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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Um mês sem (com menos) açúcar e mousse de chocolate, porque a coerência, né?!

O Inverno de verdade demorou para chegar, mas quando chegou, chegou chegando.
Sabe resolução de ano novo? Eu detesto resolução de ano novo, e não me invento uma desde a minha adolescência. Porque, né? eu gosto de ser do contra. Foi meio sem querer que Janeiro acabou virando um mês que teve feeling de resolução de ano novo, mas foi engraçado por isso mesmo: porque não foi uma resolução de ano novo. Muitas transformações aconteceram, no meio do clima louco que despencou dos 5 graus positivos para os 36 negativos durante duas semanas, inclusive minha primeira exposição em Toronto, no Starving Artist Café, que exibiu minhas aquarelas durante 8 semanas. :)



Acordei no dia primeiro do ano incomodada. Muita coisa passara pela minha cabeça durante o mês de dezembro, e quando me levantei da cama para tomar o primeiro cappuccino do ano, conseguia sentir minhas caraminholas se movendo no meu cérebro.

Mamãe, quer waffle? perguntaram as crianças. Não, respondi. Acho que quero dar um tempo do açúcar. Quero ver o que acontece.

Não era dieta, não era modismo, era mera curiosidade. Eu achava que era uma pessoa que já não consumia lá muito açúcar mesmo (vide o post do que como num dia normal), mas fiquei curiosa em saber se eu conseguiria ficar sem o pouco que a que eu me acostumara. Sabia que o ponto fraco era o goró, meu tipo de açúcar preferido, e eu acreditava que a experiência me ajudaria a ter mais clareza dos gatilhos emocionais e circunstanciais que me faziam comer uma fatia de bolo ou abrir uma cerveja.

Minha pele andava mais manchada do que o normal, sentia meu corpo inchado, e meu padrão de sono havia um tempo parecia errático, e intuí que deveria ter a ver com o quanto de álcool e açúcar que andava ingerindo (não a quantidade, porque não sou de exagerar há já uns anos, mas a frequência). Pois ainda que a "regra" aqui em casa seja de não beber durante a semana (até porque bebida alcoólica aqui em Ontario é cara), eu pareço sair do eixo toda vez que temos visitas, pois a visita está de férias e você entra no ritmo do convidado mesmo que sem se dar conta, aproveita para relaxar também... e nós tivemos um bocado de visitas no segundo semestre de 2018, e eu claramente não conseguira voltar a meu ponto de equilíbrio desde então.

Além disso, numa terça-feira em que as crianças perguntaram se havia sorvete de sobremesa do jantar, surpreendi-me com a resposta contundente de meu marido: "Ué, por que teria? É terça-feira!", E naquele momento me dei conta de que por boa parte da vidinha dos meus filhos, essa fora a regra de casa: podia até ter um bolo ou biscoito indo de lanche da escola, mas o conceito de "sobremesa", de "doce depois das refeições", sempre foi meio que coisa de fim de semana apenas. Sobremesa durante a semana é fruta. Ponto. Se quiser. Se não quiser fruta, vai escovar os dentes e xô.

Acontece que durante o verão, com a Saga-do-Sorvete-de-Fruta-Para-Fazer-Thomas-Comer-Mais-Fruta, continuei o embalo e quando me dei conta, todo mundo estava terminando o dia com sorvete. Mas agora de chocolate, de baunilha, de iogurte, de cheesecake, do que fosse.

"Ok, papai tem razão. Acabou a festa do doce e estamos voltando à normalidade. Sobremesa é só de fim de semana."

Antes que alguém revire os olhos e me xingue nos comentários, as crianças reclamaram no primeiro dia. Perguntaram da sobremesa no módulo automático no segundo dia. No terceiro já pediram licença da mesa e foram escovar os dentes e brincar. E quando chegou a sexta-feira, vieram felizes da vida perguntar qual era a sobremesa do fim de semana e está todo mundo contente e tranquilo. Esperar faz bem. (Tempo de tela é a mesma coisa aqui em casa: tv e video-game é só de fim de semana, e ninguém está sofrendo por isso.) E os dois sempre foram acostumados com uma casa que não tinha um monte de biscoito e chocolate dentro do armário.

Enfim.

