, queijos e toda sorte de ingredientes exóticos. E, claro, se estivesse ganhando três vezes mais do que ganho para bancar lagostas, cogumelos chanterelle, queijos franceses, magret de pato e afins. 

Resultado: as receitas acessíveis são parecidas com outras que tenho em outro livro, e as inacessíveis são DE FATO inacessíveis. Vale o espaço que não tenho?

RECEITAS SEPARADAS PARA TESTAR:

    • Condiment cocombre-pomme (molhinho de pepino e maçã)
    • Salade de chou blanc à loeuf mollet (salada de repolho e ovo cozido)
    • Galettes moelleuses de pommes de terre (panquequinhas de batata)

    VEREDITO: UT




    quarta-feira, 1 de abril de 2015

    Estrogonofe vegetariano 2.0


    Já falei aqui, há muito tempo atrás, como estrogonofe (strogonoff? strogonofe? stroganoff?) era um de meus pratos favoritos de infância. Que quando minha mãe o preparava, eu simplesmente desligava meu sensor de "barriga cheia" e comia até ver o fundo da panela. De novo, sabe-se já o por quê de eu ter sido uma criança rotunda. ¬_¬

    Nos meus anos vegetariana, senti muita falta daquele estrogonofe de frango. Até descobrir os cogumelos. Estrogonofe de cogumelos, apenas cogumelos, foi uma revelação. Culpa da Nigella, que tinha uma receita pra lá de sofisticada, com vinho, páprica, creme azedo... nada a ver com o molho de ketchup, mostarda e molho inglês que comi a vida toda. E por mais que aquele estrogonofe sofisticado fosse uma delícia, ele não aplacava minha saudade da infância. Daí que comecei a fazer estrogonofe de cogumelos exatamente como minha mãe fazia o de frango: ketchup, mostarda, molho inglês. Isso era felicidade pura.

    E fiquei muito tempo sem prepará-lo de novo.

    Até ver um programa da Bela Gil com o Claude Troisgros e a fome de estrogonofe aparecer de repente. Achei a receita dela ok até ver que ela não colocava mostarda nenhuma. Cadê a acidez? Cadê a picância?  Não considero mera coincidência Claude resolver meter o bedelho e botar limão e pimenta no prato.

    Mas foi só o que pensei sobre isso naquele momento.

    Até dar de cara com as duas bandejas de shiitake que eu comprara na feira uma semana antes, com o intuito de preparar um pão de cogumelos e maçã do Green Kitchen Stories, mas que, por algum motivo, não me apeteceu àqueles dias. Lembrei do arroz integral que eu descongelara e resolvi que o almoço seria estrogonofe. \o/

    Comecei a preparar como sempre faço: alho e cebola refogados em azeite e manteiga, cogumelos em fatias grossas dourando... Estava já apanhando o ketchup, quando olhei os tomates orgânicos na bancada. Pô... pensei. Por que não uso tomate no lugar do ketchup? E estava já começando a picar o tomate quando parei e me dei conta de algo muito importante:

    Tomate não é nativo da Rússia. Por que eu colocaria tomate num prato russo???

    Corri pra pesquisar enquanto os cogumelos douravam: aparentemente estrogonofe surgiu na Rússia em meados do século 19, e era só um salteado de bife com mostarda e creme azedo. A adição do tomate veio só no século 20, com a tal da batata palha.

    Hmmm...

    Fucei receitas. Eu queria uma receita sem tomate. Uma que levasse de repente ingredientes que me parecessem mais russos de fato. Difícil encontrar uma receita "tradicional", porque todo mundo anuncia sua receita como tradicional. Surpreendentemente, comecei a encontrar muitas receitas de estrogonofe de carne que levavam... beterrabas e cenouras. Taí: beterraba e cenoura são infinitamente mais russas que tomate. ;)

    Ri alto. Eu duvide-o-dó que a Bela Gil tenha substituído os tomates pela beterraba e pela cenoura por causa disso. Mas achei engraçado ela, sem querer, ter "acertado". :p

    No entanto, nas versões que encontrei por aí, esses vegetais iam igualmente salteados, como a carne, dando textura, sabor e cor, e não apenas transformados em purê.

    Com os cogumelos já bem dourados, rapidamente ralei fino uma cenoura sobre frigideira e juntei cubinhos de beterraba assada que eu tinha congelada. E fui vendo aqueles cogumelos serem envolvidos por uma doçura avermelhada. Prossegui com a receita, morrendo de curiosidade pelo resultado. Acertei a acidez no final com um pouco de vinagre de maçã.

    No prato, o molho era um pouco mais rosado, mas o sabor estava perfeito. Era um sabor de infância, o doce, o salgado, o picante, a acidez. O molho espesso misturado ao arroz, o crocante da batata-palha feita em casa. Mas era natural e leve. Servi-me de um prato bem maior do que o que costumo comer; o olho muito, muito maior que a barriga, e devorei tudo, feliz e contente. Tão, tão bom.

    Ouso dizer também que esse foi meu debut na batata-palha. Tantos, tantos anos de cozinha, e eu NUNCA fizera batata-palha em casa. Fiquei me sentindo uma trouxa por isso. Ralei duas batatas orgânicas com casca e tudo, nos furos grossos do ralador, sequei bem com papel-toalha e fritei em bateladas, em óleo bem quente, até dourar. As batatas eram tão saborosas, que não precisaram de sal NENHUM. Estava bom assim. E, guardadas em pote hermético, na geladeira, depois de esfriar, continuaram crocantes mesmo no dia seguinte.

    Fiquei tão contente com o resultado dessa refeição, que essa agora é minha receita oficial de estrogonofe. Se tiver algum descendente de russos lendo isso, no entanto, adoraria saber como você faz o seu.

    ESTROGONOFE VEGETARIANO 2.0
    Rendimento: 4 porções, acompanhado de arroz

    Ingredientes:
    • 1 cebola em fatias
    • 1 dente de alho picado
    • 2 bandejas de shiitake fatiado grosso (uns 300g)
    • 1 colh. (sopa) manteiga
    • azeite
    • 1 cenoura pequena ralada fino
    • 1 beterraba bem pequena em cubinhos, se estiver já cozida, ou ralada grosso se estiver crua
    • 1/2 colh chá paprica, sal e pimenta
    • 1 colh sopa farinha de trigo
    • 1 xic de sour cream ou creme de leite fresco
    • 1 colh sopa mostarda de Dijon ou caseira
    • 1/2 colh sopa vinagre de maçã
    • Salsinha picada
    Preparo: 

    1. Numa frigideira bem ampla, coloque uma colher de manteiga e um fio de azeite e junte a cebola e o alho, com uma pitada de sal, em fogo baixo. Cozinhe até amaciar. Aumente o fogo para médio e junte os cogumelos fatiados, espalhando bem. Tempere com um pouco de sal e deixe dourar, sem mexer muito. 
    2. Quando estiverem dourados, junte a cenoura e a beterraba e misture bem. A beterraba vai soltar um pouco de água. Se isso não acontecer e a frigideira parecer seca demais, junte mais uma colherinha pequena de manteiga ou uma colherinha de água. Misture muito bem, em fogo baixo, deixando que a cenoura e a beterraba amaciem, por um ou dois minutos.
    3. Polvilhe com a farinha e misture bem. Com o fogo no mínimo, junte o creme de leite e a mostarda. Se estiver usando creme de leite fresco, não deixe ferver, para que não talhe. Você quer apenas que ele aqueça e engrosse um pouco. 
    4. Prove. Tempere com pimenta-do-reino, acerte o sal e acrescente o vinagre de maçã. Prove de novo. Dependendo da sua mostarda e do seu vinagre, talvez queira acrescentar mais de um ou do outro. 
    5. Desligue o fogo e polvilhe com a salsinha picada. 
    6. Sirva com arroz integral e batata palha: 2 batatas orgânicas raladas grosso com casca e apertadas entre duas folhas de papel toalha para tirar o excesso de água. Frite em óleo bem quente, em bateladas.

    segunda-feira, 23 de março de 2015

    Uma sopa de quiabo e como eu reduzi minha conta de supermercado comendo melhor


    á escrevi duzentas vezes ao longo desses anos o modo como organizava minhas compras, minha despensa, minha rotina na cozinha. Mas nada culminou tanto em uma melhora na minha alimentação e na minha conta bancária quanto meus hábitos mais recentes.

    Como mencionei no post anterior, o ambiente me influenciou um bocado. Quando você tem acesso a frutas e legumes orgânicos de qualidade mas não tem a mesma sorte com laticínios e carnes, você começa a comprar mais de um do que do outro. De repente, o centro do seu prato vira o legume ao invés da proteína, de qualquer espécie. E para dar mais força a esses legumes, você se mune de grãos e cereais e castanhas e sementes, que servem de coadjuvantes para que o legume possa ter uma performance brilhante. O arroz, o feijão, a quinua, a cevada, viram veículo para transportar melhor o sabor dos legumes, ao invés de tratar o brócolis como acompanhamento do arroz. Inverti tudo.

    Daí que, ao contrário de outras épocas em que tentei me alimentar mais de grãos integrais, mas deixei estragar sacos inteiros de cevadinha, parei de usar os grãos e farinhas integrais apenas em pratos especiais para isso e os incorporei de vez ao meu dia-a-dia. Comecei a tentar usar a maior quantidade de legumes por refeição e a maior quantidade de grãos e farinhas integrais por semana possíveis. E evitar usar a farinha branca como se a guardasse para uma ocasião especial – ou seja, o contrário.

