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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O que eu como em um dia (quer dizer, uma semana, mais ou menos...), muitos reaproveitamentos, um bolo simples e um sorvete de baunilha

As frutas sao da Laura, eu nao sou tao saudavel assim.

CAFÉ-DA-MANHÃ

O dia amanhece tarde. O sol não dá as caras antes das sete da manhã. Ainda são seis e alguma coisa, uma preguiça-monstro impera, e não fosse o fato do marido acordar dez para seis para correr ou meditar, acho que jamais acordaria. Está frio lá fora, chove, e não me animo para a rotina-loucura matinal com as crianças. Mas o cão vem batendo o rabo entre a parede e a cama, panc, panc, panc, panc, feliz e contente pedir por comida e carinho, e seu bafo quente e suas lambidas em meu nariz escapando para fora das cobertas me convencem.

Levanto.

Há mais de meia hora as crianças já estão de pé, brincando no quarto ou desenhando na sala. Já saio do quarto vestida de roupa de corrida e de cama feita, para não me animar a voltar ao travesseiro. O ruído da cafeteira moendo grãos de café e ligando a caldeira é confortável. Acendo as luzes da sala e da cozinha conforme caminho pelo pequenino apartamento. Ainda é noite fechada lá fora.

Thomas dá comida ao cão e pergunta o que há de café. Tem pão, tem cereal, tem waffles de ontem. Quer uma torrada? Laura apanha as frutas do prato azul da bancada, uma faca pequena e começa a preparar seu prato. Ela sempre come frutas no café da manhã. Um bocado delas. Naquela manhã, kiwi e romã. Faço torradas para o resto da família, douradas com manteiga na frigideira. Thomas come várias com mel ou geleia, Allex come duas. Uma torrada basta para mim, pois nunca tenho fome assim que acordo. Uma torrada solitária, com uma passadela extra de manteiga e uma pitada de sal para acompanhar meu cappuccino de todo dia. Nessa semana, no entanto, minha torrada vem sempre com esse estranho queijo-que-não-é-queijo que minha cunhada trouxe da Noruega. Pense um doce de leite. Mas sem açúcar nenhum. Estranhíssimo e delicioso.

Como assim, de pé, sobre a tábua de corte onde já saio preparando o almoço das crianças. Allex sempre leva restô-dontém, mas as crianças raramente têm tempo para uma refeição decente, o que sempre me entristece. Mas bola para frente. Ando sempre buscando alternativas para enfiar mais legumes nos lanches.

Naquele dia, resolvo fazer um rolinho de ovo com legumes, uma espécie de omelete de forno para usar as nove claras que eu tinha no freezer, e que eu não queria transformar DE NOVO em Angel Food Cake. Ossos do ofício de quem faz sorvete em casa - arrumar novos modos de usar as claras que sobram. Encontrei essa receita internet afora, preparara na noite anterior e deixara já pronta na geladeira para a manhã seguibte  Os adultos adoraram. As crianças, no entanto, não se animaram. Thomas achou que tinha queijo demais e ficou muito salgado, mas a verdade é que usei a quantidade de sal pedida na receita, sem me dar conta de que o sal que compro é bastante salgado (tem disso, sal que é mais salgado, sal que é menos salgado). Ovos salgados mais queijo cheddar, realmente ficou meio além da conta. Então, se for fazer a receita, lembre-se de salgar a gosto e com cuidado. Já Laura não gostou foi da textura, e é sempre disso que ela reclama quando dou algo essencialmente macio para ela comer: frittata, gnocchi, Spaetzle, omelete, e até crepioca são sempre sumariamente reprovados por ela por conta da textura.




Olha que fofura! Dá pra acreditar que eles não gostaram? Eu adorei, mesmo muito salgado.

Enquanto todos terminam de se arrumar e colocar nas lancheiras seus almoços, coloco roupas para lavar, louças na lava-louças, passo um pano na mesa e na bancada da cozinha (quando uma das crianças não se anima a fazer essa limpeza), alimento meu fermento, e verifico minha lista de coisas a fazer do dia.

Allex já saiu correndo para o trabalho que fica longe.

Quando todos estão prontos, saímos para a escola. Eles de casacos de inverno, eu tilintando de frio num agasalho leve de corrida, puxando o cão comigo e pedindo para que os dois acelerem o passo para mamãe não congelar até chegar na escola. É o primeiro dia de sensação térmica negativa do Outono. Chove leve.

Beijinhos, recomendações, abraços, jogo a criançada para dentro da escola e imediatamente começo a correr, puxando o cachorro para o parque, buscando me esquentar com a movimentação.

LANCHE DA MANHÃ

Quando chego em casa, depois de alguns quilômetros corridos (as vezes três, às vezes sete, às vezes nenhum, depende do que tenho para fazer no dia e da colaboração do cão), a fome bate. São nove e quarenta e cinco. Dez da manhã quando a corrida foi longa. Tomo um banho rápido, dou mais comida e água ao cão e preparo o que considero meu segundo café da manhã, desta vez apreciado em silêncio, com calma, sentada à mesa. Simples e, assim como a torrada com manteiga, todo dia tudo igual: meia xícara de iogurte natural, a fruta que houver, uma colher de manteiga de amendoim (sem açúcar, apenas amendoim, e quando tenho na geladeira, substituo por nozes picadas) e um fio de mel. Acompanha uma xícara de chá, que, assim como meu café, tomo sem açúcar -  acho que açúcar estraga o gosto das bebidas.

Ok, sou saudável sim. Mas minhas frutas vem sempre aqui, com iogurte.
A partir daí, o dia começa. Pintar, desenhar, escrever, resolver pepinos, responder emails, terminar um trabalho, prospectar clientes, costurar joelho de TODAS as calças das crianças e passar aspirador na casa (coisa que leva cinco minutos - vantagem do apartamento pequeno) para recolher toda a areia que se solta dos pelos do cachorro quando a lama do parque seca. 

ALMOÇO

Às dez para meio dia já tenho fome e começo a preparar minha torrada, que gosto de chamar carinhosamente de Tartine, pois isso me faz sentir mais inclinada a caprichar na preparação. 

Uma de minhas favoritas: abacate e grapefruit, azeite, sal e pimenta-do-reino. O pãozinho da vez é aquele integral de aveia do post passado.
Quase toda semana compro ingredientes específicos para meus almoços, pois sei com quê meu apetite se anima nesse horário e o que me satisfaz sem precisar de grandes malabarismos culinários. Abacate é um item praticamente obrigatório na minha cozinha. Pepinos apareceram durante todo o verão, mas agora que esfriou estão custando um rim. Tahini é uma pastinha que passo no meu pão com frequência, e sempre tenho potinhos de hommus que preparo de batelada e congelo para quando precisar. Agora no frio, o grapefruit é minha primeira escolha para acompanhar o abacate.
Nesta semana, no entanto, havia apenas um avocadozinho na geladeira e, por algum motivo, acabei não comprando mais. Às vezes me divirto NÃO indo às compras e me desafiando a criar refeições com tudo o que sobrou na geladeira, no freezer e na despensa. Doida de pedra.
Num dia, havia sobrado do jantar anterior uma Salada Siciliana de Erva-doce e Laranja (na qual usara azeitonas ao invés das nozes, para o marido e a filha não reclamarem). Pensei naquela erva-doce que passara a noite marinando em suco de laranja e limão, e pesquisei na internet: o que fazer com picles de erva-doce. Acabei caindo Neste Site que sugeria, veja só, uma torrada, e adaptei como bem entendi. Havia sour cream na geladeira (que aqui é grosso como um iogurte grego), que misturei a salsinha picada, sal e pimenta-do-reino e passei a colheradas generosas na minha torrada grelhada em azeite. Cobri com dois filezinhos de anchova cada, e então a salada de erva-doce. Corrigi a acidez da salada com mais um pouco de suco de limão, polvilhei com as folhas da erva-doce e o que restara da salsinha, um fio de azeite e NHAC!
Inventando com os restos: sour cream, anchovas e um "picles" falso de erva-doce.
Num almoço, eu apanhara um tantinho de maionese que sobrara da batelada do sábado anterior e misturei a ovos cozidos, cenoura ralada, salsão picadinho, cebolinha e salsinha, um nada de mostarda, sal e pimenta, e recheei sanduíches de pão integral de aveia para o almoço das crianças. O que restou no potinho, virou meu almoço também. Boa e velha salada de ovo.