No mesmo dia em que decidi cortar o açúcar (ou pelo menos diminuir, sabendo que o aniversário da Laura viria e que eu me permitiria alguma bebida durante os eventos já marcados com amigos, só pra evitar encheção de saco), também foi o dia em que propus a meu marido que começássemos a exercitar melhor nossa frugalidade. Sentei com nossas finanças e esmiucei todas os gastos do último ano, que agora finalmente haviam entrado num ritmo estável depois da mudança de país,e poderiam ser melhor avaliados. Saímos fazendo cortes onde podíamos, e estabelecemos algumas novas metas. Cortar cabelo em casa (um corte besta de máquina no barbeiro por aqui sai bem uns 50 dólares com gorjeta!! - e sim, cortei meu próprio cabelo e ficou muito bom, diga-se de passagem), ficar de olho nos horários mais baratos da companhia elétrica (aqui você tem horários e dias em que o preço da energia cai quase que pela metade), e mais várias outras pequenas e grandes mudanças, inclusive... tentar pela primeira vez realmente se manter dentro da meta de supermercado, que em muitos meses estourava em uns 20 a 30%, principalmente por aquelas autoindulgências típicas da nossa geração "eu mereço (item), porque...(insira seu motivo aqui)". Ou porque esquecíamos de deixar guardado aquele tanto para gastar no produto de limpeza que estava acabando, ou na ração do cachorro, que incluímos na categoria Groceries para simplificar nosso orçamento.
A comida do cachorro entra na nossa lista de comida porque, né? cachorro também é gente.
Um site que me ajudou um bocado nesse pensamento frugal esse mês foi o https://www.frugalwoods.com/ . Recomendo.

E lá fui eu.

Como mostrei no post anterior, sobre as compras de mercado, a primeira coisa que fiz foi verificar meu inventário: tudo o que havia de comida, bebida, ingredientes, produtos de limpeza, comida de cachorro, para verificar o que de imprescindível precisaria ser comprado aquele mês e para o qual eu teria de deixar uma "verba alocada". Montei na minha lousa da geladeira a maior quantidade possível de refeições com o que eu tinha em casa, indo de coisas bonitas como "quiche de abóbora e salada verde com rabanetes" até pratos tão absurdamente simples que pareciam saídos de uma verdadeira economia de guerra, como o dia da "Sopa Daquilo Que Sobrou", das fotos aqui em baixo. O objetivo era usar a criatividade para de fato esmiuçar a despensa e a geladeira até o último ingrediente disponível. E aproveitar para colocar à prova aquela minha teoria do último post de que você aprende a cozinhar de verdade com os ingredientes básicos, e não com com ingredientes caros.

Como transformar uma cenoura, uma cebola, um talo de salsão, um ramo de salsinha, borda de pizza de ontem, uma casca de parmesão e 1/4 xic de arroz para risotto em uma refeição para quatro pessoas?
Faça uma SOPA.
A sopa é simples e intuitiva: refogue em azeite a cebola, a cenoura e o salsão picadinhos, junte o arroz como se fosse fazer um risotto, tempere com sal  e a salsinha picada, e cubra com o dobro de água quente que você usaria para fazer um risotto (no caso, eu usei a água do cozimento do grão de bico, pois usara o grão de bico para fazer hommus e guardei o caldo no freezer - eu guardo água de cozimento de QUALQUER coisa no freezer pra incrementar sopas ou tornar um arroz simplesinho em algo mais nutritivo). Junte a casca de queijo, que vai cozinhar junto, e dar sabor e complexidade à sopinha e deixe cozinhar até o arroz estar macio. Não tem problema se passar do ponto. Se o arroz tiver absorvido muita água, junte mais e acerte o tempero. Doure a borda da pizza ou pão velho em cubinhos em azeite com uma pitada de sal e sirva com a sopa. Ficou com fome depois do jantar leve? Come uma fruta. Aqui, ninguém ficou com fome. Estava uma delícia e alimentou todo mundo muito bem. ;)

Enquanto isso, lá ia eu sem açúcar.

A manhã começou bem: eu nunca coloco açúcar no meu cappuccino, pois gosto de sentir a doçura da gordura do leite e o amargo do café. Para mim, açúcar adicionado só atrapalha. E prefiro um pão com manteiga e sal a qualquer outra coisa doce quando acordo. Foi no lanche das dez que a coisa entornou um pouco. Voltei da corrida, e quando fui montar meu potinho de iogurte e fruta, percebi que não usaria o mel de sempre. O iogurte que eu comprara aquele mês, mais barato que o meu habitual, era também mais ácido, e a fruta cortada em pedaços não foi um contraponto doce o bastante. Mas logo percebi que se RALASSE a fruta dentro do iogurte, ela soltaria seus sucos, distribuindo doçura mais uniformemente e tornando o mel desnecessário. #ficaadica.

O almoço, por sua vez, manteve-se igual.

Pão caseiro, abacate, o queijo feta que sobrara do reveillon, salsinha, cebolinha, azeite, limão e sal. Clementinas de sobremesa. Tudo, como sempre, no prato lindo da minha amiga Marina, do @ateliegaroa
Foi de novo no lanche que eu me vi mudando hábitos. Onde antes eu cataria um pedaço de bolo, ou uma das goiabinhas que minha mãe trouxe do Brasil, e correria para fora para buscar as crianças em mais uma deliciosa (note o sarcasmo) nevasca de janeiro, eu me vi catando uma banana.

