quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Barras de doce-de-leite, chocolate e amendoins caramelizados, porque o que são calorias, afinal?

A definição de fim de ano deveria ser algo como "período durante o qual o indivíduo passa metade de seu dia em confraternizações, comendo e bebendo tudo aquilo que não pôde comer durante os meses anteriores, apenas para que no mês seguinte, também chamado 'início de ano', ou 'alto verão', possa resmungar a respeito de sua falta de restrição e de auto-controle, enquanto aperta e aponta os pontos excessivamente curvilíneos de seu corpo para os amigos."

Porque é verdade. Fim de ano é isso mesmo. A gente enfia o pé na jaca com muito gosto, e nem lembra que janeiro é aquele mês, aquele fatídico mês em que sua pança redonda finalmente verá a luz do sol (e será vista por muita gente, também).

No espírito do "quem se importa??", então, eis o doce mais gordo que fiz nos últimos tempos: Uma base de biscoito, doce e amanteigada, uma camada cremosa de doce-de-leite, salpicada de amendoins salgados inteiros, caramelizados, uma cobertura de chocolate meio-amargo e aqueles mesmos amendoins caramelizados transformados quase em uma farofa por cima de tudo. Praticamente um ataque cardíaco.

Quem se importa?

A receita é de Dorie Greenspan, e se chama "Snickery Squares", pois eles são uma versão... MELHOR? ... é, com certeza uma versão melhor do "chocolate" Snickers. [Pelo menos nos EUA eles têm alguma noção e chamam isso de "candy bar", ao invés de "chocolate". Já no Brasil, chama-se qualquer pedaço de porcaria de chocolate e a galera acredita...] Aqui acho que poderíamos chamá-los de "Quadrados Charge", mas eu nem sei se esse "chocolate" ainda existe. Existe? Assim que servi as barrinhas a amigos, sem mencionar nada sobre seus ingredientes ou seu nome, veio o primeiro comentário: " Pô, é que nem Charge!"

As barras ficaram muito boas mas bastante doces. Na verdade, tão doces quanto os tais "candy bars". Pessoalmente, prefiro uma doçura mais sutil. Para quem tem uma predileção por doce-doce, no entanto, esse é um prato cheio.

SNICKERY SQUARES
(do livro Baking – From My Home to Yours, de Dorie Greenspan)
Tempo de preparo: 1h30
Rendimento: 16 quadrados


Ingredientes:
(massa)
  • 1 xic. farinha de trigo
  • 1/4 xic. açúcar
  • 2 colh. (sopa) açúcar de confeiteiro
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 8 colh. (sopa) manteiga sem sal gelada, cortada em pedaços pequenos
  • 1 gema de ovo grande, ligeiramente batida
(recheio)
  • 1/3 xic. açúcar
  • 3 colh. (sopa) água
  • 1 1/2 xic. amendoins salgados, sem pele
  • 1 1/2 xic. doce-de-leite cremoso
(cobertura)
  • 200g chocolate meio-amargo cortado em pedaços
  • 4 colh. (sopa) manteiga sem sal em temperatura ambiente

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e unte com manteiga uma forma quadrada de 20cm.
  2. Coloque a farinha, os açúcares e o sal no processador e pulse algumas vezes para misturar. Junte os pedaços de manteiga gelada e pulse até formar uma farofa grossa. Junte a gema de ovo e pulse apenas até que se formem pelotas úmidas e amarelas, sem deixar a massa se transformar numa bola.
  3. Coloque a massa na forma e pressione-a até que preencha todo o fundo da forma. Espete com um garfo toda a superfície e leve ao forno por 15-20 minutos, ou até que esteja ligeiramente dourada nas bordas. Sem tirar da forma, deixe esfriar sobre uma grade.
  4. Forre uma assadeira com um tapete de silicone ou papel-manteiga e deixe ao seu lado. Coloque o açúcar e a água numa panela média e leve a fogo médio-alto, mexendo até dissolver o açúcar. Então pare de mexer e deixe em fogo médio até que comece a tomar cor.
  5. Junte os amendoins e mexa com uma colher de pau (abaixe o fogo se começar a queimar), para recobrir os amendoins com o caramelo. Continue mexendo por alguns minutos, até que o caramelo comece a derreter novamente em torno dos amendoins e fique cor de âmbar.
  6. Despeje os amendoins sobre a assadeira forrada e espalhe com a colher de pau. Deixe esfriar completamente.
  7. Quando estiverem frios, quebre em pedaços menores e divida a porção ao meio, deixando metade inteiros e metade picando fino.
  8. Espalhe o doce de leite sobre a base de biscoito e espalhe os amendoins inteiros sobre o doce-de-leite.
  9. Derreta o chocolate em uma tigela em banho-maria. Retire do fogo e junte a manteiga, mexendo bem até que esteja homogêneo. Espalhe o chocolate sobre o doce-de-leite, alisando com uma espátula. Polvilhe com o amendoim picado e leve à geladeira para firmar por no mínimo 20 minutos. Sirva em temperatura ambiente ou, se quiser servi-los gelados, refrigere por pelo menos 3 horas antes de cortá-los. Corte 16 barras de 5cm de lado.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Geleia de amoras com gostinho de obsessão

Depois que a conserva de ameixas deu certo [está bem vedada, e até agora não mostrou nenhum sinal de estar estragando], fiquei bastante empolgada com a ideia de conservar comida, e saí fuçando e marcando em meus livros todas as receitas de geleias, compotas, chutneys, molhos, picles e afins. Quero fazer tudo! Ainda mais agora que percebi que não preciso fazer quantidades imensas. Posso fazer um vidrinho só de cada coisa, sem o risco de estragar um monte de comida.

Comprara na feira uma bandejinha de amoras grandes e bonitas, mas elas não estavam tão doces quanto eu esperava, e não estavam gostosas para serem comidas ao natural. Enquanto esmiuçava meus livros, deparei-me com uma das dezenas de receitas de geleia de amora, e resolvi testar aquela específica com as amoras que eu abandonara em minha geladeira.

Eu gosto de receitas precisas, e fico passada quando me vejo numa situação de dúvida, ingredientes nas mãos, panela no fogo, sem saber como prosseguir. Dividira a receita em três, uma vez que só tinha 2 xícaras de amoras, 1/3 da quantidade de frutas requeridas. Coloquei-as na panela com a maçã, separei o açúcar e o suco de limão... e fiquei na dúvida. A receita pedia para COBRIR as amoras com até 1cm de água. Hmmm... isso quer dizer colocar só 1cm de água na panela, ou cobrir as amoras e ultrapassar 1cm?