No dia seguinte, eu tinha uma baguette grelhada no azeite, hommus de edamame (que eu preparara num dia em que me deu um siricotico e eu não tinha grão-de-bico), cenoura ralada, queijo feta, cebolinhas, sal, pimenta-do-reino e azeite como almoço. Uma versão aberta do wrapp de tortilla que eu mandara de lanche para as crianças. (Que Thomas amou e Laura odiou, porque ela detesta edamame.)  E chá. Quando não bebo água durante o almoço, bebo chá. A água, aliás, na minha garrafa azul, está sempre comigo.

Hommus de edamame, cenoura ralada, queijo feta e cebolinhas picadas.

Purê de abóboras com lentilhas, queijo feta, salsinha, cebolinha, limão e azeite.
 Mais um dia, mais um aproveitamento de restô-dontém. As abóboras com lentilha do jantar foram amassadas com um garfo até quase virarem purê, e ligeiramente aquecidas. Cobriram a baguete douradinha, e ganharam mais feta, ervas, limão e azeite. Esse almoço acabou me deixando mais satisfeita do que eu pretendia, e pensei que era melhor ter preparado uma torrada só. Detesto sensação de barriga cheia depois do almoço, pois fico letárgica e pouco produtiva. Mas estava uma delícia, de qualquer forma.
Por último, repeti para mim o almoço que mandara para as crianças: wrapp de tortilla com hommus, cenoura ralada, as beterrabas assadas que haviam sobrado de outro dia, salsinha, cebolinha, queijo feta, umas gotinhas de limão, azeite, sal e pimenta-do-reino, tudo enroladinho e pronto pra comer. Adivinha! Adivinha! Thomas adorou. Laura detestou. Por quê, Laura? Por quê? Por causa da textura do queijo, mamãe. >_<
Wrapp de tortilla de trigo com hommus, beterrabas assadas, cenoura ralada, queijo feta, salsinha, cebolinha, limão e azeite.

De barriga cheia, levo o cão para um passeio, aproveito para ir a mercado ou biblioteca ou onde precisar ir com o bichinho junto, e volto para trabalhar mais um pouco e adiantar, de repente, algum processo do jantar. (Aliás, peraí, que enquanto escrevo isso, deixei minha cevadinha cozinhando, e acho que ela começou a queimar. Nãaaaaaao!)

SNACK

São quase três horas e preciso buscar as crianças. Em dias chuvosos como hoje, sei que voltaremos para casa assim que eles saírem da aula, e então apenas tomo mais uma xícara de chá e saio. (Quando está muito frio, o chá vai comigo numa caneca térmica.) Em dias sem chuva, em que sei que eles quererão brincar meia hora ou mais e que demoraremos para voltar para casa e fazer o jantar, belisco algo com minha xícara de chá. Uma banana, uma metade de maçã que ficou na geladeira são habituais opções. Às vezes cato um talo de salsão ou uma cenoura que sobrou de algum lanche deles de outro dia e dou uma passadela rápida no pote de hommus. O normal, no entanto, é só o chá mesmo, pois não tenho fome nesse horário.

Naquela manhã mais tranquila, eu preparara rapidamente um bolo simples para que as crianças levassem de lanche durante a semana. E o motivo para ter usado as claras nos rolinhos de ovo ao invés de um bolo, foi que eu tinha intenção de usar a calda das peras cozidas do post anterior para molhar o bolo. Reduzi a calda um pouco e reguei todo o bolo pronto com ela.

E como houvesse bolo pronto ali pedindo para ser experimentado, naquela tarde meu snack foi uma fatia de bolo ainda morna.

Pound cake de azeite de oliva, regado com a calda das peras cozidas.
Como eu queria uma base bem neutra para a calda de pera, usei óleo de semente de uva, que é bem suave, no lugar do azeite. Você pode também usar um óleo vegetal neutro, se quiser.

POUND CAKE DE AZEITE DE OLIVA
(Do livro Sinfully Easy Delicious Deserts, da Alice Medrich)
Rendimento: 2 bolos ingleses ou 1 bolo de furo no meio (forma de 10-12 xic. de capacidade)

Ingredientes:
  • 3 xic. farinha de trigo
  • 2 colh (chá) fermento químico em pó
  • 2 xic. açúcar
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1 xic. azeite de oliva
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 5 ovos ainda gelados da geladeira
  • 1 xic. de leite integral

Preparo:
  1. Posicione a grade do forno na parte inferior e pré-aqueça o forno a 180oC. Unte e enfarinhe a(s) forma(s) ou forre o interior com papel-manteiga, se estiver usando as formas de bolo inglês.
  2. Numa tigela, misture a farinha e o fermento. Reserve.
  3. Na tigela da batedeira, bata o açúcar, sal, óleo e baunilha até que esteja tudo bem misturado. 
  4. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição, e então continue batendo até que fique aumente o volume e fique pálido, entre 3 a 5 minutos. 
  5. Junte 1/3 da farinha, e bata em velocidade baixa apenas até que se misture. Junte metade do leite, misturando, então prossiga alternando a farinha e o leite até que tudo esteja incorporado. 
  6. Transfira a massa para a(s) forma(s). Asse por 1 hora ou 1 hora e 10 minutos, até que um palito inserido no meio saia limpo.
  7. Esfrie na forma, sobre uma grade, por 15 minutos. Desenforme e deixe que esfrie completamente antes de servir. Os bolos, frios e embalados, podem ser congelados por até 3 meses. 
  8. (Esse bolo é bem compacto, e por isso se presta bem a ser furadinho e banhado em caldas e xaropes ainda na forma. Banhe ainda quente do forno e deixe que esfrie completamente e absorva toda a calda antes de desenformar. Ele também é um ótimo bolo base para toda sorte de variações, com raspas de cítricos, por exemplo.)



JANTAR

Quando voltamos para casa, a criançada desempacota almoço e mochila. O que sobrou é consumido como lanche da tarde enquanto Thomas faz lição. Ele senta no sofá e lê seu livro em voz alta (todo dia a professora manda um livro diferente), e eu preparo o jantar enquanto Laura vai para o banho ou senta para incomodar ouvir a história lida pelo irmão.

Eu ando pegando livros de cozinha na biblioteca, mas não sei muito bem por quê. Fico animada ao ter o livro nas mãos, mas no fim, ao folheá-los, tenho sempre essa sensação estranha de o autor estar tentando com força demais reinventar a roda. Tive essa impressão principalmente com o livro novo do Ottolenghi, o Simple. Folheei, folheei, mas só de pensar em começar de novo a colecionar temperos que eu não uso todos os dias, bateu uma preguiça gigante. A bem da verdade, depois de tanto tempo experimentando e cozinhando de diferentes fontes, acabo gravitando em torno da cozinha italiana e francesa (com breves incursões em modinhas naturebas), onde ingredientes têm os gostos deles mesmos. Não é a toa que a sopa favorita dos meus filhos é a sopa francesa de abóbora que se faz com abóbora, água e leite. Ela é maravilhosa e tem gosto de... abóbora. (Sempre faço a receita inteira, para 8 porções, para ter congelada para dias apressados. As crianças adoram e assim que o Outrono chegou, já vieram pedir por ela.)