    E a comida no supermercado ficou tão cara, que parei de comprar enlatados e comecei a fazer tudo em casa. O tomate orgânico da feira de fato ficou o mesmo preço do italiano enlatado. Nunca mais comprei tomate em lata. Ou feijões. Iogurte é feito em casa. Queijo cottage é feito em casa. Pão é feito em casa, a não ser pelo ocarional pão francês, quando não deu tempo de fazer mais. Não compro sucos, mas também não faço. Fruta é pra comer de dentada, não pra beber. Quando é pra beber, vira vitamina, que é lanche ou café da manhã, e não acompanhamento pra mais comida. Suco, só limonada. Limonada rende e não estufa a barriga durante a refeição. De resto, só água. Ou chá. Feito em casa, com pouco ou nenhum açúcar. Chá gelado dá pra fazer de litro, e dura uma semana na geladeira. As crianças levam pra escola. De hibisco, de erva-doce, de chá-verde com laranja, preto com limão, de hortelã, de casca de abacaxi...

    Comecei a ler livros sobre como as pessoas se alimentavam durante a guerra e tive vergonha de deixar comida estragar. Pirei com a possibilidade de usar mais dos alimentos do que eu usava. E comecei a usar cascas de vegetais e aparas para fazer caldo de legumes, comecei a congelar a água do cozimento de feijões e grãos e verduras para usar em sopas, ensopados, para cozinhar arroz, e assim economizar água da torneira e consumir mais sabores e nutrientes. Comecei a cozinhar com partes de alimentos que eu não sabia que podiam ser consumidos, como a casca da manga, da banana, talos de espinafre e de couve, folhas de cenoura, de beterraba, de nabo, de rabanete... Isso transforma a cenoura que você compra em dois ingredientes diferentes, e vai fazendo render suas refeições e cortando sua conta do mercado. Não precisa comprar espinafre quando as folhas de beterraba estão bonitas, por exemplo.

    Ao mesmo tempo em que voltei a comer carne, me interessei pela cozinha vegan, macrobiótica, sem glúten, natureba em geral. E comecei a ver boas substituições e opções. E, ao invés de ir ao mercado comprar leite, comecei a suar as amêndoas que tinha em casa para fazer leite de amêndoas, e ao invés de comprar farinha de trigo, comecei a usar outras farinhas diferentes. Essa gama de opções em casa me fez ir menos ao supermercado. Indo menos ao supermercado para comprar um item que faltava, comprei menos por impulso daquilo de que minha despensa não precisava. De quebra, tornei minha comida ainda mais variada.

    E, impulsionada pela condição árida da minha conta bancária de ilustradora no ano passado, quando, por conta da Copa do Mundo, quase nada de trabalho apareceu, comecei a passar uma semana por mês sem ir ao mercado ou à feira. Nesta uma semana sem compras, dou-me a missão de dar fim a tudo que permanece abandonado no freezer ou na despensa. Seja uma sopa de legumes esquecida, seja aqueles últimos 50g de macarrão de arroz que não dá nem pra uma porção, seja o vidrinho de pasta de trufas que minha irmã me trouxe de viagem e que estava fadado a ser guardado para uma ocasião especial até enfim estragar. Esse hábito diminui muito seu desperdício, pois você de fato faz a rapa no armário e na geladeira, estimula sua criatividade e evita que você compre itens supérfluos, duplicados, caros, desnecessários. Faz você olhar para aquele vidro de qualquer coisa em conserva que você comprou há quatro anos e julgava suuuuuper importante para a sua cozinha e descobrir que não, você nunca mais precisa comprar aquilo de novo. Faz você parar de ficar economizando ingrediente especial para uma ocasião especial pra convidados especiais, e começa a transformar o almoço de terça feira em algo especial por causa daquele ingrediente diferente. Mesmo que seja só pra você.

    Certo dia, resolvi fazer as contas e descobri que andava gastando 30% menos em comida, apesar de comprar quase tudo orgânico e de qualidade. Quase caí sentada de espanto.

    30% é muita coisa. Principalmente quando você lembra que alimenta duas bocas a mais.

    A verdade é que cozinhar em casa é mais barato. E cozinhar legumes é mais barato. E cozinhar saudável é mais barato. A verdade é que você não precisa comprar um pacote de 20 reais de quinua pra comer bem. Arroz integral tá mais que bom e é mais em conta. Não precisa de queijo importado. Um cottage feito em casa sai o preço de um litro de leite. Infinitamente mais em conta do que a porcaria cheia de goma vendida em potes plásticos. E melhor pro seu corpinho lindo e da sua família.

    De vez em quando me dou um presente. Saí e comprei um salame artesanal de porquinhos felizes. Bem mais caro que um da grande indústria. Mas bem mais gostoso. Bem melhor para meu corpinho, para o da minha família e, claro, para os porquinhos que viraram salame.

    Continuo comprando macarrão de grano duro italiano. Mas faço menos macarrão.

    Gasto uma fábula em cacau orgânico. Mas cozinho menos doces.

    Dá trabalho? Bom, trabalhar para ganhar dinheiro também dá. Se é para ter trabalho, prefiro um que me dê saúde. Trabalhar mais para pagar por conveniências que te deixam, no fim, doente... hmmm... prefiro não. Ganho menos mas faço leite de coco em casa.

    Houve gente no facebook que me perguntou sobre minha rotina de compras. Então lá vai: uma vez por mês, mais ou menos, dou uma abastecida nos grãos, leguminosas, castanhas e sementes. Se puder, já cozinho pacotes inteiros de feijões e congelo em porções de 500ml. Só me abasteço de novo quando realmente estou sem opções. Enquanto houver mais de duas variedades de grãos ou feijões, não compro mais nenhum. O objetivo é sempre limpar a despensa e o freezer. Acabo indo ao mercado para compras mais pontuais durante a semana, como para comprar leite, manteiga ou café, itens que não podem esperar eu acabar com a geladeira para sair para comprar. Mas tento não comprar mais nada além do item faltante, a não ser que seja uma promoção fenomenal, como quando encontrei bom chocolate orgânico por metade do preço de um belga. Mas minha regra é só ceder a essas promoções quando são itens que duram bastante. Vou à feira, na banca de orgânicos, uma vez por semana. E compro verduras e frutas e ervas para um batalhão. Quanto mais variedade, melhor. Lá também compro ovos. No mesmo dia já "processo" tudo o que dura mais assim: lavo e seco todas as ervas e verduras, já boto aparas no saco do caldo de legumes no freezer, asso beterrabas, separo folhas de espinafre dos talos (que, assim como as cenouras e outras raízes, duram mais sem as folhas), pelo e congelo tomates muito maduros.

    E aí vai a dica: assim que tenho tudo organizado, faço uma lista de todos os itens frescos na cozinha (legumes, verduras, frutas, laticínios ou outros produtos que estragam rápido) e deixo na porta da geladeira. Isso me ajuda a visualizar melhor o que tenho para o almoço sem precisar abrir a geladeira e, de repente, esquecer a berinjela que ficou embaixo do alface. Também corro para o Eat Your Books, ou a internet, e tento encontrar alguns pratos que usem uma boa variedade daquilo que comprei, começando a procurar sempre pelos itens que estragam mais rápido ou que são mais especiais. Escolho alguns pratos para fazer durante a semana e anoto embaixo da lista de produtos na porta da geladeira. Assim, num dia mais atrapalhado, eu consigo em lembrar do que planejara cozinhar e consigo me manter organizada, preparar partes com antecedência, etc.

    Quando fui à feira semana passada e vi os quiabos, pequenos e bonitos, lembrei do espinafre que estava na geladeira e precisava ser usado A.S.A.P. Imediatamente pensei na sopa que tomara na viagem a Trinidad e Tobago. Aproveitei que tinha de passar no mercado para comprar leite, e comprei também um coco seco para fazer leite de coco. Chegando em casa, apanhei o livro de cozinha Trini que comprara lá e descobri que a receita levava carne de porco e caranguejo e fiz o que mais tem me ajudado a economizar hoje em dia: adaptei com o que tinha em casa. Isso é novo para mim. Morei a vida toda a dez passos de bons mercados e, se faltasse um ingrediente super específico, frufru e caro, eu corria para comprar. Hoje, não mais. Se só faltou UM ingrediente para o almoço, e dá pra adaptar, eu NÃO SAIO para comprar. É o único momento da minha vida em que acho a preguiça um benefício.

    Transformei a sopa num caldo vegan. Usei óleo de coco no lugar de manteiga, refoguei tudo (coisa que não se faz em cozinha africana normalmente, descobri, e a sopa original faz parte da origem africana em Trinidad), mudei proporções segundo o que eu tinha (mais quiabo do que espinafre), e o resultado foi uma sopa deliciosa, que Madame Bochechas repetiu e repetiu e repetiu (ela adora quiabo, e come inclusive cru). Meu Matador de Dragões gostou e queria comer mais, mas a pimenta que coloquei por engano era mais forte do que eu previa, e o pouco que ele conseguiu comer foi acompanhado de um grande copo de leite. O único que comeu mas não gostou foi o marido. Pudera, ele odeia quiabo. E essa é uma sopa para adoradores de quiabo. Sua textura tem uma ligeira viscosidade e seu sabor é um equilíbrio delicioso entre o quiabo, o espinafre e o coco. Pretendo fazê-la muitas vezes mais. Desta vez foi acompanhada de pão sueco caseiro. Outra coisa infinitamente mais barata de fazer em casa (e fácil). Pagar 9 reais em meia dúzia de lascas de pão sueco ninguém merece.