Erroneamente, escolhi a segunda opção. Em seguida, a receita indicava para medir o suco obtido das amoras e acrescentar uma quantidade X de açúcar para cada Y de suco. É claro que eu obtivera mais suco do que deveria, uma vez que colocara mais água também do que deveria. Prossegui, e no que a autora indicava que aos 220ºF a geleia estaria pronta, entornei-a no vidro esterelizado, fervi-o e guardei-o.

No dia seguinte, descobri que minha geleia estava mais para um xarope: completamente líquida.

Sem nada em meus livros que indicasse o que fazer nesse caso, pensei haver perdido minhas preciosas frutas e meu tempo. Mas não, depois de alguma pesquisa na internet, descobri que se a geleia não deu ponto, você pode sim retirá-la do vidro e consertá-la. Provavelmente havia pouca acidez na minha geleia, uma vez que a autora pedia suco de limão siciliano e eu usara um limão tahiti, com muito menos suco, e também deveria ter deixado ferver um pouco mais. Coloquei um pouco mais de suco de limão e açúcar, e deixer chegar novamente aos 220ºF, no que a geleia reduziu e, ao testá-la também de forma tradicional (no pratinho gelado), ela indicou que estava no ponto certinho.

No entanto, ao entornar a geleia no vidro, ainda borbulhante, ela transbordou, como leite fervendo, e ainda que eu tenha limpado bem a borda antes de fechar o vidro, ele provavelmente não ficou bem vedado, e mesmo depois de fervê-lo, a tampa continuava fazendo "pop" e se movendo à pressão do meu dedo.

Desisto.

Cortei uma fatia de pão, passei-lhe um pouco de manteiga, abri o pote da geleia e retirei dela uma bela colherada. O vidro foi para a geladeira ao invés da despensa. Tudo bem. Vou ter de fazer o esforço de comer a geleia de amoras agora ao invés de daqui a um ano. Hmmm... Difícil... ;)

Deixo a receita original, uma vez que saí adaptando e consertando e não anotei nada...

GELEIA DE AMORAS
(do livro Chez Panisse Fruit)
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 3 1/2 xícaras


Ingredientes:
  • 6 xíc. amoras maduras
  • 1 maçã cortada em cubos de 0,5 cm (com sementes, casca e cabo)
  • 2 xíc. açúcar
  • suco de 1 limão siciliano

Preparo:
  1. Lave as amoras, descartando qualquer uma que esteja mofada e coloque-as numa panela grande e de fundo grosso, com a maçã. Coloque 1cm de água na panela e leve ao fogo médio por 10 minutos, amassando as amoras com as costas de uma colher.
  2. Passe as frutas por uma peneira, recolhendo os sucos em uma tigela de vidro. Esprema as frutas até retirar todo o seu suco. Descarte a polpa e meça o suco. Deve haver cerca de 4 xíc.
  3. Volte esse suco para a panela e acrescente 1/2 xic. de açúcar para cada xíc. de suco. Junte o suco de limão.
  4. Em fogo alto, ferva o líquido, retirando com uma escumadeira a espuma que se formará na superfície. Quando marcar 220ºF no termômetro para doces, estará pronto. Ou coloque um pires no freezer; coloque 1 colh. (chá) da geleia no pires e volte-o ao freezer por 1 minuto; a textura deve ser de xarope bem grosso.
  5. Despeje nos vidros esterelizados, deixando 1cm de borda. Feche os vidros e ferva-os por 10-15 minutos. Deixe esfriar por 24 horas, sem mexer, antes de guardar por até 1 ano. (A receita original manda apenas "processar os vidros como manda o fabricante", pois nos EUA se compra vidros de conserva com aros para selar as tampas, e com instruções precisas de quanto tempo se deve ferver os vidros e como.)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

UMA SEXTA FEIRA FRUGAL 7: conserva de ameixas em xarope de mel

Conservas em geral são coisas com as quais sempre flertei mas jamais me comprometi. O conceito é fantástico: compre o que você gosta quando está na estação e faça conservas das sobras, para ter o ano inteiro. A imagem dos vidrinhos de geleia, das compotas, dos picles e chutneys enfileirados na minha prateleira é linda em minha mente. Mas o medo de me comprometer com o processo e acabar com vidros e vidros de comida mofada era grande. Durante os últimos anos, não saí do cercadinho seguro da geleia de maçã que fica na geladeira e não precisa de esterilização nem nada disso. Apenas uma vez me aventurei a fazer uma conserva de pimentões com base em um livro emprestado. Mas o livro pulava várias partes importantes sobre o processo e não dizia se a conserva deveria ficar ou não na geladeira. Resolvi testar. Dois dias depois, meus pimentões espumavam para fora do vidro. Frustração total.

Então encontrei um blog. Um blog lindo, fantástico, sobre tudo aquilo de se comer que se guarda e conserva. Fiquei fascinada pelas receitas e pelas fotografias, e marquei nos meus favoritos. Um dia. Ah, um dia eu faço alguma receita.

Na quarta-feira, eu comprara uma Food & Wine para ler na hora do almoço, uma vez que a tv a cabo (que normalmente me faz companhia enquanto como) estava com problemas, e eu passaria o dia justamente esperando pelo técnico. Na revista havia um texto de Eugenia Bone, autora de um livro sobre conservas, contando sobre suas aventuras na cozinha no último mês do ano. O relato de todas as gostosuras saídas de sua despensa e feitas por ela, muitas vezes um ano antes, me deixou completamente encantada. E, enquanto o técnico me deixava plantada já por cinco horas, resolvi que era chegada a hora de tentar. Entrei no Food in Jars e procurei por uma receita que levasse ameixas, qualquer coisa, geleia, compota, chutney, o que fosse. Pois eu tinha uma grande tigela de ameixas orgânicas na geladeira que estavam mais azedinhas do que eu gostaria. E encontrei uma receita muito promissora de conserva de ameixas em xarope de mel.

Para não correr o risco de estragar muita comida, adaptei a receita para um vidrinho só, do tamanho de um vidro médio de palmito. E comecei a receita, na verdade muito fácil, com aquele medo absurdo do marinheiro de primeira viagem, tremendo enquanto a pinça de metal puxava para fora o vidro escorregadio e pesado de dentro da panela com água fervente. Assim que coloquei o vidro quente na tábua de corte, ele começou a soltar um barulhinho suave, quase um assobio. Aparentemente era um bom sinal, segundo o blog. Vinte e quatro horas depois, dei alguns tapinhas com a ponta do dedo na tampa. Ela estava côncava e o som era seco, ao invés de oco. Iêeeei! Isso queria dizer que o vidro estava de fato muito bem vedado.