Além da parte do sabor, onde parece que quero abobrinha com gosto de abobrinha e berinjela com gosto de berinjela, com temperos simples que realcem o sabor natural dos ingredientes, também, entrando no reino da auto-análise, me dou conta de que sempre saio à caça de livros de cozinha quando me sinto atrapalhada na vida. Como se buscasse em receitas de comida as fórmulas mágicas para aplacar minha ansiedade e encontrar direção. Mas o que isso faz, quase sempre, é complicar ainda mais meu dia-a-dia, quando me pego passando mais tempo do que gostaria na frente do fogão, ligeiramente alvoroçada por processos menos familiares, e usando ingredientes que não fazem parte de verdade da minha vida. Quando minha cabeça está bem, toda a minha cozinha é simples e direta ao ponto. É couve-flor com azeite. É bolo de iogurte. Na hora em que me meto a fazer saladas que levam vinte e sete elementos e começo a me preocupar que o bolo de beterraba não leva nenhuma farinha de grãos antigos, eu sei que é hora de parar, abrir um vinho, botar o pé pra cima e pedir uma pizza. Liga pruma amiga pra conversar e bota as ideias em ordem.  

Enfim. Preguiça. A maior parte dos livros que andei pegando, devolvi no mesmo dia.

No caso desse livro do Ottolenghi, resolvi preparar algumas receitas antes.

Na segunda-feira, preparei de jantar esse alho-poró e espinafre braseado com ovos e queijo feta. Lembra do feta que apareceu aí em cima em todos os almoços? Veio daqui, pois eu comprara um enorme para fazer pão de queijo, mas desisti e resolvi usar em todas essas receitas. Para acompanhar, fiz aquela salada de funcho lá em cima, cujas sobras viraram torrada. Na hora em que fui servir, no entanto, dei-me conta de que esquecera de preparar o arroz que eu pensara para acompanhar essa profusão de legumes. Na pressa, servi tudo com uma fatia de pão dourado no azeite e todo mundo gostou.

O veredito do prato do Ottolenghi? Bom, acabou que não usei o zatar, e mantive os sabores clássicos, usando tomilho no cozimento dos legumes. Ficou muito saboroso, mas foi um consenso de que é simplesmente alho-poró demais para se comer assim, sozinho. Em termos de verduras com ovos, a versão do outro livro dele, de espinafre, e cuja pimenta-diferente-específica-difícil-de-achar eu também nunca uso, ainda é mais apetitosa em termos de TEXTURA. Laura concordou comigo. Hahah! ;)

Um ovo de gema mole para cada um sobre os legumes.

Jantar.

Em outro dia, eu lembrei de fazer o arroz. Há! ;) 

Ele acompanhou as Abóboras Assadas com Cebolas, Lentilhas, Queijo (que era para ser gorgonzola mas usei o feta) e o molhinho de ervas. Eu adorei esse prato, ainda que não houvesse nada de inovador nele. Enquanto preparava e comia, tinha a impressão de já ter feito diversas versões daquele mesmo prato durante os últimos quinze anos. Leguminosas + vegetal caramelizado no forno + queijo salgado e picante + ervas refrescantes. Fórmula imbatível. De qualquer forma, a refeição foi um sucesso com todos a não ser com o marido, que fez cara de "eu só estou comendo abóbora por educação porque as crianças estão me olhando" durante todo o jantar. No dia seguinte, ele fez a marmita dele apenas com as lentilhas e o arroz, deixando todas as abóboras para trás na geladeira com uma colherada minúscula de lentilhas. E foi esse resto abandonado que virou meu almoço ali em cima.

Amo essas cores.

Comeria esse prato todo dia. Tá bom, toda semana, que não gosto de comer todo dia a mesma coisa.
No dia seguinte, resolvi fazer bom uso das folhas de alho-poró que eu tinha guardado. Eu usara um bocado de alho-poró na receita da segunda-feira, mas os que eu comprara no mercado tinham partes verdes bojudas e muito logas, com pelo menos 15cm de comprimento cada, o que resultou numa pequena bacia de folhas de alho-poró. Meu primeiro instinto foi usar para caldo, mas me dei conta de que era simplesmente demais. O caldo teria apenas gosto de alho-poró e me deu preguiça de ter aquilo tudo de folha no freezer para a eventual necessidade de precisar aromatizar alguma coisa. Fiquei encafifada. Aquilo É comestível! Porque a gente não usa? Porque a gente obedece esse monte de chefs mandando a gente descartar partes boas dos alimentos? Se eu estivesse numa guerra, eu jogaria aquilo fora?

NÃO.

Lavei bem as folhas, fatiei todas elas bem BEM fininho, e refoguei no azeite, manteiga e tomilho exatamente como teria feito com as partes brancas do alho-poró. Mexi bem, temperei com sal, cobri com tampa e deixei ali cozinhando por bem uns dez minutos, fogo baixo, até amaciarem. Abri a tampa, juntei um pouquinho de água e uma colherinha de vinagre (teria usado meia xícara de vinho branco se tivesse, mas no caso só queria acidez), misturei bem e continuei cozinhando sem tampa, até o líquido reduzir. Fui experimentando as folhas. Queria quebrar todas as fibras dela e amaciá-las por completo. Juntei mais um tantinho de água e continuei cozinhando até que estivessem tão macias quanto as partes brancas do alho-poró, e foi isso o que aconteceu. As folhas ficaram macias e quase cremosas.

Preparei minha massa de torta de sempre usando farinha integral, pois acabara a farinha branca, e fiz um quiche usando as partes verdes do alho-poró, e um creme feito com 3 ovos, 1 xícara de sour cream, noz moscada, sal, pimenta-do-reino e queijo cheddar branco ralado grosso. Preparei o quiche normalmente.

A torta ficou tão boa, mas tão boa, que as crianças pediram para levarem de almoço na escola no dia seguinte. E assim foi. Aprendemos mais uma, amiguinhos: nunca descarte as partes verdes do alho-poró.

Para acompanhar, preparei uma salada de espinafre (o espinafre daqui é diferente do brasileiro, com textura de rúcula, bem suave), beterrabas assadas (que eu assara no forno no dia anterior, em outra grade, ao mesmo tempo das abóboras, com intenção de fazer um pão do livro do Ottolenghi, mas do qual desisti depois), queijo feta, cenoura fatiada fininho, e um vinaigrette com mostarda, cebolinha, salsinha e estragão.


Na quarta-feira, resolvi aproveitar outra apara de vegetal que geralmente vai para o lixo: os talos verdes e fibrosos da erva-doce. Como eu trouxera aquele funcho imenso da fazenda do passeio escolar das crianças, com todos os talos de meio metro junto, precisava dar cabo deles. Separara as folhas para pesto, e picara todos os talos e congelara, primeiro com intenção de fazer uma sopa. Mas então me veio a ideia de fazer um risotto de funcho usando apenas as partes descartadas. 

Comecei refogando cebola em meias-luas finas e o funcho em manteiga e azeite, devagar, em fogo médio, até começar a dourar. Quando isso acontecia, juntava uma colher de água e misturava energicamente, raspando o fundo da panela com a colher de pau e então largando para dourar de novo e repetindo o processo até os legumes ficarem macios a ponto de desmancharem e deliciosamente caramelizados. Nesse ponto, adicionei mais azeite e e então entrei com o arroz arbóreo para começar o processo normal do risotto, usando caldo caseiro. (Meu caldo tem cascas de cebola, então ele tinge tudo de um âmbar intenso.) Risotto pronto, com manteiga e queijo, polvilhei folhas de erva-doce e salsinha e servi. Delicioso. 