    SOPA DE QUIABO E ESPINAFRE
    Rendimento: 4 porções pequenas, como entrada ou para ter um acompanhamento

    Ingredientes:

    • 1 colh. (sopa) óleo de coco
    • 1 cebola picada
    • 2 dentes de alho picados
    • 1/2 pimenta fresca, picada (com ou sem sementes, variedade à sua escolha)
    • 2-3 ramos de tomilho fresco, só as folhas
    • 250-300g de quiabo, cortado em rodelas, cabinhos descartados
    • 2 xícaras de folhas frescas e espinafre, apertadas na xícara para medir
    • 1 xic. leite de coco (de preferência caseiro)
    • 1 xic. água
    • sal e pimenta-do-reino a gosto
    • um punhado de cebolinha picada


    Preparo:

    1. Aqueça o óleo de coco numa panela média, em fogo médio e junte o alho, a cebola, a pimenta e o tomilho. Misture bem e polvilhe uma pitada de sal. Refogue, mexendo às vezes, até a cebola murchar um pouco. 
    2. Junte o quiabo em rodelas e misture bem por um minuto ou dois, até que o quiabo esteja bem encoberto de tempero.'
    3. Junte o espinafre, misture uma ou duas vezes, e acrescente o leite de coco e a água. Misture, deixe levantar fervura, abaixe o fogo e tampe. Cozinhe por cerca de 15-20 minutos, até que o quiabo esteja bem macio e a sopa mais encorpada. 
    4. Junte metade da cebolinha e bata no liquidificador até que fique homogêneo. Volte à panela, acerte o tempero de sal e pimenta, aqueça novamente e sirva, quente, polvilhada com cebolinha.  

    A receita do pão sueco vai de brinde, depois do povo pedir pelo facebook. As crianças adoraram levar de lanche na escola, pois é salgado e crocante. Perfeito com queijos e maçãs. Se seus filhos não estão acostumados aos sabores fortes de especiarias, omita ou diminua o cominho, que tem um gosto bastante assertivo nesse pão.

    PÃO SUECO DE CENTEIO
    (Quase nada adaptado do EXCELENTE Vegetarian Everyday, de David Frenkiel e Luise Vindahl, do blog Green Kitchen Stories)
    Rendimento: 12 pães

    Ingredientes: 

    • 1 xic. água morna
    • 2 colh. (chá) sal marinho
    • 3 colh. (chá) fermento ativo seco
    • 2 colh. (sopa) sementes de cominho
    • 1/2 xic. buttermilk (os autores dizem que pode-se usar kefir, mas usei soro do queijo cottage, e você pode juntar leite com uma colherinha de vinagre, ou afinar iogurte natural com água)
    • 1 2/3 xic. farinha integral de centeio
    • 1 1/2 xic. farinha integral de trigo (original era spelta, que não se encontra por aqui)
    • 1/4 xic. sementes de linhaça, esmagadas num pilão
    • 2 colh. (sopa) flor de sal ou qualquer sal de grânulos maiores


    Preparo:

    1. Numa tigela média, coloque a água, o sal, o fermento, metade das sementes de cominho e misture. Junte o buttermilk. 
    2. Numa outra tigela, misture as farinhas. Junte metade delas à mistura líquida. Gradualmente junte mais das farinhas, misturando até que você consiga sovar. Dependendo da textura das suas farinhas, ou da umidade do ar no dia, talvez seja preciso colocar mais farinha de trigo integral. Acrescente bem aos poucos. A massa não pode grudar nas mãos, mas também não pode ficar seca como massa de macarrão. 
    3. Sove por alguns minutos dentro da tigela. Então divida em 12 bolinhas iguais, coloque numa superfície enfarinhada e cubra com um pano úmido. Deixe descansar por 1 hora.
    4. Pré-aqueça o forno a 205ºC. Coloque uma das bolinhas numa folha de papel-manteiga e abra com um rolo, até virar um disco de 20cm. Os discos devem ficar BEM finos. Corte um circulozinho no dentro, para garantir que vai ficar crocante por igual (não jogue fora, você pode assar todos os circulozinhos no final, como biscoitinhos). Polvilhe com a linhaça moída, sementes de cominho e sal. Espete o disco com um garfo, por toda a superfície, e transfira para a assadeira. Repita com o restante. 
    5. Dependendo da assadeira, podem caber de 2-3 pães por vez. Asse cada assadeira por 8-10 minutos, até que estejam castanhos e crocantes. Fique de olho, pois queimam muito rápido
    6. Transfira para uma grade para que esfriem. Frios, guardados em pote hermético, duram meses. 

    quarta-feira, 4 de março de 2015

    Um bolo de limão com cream cheese para uma natureba mas nem tanto


    Até agora me pergunto o que foi que aconteceu. Eu sempre torci o nariz pra gente que fazia pesto com semente de abóbora, gente que fazia biscoito com farinha de arroz sem ser intolerante a glúten, gente que botava couve no suco. Pra quê, meu deus? Pra quê patê de tofu, se você pode usar ricotta? Por que estragar um bom sushi com arroz integral?

    Ahn...

    Porque é gostoso.

    Ok. Por partes. A primeira vez que caí num blog mega natureba, com spaghetti de quinua e brownie de batata doce, eu também me senti pessoalmente ofendida. Era como se aquela pessoa me dissesse que toda uma tradição culinária não prestava. Era como cuspir no meu fettuccine alfredo porque a massa era de trigo e o molho, de manteiga. Como se todo o meu esforço em comer direito o que eu julgava (e continuo julgando) natural não fosse o bastante. Mas também havia um ranço de "essa pessoa é melhor do que eu porque ela consegue não comer açúcar". A gordinha com baixa-estima dentro de mim se ressentia desse povo magro de cabelo brilhante que toma suco de couve. A sensação era bem essa. Viva na minha memória, a sensação adolescente de olhar meus amigos que não se entupiam de bolacha Bono e ficar criando desculpas a respeito do meu peso, por exemplo. Desculpas do tipo "é meu biotipo, eu sou grande, tenho dificuldade de emagrecer, meu metabolismo é lento..." Um monte de bobagens que me impediam de de fato levantar a bunda do sofá, parar de comer porcaria e ir atrás do que eu queria. Tão mais fácil ficar xingando quem consegue como se aquelas pessoas saudáveis fossem infelizes, esquisitas, problemáticas. E não eu. Infeliz no meu sofá, morrendo de inveja dos outros.

    Tive filhos. Com filhos, tive um impasse. O dilema entre criar lindas memórias afetivas recheadas de bolos e pudins e biscoitos, fantasia que habitara minha mente desde que comecei a cozinhar, e a preocupação em criar hábitos saudáveis, em criar dois pequenos seres humanos que prefiram frutas, que gostem de verduras, que saibam comer bem.

    As refeições de repente tinham horários, a rotina estava instituída, e meus filhos aprenderam a não beliscar o dia todo, como eu fazia na minha infância. Lanche tem hora. E no lanche eles comem, mas eu raramente tenho fome, e preocupada em dar conta de outros afazeres enquanto eles estão quietinhos comendo, eu acabo não comendo aquela fatia de pudim. Depois do almoço ou do jantar, enquanto eles comem sobremesa na mesa da cozinha, seja doce ou seja fruta, eu lavo a louça. E, nesse hábito, esqueço de pegar um pouco de sorvete.

    Vou lembrar que o doce existe às nove da noite, três horas após o jantar e uma hora e meia depois de colocar as crianças na cama. Mas se eu tiver aberto uma boa cerveja stout, vou achar que o bolo não combina, e vou deixar para amanhã. Só para repetir tudo de novo e, dessa forma, passar meses sem comer um doce e nem perceber.

    Esse foi um processo estranho. Um processo inconsciente e sem intenção que fez com que, ao longo dos últimos anos, eu mudasse muito meu jeito de comer. Essa desintoxicação do doce, que eu costumava comer duas, três vezes por dia, somada a um crescente interesse pelos sabores dos grãos e farinhas integrais, o fato de ter mudado para um lugar onde não consigo comprar carnes ou peixes com frequência, e, enfim, o fato de o preço dos meus queijos favoritos estarem pela hora da morte... tudo isso contribuiu para a mudança na minha cozinha.

    E de repente eu tinha todos os ingredientes para alguma receita extremamente natureba que eu vira num blog ou na tv, e resolvo tentar. E de um dia para o outro me vendo colocando chia e tahini nas coisas. E fazendo leite de amêndoas. E maionese de castanha de caju. E patê de tofu. E mousse de chocolate com abacate. E suco com couve. Meu deus, até o sushi com o arroz integral.

    E adoro quando acaba a farinha de trigo e eu não me desespero porque tenho que ir a São Paulo comprar mais farinha orgânica. Fico duas semanas sem comprar e ainda consigo fazer panquecas e waffles e crepes e biscoitos e bolos. De quinua, de teff, de sorgo, de amaranto, de cevada, de centeio, de milho.

    E quando acaba o creme de leite, posso engrossar uma sopa com castanha de caju, porque lembro que quem é vegan faz creme de leite com ela. E aprendo a cozinhar sem ovos quando estou sem. E aprendo a cozinhar sem queijo quando está muito caro.

    Mas o que mais aprendi nesse último ano foi como eu funciono bem assim. Como essa comida super natureba melhorou minha pele, meu cabelo, meu peso pós-crianças. Minha mãe vinha em casa e ficava preocupada, achando que minha porção de comida era muito pequena. E eu explicava que aquele monte de grãos integrais e legumes me mantinham saciada por mais tempo, apesar de deixar o estômago leve. E, de fato, eu só tinha fome de novo na hora do jantar. Vontade ZERO de beliscar.

    Ok, muita coisa pra fazer pra lembrar de beliscar.