O medo se dissipou imediatamente, e fiquei com uma vontade louca de fazer muitas outras conservas como essa. Agora fica aquele comichão... quero abrir e comer e ver como ficou... não. Tem que esperar, dar um mês, para ficar mais forte e para ver se dura, se de fato deu certo. Mas eu quero comer agora! Com iogurte! Com sorvete! Não, mas para que diabos serve uma conserva de um dia só?

Dilema cruel...
;)

PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: Vocês fazem conservas? Do quê? Têm algum livro específico a respeito ou aprenderam com pai, mãe, avós?

CONSERVA DE AMEIXAS EM XAROPE DE MEL E CANELA
(adaptado daqui)
Tempo de preparo: 35 minutos
Rendimento: 1 vidro de uns 500ml de capacidade
Ingredientes:
  • ameixas suficientes para caber no vidro (depende do tamanho delas)
  • 1/4 xic. + 2 colh. (sopa) mel
  • 1 xic. água
  • 1 pedaço pequeno de canela em pau
  • 1 vidro de conserva de uns 500ml
Preparo:
  1. Coloque uma panela grande cheia de água para ferver. Limpe bem o vidro e as ameixas.
  2. Em uma panelinha menor, ferva a tampa do vidro. Em outra, misture a água e o mel e leve à fervura, até que o mel esteja dissolvido.
  3. Coloque as frutas inteiras dentro do vidro, o mais apertadinhas possível. Insira a canela em pau e despeje o xarope de mel dentro do vidro, deixando 1cm da borda. Limpe qualquer respingo da borda e com a ajuda de um pegador de metal, retire a tampa da fervura e feche bem o vidro.
  4. Coloque o vidro fechado dentro da água fervendo na panela grande. Deixe ferver por 25 minutos contando a partir do momento em que a água volta a ferver.
  5. Retire com a ajuda um pegador, com muito cuidado, e coloque na bancada, sobre um pano de prato. Deixe que esfrie completamente e não mexa nele por 24 horas. Passado esse tempo, limpe qualquer resíduo que possa ter vazado para fora (segundo a autora, às vezes acontece). A tampa deve estar côncava e firme quando pressionada. Se se movimentar ou estiver estufada, há ar dentro do pote. Ao bater com o dedo, na tampa, o som não deve ser oco, o que também indicaria ar dentro do vidro e uma vedação falha. Coloque a data e guarde a conserva num local fresco e escuro por até 1 ano.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Salada de manga com molho de iogurte e camarões empanados em coco


Não é fantástico que o idioma permita que chamemos camarão empanado de salada? Resta a suave ilusão de que nada daquilo vai de fato para os seus quadris. Mas bem... o que há de se fazer? Todo mundo merece um pouco de camarão empanado de vez em quando...

Assim que vi a salada na revista francesa Saveurs, corri à feira para comprar um punhadinho de camarões e uma manga bem madura. E não me arrependo nada da decisão. A salada é muito refrescante e, estranhamente, apesar de não levar sal nenhum, não tem gosto de sobremesa. E os camarões... tem coisa melhor do que camarão empanado em coco ralado? Hmmmm...

SALADA DE MANGA COM MOLHO DE IOGURTE E CAMARÕES EMPANADOS EM COCO
(da revista Saveurs)
Tempo de preparo: 25 minutos
Rendimento: 4 porções


Ingredientes:
  • 16 camarões crus, limpos, apenas com o rabo
  • 1 ovo
  • 2 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 100g coco ralado
  • 1 colh. (sopa) farinha de rosca
  • 2 mangas maduras
  • 1/2 xíc. de iogurte integral natural
  • 1/2 colh. (chá) pimenta Caiena
  • 2 colh. (sopa) suco de limão
  • 2 colh. (sopa) coentro fresco picado
  • 1 colh. (sopa) óleo de gergelim (na falta dele, usei azeite de oliva)
  • sal e pimenta-do-reino

Preparo:
  1. Numa tigela, misture o iogurte, a pimenta caiena, o suco de limão, óleo de gergelim e coentro. Misture bem e deixe na geladeira.
  2. Corte a manga em cubos e coloque em uma tigela.
  3. Tempere o camarão com sal e pimenta a gosto. Passe os camarões na farinha, depois no ovo batido e por fim na mistura de farinha de rosca e coco ralado. Frite-os em óleo bem quente, até que fiquem dourados e cozidos. Seque em papel absorvente.
  4. Despeje o molho de iogurte por cima da manga cortada e disponha os camarões por cima. Decore com cebolinha picada, se quiser.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tralha nova, bolo novo

Na sexta-feira passada, Allex entrou em casa com uma mochila grande, cheia e deformada nas costas. Em tempo: ele vai e volta de moto para o trabalho, o que nesses dias em que os céus vem caindo é quase uma piada, e o pobrezinho chega em casa com cara de cachorro molhado. Bem, como ele mesmo diz, de moto ele chega molhado e de carro ele não chega.

"Feliz Natal", disse ele, abrindo a mochila no chão e retirando peças brancas e azuis embaladas individualmente em plástico.
"What the f...?!"
"Ah, comprei seu processador, mais a caixa não cabia na mochila, então ela foi para a reciclagem e o brinquedo veio em pedaços."
"E eu já posso usar? Ou é só no Natal?"
"Você vai querer fazer coisas com ele agora, não vai?"
"Vou."
"Então... e eu não vou embalar tudo isso de novo em outra caixa. Feliz Natal adiantado."

No fim das contas, baseado nos comentários de vocês e alguma pesquisa, acabei escolhendo um dos modelos mais simples dentre os nacionais mesmo. Achei tentador comprar um processador maior e cheio de tralha, mas a verdade é que eu não preciso de um processador-juicer-batedeira-corta-unha-do-pé-traz-café-na-cama. Já tenho uma bela de uma batedeira, e não sou muito de fazer sucos de frutas (prefiro comê-las), e quando os faço, uso aquele espremedorzinho manual que parece um espremedor de alho, que acho muito prático e funciona muito bem. Ah, mas aqueles cortam fatias de várias espessuras... Argh. Não, não preciso disso. Para falar a verdade, corto os meus legumes com a faca mais rápido do que o tempo que me leva para montar o processador. Para quê então eu realmente precisava de um? Para fazer todos os bolos e massas do tipo "joga tudo dentro e pulsa 30 segundos", e para emergências como o dia em que fiz uma pissaladière para 8 pessoas, e passei 45 minutos cortando quase 2kg de cebolas em meias-luas finas. Acreditem: eu nunca mais quero passar por isso

A dúvida cruel era que o cheio de tralha era de fato bem maior do que o com menos tralha. A psicopata metódica em mim apanhou todos os livros de receita da estante, procurou uma por uma as receitas que usavam processador e, baseado no manual de instruções online dos modelos de processadores e o limite de peso de farinha e número de ovos, calculou se o volume de massa de todas aquelas receitas era suportado pelo tamanho da tigela do modelo menor.