O que aprendemos de novo, amiguinhos? Não descarte os talos da erva-doce.(Aliás, li também que os talos de erva-doce podem ser usados exatamente com o salsão. Andei fazendo essa troca em receitas que pedem salsão, e o resultado é excelente e nem se sente a diferença. Fica a dica.)


Na quinta-feira eu planejara fazer ragù, pois não havia nada a não ser o cachorro para me tirar de casa, e ragù bolognese é um compromisso de dia todo aqui em casa. A receita que uso é a de Marcella Hazan, que sempre faço em dobro para congelar e sempre faço a versão que também leva carne de porco (ela diz pra substituir até 1/3 da carne por porco, mas já usei até meio a meio e fica ÓTIMO). O cozimento lento e extenso torna o molho de carne cremoso e sensacional.

É uma lindeza esse ragù.
Na sexta é sempre dia de pizza, e aqui andei voltando para minha massa tradicional, substituindo metade da farinha branca por farinha integral. Ninguém em casa notou a farinha integral na massa, mas todos preferiram essa versão, que ficou mais saborosa.

Eu tinha um pacote de linguiças do fim de semana anterior, e resolvi abri-lo e usar uma delas para essa pizza de... erva doce. Dá pra ver que tinha erva doce pra burro em casa, não? A massa foi com molho de tomate, linguiça sem a pele, esmilgalhada, e fatias finas de funcho temperadas com sal e azeite para o forno alto por doze minutos, então coberta de mozzarela e assada por mais oito minutos até o queijo derreter e a massa dourar. Um absurdo de bom!


Um outro momento de reaproveitamento foi quando resolvi pegar as cascas de todas as abóboras que usara durante o mês de outubro (menos as do Halloween, que apodrecem), e que deixara congeladas, e cozinhar em água até amolecerem. Escorri bem, reservando a água cor-de-laranja, e bati as cascas macias no processador até obter um purê liso e espesso. Esse purê usei para preparar um bolo de abóbora que as crianças levaram de lanche da escola a semana toda. Não gostei muito da receita que escolhi, no entanto. O bolo não assou no tempo certo e as especiarias ficaram muito tímidas. Mas sempre dá pra pegar uma fatia de bolo sem graça e dourar na manteiga na frigideira, caramelizando seus açúcares e trazendo à tona uma textura mais interessante. Nham!

A água do cozimento das cascas usei para preparar um simples arroz, cujas cebolas também refoguei com sálvia. O arroz ficou ligeiramente alaranjado, adocicado e delicioso. Terminei com o funcho e com as beterrabas nessa salada simples com laranja, e, como eu tivesse ainda um pouco de maionese que eu preparara aquela semana, resolvi fazer um clássico simplérrimo: Oeuf Mayo. Ovos cozidos com maionese. Só isso.


SNACK DA NOITE

Lembra que eu disse que eu janto cedo? As fotos ali em cima foram tiradas entre 5h30 e 6h30, dependendo do ritmo pós-escola. Dá bem pra ver como nossos jantares antes eram feitos com luz do sol entrando pela janela e agora apenas com a luz do abajur, pois o sol agora, às 5 da tarde, já foi embora e é noite fechada. 

O que acontece quando você janta às seis da tarde e vai dormir às dez da noite? Você tem fome. E é por saber disso que eu SEMPRE deixo para comer sobremesa no fim do dia, de snack. Sempre que tem alguma sobremesa, as crianças comem logo em seguida ao jantar e já correm para escovar os dentes e brincar ou encerrar o dia, pois vão para a cama entre 7h30 e 8h. Eu nunca como doce junto com eles, pois sei que mesmo que esteja satisfeita, o hábito vai me fazer buscar comida lá pelas nove da noite. Nove da noite é minha hora do doce. 

A abóbora de Halloween que Thomas trouxe da fazenda no passeio da escola virou torta a pedido dele. Deliciosa. Receita de Dorie Greenspan.

O miolo dessa abóbora virou recheio da torta aí embaixo.

 

Mas quase sempre a sobremesa por aqui é sorvete. Por causa das crianças? Não, por causa do marido, que pergunta toda noite depois do jantar: "tem sorvete?" Esse de baunilha que é o grande favorito da casa e o grande responsável pelo meu estoque sem fim de claras de ovos (ainda que essa receita use poucas gemas, comparada a outros).  Acompanhou um frozen yogurt de café de David Lebovitz, maravilhoso, mas a pior sobremesa do mundo para se comer às nove da noite, pois leva uma quantidade avassaladora de espresso. Também não recomendo sorvete de cafè para duas crianças. Tá? Só não. Experiência própria. De qualquer forma, me refestelei de sorvete de baunilha e sorvete de café, polvilhado com cacau em pó, quase lembrando um tiramisù. (Aliás, se você for comprar uma máquina de sorvete, recomendo a da Cuisinart. A mais barata das novas versões dela, só com botão de liga e desliga. Achei que os sorvetes ficam imensamente mais cremosos do que com minha antiga da Hamilton Beach.)

MEU SORVETE DE BAUNILHA PREFERIDO, que eu acho que já postei aqui, mas não custa colocar de novo.
(ligeiramente adaptado do livro Twelve, de Tessa Kiros)

Ingredientes:
  • 750ml de leite integral
  • 250ml creme de leite fresco
  • 4 gemas grandes
  • 200g açúcar
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 1 pitada de sal

Preparo:
  1. Numa tigela, misture com um fouet as gemas e o açúcar até que fiquem claras e fofas. Enquanto isso, aqueça o leite e o creme até quase o ponto de fervura. 
  2. Junte uma concha do leite quente às gemas, mexendo rapidamente para que as gemas não cozinhem. Repita o processo mais duas vezes e então junte o restante do leite quente, misturando bem com o fouet. 
  3. Transfira de volta para a panela e leve ao fogo médio-baixo, mexendo sempre com uma colher de pau ou espátula, fazendo um 8 no fundo da panela, até que a mistura engrosse o bastante para que você passe o dedo nas costas da colher e o rastro se mantenha, sem que o creme escorra. NÃO DEIXE QUE FERVA EM MOMENTO NENHUM, ou o creme vai talhar e arruinar a textura do sorvete. O processo pode demorar até uns dez minutos, dependendo da panela e da intensidade do fogo. 
  4. Remova imediatamente do fogo, e passe por uma peneira para uma tigela limpa, para remover qualquer pedaço de ovo que possa ter coagulado. Num mundo ideal, a peneira não vai pegar nada. 
  5. Junte o sal e a baunilha e continue mexendo a mistura na tigela até que o vapor pare de sair. Alternativamente, você pode colocar a tigela sobre uma maior com água e gelo para resfriar mais rápido, mas como minhas tigelas são de vidro, tenho medo que trinquem, então não faço isso. 
  6. Leve o creme à geladeira, sem nenhuma tampa (você não quer nenhum vapor condensando e pingando de volta no creme, para virar gelo depois). Resfrie durante a noite e coloque na sorveteira no dia seguinte, seguindo as instruções do fabricante. 


Quando não tem sobremesa nenhuma na casa, o que às vezes acontece, normalmente apelo para uma maçã com manteiga de amendoim, algum legume cru com hommus, ou, se é para ser brutalmente honesta, algum salgadinho que o marido abriu para acompanhar uma cerveja de fim de dia. Porque eu adoro salsão com hommus, só que cerveja pede porcaria. Quando ainda quero parecer virtuosa, abro um avocado e preparo um guacamole rapidinho para acompanhar tortilla chips. Senão, um punhadinho de Cheezes (pense um Cheetos canadense BEM crocante e feito com cheddar, mas que não deixa pózinho radioativo grudado no dedo) vai muito bem com a cervejinha, que via de regra é consumida só de fim de semana. Mas regras foram feitas para serem quebradas, né? 