    Sinto-me tão, tão bem, que me dá vontade de voltar a me proclamar vegetariana. Mas deixo pra lá os rótulos porque é simplesmente mais fácil fazer tantas refeições vegetarianas ou veganas que eu queira, e, no dia que der vontade, comer um sanduíche de mortadela. Ninguém me impede. Nunca assinei contrato nenhum. ;)

    E isso eu também aprendi. Que comida natural faz bem, desde que não deixe você estressado a respeito. Eu não penso mais duas vezes na estranheza que é só comprar arroz agulhinha integral mas fazer risotto de arroz arbóreo, branco daquele jeito. Confesso, se tivesse arroz arbóreo integral pra comprar, compraria. Mas se não tem, adoro meu risotto branquinho. Quando vou à minha mãe, como arroz branco e como frango orgânico à milanesa. Me esbaldo, aliás, porque fez parte da minha infância aquele franguinho.

    No mesmo dia em que  me faço um suco de couve depois da corrida, preparo também iogurte, leite de amêndoas e sorvete de doce de leite. O almoço é cevadinha com pesto de brócolis e abacate, e o jantar é a "crustless pizza" da Nigella. Assisto a programas da Bela Gil beliscando prosciutto e tomando um negroni. Quero preparar o pernil desfiado da Rita Lobo e as trufas de tâmara do Green Kitchen Stories. Sobre a mesa da cozinha, há biscoitos sem glúten feitos com farinha de teff e um bolo de limão que levou 600g de açúcar orgânico e um monte de cream cheese na massa.

    Há quem diga que isso é loucura, que não tenho consistência. Com certeza, hoje, tenho prazer na minha comida. Não tenho invejinha do povo do suco de couve e não desdenho quem nunca comeu quinua. Quero fazer brownies de batata doce e vou preparar minhas próprias linguiças tão logo encontre os intestinos para comprar. Comida é comida e para mim só não pode ser trakinas e miojo. Mas se eu estiver morrendo de fome e um amigo querido me oferecer cebolitos, vou comer e agradecer a gentileza. Se o único cream cheese disponível tem goma, vou comprar um a cada seis meses e não toda semana.

    Enquanto isso, me esbaldo com cuidado nesse bolo, que é tudo aquilo que sempre foi perdição para mim. Bolo perfumado e incrivelmente macio, daqueles que você come um pedaço, e outro e outro. Recomendo preparar e levar para dividir com amigos.

    A menta na cobertura é tão sutil que pode ser omitida se você não tiver. Única mudança que faria da próxima vez é usar da técnica da Dorie Greenspan e incorporar a casca do limão já esfregada no açúcar, para liberar os óleos essenciais e espalhar melhor na massa. Da forma como estava na receita, de juntar na massa pronta, a casca formou gruminhos que não se espalharam uniformemente.

    PS: vi um post engraçadíssimo no Facebook sobre um povo que foi preparar uma refeição inteira da Bela Gil e gastou uma fortuna e ficou horas na cozinha. Ri muito, mas lembro que quando fui fazer minha primeira refeição indiana, gastei os tubos com especiarias porque não tinha nada em casa e demorei horrores só pra separar os 17 temperos que iam em cada um dos pratos. Falta de hábito. Se você vai se enveredar por qualquer cozinha que não aquela com a qual você cresceu, vai gastar dinheiro para estocar a despensa com os básicos e vai demorar até pegar o jeito das preparações. Seja cozinha natureba, francesa, indiana, chinesa, vegana, alemã, o que for. Concordo muito com as críticas à Bela Gil como apresentadora, torço o nariz pra muita coisa que ela diz, mas continuo defendendo a comida, que é uma delícia, independente das meias informações que ela fala e das confusões que se arranja. Se você está de saco cheio dela mas quer explorar esse tipo de cozinha, recomendo os seguintes sites (em inglês):

    Green Kitchen Stories (um dos meus favoritos, os livros são ótimos)
    Deliciously Ella (achei recentemente e adorei. Os videos dela do youtube são fofos.)
    Naturally Ella (também descoberta recente.)
    Sprouted Kitchen (um pouco menos natureba comparado com os de cima)
    101 Cookbooks (sempre, sempre confiável, as receitas da Heidi viravam até papinha das crianças)
    Canelle et Vanille (não é vegetariano, mas é gluten free e lactose free, e uma delícia)

    No momento, a Bela Gil para mim é uma boa opção por usar ingredientes brasileiros, apesar de tudo. Se você tiver uma boa indicação de site natureba brasileiro, por favor deixe aqui nos comentários. Obrigada! :D

    "POUND CAKE" DE CREAM CHEESE E LIMÃO
    (Do sempre ótimo Baking for All Occasions, de Flo Braker)
    Rendimento: 1 bolo grande

    Ingredientes:

    • 3 1/4 xic (370g) farinha de trigo*
    • 1/4 colh. (chá) bicarbonato de sódio
    • 1/4 colh. (chá) sal
    • 255g manteiga sem sal, em temperatura ambiente
    • 225g cream cheese, em temperatura ambiente
    • 3 xic. (600g) açúcar
    • 6 ovos grandes, em temperatura ambiente, levemente batidos
    • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
    • 2 colh. (chá) casca ralada de limão
    • 3 colh. (sopa) suco de limão

    (glacê)

    • 90ml água
    • 2 colh. (chá) casca ralada de limão
    • 2 colh. (sopa) suco de limão
    • 2 colh. (sopa) manteiga
    • 1/4 xic. folhas de hortelã apertadas na xícara
    • 1 1/4 xic. + 2 colh. (sopa) (140g) de açúcar de confeiteiro


    Preparo:

    1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte generosamente com manteiga uma forma Bundt ou uma forma de furo no meio com capacidade para 12 xícaras. Polvilhe com farinha e retire o excesso.
    2. Peneire numa tigela a farinha, bicarbonato e sal. Em outra, esfregue o açúcar e a casca de limão com os dedos, para liberar os óleos. 
    3. Na tigela da batedeira, bata a manteiga e o cream cheese em velocidade média por 30-45 segundos, até que fique cremoso e uniforme. Vá acrescentando o açúcar com a casca de limão aos poucos, batendo por uns 5 minutos, até que fique bem claro e fofo.
    4. Vá juntando os ovos batidos devegar, de 2 em 2 colheres (sopa), batendo sempre, não demorando mais que 3 minutos para juntar tudo. 
    5. Junte a baunilha e o suco de limão. Não se preocupe se a mistura parecer talhada. Vá juntando a farinha e batendo em velocidade baixa, apenas até que a farinha tenha sido incorporada, raspando o fundo da tigela com uma espátula de vez em quando.
    6. Transfira para a forma e asse por 1h15 minutos, ou até que um palito saia limpo ao ser inserido no meio. Confira quando der 1 hora, pois o bolo pode já estar pronto. 
    7. Retire do forno e deixe sobre uma grade por 10 minutos antes de desenformar. Enquanto isso, faça a cobertura.
    8. Numa panela pequena, coloque a água, a manteiga, o suco de limão e folhas de hortelã. Leve ao fogo baixo apenas até que a mistura borbulhe nos cantos, desligue e deixe quieto por alguns minutos. Pressione as folhas com as costas de uma colher contra a lateral da panela, para liberar os óleos, e descarte. Junte à mistura de manteiga o açeucar e a casca de limão e misture bem. Desenforme o bolo e use um pincel para espalhar o glacê sobre todo o bolo quente. Deixe esfriar completamente antes de servir. 



    *Ela pede "cake flour". Meça a farinha de trigo. Para cada xícara, retire 1 colh. (sopa) e substitua por 1 colh. (sopa) amido. Misture bem com um fouet.

    terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

    Borcht com Pirochki, para quem não vive sem legumes


    As coisas andam tão corridas, que esse era para ser um post de Reveillon, veja só. Com resoluções e o caramba. Engraçado como um mês depois você já se dá conta de que resoluções não levam a nada e que o melhor é simplesmente viver sua vida da melhor forma possível e não encanar muito com as coisas. [Viu? Isso era uma das resoluções, tentar ser menos dura, e levar as coisas de um jeito mais leve – só pra dizer que essa resolução tem beirado o impossível de manter.]

    E tive mesmo de não encanar muito nos últimos meses, pois fui absorvida pelo trabalho durante as férias escolares, com direito a duas viagens internacionais que soaram bem mais interessantes do que foram de fato. Precisei de muita a ajuda de marido, mãe e sogra, para poder dar conta de tudo e basicamente qualquer atividade que eu tivesse planejado para janeiro (que era para ser minhas férias) teve que ser cancelada.

    Agora o trabalho está um pouco mais tranquilo e as crianças voltaram para a escola, e estamos todos ainda nos adaptando à nova rotina, agora que a pequena Madame Bochechas também tem aulas. Consigo trabalhar a manhã toda, e um pouco mais à tarde, porque os dois cochilam após o almoço. (Aleluia!)

    E tenho mais tempo para pensar melhor as refeições do meio da semana e até mesmo para voltar a fazer pão com regularidade.

    E se as viagens a Trinidad não foram aquela coisa maravilhosa de dias no Caribe que as pessoas esperavam quando eu contava do trabalho, valeu para poder organizar a cabeça de novo e me dar conta de coisas nas quais não havia ainda prestado atenção.

    Após uma reunião de três horas, o cliente pediu almoço para a equipe na sala de conferência antes da reunião seguinte... de três horas. Sempre que pediam comida no escritório a mistura era mais ou menos a mesma: algo indiano, algo chinês, algo com sotaque africano. Sempre um peixe ou uma carne com um molho doce e bem apimentado, algum curry, algum arroz ou macarrão chinês com legumes.