Cu-cooo! Cu-cooo! Louca de pedra.

Bem, o modelo menor era bastante.

Resolvi testar o brinquedo novo na segunda-feira, com uma receita muito, muito simples, mas que sempre foi um verdadeiro desastre aqui em casa: o bolo de cenouras de minha mãe. Ele é um bolo dummy-proof, como já escrevi aqui. É muito difícil ele dar errado, e mesmo quem nunca acertava bolo de cenoura tem ótimos resultados com ele. Por isso me considero muito talentosa: só na minha mão ele dava errado.

Primeiro, era o liquidificador maldito, que não batia direito. Ele não tinha potência e não puxava os ingredientes de cima para a parte debaixo, batendo em falso; e o que teoricamente seria uma atividade muito simples (colocar tudo no liquidificador e apertar o botão "Ligar") virava uma epopeia de abre, mexe com a colher, tira a bolota de farinha presa embaixo da inalcançável lâmina, mistura o ovo que nesse meio tempo foi absorvido pelo açúcar e virou uma papa dura... Muitas vezes tudo isso alterava a textura do produto final, e o bolo não saía como deveria, com o miolo irregular, assado num ponto, cru em outro, com buracos no meio. [É visível a diferença de textura do miolo dos dois bolos, da foto do post antigo e desta foto atual.]

Então tentei a batedeira. Mas também não dava certo. Ela demorava mais do que devia para misturar os ingredientes, incorporava ar demais à massa e o bolo crescia, crescia, transbordava e ia parar no chão do forno, espalhando pela casa um horrível cheiro de queimado e soltando fumaça escura em toda a minha cozinha.

Precisava ser essa receita. Se havia um momento de redenção do bolo de cenoura, seria aquele. Montei o bichinho na bancada, ainda pouco familiarizada e resolvi que, primeiro, claro, ralaria as cenouras nele. Eu fatio e pico coisas numa boa, mas eu detesto ter de ralar cenouras, beterrabas, e principalmente grandes quantidades de queijo, uma vez que, invariavelmente, eu vou acabar ralando os nós dos dedos.

Liguei o menino. E imediatamente comecei a rir. Talvez por ele ser de plástico, ele não tenha o peso necessário para mantê-lo tão estável quanto, por exemplo, minha batedeira, que pesa 10kg e não sai do lugar mesmo batendo as massas mais pesadas. O bichinho me lembrou o movimento daqueles bonecos de vento de postos de gasolina. Iúuuuuuuuhuuuuuu!, imaginei ele gritando, enquanto rebolava loucamente. Coloquei minha mão em cima, para mantê-lo firme e prossegui. No final, apesar do centro de gravidade deslocado, ele é menos barulhento que meu antigo liquidificador (que apesar de pouco potente parecia um ar-condicinado industrial quando ligado), e fez muito bem seu trabalho, ralando as cenouras rapidinho sem ralar meus dedos junto. ;)

O bolo.

Quando terminei de colocar todos os ingredientes na tigela que anunciava ter 2,5l (e tem), mas que na verdade sugere um limite de 1,5l, achei que tinha feito bobagem, que teria sido melhor comprar um modelo maior, mesmo com toda a tralha que viria junto. Os ingredientes ultrapassavam em 1cm o tal do limite proposto. Isso vai explodir para todo lado, pensei, imaginando ovos, farinha e cenouras pelas paredes. Arrisquei. E, para minha felicidade, em 30 segundos o bolo estava batido. E pela primeira vez em quatro anos, o bolo assou maravilhosamente bem, e finalmente ficou com a textura fofa e uniforme dos bolos de minha infância.

Felicidade total.

Levei o bolo para o café da manhã da corrida, na manhã seguinte, e fiquei o tempo todo torcendo para que meus amigos acabassem com ele. Se não houver mais bolo, vou "ser obrigada" a fazer outro. Puxa... ;)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Voltando...

Devagar vou voltando à normalidade, se é que essa palavra alguma vez foi aplicável. Dizer que esse ano foi um ano ruim é ofensivo ao Universo, que colocou sim bons momentos e boas pessoas em meu caminho. Este ano evoluí como profissional graças a excelentes ilustradores e artistas que conheci e que tiveram a bondade de serem meus professores. Este ano reavivei dentro de mim a paixão pelo desenho, que andava moribunda. Este ano foi muito bom para meu casamento, e pudemos pensar muito no futuro e ansiar por ele. Este ano meu cãozinho cruzou pela primeira vez e seus filhotes, agora com dois meses, são a prova de que há beleza e doçura no mundo. Este ano fiz muitos novos – e bons – amigos. Este ano atingi duas metas que eram importantes para mim: emagrecer 10kg e correr minha primeira meia maratona (21km). E vou terminar o ano fazendo algo que sempre quis fazer: correr a São Silvestre.

Foram poucas, pouquíssimas as coisas que me fazem pensar nesse ano como um ano ruim, apesar de todos os pontos positivos que pude citar. Primeiro, este foi o pior ano desde que abri minha empresa. E quem trabalha por conta própria sabe o quanto dói analisar planilhas e gráficos e perceber que seu faturamento não está seguindo a tendência que você previra. É extenuante a expectativa pelo trabalho que colocará seu fluxo de caixa de volta nos eixos. A assim chamada crise foi a desculpa perfeita para que muitas empresas eliminassem sua verba de comunicação por boa parte do ano. E isso afetou a todos os profissionais da área de criação, principalmente os da ponta da cadeia, como ilustradores e fotógrafos.

Segundo, minha avó faleceu em meados do primeiro semestre. Era esperado, mas o processo foi mais longo e doloroso do que o necessário. É interessante como a quebra de um elo, como os avós normalmente são, nunca deixam os laços familiares que restam como eram; eles se estreitam ou desfazem definitivamente. Neste caso, o laço foi desfeito de forma irreversível, deixando em mim uma marca indelével, um gosto amargo na boca, que para sempre me lembrará dos limites da mesquinharia humana. Foi um corte brusco e profundo, de cicatrização muito lenta, que ainda pulsa devagar, me lembrando da ferida. E eu fico aqui, inconformada, sem entender o mundo.