 *** Aliás, uma curiosidade: não sei por que cargas d'água, mas é impossível separar as bananas canadenses do cacho com as mãos. As cascas são tão fortes, que preciso de uma faca para cortar a banana fora do cacho, como se estivesse tirando o cacho inteiro da bananeira. BIZARRO. Fim da curiosidade. De volta ao post. ***

Hora do jantar. Tudo corre normalmente, apenas evitando receitas cujo tempero envolvesse açúcar ou mel no preparo.

E aí veio o snack da noite. Aquele, que eu andava querendo evitar. Num dia uma banana bastou. Em outro, que desejava algo salgado, me vali dos legumes com hommus, que sempre tenho na geladeira. Mas meu snack da noite favorito, descobri, são fatias de maçã mergulhas em manteiga de amendoim e um bocado de canela. Parece estranho mas é na verdade delicioso e muito satisfatório.

Então quer dizer que foi muito fácil ficar sem açúcar e deu tudo muito certo?

Sim e não.

Como eu já comia pouco açúcar e eu já tinha um mindset de tentar buscar coisas mais saudáveis para beliscar, não foi difícil mudar o HÁBITO, porque foram poucos os momentos do meu dia em que eu precisei buscar uma alternativa. Eu nunca como sobremesas logo depois das refeições, então eu não me vi em momento nenhum "procurando um docinho".

O que eu vi foram algumas "condições de temperatura e pressão" em que eu ficava sim buscando desculpa para terminar o dia com alguma coisinha alcoólica. Não todos os dias. Eram alguns específicos. Normalmente no fim dos dias difíceis. Ou nas sextas-feiras, por exemplo, quando eu começava a preparar a pizza. Foi quando senti falta do meu vinhozim. Mas muito rapidamente, e aí foi a parte interessante, percebi que não era do gosto ou do buzz que eu sentia falta. Era de ter o copo na mão. Então assim como fiz durante aquele um ano e meio em que fiz dieta com nutricionista antes de engravidar, troquei o copo de vinho por uma xícara de chá. E tudo correu bastante bem.

Então foi tudo tranquilo e maravilhoso?

Não.

Assim como eu havia pesquisado, no terceiro dia sem açúcar minha energia e meu humor foram para o buraco. Eu queria gritar com todo mundo, tudo parecia difícil e horrível, todos estavam no meu caminho, e minha cabeça doía, não pela falta de açúcar, mas pela quantidade de tempo que mantive o cenho franzido, cultivando o ranço dentro mim. Esse foi o único dia em que não comi um snack da noite: porque fui dormir às oito e meia, enfurecida e exausta com o universo.

Um amigo do Allex, que fizera essa mesma desintoxicação de açúcar na época em que tentava descobrir a que diabos tinha alergia (a fermentos, no final ele descobriu), explicou a ele: Ih, o terceiro e o sétimo dia são os piores, e depois passa.

Dito e feito. No sétimo dia eu parecia igualmente confusa e mal humorada. Mas o que se seguiu depois foi sensacional.

"Minha cabeça está funcionando!", eu disse a Allex, que me olhou sem entender. "Sério, é como se tivessem passado um limpa-vidros no meu para-brisa sujo pela primeira vez."

O que eu sentia era clareza mental. Andava acordando mais facilmente e com muito mais foco. Eu sabia o que precisava ser feito e estava fazendo. Foi nesse momento, inclusive, que corri atrás e consegui minha primeira exposição de arte em Toronto. Foi quando voltei a produzir mais. Foi quando comecei a enxergar melhor algumas coisas acontecendo no meu dia-a-dia que poderiam ser melhoradas.

E meu corpo?
Ao final de duas semanas eu havia desinchado visivelmente e as manchas vermelhas em meu rosto haviam sumido. E a melhor parte de tudo, e que mais me chamou a atenção, é que pela primeira vez em minha vida, eu não tive NENHUMA TPM. Há dois dias por mês em que eu viro um monstro descontrolado, em que grito com as crianças sem motivo e fico procurando pêlo em ovo para arrumar briga: o da ovulação e o dia antes da menstruação descer. É tão certeiro, que uso isso até como guia para saber quando as duas coisas estão acontecendo ou vão acontecer. Nesse mês... não teve... NADA.

Outros efeitos interessantes:

- a partir da segunda semana, eu parei de ter vontade de beber. Quando Allex me perguntou se queria uma cerveja, respondi que SIM, mas logo em seguida mudei de ideia, porque me dei conta de que respondera automaticamente, e não de fato porque tinha vontade.
- nos momentos em que bebi, foi muito mais fácil parar ainda na primeira ou segunda, sem me sentir sequestrada emocionalmente por qualquer espécie de pressão social.
- os efeitos da bebida (mesmo que tão pouca) no dia seguinte ficaram MUITO mais evidentes, principalmente a quantidade de tempo que meu corpo levou para voltar ao normal depois. Essa velocidade de reparação parecia sempre mascarada pelo consumo de outros açúcares no meu dia-a-dia e não me permitia entender meu corpo.
- a vontade de comer doce sumiu. Mas quando eu comi açúcar, tive os mesmos sintomas de uma ressaca. No fim de semana do aniversário da Laura, em que tive 2 eventos em que bebi (pouco) e comi bolo, toda aquela clareza mental DESAPARECEU por uns 3 dias e meu humor voltou a ficar instável.