    Muito gostoso. Comi bem todos os dias.

    Mas não foi assim com todos nós. A equipe era chamada de "Nações Unidas", porque era composta de uma brasileira (eu), uma norueguesa, um romeno, um guatemalteco, um peruano e um chinês. O guatemalteco, logo notei, nunca comia nada. Naquele dia, havia um pãozinho indiano simples e delicioso, para ser comido junto com um curry que quase me fez lamber o prato. O rapaz comia apenas o pão.

    O peruano lhe perguntou a respeito de sua dificuldade com a comida local.

    "Não gosto de comida apimentada. Ou com muitos temperos. Não consigo comer."
    "A comida na Guatemala não é apimentada?", perguntei.
    "Não, é bem neutra de temperos, na verdade."

    Pela localização geográfica, presumi que fosse muito quente na Guatemala, e que por isso, lá também, como todos os locais quentes, muita pimenta fosse usada. Mas não, a Guatemala é a "terra da primavera eterna", ele me explicou. E a comida reflete o clima ameno.

    "Mas o que seria o básico da comida de lá? Do que você sente falta?", perguntou o peruano.
    "Ah... feijão. Eu preciso de feijão. Se não tem feijão no meu prato, não é uma refeição", disse ele.
    "Feijão? Hum... Para mim é arroz. Acho muito estranho não ter arroz. Fica faltando alguma coisa, não satisfaz", disse o peruano. "E você, Ana?"

    Pensei um pouco.

    "Como brasileira, acho que seria a combinação dos dois. No Brasil, pelo menos no sudeste, acho que arroz e feijão juntos são muito importantes."

    Eles pareceram satisfeitos com essa resposta, mas eu, não. Continuei a comer meu curry de vagens, chuchando o pãozinho no molho cremoso e apimentado, e matutando no assunto. O que torna minha refeição uma refeição de fato? O que não pode faltar no meu prato? Do que mais sinto falta quando estou fora da minha casa?

    Carne? Não, não preciso de nenhuma.
    Arroz? Neh.
    Feijão? Neh.
    Queijo? Nem isso.

    A resposta me surpreendeu um bocado e me encheu de satisfação ao mesmo tempo: verduras. Preciso de verduras e legumes no meu prato. Sempre. Nem que seja apenas uma folha de alface num sanduíche de queijo. Um pouco de couve para acompanhar o arroz com feijão.

    Uma vez fiz uma frittata de mortadela da Nigella, que, apesar de deliciosa, causou-me muita estranheza: depois de uma vida fazendo frittata de legumes e verduras, ver proteína com proteína daquele jeito me pareceu pesado e redundante, e senti falta de algo bem verde e leve para suavizar a refeição. Posso comer um prato inteirinho de verduras e legumes, e para mim é almoço completo. Mas um prato sem eles parece tragicamente abandonado no meio do caminho.

    Essa constatação me deixou muito feliz comigo mesma. Como disse a meu marido outro dia, parece que hoje, mesmo comendo carne eventualmente, eu poderia ser uma vegetariana melhor do que jamais fui. Consegui chegar num ponto em que realmente estou satisfeita com a minha alimentação. Meu prato me faz levantar da mesa leve e cheia de energia.

    E fico contente vendo os pimpolhos seguindo o mesmo caminho.

    Depois de pastar um bocado com o Matador de Dragões nos seus Terríveis Dois Anos, quando ele não queria provar nada verde e empurrava o prato para longe, e berrava e não comia e me deixava louca, finalmente posso simplesmente preparar o almoço com a maior quantidade de legumes e verduras possíveis, e não ficar muito encanada se aquilo será aceito ou não pelas crianças.

    Porque mesmo que sem entusiasmo, eles pelo menos provam. Um influenciado pelo outro. Madame Bochechas passou voando pela fase do "não quero-não gosto", já que quer imitar o irmão, e se o irmão está comendo quiabo, então ela vai comer quiabo também. Ou Laura recebe palmas por comer toda a couve, e o ciúmes faz com que Thomas leve um garfo cheio de couve à boca, pedindo palmas também.

    Às vezes tenho que me refrear e não ficar tão encanada com o fato de eles comerem tudo do prato ou não. E simplesmente fazer festa por terem provado algo novo. As broncas acontecem mais quando a brincadeira é tanta à mesa, que cotovelos batem em garfos e comida sai voando pelos ares. Ou quando Laura resolve colocar comida atrás da orelha.

    Mas de vez em quando eles me surpreendem. Muito. Como quando você coloca à frente deles uma tigela de Borcht e pasteizinhos de repolho e eles comem sem titubear, sem pedir ajuda, viram as tigelinhas na boca e pedem mais, chucham os pasteizinhos no caldo púrpura brilhante, perguntam o que são as sementinhas ali dentro (alcaravia), repetem os nomes como conseguem e se esbaldam, quase não deixando nada para papai e mamãe.  

    Penso de novo nisso de "cardápio infantil" ou "paladar infantil" e acho tudo uma grande bobagem. Vejo os dois tomando sopa de beterraba com repolho e comendo frutas de sobremesa e fico contente, acreditanto que eles também vão sempre buscar colocar uma folhinha de alface dentro de seus sanduíches de queijo. E que, principalmente, no dia em que estiverem na Tailândia, ou no Japão, ou na França, ou na Alemanha, ou em qualquer lugar do mundo, ou mesmo na casa de um amigo, nunca vão passar fome ou recusar comida de um anfitrião generoso. E essa perspectiva me deixa muito feliz.

    Esse Borcht é vegetariano, olhe só. Eu sempre achei que Borcht levasse uma tonelada de carne. Só que não. Pelo menos essa versão. Essa sopa é mais saborosa e mais leve do que parece. Em temperatura ambiente, foi refeição em dias de calor brutal. O certo é colocar creme azedo por cima, mas uma colherada generosa de iogurte firme também serve. E não deixe de fazer os pasteizinhos, que são fáceis e deliciosos. E tanto a sopa quanto os pastéis congelam maravilhosamente bem. Foi minha saída, pois só no meio do preparo dei-me conta de que fazia Borcht e Pirochki para DEZ PESSOAS. o_O

    BORCHT com PIROCHKI (vegetariano)
    (do livro Culinária Ilustrada Passo a Passo, Legumes e Verduras, da PubliFolha)
    Rendimento: 8-10 porções

    Ingredientes:
    (Borcht)

    • 1 repolho de 1,5kg, cortado em quartos e fatiado bem fino
    • 2 cenouras médias, picadas
    • 3 cebolas médias, picadas
    • um punhado de endro, picado
    • um punhado de salsinha, picada
    • 750g tomates, pelados e picados grosseiramente
    • 6 beterrabas médias, cozidas (ou assadas), descascadas e raladas grosso
    • 60g manteiga
    • 2 litros de caldo de galinha ou água
    • 1 colh. (chá) açúcar
    • suco de 1 limão
    • 2-3 colh. (sopa) vinagre de vinho tinto
    • 125ml creme azedo (sour cream), para servir

    (Pirochki)

    • 60g queijo minas
    • 2 colh.(chá) sementes de alcaravia (kümmel)
    • 175g farinha de trigo
    • 1 ovo
    • 60g manteiga sem sal, amolecida
    • 2 colh. (sopa) creme de leite
    • 1 ovo para pincelar


    Preparo:

    1. Depois de picado o repolho, reserve 1/2 xic. de chá para rechear os pirochki.
    2. Para a massa dos pastéis, coloque a farinha numa tigela com a manteiga, o ovo e o creme de leite, 1/2 colh (chá) de sal e misture com a ponta dos dedos, juntando a farinha aos outros ingredientes aos poucos, até obter uma farofa grossa. Forme uma bola.
    3. Polvilhe uma superfície com farinha e sove a massa sobre ela por 1-2 minutos, até ficar bem lisa e soltar da superfície e dos dedos. 
    4. Embrulhe bem a massa em filme plástico e deixe na geladeira por 30 minutos. 
    5. Enquanto isso, faça a sopa. Derreta a manteiga em uma panela BEM GRANDE. Acrescente a cenoura e a cebola e cozinhe, mexendo, por uns 5 minutos, em fogo baixo, até os legumes fiquem macios, sem dourar. Retire 1/4 dos legumes passados na manteiga para o recheio dos pirochki.
    6. Junte à panela o repolho, a beterraba, o tomate, o caldo (ou água), açúcar, sal e pimenta a gosto e deixe abrir fervura.
    7. Abaixe o fogo e cozinhe por 45-60 minutos. Prove, corrija o tempero, se necessário, e adicione mais caldo ou água se a sopa estiver muito grossa (dependendo da panela, pode secar muito rápido, então fique de olho!). Desligue o fogo e reserve enquanto prepara os pirochki. Na hora de servir, junte as ervas picadas, o suco de limão e o vinagre e acerte o tempero. 
    8. Para o recheio dos pirochki, coloque o repolho reservado em uma tigela, cubra com água fervente e deixe ficar 2 minutos. Escorra, passe por água fria e escorra de novo, espremendo bem com as mãos. Pique finamente.
    9. Misture o repolho picado, o queijo, as sementes de alcaravia e as cenouras e cebolas refogadas. Tempere com sal e pimenta. 
    10. Polvilhe uma superfície com farinha e abra a massa com rolo até 3mm de espessura. Recorte discos de massa com um cortador ou um copo de borda fina. Deve render de 25-30 discos, mais ou menos. 
    11. Use uma colher de chá para colocar o recheio no centro dos pastéis. Pincele as bordas com um ovo batido com 1/2 colh. (chá) de sal. Feche bem os pasteizinhos em forma de meias-luas e coloque em uma assadeira. Pincele-os com o ovo batido. Leve à geladeira por 15 minutos.
    12. Aqueça o forno a 200ºC. Quando o forno estiver quente, asse os pastéis por 15-18 minutos, ou até que dourem. 
    13. Sirva os pastéis ao lado do borcht quente ou em temperatura ambiente, com uma colherada de creme azedo por cima. 






    quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

    De volta às aulas com o cliché do bolo de banana... com quinua


    Hoje minha pequena princesa viking, Madame Bochechas, teve seu primeiro dia de aula. Entre olhinhos marejados (os meus, não os dela) e sorrisos, meus pimpolhos se aventuram em mais um ano de descobertas. Meu Matador de Dragões mal lembrou de dizer tchau pra mamãe, empolgado que estava em rever os amiguinhos. E eu, descobrindo que ele já terá aulas de inglês esse ano, sinto-me agradavelmente madura. Meu deus, meu filho mais velho já vai aprender inglês! o_O

    Esse ano, sinto-me mais focada. E, cheia de foco, e reanimada pela retornado apetite dos pimpolhos, pretendo me empenhar mais nos lanches da escola esse ano. Principalmente por ter tido a boa surpresa de ver outras mães da escola querendo boicotar os sucos de caixinha e fazer um esforço coletivo para enviar lanches mais saudáveis aos pequenos, já que eles tendem a compartilhar e as bolachas em pacotes coloridos com personagens sempre chamam mais atenção que o bolinho feito em casa ou os palitos de cenoura.

    Preparei esse bolo delicioso ontem à noite depois que as crianças foram dormir. Tão, tão fácil. Acho que bolo de banana é um cliché em lanche de escola, e eu mesma fiz tantas versões nos últimos dois anos, que enjoei e fiquei meses sem preparar nenhum. Aí me vi reservando bananas para um bolo novamente.

    E bolo de banana com quinua é ótimo. Claro, poderia ter feito sem, outra receita qualquer. Afinal, pimpolhada come quinua numa boa, e os dois têm experimentado e comido sem grandes traumas a maioria das naturebices integrais que coloco no prato deles. Mas ando muito mais interessada na contribuição que essas mesmas naturebices dão ao sabor e à textura dos doces, do que apenas em seu valor nutricional.

    Montei as lancheirinhas feliz da vida. Depois de um ano inteiro de lanches voltando inteiros, achei que a maldição do "lanche do amigo" teria acabado. Ledo engano. Laura atacou o lanche dela assim que chegou em casa, pois hoje foi dia de adaptação e ela só ficou lá até a hora do recreio. Thomas estava super contente quando fui buscá-lo, apesar do novo rombo no joelho, cheio de curativos.

    E ousei perguntar...

    "Comeu o lanche, Thomas?"
    "Ahn... não."
    "Não??"
    "Ahn-ahn."
    "Tomou o suco?"
    "Sim."
    "Comeu o melão?"
    "Não."
    "Mas VOCÊ pediu o melão!"
    "Mas eu não quero melão."
    "Comeu o bolo?"
    "Também não."
    "Por que não?"
    "Porque não quero."
    "E o que você comeu?"

    ...

    "O lanche do amigo."
    "E o que o amigo levou de lanche?"
    "Bolacha doce."

    ¬_¬

    Bom... a vida é assim.

    Ele volta da escola, come o que tem no almoço, e no lanche da tarde ataca o bolo de banana e o melão com gosto. E a vida segue. E estou só esperando como vai ser com Madame Bochechas.

    De qualquer forma, a Pat estava certa quando disse que eu ia adorar o livro de onde saiu esse bolo.

    BOLO DE BANANA, NOZES E QUINUA
    (Do ótimo SuperGrains, de Chrissy Freer)
    Tempo de preparo: 1 hora
    Rendimento: 1 bolo (8 porções)

    Ingredientes:

    • 1 1/2 xic. de farinha de trigo
    • 1 colh. (chá) canela em pó
    • 1 colh (sopa) fermento químico
    • 1 pitada de sal
    • 2/3 xic. quinua em flocos (comum ou vermelha)
    • 1/2 xic. de nozes picadas
    • 2 xic. banana amassada
    • 2 ovos
    • 1/2 xic. mel (ou melado)
    • 1/4 xic. sour cream
    • 1/3 xic. óleo vegetal 


    Preparo:

    1. Unte ligeiramente uma forma de bolo inglês de 21cm e forre o fundo com papel manteiga. Pré-aqueça o forno a 180ºC. 
    2. Numa tigela, peneire farinha, fermento, canela e sal. Junte a quinua em flocos e 1/3 xic. das nozes e misture.
    3. Em outra tigela, junte o restante dos ingredientes até ficar mais ou menos homogêneo.
    4. Junte o conteúdo das duas tigelas e misture até não ver mais farinha. Despeje na forma, alise a superfície, polvilhe o restante das nozes e leve ao forno por 45 minutos, ou até que esteja dourado e um palito saia seco quando inserido no meio. 
    5. Retire do forno, deixe esfriar na forma por 10 minutos, desenforme e deixe esfriar completamente antes de fatiar. 


    terça-feira, 13 de janeiro de 2015

    Um mini-aviso para os desavisados

    Quem tem facebook sabe que o blog anda super ativo por aquelas bandas (https://www.facebook.com/lacucinetta). Quem não tem, deve achar que o blog morreu.

    O blog não morreu.

    Eu juro.

    Estou apenas atolada em trabalho desde o começo de dezembro e sem NENHUM tempo de escrever um post comprido.

    Logo, paciência.

    Eu volto assim que possível, mais provavelmente em fevereiro. ;)

    Beijos a todos os meus leitores queridos.

    terça-feira, 16 de dezembro de 2014

    Couscous integral com ervas thai e cebola caramelizada, abóbora assada e acelga suíça, e depois de um ano com carne o que é que rola


    Quando resolvi voltar a comer carne, sabia que a mudança, tonta que fosse, causaria todo um fuzuê. Primeiro, entre leitores do blog. Houve quem ficasse empolgado com a possibilidade de ver receitas carnívoras por aqui e houve quem me escrevesse num tom de extrema decepção. Teve gente que parou de ler. Ainda bem, a grande maioria deu tanta importância quanto se eu dissesse que parei de tomar sorvete de uva. Né? Ok.

    Dentre os meus amigos, foi uma mini comoção. Decepção entre os vegetarianos (alguns veganos ficaram chocados) e comemoração entre os carnívoros. Há uns dez anos atrás, no auge do meu vegetarianismo fajuto e de minha militância, li um blogueiro de quem gostava muito dizendo que fora vegetariano por 20 anos e então simplesmente resolvera voltar a comer bife e estava feliz assim. Minha reação foi parecida com a de meus amigos e alguns leitores: sensação de decepção porque aquela pessoa não foi forte o bastante. A alegria dos carnívoros é o oposto: a felicidade em saber que você foi fraco. "Ah, eu sabia que você ia voltar!" Tudo muito bobo. Hoje eu sei.

    Já minha mãe ficou aliviada. Disse que estava ficando sem ideias do que fazer para os meus filhos. O que eu achei muito bizarro, considerando que arroz, feijão, espinafre e ovo frito (que é o que ela mais prepara) é uma bela refeição e nunca me pareceu incompleta. Mas foi falar "oooook, eu voltei a comer carne" que de repente todo dia em que eu ia à sua casa tinha alguma. Era frango, era boi, era porco, o que fosse. De um dia para o outro, uma casa que havia aprendido a ser 70% vegetariana, parecia o festival da carne. Tudo uma delícia, e eu não vou fazer desfeita para minha mãe. Mas me fez matutar.

    Dizer "eu voltei a comer carne" parece ter um significado diferente para mim que para os outros. Para mim, queria dizer que, não havendo uma boa opção de verduras no local onde estivesse, eu não passaria mais fome. Queria dizer que, num dia em que eu estivesse afim, poderia comprar um pedaço da carne que fosse para testar alguma técnica culinária que me deixou curiosa por todos esses anos à base de legumes e tofu.

    E só.

    O que me surpreendeu foi que, para os outros, voltar a comer carne não quer dizer o beslisquete ocasional que eu tinha em mente, mas se espera sim que eu coma todo dia, almoço e jantar. Oito ou oitenta. Povo tendo dificuldade de entender o meio termo. Se você diz que come castanhas, não quer dizer que coma todo dia. Certo? E você diz que como sorvete de uva, não quer dizer que queira um agora ou que seja obrigado a tomar sorvete de uva sempre que tiver um na minha frente.

    Parece óbvio, mas pior foi perceber que não é. Achei essa expectativa meio engraçada, e me dei conta de que essa era a fonte da confusão dos meus amigos, toda vez que saíamos para comer.

    O caso é que nisso de todo mundo achar que eu havia mergulhado no açougue, acabei sim comendo mais carne (porco, boi, aves) do que eu pretendia. Amigo chamava para comer... carne. Mãe chamava pra almoçar... carne. Justo naquela semana em que você havia comprado um pedacinho de algum bicho pra cozinhar dum jeito especial no meio de uma semana que deveria ter sido vegana. Mas não foi.

    E isso foi uma experiência... interessante.