Eu não era muito próxima de minha avó. De nenhuma das duas. Não me lembro de nenhuma conversa significativa. Mas nossos pratos favoritos estavam sempre ali nos esperando, e eu sabia que havia amor ali, disfarçado de alimento. Ela se prontificou, já muito idosa, a me ensinar a fazer macarrão, quando lhe pedi. E gnocchi. E manjar branco. E então me deu todos os seus cadernos de receita para que eu desse continuidade à cozinha que ela já não mais praticava. No meio daquele mês ácido, no entanto, os cadernos me foram tomados, e tudo o que me resta dela é seu bolo de laranja decifrado e os bolinhos de banana, favoritos de meu pai.

É sempre a mesma agonia para mim, quando alguém morre. A sensação egoísta de que perdi minha chance de fazer qualquer coisa boa por aquele ser que passou por aqui. Todas as boas intenções de nada mais servem. Salada de catalogna e abóbora. Era o que eu estava almoçando quando minha mãe me telefonou, e a fotografia está até hoje alojada numa pasta em meu computador, e eu simplesmente não consigo publicá-la aqui, ainda que o gosto doce, amargo e salgado ainda estale em minha boca.

Sinto falta da ideia de ela estar lá. E apesar de ela ser co-responsável, junto com minha avó materna, pelo meu amor à cozinha, não consegui me fazer escrever sobre ela durante todos esses meses. Por todo esse tempo, minha vontade de cozinhar ficou dormente, fingindo que despertava vez ou outra, apenas para manter vivo esse espaço e aquela centelha dentro de mim que ainda acreditava em amar através da comida. Era difícil acreditar em amor após testemunhar tanta ausência dele.

Mas acho que finalmente a ferida parou de latejar. Pode ser a aproximação do Natal. Os piores Natais ainda são bons, de alguma forma. Pode ser que eu tenha encontrado suficiente amor durante os últimos meses para aniquilar meu cinismo de uma vez por todas. Talvez seja simplesmente um processo natural. Talvez o fato de o trabalho ter voltado ao normal no final do ano tenha me tirado da espiral descendente em que eu me encontrava.

De repente, minha vontade de cozinhar parece restaurada. Quero fazer biscoitos, cannoli, pães, quero gente jantando em casa, quero preparar o almoço do dia 25! Principalmente, sinto vontade de compartilhar outra vez. Como se minha visão tivesse sido restaurada, consigo ver beleza novamente nos pratos que saem da minha cozinha, e agora é fácil escrever a respeito deles. Não é mais um fardo, como fora nos últimos meses. Voltou a ser um prazer. Prazer em fazer, em alimentar, em fotografar, em contar, em dividir, em debater.

Eu andara querendo fechar o blog, pensara por que diabos acumulara tantos livros de culinária, e estava cozinhando mecanicamente. Então eu quis fazer massa folhada. Massa folhada! E eu fiz pão, um lindo pão de centeio, pela primeira vez em meses. E fiz biscoitos para decorar a árvore de Natal.

Curada. Enfim.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Biscoitos na árvore de Natal, ou um voto de confiança para meu cachorro

É engraçado como as coisas funcionam... Quando nos mudamos da casa de nossos pais, um surto de independência nos fez querer distância de qualquer coisa que nos lembrasse família e tradição. Mas conforme os anos vão passando, a nostalgia vai crescendo, e a vontade de retomar cada costume de nossas infâncias nos domina. Essa é nossa primeira árvore de Natal. Nos anos anteriores, a falta de espaço ou a falta de vontade fez com que nos conformássemos com um alecrim de Natal: minha mudinha de alecrim (a coisa mais parecida com um pinheiro em casa) com uma única bolinha vermelha pendurada, que parecia mais um nariz de palhaço do que um enfeite natalino. Este ano, após uma arrumação da mobília da sala, finalmente conseguimos um canto para a árvore. E lá fui eu, toda empolgada.

Ao invés de gastar comprando decoração de Natal, no entando, nos limitamos às lampadinhas, e decidi completar a árvore, que até então tinha apenas três ou quatro enfeites acumulados nos anos anteriores, com biscoitos. A ideia me pareceu genial: além de ser uma tradição gostosa, não preciso reservar espaço no meu minúsculo apartamento para guardar um monte de bolinhas vermelhas durante o ano todo.

Usei uma receita de biscoitos da Nigella específica para decoração de árvore. A receita, como quase tudo o que ela faz, era para ser feita no processador, que o Sr. Noel ainda não trouxe. Lá fui eu adaptar para a batedeira, e funcionou muito bem. Aliás, excelente receita, pois mesmo dando errado, ela dá certo. Era para misturar a manteiga e o açúcar juntos, e depois acrescentar o ovo batido com o mel, mas não tudo, apenas o suficiente para dar liga. Esqueci o açúcar, joguei todo o ovo com mel e tive que colocar o açúcar depois e acrescentar mais farinha para dar liga, pois a massa ficara molenga. Mesmo assim a massa abriu bem, manteve a forma e os biscoitos assaram lindamente, além de ficarem gostosos. Tive de ficar vigiando enquanto esfriavam para que meu marido não comesse toda a decoração da árvore.

"Ué, mas não é para comer?"
"Claro que não! Esses vão para a árvore!"
"Ah, então não são comestíveis?"
"São, você PODE comê-los, mas você NÃO VAI comê-los, porque eles são os enfeites da árvore."
"Você vai pendurar biscoito na árvore???"
"Vou."
"E o que é isso?"
"A cobertura de açúcar."
"Você vai pendurar açúcar na árvore???"
"Vou."
"E essa agora..."

Agora decorá-los é sempre uma desgraça. Deus sabe que antes de nascer eu entrei na fila do talento para desenho mas quando chegou minha vez na fila do talento para decoração em confeitaria, já tinha acabado tudo. Eita, dificuldade! Algumas coisas não fazem sentido. Como eu posso desenhar bem e ao mesmo tempo ter uma caligrafia tão horrorosa, por exemplo? O que prova que não é uma questão de coordenação das mãos... :P

O melhor foi poder usar meus cortadores de biscoitos, que ficam ali, sempre meio empoeirados, uma vez que, ao contrário da Patrícia, rainha dos cookies :) , biscoitos não são muito minha praia. Não sei por quê. Adoro fazê-los, mas a não ser que sejam cookies de aveia e passas (meus favoritos), eles acabam esquecidos no pote, e acabam virando complemento de sorvete [que, aliás, é a melhor coisa para fazer com cookies e bolo de chocolate que sobram: incorporar no sorvete de creme ainda molinho antes de colocar no freezer, para seu próprio Vanilla Chocolate Chip Cookie Ice Cream, e afins...].