E esse é o fim de uma semana e uns quebrados de refeições razoavelmente típicas aqui de casa. Vou dormir lá pelas dez e meia da noite, depois de um último passeio com o cão, e começa um novo dia de torradas e iogurtes com fruta e cappcuccino, e chás e jantares repletos de legumes e partes estranhas de vegetais. :)

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Outubro, planejamento às avessas, sopas econômicas, molhos franceses




Caminho pelo parque com o cachorro, segurando a coleira enrolada na mão enluvada, afundando os pés em pilhas de folhas multicoloridas que craquelam e farfalham ao serem pisoteadas e movimentadas, sentindo o vento gelado na ponta do nariz, nas bochechas que se avermelham, nos cabelos ainda livres dos futuros gorros de lã. E nem acredito que o Outono já chegou novamente.

Depois de um veranico nas últimas semanas, que nos possibilitou andar por aí de camiseta e até suar um bocado durante as corridas matinais, as temperaturas despencaram outra vez e prometem continuar em queda livre pelos próximos meses.

De um dia para o outro, os caixotes de melancias nos mercados foram substituídos por caixotes de variados tipos de abóbora, as abobrinhas e os pêssegos dobraram de preço, e as peras e as romãs ressurgiram das cinzas.

OUTONO!
Voltamos de fato à velha rotina dos lanches escolares, e da eterna busca pela boa alimentação das crianças na escola, tentando não enlouquecer muito quando seu filho passa o verão inteiro pedindo por maçãs, e quando elas chegam, ele diz que não gosta de comer maçã na escola.

Dai-me paciência.

Quem passa por aqui desde os primórdios desse inglório blog já acostumou com meus infindáveis posts falando que estou buscando (ainda mais) um jeito de diminuir a conta do mercado e tornar a vida na cozinha mais fácil. Fazer o quê? Eu sou assim mesmo, estou sempre buscando um jeito novo de fazer as coisas e procurando melhorar como ser humano-pessoa-mãe-mulher-indivíduo-sujeito-transeunte.

Em tempo: quem lê pode achar que estamos sempre endividados com a conta do mercado, com essa minha nóia de diminuir a conta. A verdade é que sempre estivemos bem abaixo da média de consumo de mercado de uma família de quatro pessoas de classe média, tanto em São Paulo quanto aqui em Toronto, mas principalmente aqui, onde a média é de 200 dólares canadenses por semana SÓ em comida, segundo pesquisa do governo. Gasto menos do que isso, incluindo produtos de limpeza e comida do cachorro. Só bebida alcoólica que não entra na conta, pois como aqui só se compra bebida em loja especializada, fica fácil dividir a categoria no orçamento. (Alguém tem interesse em post sobre supermercado e da transformação da compra em refeições? Se sim, levanta a mão).

Enfim.

O ponto é que acredito que sempre haja espaço para melhorias.

E na minha infindável pesquisa internet afora por ideias para variar a lancheira da criançada (meu marido rola de rir de ver meu histórico de YouTube cheio de video de lancheira), caí nos videos de Meal Planning. Meu Eu Curioso e Filha de Engenheiro imediatamente pensou: ok, por que não?

Eu gosto de planejar bem as compras, e tenho uma lista no Keep com todos os itens de consumo regular mensal com os preços médios ao lado, devidamente compartilhada com o marido para que nenhum dos dois compre a mais coisa que não precisa ou compre mais caro do que o preço usual. Lembra? Filha de engenheiro e casada com homem de marketing. É muita planilha à minha volta me influenciando.

Enfim, de novo.

Como dizia, gosto de planejar, mas não a ponto de ter porcionado até o lanchinho da meia-noite depois da cerveja, e por isso mesmo resolvi testar o método mais hard core. Vai que funciona!

Fui lá feliz e contente, avaliei o conteúdo da despensa e da geladeira, e escolhi os jantares da semana, os almoços das crianças, os snacks deles, e meus almoços e snacks, fiz a lista e fui às compras. Naquele início de outono, com os últimos tomates em promoção, os últimos pêssegos, foi uma luta brutal contra minha vontade de encher o carrinho com tudo aquilo que eu não veria de novo pelos próximos seis meses e de fato me ater à lista. Mas consegui. Pelo menos naquela semana.

Os snacks foram todos fáceis, pois eu vario os lanches das crianças sempre pensando em algo doce, algo salgado, um legume, uma fruta, e eu meio que como sempre a mesma coisa todo dia quando estou sozinha. (Alguém tem interesse numa versão escrita de um daqueles videos de you tube "o que eu como em um dia?" hahaha, se sim, levanta a mão de novo.)

E os jantares escolhidos, considerando que nos fins de semana normalmente improvisamos, comemos fora ou fazemos alguma espécie de sanduíche, foram:
  • Pimentões recheados, porque eu tinha arroz já pronto e uns pimentões que já começavam a querer murchar. 
  • Curry de lentilhas com couve e arroz, porque eu tinha lentilhas congeladas, leite de coco, e um maço de couve precisando ser preparado. 
  • Risotto de alho-poró
  • Farfalle al pesto, porque eu tinha CERTEZA ABSOLUTA de que havia uma porção de pesto ainda congelada.
  • Pizza, porque toda sexta-feira tem pizza
 Deixei a lista das receitas na geladeira, e me senti muito virtuosa com minha diminuta lista de compras. E então a semana começou.

Calhou que durante o fim de semana sobrara pizza e não me lembro mais o quê, e acabei não preparando os pimentões recheados. O arroz e os pimentões continuavam sobrando ali, murchando e implorando uso. No dia que eu reservara para fazer o curry de lentilhas, resolvi que ao invés de colocar a couve no curry, colocaria os pimentões que precisavam ser usados, mas considerei que eles não combinariam tão bem com as lentilhas e, de supetão, voltei as lentilhas ao congelador e tirei para bancada o pote de grão-de-bico. O arroz que eu tinha na geladeira não era o bastante para acompanhar o curry, e já que teria de preparar mais, resolvi já de cara preparar bastante outra vez e dar outro uso para o arroz velho.

E a primeira refeição da semana foi um panelão imenso de curry de grão-de-bico e pimentão, preparado com a refoga de cebola, alho e gengibre no azeite, com canela, cardamomo, pimenta-calabresa, pimenta-do-reino, cúrcuma, grãos de cominho, de coentro, de mostarda, folha de louro, tudo até dourar. Entra o pimentão em cubos até amaciar, e então o grão de bico com seu caldo, cozinhando até reduzir o caldo um pouco. Entra o leite de coco e cozinha até apurar. Um punhado generoso de coentro cobre tudo e sirvo com arroz e uma colherada de iogurte, que as crianças adoram colocar em tudo o que é apimentado para aliviar o ardor. Já falei sobre meus curries AQUI.

O que sobrou do curry com arroz já deixei em potes, garantindo a marmita do marido pela semana toda.

Vai comer curry até enjoar.

Ok, o planejamento começou mal.

O dia seguinte era o dia do Risotto de Alho-poró. Que no frigir dos ovos me deu uma preguiça, porque já havíamos comido arroz no dia anterior e eu ainda tinha arroz velho na geladeira esperando um destino. Suspirei, joguei fora aquela ideia e resolvi preparar uma sopa francesa de alho-poró, ervilhas (que sempre tenho no freezer) e alface (que eu comprara para preparar uma salada de almoço mas que acabara não usando ainda).

 

A sopa não poderia ser mais simples, pois basta colocar tudo na panela de uma vez, cozinhar e bater no liquidificador. Gostosa e leve, ótima para aquele friozinho que vinha e não vinha.