    Primeiro, concluí que as carnes de fato voltaram a agradar meu paladar. Ainda que não de todo jeito. Preparara um dia um frango com melado que ficara delicioso, e, num churrasco, pediram para que preparasse novamente. Chego no mercado, o frango orgânico sumiu. Fiquei besta de ver como frango de granja é barato (barato que sai caro) e resolvi preparar a receita com o frango comum. Povo adorou, mas eu que tinha sentido o gosto do mesmo tempero num frango feliz, senti uma diferença brutal. E não fui só eu: minha irmã também. Como disse um chef na Menu desse mês, frango de granja tem gosto de poleiro. Um gosto plástico, químico, qualquer coisa esquisita que nem melado e muito alho conseguiram esconder. Se é caro, prefiro comer frango uma vez por ano, mas que seja orgânico. Frango de granja, nunca mais na vida. XP

    Segundo, e esse segundo é o mais importante de todos... concluí que eu funciono infinitamente melhor... sem carne. (Vegetarianos mega felizes lendo isso.)

    Pois é. Depois de alguns meses comendo mais carne do que comi  nos últimos dez anos, percebi que prefiro me manter 90% vegetariana. A carne faz com que meu corpo não funcione tão bem. Muda o cheiro do meu suor, a textura da minha pele, o meu hálito, muda meu estômago, meu intestino, muda principalmente meu estado de ânimo. Nesses últimos meses fiquei mais irritadiça e mais letárgica. E não fui só eu. Nada como ter crianças em casa, que foram vegetarianas por toda a sua longuíssima vida, comendo carne com frequência, pela primeira vez. Laura adora qualquer coisa que tenha andado ou nadado. Thomas parece mais fã de porco e frutos do mar (adorou lula, e comeu mexilhões na praia com curiosidade), mas parece rejeitar aves e carne bovina. O resultado da comilança não-vegetariana vê-se mais rápido do que em adultos: eles ficam com a barriguinha toda desregulada (constipados pelo excesso de proteína e depois desandados pelo de gordura) e ninguém, NINGUÉM quer chegar perto da fralda da pequena. :P Argh.

    Definitivamente prefiro carne uma vez por mês. Se tudo isso. Idem pros pimpolhos. Continuo querendo fazer bouef bourguignon, mas sabendo que vai ter porco no Natal, prefiro dar uma desintoxicada e voltar para os meus adorados legumes. A carninha fancesa vai esperar mais um pouco.

    Nesse meio tempo, ando cada vez mais adorando explorar tudo quanto é tipo de naturebice. Depois de uma semana viajando a trabalho e uma semana na praia – quinze dias a base de proteína e carboidrato – não via a hora de voltar pra casa e comer minha comida, cheia de frutas, verduras e coisinhas integrais. ^_^

    Essa refeição, de couscous, abóbora e verduras, é exatamente o tipo de coisa que gosto de comer todos os dias. Leve, colorida, interessante, cheia de sabores e texturas. Ok, abóbora com gosto de abóbora foi demais para o marido. ;) Mas a pimpolhada comeu bem. O couscous é super perfumado e saboroso, e eu que sou fã de abóbora e de qualquer verdura escura, caí de amores por essa refeição.

    Madame Bochechas, aliás, minha pequena adoradora de pancetta, ganhou um novo apelido do pai. Princesa? Ok. Mas não a Branca de Neve. Bianca di Lardo. Mais apropriado. ;) E a pequena Bianca di Lardo, depois de raspar o prato e ir brincar com o irmão, resolveu voltar e me fazer companhia enquanto eu lavava a louça. Ouço ela arrastando a cadeira e se empoleirando em cima. Ouço talheres. Olho para trás e pego a mocinha puxando a travessa de acelga suíça refogada em alho e gengibre para perto de si e dando uma garfada. E outra. E eu fiquei olhando, e eventualmente peguei a câmera para registrar o momento em que minha filha, Ex-Catadora de Salsinha, termina de comer quase 3 xícaras de verdura verde e amarga. Por livre e expontânea vontade.


    Acho que não sou só eu que prefiro um bom prato de verdura. ^_^

    COUSCOUS INTEGRAL COM ERVAS THAI E CEBOLA CARAMELIZADA, acompanhado de ABÓBORA ASSADA E VERDURAS COM GENGIBRE
    (Ligeiramente adaptado do ótimo Whole Grains for the New Generation, de Liana Krissoff)

    Ingredientes:
    (abóbora)

    • meia abóbora japonesa pequena, sem sementes, cortada em cunhas, com a casca
    • azeite
    • sal e pimenta-do-reino

    (couscous)

    • 2 colh. (sopa) manteiga sem sal
    • 1/2 cebola, em meias luas bem finas
    • sal
    • 1 xic. couscous marroquino integral
    • 2 folhas de limão kaffir (confesso que usei da lima da pérsia do quintal), fatiadas fino
    • 1/4 xic. coentro picado
    • 1/4 xic. menta/hortelã picada
    • 1/4 xic. manjericão (comum ou tailandês)

    (verdura)

    • 1 maço de acelga chinesa, acelga suíça ou a verdura escura de sua escolha, cortada em tiras de mais ou menos 1cm de largura, incluindo os talos
    • 2 dentes de alho, fatiados fino
    • 1 pedaço de uns 3cm e gengibre, descascado e picado
    • óleo vegetal
    • sal


    Preparo:

    1. Aqueça o forno a 200ºC. Tempere a abóbora com azeite, sal e pimenta e disponha numa assadeira, em camada única, e, de preferência, com algum espaço entre as cunhas, para que assem e não cozinhem no próprio vapor. Leve ao forno. O tempo de cozimento vai depender do tamanho das cunhas e da idade da abóbora, então fique de olho depois de uns 15 minutos, e assim que dourar um lado, tire do forno, vire as gunhas e volte ao forno para dourar o outro também. Está pronto quando um garfo espetar a abóbora como se ela fosse um purê. 
    2. Coloque água para ferver.
    3. Para o couscous derreta a manteiga em uma panela média e junte a cebola e uma pitada de sal. Cozinhe em fogo médio-baixo, mexendo sempre, até que as cebolas estejam bem douradas e quase crocantes (demora cerca de 10 minutos). Retire e reserve.
    4. Na mesma panela, coloque o couscous, as folhas de limão kafir, 3/4 colh. (chá) de sal e 1 1/2xic. de água fervente. Misture bem, cubra a panela e desligue o fogo. Deixe quieto por 10 a 15 minutos, até que o couscous tenha absorvido a água e esteja fofinho. Junte o restante das ervas, a cebola caramelizada e afofe com um garfo.
    5. Para as verduras, coloque um pouco de água com sal para ferver. Quando ferver, mergulhe as verduras na água por 1 minuto ou 2, (se os talos das verduras forem muito duros, coloque-os uns 2 minutos antes das folhas), retire e reserve.
    6. Aqueça uma frigideira grande. Coloque nela um fio generoso de óleo, o gengibre e o alho, e quando começar a querer dourar, junte as verduras escorridas. Tempere com sal e pimenta e misture bem para que as folhas se recubram do tempero. Sirva imediatamente. 






    terça-feira, 4 de novembro de 2014

    Chamemos as coisas pelos nomes delas: pavê de banana


    Minha mãe, dia desses, deu-me de presente um pacote de "biscoitos champagne" de uma marca italiana que ela encontrara, e cujos ingredientes eram ingredientes de verdade, sem nenhuma traquitana nojentinha. Imediatamente olhei para aquilo e pensei TI-RA-MI-SÙ. Porque meus filhos nunca comeram tiramisù e está mais do que na hora.

    Fui feliz e contente ao supermercado procurando mascarpone, apenas para cair sentada com o fato de 200g de mascarpone brasileiro custarem 40 reais. Uma sobremesa de 40 reais. Acho que não. Pensei em tentar fazer o mascarpone em casa, mas confesso que me deu uma preguiça de gastar também bons 20 reais em creme de leite fresco, sem saber se daria certo ou não.

    Suspirei, decepcionada, e voltei para casa.

    E lá, os biscoitos me esperavam. E também bananas. Muitas delas, olhando para mim e dizendo que não aguentariam o calorão por muitos dias mais.

    Lembrei do banana pudding da Magnolia Bakery, que eu sempre quisera preparar. Porém... e esse é um porém que sempre me incomodou... a receita original usa, além de biscoitos, banana, creme de leite e leite condensado... pudim de baunilha instantâneo.

    OK.

    Claro, eu já estava usando biscoito comprado, por que não usar pudim comprado de uma vez? Bom... porque eu caí sentada de novo quando li a quantidade de ingredientes impronunciáveis e asquerosos que vão nos pudins instantâneos (edulcorante xyz, acessulfato do quê diabos??). O pudim de baunilha que eu faço em casa (desses de comer de colher) leva 5 ingredientes: leite integral, creme de leite fresco, amido de milho, açúcar orgânico e fava de baunilha (ou açúcar baunilhado e extrato natural, tudo caseiro, quando não tenho a fava).

    Daí que fiquei morrendo de vontade de banana pudding, mas com a certeza de que jamais prepararia a receita original.

    Antes de ficar deprimida, no entanto, resolvi que faria minha própria versão. Melhor, não sei. Nunca comi o tal banana pudding da Magnolia. Com melhores ingredientes? Sem sombra de dúvida. Delicioso? Opa! Muuuuito! :D

    Mas banana pudding o caramba. Chamemos as coisas pelos seus nomes: pavê de banana, que é o que é de fato, com gosto de comida de vó, para aquele dia em que você quer um docinho bem docinho pra comer na sua tigelinha favorita, enroscada no sofá, vendo um filme gostoso. Digno de virar clássico aqui em casa. Estou pensando agora em como posso criar variações, com um nadinha de rum no pudim, ou um limãozinho nas bananas, para um toque ácido... Canela? Chocolate? Cardamomo, de repente? Hmmm... Vamos ver.