No fim, metade da receita abaixo foi mais do que suficiente para decorar uma árvore de um metro e meio, e os biscoitos além de tudo deixaram a sala inteira com um cheirinho suave de açúcar e especiarias... Dó é ver o cachorro sentado do lado dos enfeites, pedindo com a patinha (porque ele nunca pega nada sem pedir com a patinha antes, todo cutchi-cutchi). "Não, Gnocchi, esses biscoitos, não!" É capaz de chegar em casa e encontrar a árvore como no cartão de natal do ano passado...

BISCOITOS PARA DECORAÇÃO DA ÁRVORE DE NATAL
(do livro Feast, de Nigella Lawson)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 30-45 biscoitos


Ingredientes:
  • 300g farinha de trigo
  • 1 pitada sal
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1 colh. (chá) canela em pó
  • 1/4 colh. (chá) cravo moído (ou 3-4 cravos inteiros moídos no pilão)
  • 1-2 colh. (chá) pimenta-do-reino moída na hora (usei a quantidade menor)
  • 100g manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 100g açúcar mascavo
  • 2 ovos grandes, batidos com 4 colh. (sopa) de mel (mais líquido, não cristalizado)
(cobertura)
  • 300g açúcar de confeiteiro, peneirado
  • 3 colh. (sopa) água fervente
  • confeitos

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 170ºC e forre duas assadeiras grandes com papel-manteiga ou silpat.
  2. No processador, ou na batedeira planetária com a pá, combine a farinha, o sal, fermento, canela, cravo e pimenta.
  3. Com o aparelho ligado (batedeira na velocidade 2), junte a manteiga e o açúcar, misturando bem. Junte o ovo batido com mel devagar, apenas o suficiente para que a massa tome corpo. Ela deve ficar mais firme e sequinha.
  4. Divida em 2 discos, embrulhe um deles em filme plástico e leve à geladeira enquanto trabalha com o outro.
  5. Enfarinhe a bancada e o disco de massa e abra numa espessura de 5mm. Corte os biscoitos com os cortadores (os meus tinham de 4-7cm) e disponha-os na assadeira. Com um palito ou a ponta de um bico de confeitar pequeno, abra os furos por onde vai passar o cordão. O biscoito cresce muito pouco enquanto assa, então pode dispô-los mais juntinhos, com 1cm de espaço entre eles.
  6. Junte os restos de massa, abra de novo e corte de novo, até usar todo o disco. Leve ao forno por 20 minutos, ou até que a parte de baixo dos biscoitos esteja bem sequinha e firme (os meus douraram ligeiramente nas beiradas). Enquanto eles assam, abra e corte o segundo disco de massa.
  7. Retire os biscoitos da assadeira assim que saírem do forno e os disponha numa grade para esfriar. Prepare a cobertura misturando o açúcar peneirado à água até formar uma pasta lisa e brilhante. Decore os biscoitos como quiser, quando estiverem frios.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

UMA SEXTA FEIRA FRUGAL 6: Caldo de legumes

De novo??? De novo. Porque quando tentei começar a fazer caldo de legumes em casa, achei uma chatice e um desperdício. Como assim, vou colocar na panela esse monte de comida boa, ferver por horas, jogar tudo fora e terminar com, sei lá, dois litros de caldo, que não dá para nada?

Desisti.

Então, descobri que não precisava usar apenas legumes inteiros e novos, mas aparas. Bem melhor, mas incorri em muitos erros que tornavam os caldos turvos, sem sabor ou amargos.

Desisti.

Finalmente, hoje, posso dizer que peguei a manha, que consegui inserir na minha rotina o hábito de fazer caldos, e desde o começo do ano não compro caldo de legumes em pó ou cubinhos ou o que for. E ainda que esse post seja um belo apanhado de todos os outros posts que já escrevi a respeito, acho que o tema merece um bom resumo e um post definitivo.

Costumo ir à feira duas vezes por mês, e faço caldo uma vez. Assim que volto da feira e lavo meus legumes e verduras, separo o maior tupperware da minha cozinha e começo a colocar lá dentro tudo o que é material para caldo: tudo o que normalmente iria para o lixo, e agora ficará acondicionado na geladeira, esperando. O enorme maço de salsinha é o primeiro: lavo, seco, e corto ao meio, já separando as folhagens, que vão para um potinho para que eu use as folhas durante a semana, das hastes fibrosas, que vão para o tupperware de caldo. Só tenho o cuidado de tirar qualquer folhinha, pois são elas que estragam rápido; as hastes duram o mês inteiro no tupperware sem estragarem, e podem esperar o dia de fazer caldo. Faço o mesmo com os alhos-poró, separando a parte verde escura para o caldo, e deixando apenas a parte branca na gaveta, inteira.

Ao longo da semana, se descasco batatas, abóboras, abobrinhas, jogo as cascas no tupperware. Talos de cogumelos? Opa! Eles dão um gosto maravilhoso ao caldo! Se eu fiz algum feijão, grão-de-bico, lentilha, qualquer desses grãos que se serve sem o caldo, escorro e guardo o caldo no freezer, para juntar o caldo congelado à panela depois. Se uso ervas como alecrim ou tomilho, de galhos lenhosos, uso as folhas e guardo os galhos no tupperware, pois eles também liberam sabor. O mesmo para os talos verdes de manjericão.

Quando o tupperware enche, jogo tudo na maior panela que tenho e acrescento uns dois dentes de alho inteiros, quaisquer outras ervas secas que eu tenha, pimenta, sal, e, se houver, uma cenoura pequena picada e um ou dois tomates desidratados. Encho de água e deixo ferver por apenas meia hora. Retiro os legumes com uma escumadeira e encho meus potinhos de 500ml com o caldo, que vai direto para o freezer.

É tão rápido e fácil que é quase uma vergonha comprar caldo pronto. E fica uma delícia. E eu não me sinto culpada por jogar fora aparas que normalmente iriam para o lixo logo no dia da feira, mas que agora têm um destino mais nobre.