Era aniversário da Laura, e como ela pedira para chamar umas amiguinhas em casa no sábado, disse a ela que haveria bolo apenas no dia da festa, ao que ela concordou. No entanto, sem que ela soubesse, preparei esse bolo simplíssimo de baunilha da Alice Medrich, apanhei as framboesas congeladas, e fiz uma geleia rápida e azedinha. Depois da escola, enquanto Laura tomava seu banho compriiiiido de banheira, Thomas me ajudou a cortar o bolo ao meio, recheá-lo, e cobri-lo com chantilly recém-batido. Ele decorou com mais algumas framboesas e posicionou as velas. E Laura ficou felicíssima depois do jantar, quando anunciamos que, apesar de ser uma quarta-feira, teríamos sobremesa.

Thomas recheou e decorou o bolo-surpresa da Laura, que achava que só cantaria Parabéns no dia em que as amigas viessem.

Foi unânime que esse tem que ser o novo bolo oficial de aniversário, pois ficou infinitamente mais gostoso que o de chocolate.
O bolo estava delicioso. Leve e fresco. As crianças adoraram, Allex que não gosta de bolos se serviu mais de uma vez, e eu comi uma fatia gordinha e satisfatória.

O jantar também fora especial: pão de queijo e pastel, a pedido da aniversariante. Usei a receita da massa da Rita Lobo. A receita diz para abrir a massa até a espessura 3 da máquina de macarrão, mas o pastel acabou saindo mais com textura de panzerotti que de pastel de feira. Tive de abrir novamente toda a massa depois do primeiro teste, até uma espessura quase transparente, se não me engano, no nível 8. Preparei o dobro e deixei guardado o que sobrou para fazermos mais pastel no fim de semana.



O sabor escolhido pela aniversariante foi Pastel de Pizza. Essa foto foi da massa teste, que saiu muito grossa.
No sábado, preparei o bolo de aniversário clássico de chocolate, que nunca me parecera excessivamente doce até aquele momento. Quando também Laura e Thomas comentaram que preferiam o de baunilha. Metade de uma fatia bastou para mim, e deixei o restante para as crianças comerem de sobremesa durante o fim de semana.

E no fim de semana seguinte, quando Allex resolveu preparar sozinho um pudim de leite, e pesquisou uma receita do "melhor pudim de leite do Brasil", que levava uma tonelada de leite condensado e uma quantidade brutal de gemas de ovos, também um pedaço para mim bastou. Estava uma delícia. Mas depois de uma colherada gorda, eu sentia REALMENTE que eu já tinha matado a vontade.
Tudo isso me fez pensar a respeito da minha relação com açúcar, seja em forma de doce ou de álcool. Desde como somos ensinadas a enfiar o pé no doce para compensar nossas frustrações (pense na cena clássica da mulher rejeitada, chorando, comendo um pote inteiro de sorvete, ou na frase também clássica "ai, estou de TPM, tô precisando de um chocolatinho"), até na minha relação a cozinha.

Porque se eu não como doce, eu não faço doce (exceto pelo aniversário da Laura). E se eu não faço doce, ninguém em casa come doce. De novo, a não ser pela uma goiabinha que mando no lanche da escola e pelas sobremesa do fim de semana, todo mundo aqui em casa começou a comer MUITO MAIS FRUTAS. Inteiras, in natura. Não dentro de sorvete, pudim ou bolo. Dá pra contar nos dedos das mãos quantos doces a família toda comeu esse mês. E eu não enchi o saco de ninguém, nunca falei que era para a família inteira cortar doce, eu deixei bem claro que era uma experiência MINHA.

Mas acabou sendo melhor para todo mundo.

O que sobrou da quantidade BRUTAL e bananas, maçãs e clementinas que eu comprara no começo da semana.

 Na minha busca por uma vida tranquila, tem entrado muito a MME: Maternidade do Mínimo Esforço. Um termo que vou acabar cunhando, marca registrada, fui eu que inventei (hahaha), porque me deu um bode geral de soluções complicadas para problemas simples. Comida simples. Direta ao ponto. Fruta de sobremesa. Tem sido meu novo lema. Agora, mais ainda.

Maaaas...na minha primeira semana sem açúcar, saí correndo internet afora atrás de receitas de sobremesa sem açúcar para toda a família. Comprei chia para fazer geleia sem açúcar para as crianças. Compilei receitas usando bananas e abacates e tâmaras. DE NOVO.