POTAGE SAINT-GERMAIN
(Do livro I Know How to Cook, the Ginette Mathiot)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 60g alho poró fatiado (cerca de metade de um pequeno)
  • 1 pé de alface, rasgado em pedaços pequenos ou fatiado grosso
  • sal
  • 500g ervilhas (pode ser congelada)
  • 1 gema de ovo
  • 4 colh. (sopa) de creme de leite ou sour cream
  • 2 colh. (sopa) generosas de manteiga

Preparo:
  1. Coloque na panela o alho poró e o alface e cubra com 6 1/3 xic. de água. Tempere com uma pitada de sal e leve à fervura, fervendo em fogo baixo por 10 minutos, sem tampa.
  2. Junte as ervilhas e cozinhe por mais 10 minutos.
  3. Num potinho, misture a gema ao creme e reserve. 
  4. Na hora de servir, bata a sopa num liquidificador ou com hand blender até a consistência desejada (pode ser lisa ou pedaçuda - fiz lisa desta vez, mas acho que deixaria mais pedaçuda na próxima). Desligue o fogo, junte o creme reservado e a manteiga, acerte o sal e sirva imediatamente.   

Os croûtons, acredite ou não, foram feitos com as bordas da pizza que minha filha e meu marido nunca comem. Ao invés de jogar fora, corto, torro e guardo num pote. Na eventualidade de uma sopa ou de uma salada, basta dourar em azeite e alho. Afinal, como diz minha filha, pizza é só um pão com cobertura. A borda, que não tem cobertura, é só pão e ponto. Vira croûton e dos bons.

Já que eu ia fatiar alho-poró e lavá-los para a sopa, pois eles vieram bem cheios de terra, achei que seria inteligente já fatiá-los e lavar todos os três logo de uma vez, apesar de usar apenas metade de um para aquele jantar. Enquanto a sopa fervia, botei o restante do alho-poró fatiado na panela com azeite, manteiga e tomilho, e deixei ali, até quase desmanchar, deglaceando a panela com um pouco de água, tampando e deixando que cozinhasse até quase virar purê. Então guardei num pote para que virasse recheio de torta depois. Na empolgação, resolvi fazer o mesmo com a maior parte do enorme pé de couve crespa que eu comprara, antes que começasse a murchar e melar. Refogadinha com alho, foi também para um pote.


E pronto, mais uma refeição do meu planejamento fora para a cucuia.

No dia seguinte, é claro, como eu já tinha o recheio para uma torta pronto, resolvi fazer a massa para estrear a forma de quiche, que não aguentei e acabei comprando na Ikea. Confesso, eu poderia continuar usando a assadeira retangular, mas eu ficava doida na hora de servir os pedaços e ver que os pedaços dos cantos tinham mais bordinha (parte favorita das crianças, ao contrário da borda da pizza) do que os das retas. Pet Peeve novo revelado: quiche tem que ser redondo pra todo mundo ter a mesma quantidade de borda e recheio. Egalité na quiche francesa, CLARO!

Para acompanhar o quiche de alho-poró, uma salada de alface, salsão e o último tomate da geladeira.


  
 E o que fazer com aquela couve preparada e aquele arroz fazendo aniversário? Coloquei no processador com ovos, parmesão, mozzarella ralada, salsinha, cebola picada, e um pouco de farinha para dar liga, temperei e pulsei umas duas ou três vezes, só para misturar e triturar uma parte do arroz, bem pouco, apenas para que os grãos grudassem e eu conseguisse transformá-las em bolinhas. Temperei-as com um fio de azeite e levei-as à AirFryer (marido continua na Philips e trouxe uma para casa, e hoje mordo a língua, pois a danada é ótima para fazer bolinhos como esse).

Os bolinhos da foto são de outra semana, que eu preparara usando talos de dente de leão. Como as crianças adoraram, apesar do amargor dos talos, escondidinho sob a doçura do queijo, achei que com couve também iriam bem, e o que havia de arroz e couve foi o bastante para que os dois levassem de almoço escolar cinco bolinhos cada por dois dias seguidos, para chuchar no ketchup.


Vou sentir saudades desses tomates. Tchau, tomates!!
Mas nem tudo estava perdido. Havia ainda UMA refeição para cumprir à risca e acreditar que meu Meal Planning funcionara afinal:o macarrão com pesto. Abro meu freezer contente apenas para constatar que... tipo... não. Não era pesto, era clara de ovo congelada. 

F*ck.

Cato os tomates-cereja que eu comprara para Laura levar de lanche e transformo em molho, refogando em azeite e um punhado de cebolinhas picadas (que também sempre tenho no freezer), incrementando com ervilhas no final. 

 

A única coisa que ficou no lugar foi a pizza mesmo.

Nos almoços das crianças ainda consegui me manter mais ou menos dentro do planejado, mas os snacks acabaram sofrendo imensa influência dos quereres de cada um e do que tinha disponível no fim das contas, Laura comera no café da manhã todos os kiwis que eu reservara para o lanche, eu usara os tomates-cereja no jantar, nenhum dos dois quis levar hommus com salsão, e foi isso aí. Eu queria ter feito crepes para mandar enroladinho em bananas e uma "Nutella" de sementes que achei no mercado (porque as crianças não podem levar Nutella de verdade para a escola, já que é uma Nut-Free School - meus olhos rolando enquanto escrevo isso, que eu sei que povo aqui tem alergias, mas isso de Nut Free me atrapalha horrores). Mas, claro, não fiz, não deu tempo, porque estávamos com visitas em casa, e acabei transformando as bananas em bolo - um bolo MUITO bom, por sinal, e esse canal também foi responsável pela nova receita de pão de queijo que ando fazendo, já que é uma bela adaptação com ingredientes canadenses. 



O que foi que nós aprendemos essa semana, amiguinhos?

Que meu negócio é mesmo o improviso, e que na minha cozinha a comida sai mais gostosa quando eu preparo o que quero comer aquele dia. Que sim, é MUITO prático você deixar já prontos os ingredientes que você sabe que se preparam sempre da mesma forma, como a couve e o alho-poró, ou ter leguminosas cozidas no freezer, ou preparar arroz de batelada, até como comentei no último post. Mas que é muito difícil, sem saber como vai ser seu dia durante a semana, se comprometer a um determinado cardápio assim, sem arredar pé. Já fiz isso na minha vida, e sempre me lasquei, pois ficava estressada por querer preparar um cozido de três horas nos quarenta minutos que haviam sobrado, ou me frustrava quando todo mundo queria pedir pizza em dia que eu planejara fazer torta.

Cada cozinheiro, no fim, tem um ritmo e um jeito diferente, e TÁ TUDO BEM. Eu, aparentemente, faço mais o estilo Rapa de Geladeira. Sou ótima de planejar, mas péssima pra implementar o plano (na cozinha e na vida, aliás). Mas me dá uma geladeira cheia de resto que parece não ter lé com cré, e eu crio uma refeição para quatro pessoas. E eu adoro isso! :)

No fim, foi uma semana divertida, mas descobri que meal planning rígido assim não é mesmo para mim.

Em contra partida, o que ficou evidente, com minha diminuta lista de compras para essas refeições da semana, é o quanto tendemos a overbuy. Seja por FOMO (Fear of Missing Out), que nos faz querer ter aquele ingrediente "pro caso de...", ou seja por falta de conhecimento detalhado de seu próprio padrão de consumo... toda vez que uma fruta estraga na fruteira ou uma garrafa de creme de leite vence na geladeira, pode não ser fruto de sua inabilidade de cozinhar ou reaproveitar alimentos, mas simplesmente porque você não precisava ter comprado aquilo aquela semana. O fato de eu saber que toda semana teremos duas noites de macarrão e uma noite de pizza, que uma noite pelo menos arroz será o acompanhamento, coisa que era impensável para meu estilo de cozinha no Brasil, me ajuda a não comprar a mais, salvo naquela semana louca de verão em que fui hipnotizada pela abundância e variedade do mercado. E esse semana de planejamento, mesmo não tendo seguido à risca NENHUM prato planejado, me fez ver que, de fato, é preciso MUITO POUCA comida por semana para manter minha família. Bem menos do que eu comprava no Brasil.