    Nem consigo imaginar quão doce é a sobremesa original, pois leva leite condensado além de todo o açúcar contido na mistura em pó instantânea. Deve ser de cair os dentes. Minha versão, com apenas 3/4 de lata de leite condensado, já ficou bastante doce. Como disse, doce tipo sobremesa de vó brasileira. ;) Para quem quer algo mais suave, sugiro usar apenas meia lata. Para quem quer bem doce, lata inteira.

    Lembre-se de deixar o pavê na geladeira por no mínimo 4 horas. Melhor ainda se for de um dia para o outro, pois não apenas o pavê firma, como o creme absorve maravilhosamente o sabor da banana.

    Nonna em treinamento, doce de vó.

    PAVÊ DE BANANA
    Rendimento: 8-10 porções

    Ingredientes:

    • 1 pacote de biscoitos tipo champagne caseiros ou de sua marca favorita
    • 4-5 bananas maduras mas ainda firmes (usei bananas prata)
    • 1 1/2 xic. leite integral
    • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
    • 1/4 xic. amido de milho
    • 1/4 colh. (chá) sal
    • 1/2 fava de baunilha (ou 1/2 colh. sopa de extrato natural de baunilha)
    • 3/4 lata de leite condensado (ou a gosto)


    Preparo:

    1. Dissolva o amido em 1/2 xic. do leite dentro de uma panela. Junte o restante do leite e do creme de leite e o sal.
    2. Abra a meia fava com a ponta da faca e raspe as sementes para dentro da mistura de leite. Junte a fava aberta. 
    3. Leve ao fogo médio e cozinhe, mexendo sempre, até que ferva. Abaixe o fogo, misture bem por 1 minuto, deixando engrossar, e desligue o fogo. Junte o leite condensado, mexendo bem para que fique bem incorporado. (Se estiver usando extrato de baunilha, junte agora.)
    4. Escolha uma travessa refratária, de vidro ou cerâmica, que comporte pelo menos 2 camadas do pavê. Reserve 3 biscoitos para a farofa de decoração.
    5. Disponha uma parte do restante dos biscoitos, em camada única, dentro da travessa. Fatie as bananas em rodelas de não mais que 0,5cm, e disponha uma parte delas sobre os biscoitos, em camada única. Despeje uma parte do creme quente sobre as bananas, cobrindo bem. Repita as camadas, até terminar com creme, cobrindo bem todas as bananas, para que não escureçam. Pique na faca os biscoitos restantes, até obter um farofa grosseira, e polvilhe por cima. Leve à geladeira por no mínimo 4 horas. 




    terça-feira, 28 de outubro de 2014

    Orecchiette de couve-flor com azeitonas pretas e o vôngole que não foi


    Se existe um hábito que meus filhos estão pegando de mim é o de folhear livros de culinária. Aliás, tudo o que Madame Bochechas não curte assistir a desenhos com o irmão, ela gosta de ver programas de culinária comigo. Gordice corre no sangue.

    Noutro dia, estou folheando um dos lindos livros da Rachel Khoo, com os dois pimpolhos olhando e me perguntando o que é cada item das fotos, meu Matador de Dragões enfia o dedo assertivo sobre uma fotografia de um prato de vôngole e ervilhas.

    "Que é esse?"
    "Vôngole. Von-go-le."
    "Côncole?"
    "É um bichinho, que vive dentro da concha, no fundo do mar. A gente cozinha e come o bichinho de dentro da concha. Essa parte aqui, ó."

    Naquele momento eu me preparei para o famoso "eeeeeeeeeeca".
    Mas não.

    "Hmmm! Delí-shia!", exclamou.
    "Você quer comer vôngole, Thomas?"
    "Hm-rum!"
    "Jura? Quer que a mamãe compre e prepare?"
    "Sim!"

    Eu tinha ervilhas-tortas. Tinha spaghetti. Tinha creme de leite e até um resto de Calvados eu tinha. Todos os ingredientes menos o vôngole. E eu não ia deixar escapar a oportunidade de fazer os pimpolhos experimentarem algo novo e que eu imaginava tão difícil de fazer uma criança apreciar.

    Dois dias depois, dia de feira. Demorei anos para encontrar bons lugares para comprar peixe, e na época em que morava nos Jardins, havia já estabelecido uma boa relação com o peixeiro da feira de quinta, que, descobri depois, era também quem fornecia para o Alex Atala. Nunca tive problemas com ele, e foi ele quem me vendeu meus primeiros mariscos, fresquíssimos, com cheiro de maresia. (Dizem que ele pretendia abrir uma peixaria. Preciso ir atrás disso.)

    Fiquei triste quando saí de São Paulo e perdi meu peixeiro. Não consigo confiar nas carnes e peixes dos mercados de onde moro. Nada parece super fresco. Dei um voto de confiança ao peixeiro da feira, muito simpático, apesar do salmão dele sempre parecer meio velho e os camarões sempre estarem com a cabeça caindo.  Eu usava do que conheço e escolhia o que havia de mais fresco, de preferência a partir do peixe inteiro, para que eu pudesse averiguar as escamas, os olhos, as guelras.

    Aí um dia eu comprei uma bandeja de pescada. E quando fui empanar, ela se desmanchava nos meus dedos. Cheiro de mar sujo. Peixe estragado. Fiquei fula da vida, reclamei, acontece, ficou por isso mesmo.

    Nesse dia de feira, resolvi dar outro voto de confiança. Afinal, vôngole é fácil de checar se está bom: se estiver aberto antes de cozinhar, está estragado. Se não abrir depois de cozinhar, também. Pedi um punhado generoso de vôngole e ainda especifiquei que pretendia dar aquilo aos meus dois filhos pequenos.

    "Está bem fresquinho?"
    "Sim, estão super vivos!", disse ele.

    Ele embalou e levei para casa, feliz e contente. Havia dito ao pimpolho que prepararia o bichinho da conchinha, ele ficara bastante empolgado.

    Em casa, abro o saquinho. Um odor pungente me atinge o nariz, como um vento num porto sujo em dia quente. Fico sem saber se aquilo é normal. Não preparava vôngole havia muitos anos, desde antes do Thomas nascer, e não me lembrava de como eles cheiravam.

    Resolvi colocar de molho para tirar a areia. A água começou a ficar bem suja, e quando fui escorrê-los, percebi que metade estava aberta. Ao levar uma das conchas abertas ao nariz, ficou claro que aquilo era cheiro de bicho morto. Comecei a separar todos os abertos e jogar fora. Então deixei de molho de novo. E em dez minutos havia mais um punhado deles abertos, e o cheiro persistia.

    Eventualmente, sobraram pouco mais de dez vongolezinhos, de 1kg que eu comprara. Mas eu já não queria mais comer aquilo, muito mais dar para meus filhos.

    Fui buscar Thomas na escola e expliquei que o vôngole estava estragado e que não seria possível comê-los, mas que eu cozinharia um apenas para que ele visse como era por dentro.

    Ele achou linda a conchinha fechada e ficou vidrado no bichinho aberto. Deixei que pegasse na mão e observasse. E, quando pensei que ele acharia tudo aquilo muito estranho, perguntou:

    "Pode comer?"
    "Não, meu amor, esse não está bom pra comer."
    "Aaaaaaaaaah..."
    "Mas mamãe vai comprar um que esteja bom pra você experimentar, ok?
    "Aah... tá bom."

    E lá fui eu improvisar almoço para uma criança que nunca deixa de me surpreender. E o almoço foram conchinhas que nunca me decepcionam. Ou orelhinhas. ;)

    Esse prato de orecchiette é muito simples, mas muito, muito gostoso, leve e fresco. Usei a couve-flor no lugar do usual brócolis, e, ao invés de anchovas, pensei nos ingredientes de uma tapenade de azeitonas, pois couve-flor combina maravilhosamente bem com azeitonas pretas. Pimpolhada raspou o prato de qualquer forma (Madame Bochechas ADORA couve-flor), e lá vou eu agora começar a também comprar peixe em São Paulo e trazer na térmica, porque aquele peixeiro da feira eu não quero nunca mais olhar na cara.

    ORECCHIETTE COM COUVE-FLOR E AZEITONAS PRETAS
    Rendimento: 4 porções

    Ingredientes:

    • 320g orecchiette
    • 1 couve-flor pequena, cortada em floretes médios
    • 1/4 xic. azeite
    • 2 dentes de alho fatiado
    • alguns raminhos de tomilho fresco
    • pica umas 10 azeitonas pretas bem picadinhas
    • um punhado de salsinha bem picadinha
    • suco de meio limão (siciliano de preferência, mas pode ser tahiti)
    • parmesão ralado na hora (ralado fininho)


    Preparo:

    1. Leve bastante água salgada à fervura, junte os floretes de couve-flor e cozinhe apenas até que estejam al dente. Retire com uma escumadeira e pique em pedacinhos pequenos (não maiores que o macarrão). Reserve. Cozinhe o macarrão na água da couve-flor.
    2. Numa frigideira grande, aqueça o azeite e junte o alho e o tomilho em fogo baixo. Quando o alho amaciar e começar a soltar perfume (sem dourar) junte a couve-flor picada. Misture bem e cozinhe mexendo de vez em quando. Você quer que a couve-flor termine de amaciar, mas não doure. 
    3. Junte à couve-flor as azeitonas, salsinha, suco de limão, misture e cozinhe por apenas 1 minuto.
    4. Escorra o macarrão, reservando 1/4 xic. da água do cozimento. Junte essa água e a massa à couve-flor, com mais 1/4 xic. de parmesão e 1 fio de azeite. Misture bem e acerte o tempero. Sirva imediatamente com mais parmesão por cima.


    Cozinhe isso também!

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