O truque do tupperware de caldo foi o que me ajudou, pois nem sempre eu conseguia juntar num dia só todos os ingredientes que eu queria no caldo. Desde que você não coloque nenhuma folha fresca ou legume úmido (os miolos) no pote, todas as cascas, talos e afins (mesmo os de cogumelo) vão ficar ali esperando por um mês sem problemas, o que lhe dá tempo suficiente para juntar muitas aparas e fazer uma quantidade grande de um caldo muito rico e variado apenas uma vez por mês, juntando qualquer coisa mais fresca e perecível apenas na hora de botar tudo na panela. Costumo fazer de 3l a 3,5l de caldo, o que no inverno foi rapidinho por conta das sopas e ensopados. No verão, convém produzir menos. Neste mês fiz apenas 2l.

Ao invés dos cubos de gelo, guardo em potes de 500ml, pois é sempre essa a quantidade mínima de caldo para uma sopa, risotto ou ensopado para duas pessoas. Acho mais fácil de medir (e estocar) do que cubos.

O que de fato mudou minha rotina dos caldos foi um guia de Deborah Madison, em seus livros The Greens Cookbook e Vegetarian Cooking For Everyone. Fica aqui um apanhado para que vocês também comecem a guardar um "pote de restos" na geladeira e produzir bons caldos caseiros...

GUIA PARA CALDO DE LEGUMES
  • Proporção: 7 xic. de legumes e verduras para 8 xic. de água e 1colh. (chá) de sal, para obter cerca de 4-6 xíc. de caldo, dependendo de quanto tempo ele passou reduzindo. Sem pensar muito, costumo apenas cobrir os legumes com 2-3 dedos a mais de água do que o suficiente para cobri-los.
  • Lave bem os ingredientes antes de usar e corte-os em pedaços de 2-3cm, para aumentar a superfície de exposição e garantir que todo o sabor e nutrientes de fato passem para a água.
  • Se não tiver certeza sobre um ingrediente, ferva um pedaço em um pouco de água e experimente essa água antes de colocar o ingrediente no caldo.
  • Não use nenhum ingrediente que não esteja limpo ou fresco. Verduras muito murchas e machucadas não terão um gosto bom.
  • Coloque os ingredientes em água fria. Leve à fervura e cozinhe por 30-45 minutos (depois disso, os legumes não têm mais nada para liberar). Se quiser um caldo mais concentrado, retire os legumes e então reduza, em fervura branda, sem tampa.
  • Assim que o caldo estiver pronto, retire os vegetais, pois alguns deles se tornam amargos se ficam na água por muito tempo.
  • Você pode refogar os legumes em óleo ou manteiga antes, mas não é necessário. Na verdade, você não precisa colocar nenhuma gordura no caldo se não quiser. Eu não coloco, e isso também ajuda o caldo a ficar mais cristalino.
  • Aparas e "restos" que você pode colocar no caldo: raízes e partes verdes de alho-poró, talos verdes de ervas, galhos lenhosos de ervas como alecrim ou tomilho, cascas de batata (não as que parecerem velhas, e lave-as antes, para que o amido da batata não torne o caldo turvo), cascas de abóbora, abobrinha e berinjela, sementes e fiapos de abóbora, talos de cogumelos frescos ou migalhas de cogumelos secos (aqueles pedaços quebrados), folhas maiores e mais ásperas de salsão, talos de couve, pontas e aparas de vagens, caldo de feijões, miolo da espiga de milho (o que sobra quando você tira os grãos cozidos), folhas externas muito grandes ou espessas para saladas de alface, escarola, acelga, sementes de tomate (quando você as tira aqueles molhos que pedem os tomates sem sementes)... Se você fizer aquela salada de abobrinha e aspargos, pode usar o miolo esponjoso da abobrinha!
  • Legumes para serem usados inteiros: alho (1-2 dentes) e cebola (1/2 xic) sem cascas, pois elas têm um sabor desagradável; cenouras (1 basta), de preferência sem casca, tomates frescos ou secos (gosto mais do sabor concentrado dos tomates secos - 1 ou 2 é suficiente para 3l de caldo). Qualquer um dos citados acima, também, mas como o objetivo é fazer um caldo muito barato, o melhor é usar aparas e deixar os legumes inteiros para de fato comer! :)
  • Ingredientes saborosos mas que deixam um sabor muito forte; melhores se usados em caldos de receitas em que o ingrediente reaparece: cascas e folhas de beterrabas deixam o caldo vermelho; erva-doce/funcho (parte externa, raiz e folhas), aparas de aspargos, ervilhas, cascas de nabo, repolhos, folhas de brócolis e couve-flor são todos sabores muito dominantes que encobrirão o resto do caldo.
  • Ingredientes que NÃO devem ser usados: couve-flor, couve-de-bruxelas, alcachofras, espinafre (fica ruim se cozido por muito tempo), casca de alho e cebola, folhas de cenoura. Todos esses dão um gosto estranho ou ruim ao caldo.
  • Ingredientes para caldos específicos: miso (vermelho, pois o branco é muito doce), diluído em água quente e adicionado ao caldo dá um gosto de "carne", shoyu (reduza a quantidade de sal), gengibre, canela, cominho, cardamomo, coentro em grão...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Massa folhada de batedeira

Sabe o que o tédio faz com as pessoas? Massa folhada. Ontem, enquanto esperava emails que não vinham, resolvi testar uma receita de Flo Braker, chamada Pretty Darn Quick Puff Pastry. Porque se tivesse a massa, poderia preparar a torta de abóbora de Gordon Ramsay para o jantar.

Olhei para fora. Estava úmido e abafado. Na minha cozinha, 26ºC. Ventilador ligado na sala, o cachorro dormindo de pernas para o ar, na tentativa de refrescar-se.

Massa folhada?
Nesse calor dos infernos??
Loucura.
Imaginei manteiga derretida por toda parte.

Mas agora a lombriga fora atiçada, e eu não conseguia pensar em outra coisa para o jantar senão a torta de abóbora, e ai de mim se fosse pega comprando massa folhada pronta, cheia de gordura hidrogenada! Depois da torta de pé, tinha prometido nunca mais cometer um pecado desses...

Bom... Massa folhada.
Nesse calor dos infernos.
Loucura.
Mas se for para dar certo, é agora.
Se der certo hoje, essa massa é genial.