Lembro principalmente da minha época confeiteira-louca, em que passava os fins de semana preparando bolos e biscoitos e pães e tortas e sorvetes, e achava que tinha de ter sempre na despensa diversas farinhas e chocolates e toda sorte de ingredientes especiais...

Meu deus, como eu comprava mais do que precisava! E COZINHAVA mais do que precisava. Consequentemente, todo mundo comia a mais também.

Hoje, NUNCA tenho chocolate em casa. Quando quero um doce com chocolate, coloco na lista da semana e compro a quantidade exata de chocolate quando for o dia de mercado.
Tipo meu bolo de aniversário de sempre. O clássico.

De novo, menos opções em casa baixam minha ansiedade, menos comida estraga, é mais fácil decidir o que preparar no dia.Vamos então voltar para o que estava funcionando. Eu adoro mexer em time que está ganhando, mas não tenho nenhum problema em admitir que fiz porcaria e voltar atrás. Seja gerenciando cozinha ou criando filho, não existe solução mágica nem fórmula única: você sabe o que funciona para você, e se não estiver funcionando, tem toda a liberdade de tentar outros caminhos.

E O QUE MAIS SAIU DESSA COZINHA ESSE MÊS?

Tenho feito muitos poucos doces merecedores de um post. Desde que me mudei sinto que uma das coisas das quais me desapeguei foi da Ana-Confeiteira-Louca-Obcessiva. Principalmente porque as crianças estão fora o dia todo, prefiro mandar um bolo com frutas do que um bolo de chocolate para a escola, e durante o verão meio que tentei mandar apenas frutas mesmo, sem nenhum doce. Ninguém fica chateado se não tem sobremesa depois do jantar, e de fim de semana costumávamos levar as crianças para tomar sorvete, então parece que não teria muito bem motivo para ficar fazendo bolos e biscoitos e tortas e pudins dia sim, dia não, como era no Brasil. Converso sempre com uma amiga que acredita na influencia do ambiente: uma cozinha te dá mais vontade de cozinhar isso ou aquilo do que outra. E acho que ela tem razão. Tudo aqui me impele à praticidade. Não sinto falta de preparações complexas, nem no fazer, nem no paladar. É estranho, mas é bom. O bolo de sempre está bom. Às vezes faço algo diferente, mas desde que seja super simples, e de preferência que as crianças possam fazer junto.

No entanto, tenho me arriscado a voltar a algumas técnicas básicas que eu sentia que não havia dominado completamente ainda. O ventinho gelado no rosto e nas mãos me joga de volta às carnes. Mas mesmo elas acabo não preparando muito. Primeiro porque carnes boas são caras. Segundo, porque não tenho tempo de preparar um assado durante a semana, ou os pratos que realmente gostaria de tentar, e durante o fim de semana minha vontade de ir para a cozinha desaparece. Nesse momento, o marido que aprendeu a fazer waffles e é o responsável pelos cachorros-quentes de linguiça e pelos hambúrgueres caseiros, toma conta. Eu entro na cozinha para tomar meu café e bater uma porção de maionese fresquinha para os sanduíches.


Isso de voltar a fazer maionese começou a me empolgar, no entanto. Vi um episódio de Mind of a Chef, com a chef Gabrielle Hamilton, em que ela preparava meu café da manhã favorito, Eggs Benedict, e dizia: o que faz esse molho funcionar é a acidez; tem acidez suficiente no início para estabilizar as gemas para receberem toda essa manteiga. E seu método para molho Hollandaise era completamente diferente de tudo o que eu vira até então. Primeiro, tentei aplicar isso à maionese, que andara talhando miseravelmente nas últimas trinta e duas vezes que eu a preparara. Eu achava que era o tipo de óleo, que era o ovo gelado de geladeira... nunca pensei que fosse simplesmente pouca mostarda. Olhei para a gema na tigela e coloquei uma colher de sopa de mostarda de Dijon, quase do tamanho da gema, ainda gelada de geladeira. E comecei a incorporar o óleo (3/4 xic - 1 xic, dependendo do tamanho da gema), uma colher de sopa por vez. E foi assim que comecei a acertar a maionese SEMPRE. Tenho feito toda semana e fica sempre perfeita. Limão para temperar, sal e pimenta do reino e NHAM! Enquanto havia tomates, meu almoço foi uma fatia de pão dourada no azeite, uma passadela generosa de maionese caseira e fatias de tomate bem maduro e doce, temperado com sal e pimenta. Perfeição.

Isso me animou a tentar seu Hollandaise. Eis um molho que eu NUNCA conseguira acertar, principalmente porque todo mundo dizia que só funcionava em grande quantidade. Nada de fazer só uma xícara de hollandaise, como faço com a maionese. Afe. Mas O MÉTODO DELA parecia ótimo para pequenas porções, além de ser menos cheio de fricote, sem bater tigela em banho-maria e afins. Numa manhã de sábado em que o marido fora viajar a trabalho, resolvi me aventurar e preparar eggs benedict para as crianças. Ok, eu não tinha english muffins nem bacon canadense (ironicamente), então usei metades de bagels e Black Forest Ham. Há um tempo já que tenho me aperfeiçoado na arte do ovo poché, e descobri que o ovo grudado no fundo e espalhado era mera culpa da água em temperatura errada. Ela tem que estar realmente quase naquele ponto de começar fervura brava, quando as bolhas começam a fazer pequenas torres finas subindo à superfície. Se as bolinhas no fundo da panela estiverem muito pequeninas, a água não está quente o bastante e o ovo vai espalhar no fundo. Na temperatura certa, ele não encosta no fundo e o próprio movimento de ebulição leve da água envelopa o ovo na própria clara. Não precisa nem fazer o redemoinho. Uso uma caçarola larga, e coloco vários ovos ali, em sentido horário para saber qual tirar primeiro, e todos saem perfeitos.


Fiz um terço da receita do Hollandaise, que achei suficiente para nós três, com um pouco de sobra. E funcionou tão maravilhosamente bem, o molho ficou tão incrivelmente sedoso e saboroso, que as crianças acharam graça dos meus pulinhos e minha risada. Os bagels, no fim, ficaram muito grandes para esse preparo, mas as crianças pediram o resto do molho e chucharam não apenas o resto de seus bagels mas os outros que surrupiaram de cima da bancada, até que não houvesse mais molho. 

Por conta desse sucesso, num almoço solitário, resolvi fazer ainda um ovo que eu nunca preparara antes, e que de tanto aparecer nos últimos Masterchefs, me causara curiosidade: o ovo Mollet. Lembrei na hora de uma receita do livro da Heloísa Bacellar, de ovo mollet com molho Meurette, que na época em que eu comprei o livro (há mais de dez anos) me parecia tão trabalhoso, que nunca me aventurei a tentar. Como não tinha mais o da Heloísa, catei meu livro francês I Know How to Cook, dividi mentalmente a receita de sauce Meurette para compor apenas meu prato, e pus-me ao trabalho. E trabalho que nada! Você coloca a água dos ovos para ferver em uma panela e o molho em outra. Enquanto o molho cozinha, você descasca os ovos e doura os pães, e em quinze a vinte minutos o prato está pronto, dependendo de quantos ovos está fazendo e da sua destreza na cozinha.