DE

NOVO

AFE

*Suspiro*.

Cara, eu já fiz isso quantas vezes? QUANTAS??

Benzadeus pela clareza mental.

Parei. Apaguei tudo.

Quero mesmo passar meu dia fazendo bolinha de tâmara? Eu quero ficar preparando mousse de abacate com cacau quando posso só morder uma pera?

Qual é a solução mais simples? Se você não quer comer açúcar mas quer comer algo doce, QUAL É A SOLUÇÃO MAIS SIMPLES? Um mousse de abacate com tâmara e cacau... ou uma maçã?

Uma maçã basta. E que o mais complicado seja uma polvilhada de canela.

No meu mês frugal, o arroz e feijão voltou com tudo. Jantar de ontem foi arroz integral, feijão preto, brócolis refogado e abóbora assada, e o prato estava tão lindo que me arrependi de não ter fotografado. Assim, simples. Sem temperos complicados. Laura resolveu ontem que gosta de abóbora (então agora são 3 contra 1 aqui em casa! hahaha!). Simples. Comida boa e gostosa. Com cara de casa, não de restaurante.

Quando Allex me disse que queria dar um tempo da carne novamente e voltar a fazer hambúrguer vegetariano, a primeira coisa que fiz foi pegar na bilioteca de novo todos os livros do Green Kitchen Stories e aqueles vegetarianos que eu tinha no Brasil. E depois de folheá-los extensamente, suspirei e me dei conta de que não queria fazer nada daquilo. Não queria criar de novo aquela despensa imensa que eu tivera no Brasil. Não queria de novo ficar seguindo receitas para combinar vinte e sete ingredientes. Sabe o que é vegetariano? Arroz, feijão, legumes deliciosamente refogados em azeite e uma salada muito bem temperada. E lá vinha o bode outra vez. Bode desse hábito de se complicar, bode do FOMO que faz com que eu acredite que preciso tentar coisas novas O TEMPO TODO.

Bode, bode, bode. 

O resultado do mês é que passei menos tempo na cozinha. Eu voltei a fazer pães com regularidade, mas não fiquei me sentindo pressionada a fazer bolo ou biscoito toda semana para as crianças levarem para a escola. A comida mais simples e mais previsível é mais fácil de preparar e de reaproveitar. Cortei as idas semanais no supermercado e comecei a ir realmente apenas quando itens imprescindíveis acabassem (como leite, ovos e farinha), ou quando não conseguisse mais produzir nenhuma refeição com o que havia na despensa. O que quer dizer que também passei menos tempo indo a supermercados.

Ainda que eu continue encucada com a nutrição das crianças na escola, principalmente nesse ambiente norte-americano meio trash, confesso que fiquei menos paranoica com o valor nutricional dos pratos que cozinhei. Se é comida de verdade e compõe uma refeição decente, tá bom, obrigada. Hoje em dia sou feliz com essa cozinha simples de dia-a-dia. Sou feliz com banana com canela, sou feliz com o mesmo bom e velho bolinho de iogurte, com minha torrada de abacate e com spaghetti com molho de tomate. Sou feliz com brócolis no alho e azeite e com batatas assadas com alecrim. Com feijão e ovo frito e com tapioca com queijo.

Se um dia eu me fartei de cozinhar panquecas de todos os jeitos e scones e biscuits e toda sorte de itens diversos de café da manhã, minha felicidade hoje reside em pão com manteiga e café quente.

Simples.

Eu tenho certeza que essas pessoas que a gente acaba seguindo internet afora devem ser muito felizes com as soluções que elas encontraram para a vida delas. Que dão certo no contexto delas. Mas para mim o diagnóstico é sempre o mesmo: basta desligar a internet um pouco para a paz de espírito retornar.

Cada vez mais, todas as soluções complicadas são as soluções erradas para mim, para o meu contexto, para minha vida e para minha família.

.....

No último fim de semana do mês, comemorei o fato de ter ficado, PELA PRIMEIRA VEZ desde que chegamos ao Canadá (ou pela primeira vez desde que saí da casa dos meus pais) ABAIXO da meta de supermercado (e de bebida alcoólica!). A comemoração veio de uma forma bastante frugal: usando todas as claras de ovos não utilizadas no pudim de leite do Allex para produzir um Mousse de Chocolate. Porque meu filho disse que não sabia o que era mousse, e isso me desconcertou. Mousse de chocolate era minha sobremesa favorita de infância. E eu fiz tanta sobremesa complicada ao longo dos meus anos, e tantas sobremesas com substituições "saudáveis", e tantas sobremesas com ingredientes exóticos, que eu sequer tinha uma receita "oficial" de mousse de chocolate, daquelas testadas e aprovadas repetidamente.

Fui direto ao meu livrão de todas as coisas francesas, o I Know How to Cook, da Ginette Mathiot.