A massa É genial. O preparo na batedeira planetária, com a pá, faz com que o calor de suas mãos não interfira na temperatura da manteiga. O fato de não ter de espalhar a manteiga na massa e deixar gelar por meia hora o tempo todo, faz com que o processo seja realmente rápido. Pela primeira vez na minha vida, o preparo de massa folhada na minha bancada não me deu vontade de sentar e chorar. Ela não derreteu, e ao ser assada, inflou e dourou maravilhosamente, e a massa amanteigada e leve derretendo na boca me convenceu de uma vez por todas a nunca, nunca, NUNCA mais comprar massa pronta.

Preparei metade da receita do livro, e usei apenas metade da massa resultante para essa torta quadrada de 20cm. O restante está devidamente embalado no freezer, esperando pela próxima empreitada.

Todas as receitas de batedeira planetária do blog (como os pães) podem ser feitas à mão. Esta, no entanto, eu não sei. Não acho que funcione com uma batedeira comum. Talvez você possa usar um pastry blender ou garfos para produzir a massa e então prosseguir normalmente. Mas não garanto. É que esta receita deu tão certo, que achei que seria egoísta não dividi-la...

MASSA FOLHADA DE BATEDEIRA (planetária)
(ligeiramente adaptado do livro Baking for All Occasions, de Flo Braker)
Rendimento: aproximadamente 500g
Tempo de preparo: 35min. + 1h descanso


Ingredientes:
  • 225g manteiga sem sal bem gelada
  • 170g farinha de trigo comum
  • 60g farinha de trigo para bolos (cake flour) *
  • 1/2 colh. (chá) rasa de sal
  • 1/2 xic. água bem gelada
*Cake Flour: 60g dá mais ou menos 1/2 xíc. de farinha de trigo comum. Meça essa quantidade de farinha comum, depois substitua 1 colh. (sopa) dessa farinha por amido de milho (maizena) e peneire 5 vezes antes de juntar ao resto dos ingredientes.

Preparo:
  1. Corte o tablete de manteiga em fatias de 1cm de espessura e volte-os à geladeira por 10 minutos.
  2. Enquanto isso, misture as duas farinhas e o sal na tigela de batedeira planetária, equipada com a pá. Tenha a água gelada já medida ao seu lado.
  3. Disponha as fatias de manteiga sobre a farinha. Use os protetores de respingo ou um pano de prato enrolado em torno da batedeira, pois mesmo em baixa velocidade, voa farinha para todo lado. Ligue a batedeira na velocidade mais baixa e bata até que a manteiga, ainda em pedaços grandes, esteja apenas recoberta de farinha, uns 10 segundos.
  4. Ainda com a batedeira ligada na velocidade mais baixa, despeje a água gelada num fio constante, demorando uns 10 segundos e imediatamente desligue a batedeira.
  5. Com a mão, rapidamente vire a massa, trazendo as partículas secas do fundo da tigela para cima da massa, e apertando-a ligeiramente, apenas para incorporar essas partículas. Não se importe se sobrarem algumas.
  6. Vire a massa numa superfície enfarinhada e, com as mãos enfarinhadas, forme um retângulo de uns 10x7cm. Com o rolo de macarrão, rapidamente abra a massa num retângulo de uns 20x14cm, polvilhando com pouca farinha, se necessário.
  7. Faça a Primeira Dobra como uma carta comercial: dobre o terço inferior e em seguida o terço superior por cima, e gire 90º, deixando a massa como se fosse um livro virado para você (a última dobra sendo a capa). O desenho abaixo inteiro é uma Dobra.
  1. Abra a massa de novo em 20x14cm e repita o procedimento do desenho, que será a Segunda Dobra. Agora embrulhe em papel alumínio e leve à geladeira por 20 minutos.
  2. Passado esse tempo, desembrulhe a massa, tendo ela como um livro diante de você. Abra a massa de novo em 20x14cm e repita o procedimento do desenho mais uma vez, que será a Terceira Dobra, abra de novo e repita pela última vez, executando a Quarta Dobra. Embrulhe novamente no papel alumínio e leve à geladeira por no mínimo 1 hora antes de utilizar a massa.
  3. Se em qualquer momento durante o processo, você perceber que a manteiga está começando a amolecer ou grudar, embrulhe em papel alumínio e leve ao freezer por 10 a 20 minutos antes de prosseguir. Se apenas a manteiga estiver muito na superfície na hora que você for abrir com o rolo, dê tapinhas com farinha por cima dela, apenas para que não grude no rolo. Depois que a massa descansou por 1 hora, abra-a num formato mais fácil de manipular, como 15x10cm. Corte a quantidade necessária e use-a. O restante, embrulhe em duas camadas de papel alumínio e use em 2 dias se conservar na geladeira, ou 2 meses no freezer. Descongele a massa na geladeira por 24 horas antes de usar.
Na hora de assar, se for uma torta como essa, lembre-se de forrar a forma com papel-manteiga, para que o papel absorva parte da gordura da massa e ela fique mais sequinha.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Salada de abobrinha e aspargos para um verão sem canga

"Projeto Verão Sem Canga" é como minha mãe tem chamado sua dieta. Prevendo já um Dezembro de muitas confraternizações de fim de ano (da corrida, de cliente, do trabalho do marido, amigo-secreto, Natal, Reveillon, Bistecão Ilustrado, etc...), é sempre bom tentar compensar com antecedência a cervejada e friturada por vir.

Pelo menos o calorão dos infernos serve para isso: para comer saladas. Ainda que a abundância de abobrinhas e aspargos nessa época do ano seja para mim incentivo suficiente.

Adaptei uma receita de Giada di Laurentis, do único livro dela que me apeteceu comprar: Giada's Kitchen, culpa daquela pastinha de figo seco do Natal passado. Para uma pessoa: com um descascador de legumes, fatie o mais fino possível uma abobrinha pequena, com casca, até chegar na parte esponjosa das sementes, que fica a seu cargo de você vai jogar fora ou usar para outra coisa. Com o mesmo descascador, limpe 3-4 aspargos grossos, e cozinhe-os em água fervente com sal por 1 ou 2 minutos. Fatie-os fino, na diagonal, e junte-os à abobrinha. Tempere com sal, pimenta-do-reino, azeite e uma espremidinha de limão. Junte um punhado de manjericão fresco, lascas de parmesão e mangia che te fa bene!

P.S.: obrigada aos que deram suas opiniões sobre o processador, há uns post atrás. Vocês me ajudaram um bocado a decidir. Papai Noel já deve ter recebido minha cartinha... ;) Aliás, falando em Papai Noel, ando empolgadíssima com a comilança de Natal, louca para fazer biscoitos para a árvore, panettone, etc. E vocês?

Cozinhe isso também!

Related Posts with Thumbnails