Servi meu sauce Meurette sobre o ovo Mollet e cogumelos refogados sobre uma torrada integral esfregada com alho, e digo que foi uma refeição simples e sensacional. Meu molho não ficou vermelho porque o único vinho que tinha em casa naquele  momento era o Marsala. É o tipo de prato que quero preparar para as crianças, que amam ovos moles e cogumelos. Nham, nham, nham.

OEUF MOLLET EN MEURETTE 
(Ligeiramente adaptado do livro I Know How to Cook, de Ginette Mathiot)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 6 ovos
  • 3 xic. vinho tinto 
  • 1 cebola pequena, picada
  • 1 galho de tomilho
  • 1 folha de louro
  • 2 ramos de salsinha
  • 1/3 xic. manteiga em temperatura ambiente, mais um pouco para dourar o pão
  • 1 1/2 colh. (sopa) farinha de trigo
  • sal e pimenta do reino
  • 6 fatias de pão
  • 1/2 dente de alho

Preparo:
  1. Cozinhe os ovos: leve uma panela pequena com água bastante para cobrir os ovos à fervura, tempere com uma pitada de sal, e deixe uma tigela com água gelada reservada ao lado. Coloque os ovos na água com uma escumadeira e cozinhe por 5 minutos. Retire com a escumadeira e coloque imediatamente os ovos na água gelada, para parar o cozimento. Quando estiverem frios o bastante para tocá-los, descasque CUIDADOSAMENTE, pois eles estarão bem mais moles do que um ovo cozido normal. Reserve num prato. 
  2. Numa frigideira, coloque o vinho, cebola e as ervas e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe até que reduza pela metade (se estiver fazendo uma quantidade menor do que a receita, isso acontece MUITO rápido).
  3. Misture 2 colh. (sopa) da manteiga com a farinha para formar uma pastinha e junte ao molho, misturando com um fouet para incorporar e não formar bolotas. Ferva por 1 minuto até que engrosse.
  4. Com o fouet, misture o restante da manteiga e passe por uma peneira para uma tigela, descartando os sólidos. (Eu apenas tirei as ervas e servi com as cebolas, porque, convenhamos, eu queria comê-las.) Tempere com sal e pimenta e reserve.
  5. Em outra frigideira, derreta um pouco de manteiga e e doure os pães. Esfregue o dente de alho nas fatias douradas, e coloque uma em cada prato. Coloque o ovo descascado cuidadosamente por cima e cubra com o molho.(Salsinha picada por cima foi fricote meu.)

E o que mais?

Teve ESSE PÃO integral com aveia da Deb do Smitten Kitchen que foi devorado sumariamente, tão bom. Pense num pão macio.
Também para quem não gosta de desperdiçar nada... Havia comprado um saco imenso de peras, pois elas surgem e vão embora tão rápido quanto o sol do inverno Norueguês. As peras daqui são super doces e saborosas, mas por algum motivo, Laura decidiu que não gosta de pera e Thomas... bem, Thomas não gosta de fruta. Ê fase. Quem lembra de foto do Thomas se esbaldando com tudo quanto é fruta quando pequeno não reconheceria o menino hoje. 

Como já tinha bolo pronto e eu não queria desperdiçar as peras, transformei-as nessa compota da Alice Medrich, e agora a criançada tem colocado pera em calda no mingau, no sorvete, e, principalmente, no iogurte, pois o contraste do doce melífero e perfumado da compota e o azedinho do iogurte faz com que isso pareça sobremesa de restaurante cinco estrelas. Um abuso de bom. Tanto, que quando as peras acabaram mas o caldo ainda era abundante, voltei-o para a panela e cozinhei mais peras frescas nele. E todo mundo ficou contente por ter mais peras em calda pra comer. Vai entender.


PERAS EM CALDA
(Do livro Sinfully Easy Delicious Desserts, de Alice Medrich) 

Ingredientes:
  • 1/2 colh. (chá) sementes de erva-doce
  • 1 1/3 xic. água
  • 2/3 xic. suco de limão siciliano
  • 1 3/4 xic. açúcar
  • 4-5 peras maduras mas ainda firmes, cortadas em quartos e com as sementes removidas

Preparo:
  1. Combine a água, o suco de limão, as sementes e o açúcar numa panela e leve à fervura em fogo alto. Abaixe o fogo e cozinhe por cinco minutos. 
  2. Junte as peras, cubra com uma tigela ou pires de diâmetro pouco menor que a panela, para mantê-las afundadas na calda, e cozinhe em fogo baixo por 3-5 minutos, dependendo da firmeza das frutas.
  3. Remova a panela do fogo. Deixe que esfriem, sem remover o pires, por 1 hora. Então passe para um recipiente com tampa e leve à geladeira até a hora de servir. A compota dura cerca de uma semana, e se melhora conforme os dias passam. 
 Nisso de reaproveitamento, acompanhei um passeio de escola de Thomas a uma fazenda, onde as crianças colheram diversos vegetais que os professores então decidiram cozinhar para que as crianças experimentassem. Quando comentei com a professora sobre não esquecer de usar as folhas dos nabos e da erva-doce, ela disse: "Não teremos tempo de consumir tudo isso, eu acho. Quer as folhas para você?"

Ieeeei! Claro!

No mesmo dia as folhas de nabo, com seus talos, foram branqueadas até amaciarem, e então refogadas em nacos generosos de manteiga e alho. Acompanharam batatas-doce assadas e um arroz de forno em que usei as partes externas da erva-doce, machucadinhas, que a professora havia descartado com as folhagens. Fatiei essas partes fino e caramelizei com cebolas, incorporando ao arroz de transantontem com ovo, parmesão, salsinha e folhas de erva-doce. Parmesão polvilhado por cima e nacos de manteiga, e forno nele até dourar. 


O resto das folhas de erva-doce (que eram MUITAS) viraram um pesto sem queijo, apenas com alho, pinolis e azeite, que bati no processador e congelei, para usar em massas, legumes e para esfregar num peixe da próxima vez.

Falando em economia doméstica, a sopa abaixo parece pouca coisa mas é deliciosa e fez muito sucesso com as crianças. Também do livro francês. Chama-se, justamente, Soupe Économique! Você leva à fervura 6 1/2 xic. de caldo caseiro (qualquer caldo! usei o meu de legumes, mas um de carne ou galinha deve ficar sensacional!) junta 500g de batatas raladas com casca (raladas na parte grossa do ralador) e cozinha por 10 minutos ou até que a batata esteja macia e quase desmanchando no caldo, que automaticamente engrossa com o amido da batata. Na hora de servir, basta juntar 2 generosas colheres (sopa) manteiga e acertar o sal e a pimenta. Servi com o que restara da focaccia al rosmarino que eu preparara no dia anterior, pois ter algo para chuchar na sopa sempre foi o segredo para as crianças experimentarem a sopa e começarem a comê-la sem queimarem as bocas com o caldo muito quente.

(As fotos dos jantares tendem a ficar mais feias agora com a luz artificial, já que o sol anda se pondo mais cedo.)


Por último, a família que veio visitar também trouxe junto um presente de minha amiga querida do coração lá do Brasil, que é ceramista e tem um talento incrível. Já tomo meus cafés de meio da manhã numa xícara sua, minhas frutas ficam dispostas sobre um prato seu, azul e branco, e ela agora fez para mim um prato para minhas torradas de almoço, para que estejamos mais juntas, de alguma forma, e não tenhamos tantas saudades de nossos extensos chás com bolo, cheios de boa conversa. 

Dêem uma olhada no trabalho dela e do ATELIÊ GAROA, na sua loja e em seu Instagram: @ateliegaroa


Cozinhe isso também!

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