Esse mousse de chocolate é muito leve e muito fácil, e foi unanimemente aprovado na família. Além de tudo, é simples e doce na medida, e me deixou felicíssima em saber que finalmente tenho outra coisa para fazer com o mar de claras congeladas que sempre tenho no freezer, além de Angel Food Cake.

 
A receita pede apenas 2 colheres de sopa de açúcar e não especifica o teor de cacau do chocolate. Usei 70% da Callebaut, que é mais suave do que o Lindt, que tem um final mais amargo. Mas, temendo que as duas colheres somente produzissem um mousse muito "francês" e "adulto" (porque Allex disse que gosta muito do meu pudim de leite, mas que é muito "adulto", e que o dele alimentava a criança gordinha dentro dele. Hahaha), acabei aumentando a quantidade aos poucos, e usando 4 colheres de sopa (ou seja, 1/4 xic.). Mas pretendo fazer novamente apenas com duas. O mousse não ficou muito doce, o chocolate amargo ainda era o principal sabor. Aliás, para esse chocolate, acho que ficou perfeito. Mas recomendo que você experimente o seu chocolate e decida se prefere a quantidade original de açúcar ou um pouco mais.

Enfim.

O mês com menos açúcar foi uma experiência excelente. Eu descobri que me sinto infinitamente melhor com nenhum açúcar durante a semana, inclusive álcool. Descobri que continuo precisando do meu snack à noite, não para acompanhar a cerveja ou porque quero açúcar, mas porque de fato TENHO FOME. Descobri que consigo ficar sem beber álcool tranquilamente, e agora sei quando realmente quero e quando é meu emocional pedindo compensação, quando nesse caso, volto pro meu chá e tento de fato resolver meu problema ao invés de entorpecê-lo de açúcar. Descobri que a família toda se beneficia dos caminhos mais simples. Redescobri meu amor pelas frutas. Descobri que consigo sim economizar no supermercado sem fazer ninguém sofrer por isso. Descobri que esse desafio foi fácil não porque eu já não comia muito açúcar, mas porque eu não entrei nele com uma mentalidade de restrição: eu nunca disse EU NÃO POSSO comer açúcar, mas EU NÃO QUERO. Entrei nessa com curiosidade científica, com vontade de explorar minhas possibilidades, e não querendo me punir. E com isso, consegui o presente de me entender melhor.

Vou continuar fazendo sobremesas com açúcar. Quando eu tiver vontade. Para o fim de semana. Porque esperar o fim de semana para ver seu desenho e comer mousse de chocolate é gostoso. Assim como sei que é gostoso esperar o domingo para sentar no sofá com uma caipirinha. Assim como esperamos a pizza de sexta-feira. E da mesma forma como faço a pizza de forma relaxada, porque está inserida como algo bom na minha rotina, começo a ficar contente pensando qual será o doce da vez. E é só ele, e não precisa ser complicado. Não precisa ter cara de especial, porque por ser raro, é especial em si mesmo.

Mas nesse mundo internetístico em que as pessoas querem ver receitas mais gourmet, preparos mais complexos, pratos com temperos exóticos, saladas nutricionalmente perfeitas, novidades incríveis para seu paladar, variação infinita... fico me perguntando qual será o futuro desse blog. Com os legumes refogadinhos e os mesmo bolo de sempre. No espaço virtual, há espaço para uma cozinha simples? Quão instagramável é uma clementina?

MOUSSE DE CHOCOLATE
(do livro I Know How to Cook, de Ginette Mathiot)

Ingredientes:
  • 200g de chocolate amargo
  • 6 claras de ovo
  • 2 colh (sopa) de açúcar

Preparo:
  1. Em banho-maria, derreta o chocolate picado, misturado a 2 colheres (sopa) de água, mexendo de vem em quando com uma colher para que derreta uniformemente. 
  2. Enquanto isso, bata as claras até picos moles. Junte o açúcar e continue a bater até que fiquem bem firmes (mais do que você faria para um bolo). 
  3. Junte 1/3 das claras ao chocolate e misture energicamente, para que fique homogêneo e o chocolate misture mais fácil ao restante das claras. 
  4. Incorpore o restante das claras, agora com delicadeza, e, quando o creme estiver homogêneo, coloque em uma tigela ou potinhos individuais, cubra com filme plástico e deixe firmar por várias horas, no mínimo quatro.



 


   


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O menor bolinho de quatro camadas do mundo: forever alone

Eu sempre gosto de fazer festa no meu aniversário: receber gente, planejar cardápio e, principalmente, fazer um bolo de camadas.

Este aniversário, no entanto, foi exceção. Estava sem energia para receber gente enquanto corro atrás de criança desfraldando, sem imaginação para um cardápio...  bom, vontade do bolo de camadas ainda havia. Mas bolo gigante de camadas para 2 pessoas e meia (Laura ainda não come doce) era coisa demais.

E lembrei do Miette, esse livro lindinho de páginas rendadinhas, com bolos e doces gostosos e pequerruchos. Estava esperando uma oportunidade de preparar um dos bolos pequeninos e essa era a ideal.

Escolhi um bolo simples, um butter cake de baunilha com cobertura de ganache de chocolate. Mas eu tinha apenas uma forma do tamanho certo, 15-16cm de diâmetro, e a receita fazia dois bolos. Resolvi arriscar e usei com imenso sucesso minha forma de soufflé para um dos bolos. Então já fica a dica: dá pra fazer esse bolo numa travessa funda de soufflé. O bolo foi fácil e ficou lindinho, é denso e fácil de cortar em quatro camadas, principalmente se tiver passado um tempinho na geladeira, embalado em filme plástico. A ganache foi uma revelação: normalmente tenho problemas com ganaches, algumas com gosto só de chocolate derretido, muito fortes, arranhando o céu da boca. Essa é a melhor que já provei: perfeitamente doce, derrete na boca, combina maravilhosamente com o bolo simples de baunilha.

Bolo pronto, olho para os lados.

Marido teve de sair cedo para trabalhar. Eu iria a São Paulo para meu curso de aquarela e voltaria apenas tarde da noite. As crianças não entendem o conceito de aniversário. O cachorro lambia o próprio rabo debaixo da mesa da cozinha.

Ninguém pra cantar parabéns. Forever Alone.

Um bolo de camadas minúsculo, perfeito para os solitários. Perfeito para quem esqueceu que bolo de aniversário, sem parabéns, é só bolo.

No fim, depois do curso, já bem tarde, crianças dormindo, minha mãe e minha irmã cantaram e cortamos o bolo. Não sem antes cuspir meus pulmões pra fora tentando apagar as velas, uma vez que minha mãe comprou um três e um quatro de uma variedade que não apaga fácil e eu ando com uma tosse que faria inveja a pintores tuberculosos do século XIX.

Em casa, o marido me esperava já pra lá de meia-noite, com um abraço e cerveja stout, minha favorita.

Hoje, Thomas levou de lanche na escola a menor fatia de bolo de quatro camadas do mundo.

BUMBLEBEE CAKE
(do lindinho Miette, de Meg Ray e Leslie Jonath)
Rendimento: 2 bolos, cobertura bastante para 1

Ingredientes
(bolo)
  • 1 2/3 xic. farinha de trigo
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 3/4 colh. (chá) sal
  • 200g manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 10 gemas de ovos grandes, em temperatura ambiente (congele as claras para fazer angel food cake depois!)
  • 2/3 xic. buttermilk (leite + 1 colh. vinagre, deixado em temperatura ambiente por meia hora)
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
(xarope)
  • 1/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/4 xic. água
(ganache) 
  • 280g chocolate picado (60% ou o que preferir; usei uma mistura de 180g 54% e 100g 70%)
  • 2/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • 3/4 xic. + 1 colh. (sopa) creme de leite fresco
  • 2 gemas de ovo grandes
  • 3 colh. (sopa) manteiga sem sal em temperatura ambiente

Preparo: 
  1. Unte generosamente com manteiga duas formas altas de 15-16cm de diâmetro (pode ser forma de soufflé). Polvilhe com farinha e bata fora o excesso. Pré-aqueça o forno a 180ºC.
  2. Peneire a farinha, sal e fermento numa tigela e reserve.
  3. Na batedeira, com a pá, se for planetária, bata a manteiga e o açúcar em velocidade média por cerca de 10-12 minutos, até que esteja bem fofa e clara.
  4. Junte as gemas em 3 adições, batendo bem a cada vez, para que a mistura não talhe e raspando as laterais com uma espátula a cada vez. Aumente a velocidade da batedeira por mais 30 segundos.
  5. Junte o buttermilk à baunilha numa tigela. Com a batedeira em velocidade baixa, junte 1/3 da farinha, batendo apenas até que esteja incorporado. Junte 1/2 do buttermilk, e continue adicionando a farinha e o buttermilk, terminando com a farinha.
  6. Raspe com uma espátula as laterais, para ter certeza de que a farinha está bem incorporada e distribua a massa nas formas, alisando com a espátula. Asse por 35-40 minutos, até que estejam dourados e um palito saia limpo ao ser inserido no centro dos bolos.
  7. Retire e deixe esfriar na forma, sobre uma grade, por vinte minutos. Então passe uma faquinha nas laterais, desenforme e deixe esfriar completamente. Embale em filme plástico e leve à geladeira por no mínimo 1 hora e no máximo 3 dias (fica mais fácil cortar o bolo gelado, e os sabores se desenvolvem). Se quiser congelar, embale numa segunda camada de plástico e congele por até 2 meses.
  8. Numa panela, misture o açúcar e a água do xarope. Leve à fervura e cozinhe até que o açúcar dissolva. Desligue o fogo e deixe esfriar. 
  9. Para a ganache, coloque numa tigela o chocolate e o açúcar. Coloque o creme em uma panela e leve ao fogo médio. Quando começar a ferver, retire do fogo e derrame sobre o chocolate, mexendo bem para ele comece a derreter. Coloque a tigela sobre uma panela com água em fervura branda e mexa o chocolate até que esteja derretido e homogêneo. 
  10. Retire a tigela do fogo. Bata as gemas numa tigela separada e junte aos poucos 1/2 xic. do chocolate quente, para temperar as gemas. Volte a mistura para a tigela principal e misture bem. Junte a manteiga e misture até que ela esteja incorporada e a mistura esteja homogênea e brilhante.
  11. Deixe esfriar até temperatura ambiente. Se não for usar na hora, pode levar à geladeira. Se firmar demais, coloque em banho-maria até ficar com consistência de manteiga mole. 
  12. Retire o bolo da geladeira e corte em 4 camadas iguais. Pincele as camadas com o xarope frio. Posicione a camada debaixo no prato e coloque 1/4 xic. de ganache no centro. Espalhe com uma espátula. Coloque a camada de cima e repita o processo até encaixar a última camada. Aplique um pouco da ganache nas laterais do bolo, passando a espátula sempre no mesmo sentido. Suba para a parte de cima e espalhe. Não use toda a ganache, apenas cubra mais ou menos a superfície do bolo. Leve à geladeira por uma hora. 
  13. Coloque o restante da ganache na batedeira e bata com a pá (alternativamente bata com a espátula; não use batedores de arame para não incorporar ar demais) até que fique cremosa, brilhante e um pouco mais clara. Espalhe nas laterais do bolo e então na parte de cima. Essa ganache é difícil de deixar lisinha; é mais fácil criar desenhos com a espátula. O bolo fica melhor servido em temperatura ambiente, ou a ganache fica firme. Conserve em geladeira, mas retire cerca de 4 horas antes de servir.
Observação: a receita dizia produzir 3 xic. de ganache, 2 das quais seriam usadas no bolo. Usei toda a ganache num bolo só.



quarta-feira, 28 de junho de 2017

Diário da mudança, café da manhã para encher de Maple Syrup e, para bom entendedor, meia música basta



Quando vieram levar embora nossa mesa de jantar e todas as oito cadeiras da casa, olhei para o espaço vazio na sala, para o rostinho atônito dos meus filhos, e lhes disse, empolgada: "Êeeeee! Um mês de piquenique!!!"

Eles acharam ótimo. Mas logo decidiram que era mais fácil comer na mesinha verde-limão, onde os dois, assim, um de frente para o outro, sentados numa mobília que lhes respeita a proporção, com louça, talheres, guardanapo de pano, pareciam clientes de um mini-restaurante. Morri de fofura.

"Vem fazer companhia pra gente, mamãe!", pediu Laura. E lá fui eu sentar no chão em frente a eles, com meu prato raso, garfo e faca, e o Gnocchi curioso passando com o rabo peludo balançando no meu prato e querendo lamber meu rosto, como ele sempre tenta toda vez que um ser humano resolve dividir o chão com ele.

Rapidamente percebi que isso não daria certo. Então veio um novo anúncio: "Ó, galera, a partir de hoje a gente só come em tigela. One bowl dinners. Ok?" Assim, só um garfo resolve a vida e dá pra comer até em pé, sem correr o risco do cachorro pisar bem no meio do seu prato enquanto você tenta cortar seus legumes.

Exemplo disso foi o Kedgeree do Jamie Oliver, que eu sempre faço para aproveitar sobras de peixe grelhado, frito, empanado, assado, o que for. Fica uma delícia e transforma dois filés de peixe ressecados de geladeira em uma refeição deliciosa para quatro pessoas novamente. Recomendo.


Uns dias depois, meu filho voltou de um passeio da escola à feira do bairro com uma enorme melancia, feliz da vida, e quando ele me pediu suco de melancia, eu disse sim automaticamente, até me dar conta de que não tinha mais liquidificador. Ou mixer. Ou processador. Ou batedeira.
Era já noite escura e não havia nada para o lanche da escola no dia seguinte. Pensei em fazer de novo aquele pound cake de louro e laranja, mas lembrei que tinha uma forma só e não era de bolo inglês. Pensei em outras receitas, mas também lembrei que não tinha nada mais para fazer o bolo além de uma tigela e uma colher de pau. Então puxei da memória o bolo de iogurte de sempre, e, tendo já preparado um dele na semana anterior na versão chocolate (substituindo 1/2 xic. de farinha por cacau em pó, omitindo a casca de laranja e acrescentando uma barra de 100g de chocolate ao leite picado), fiz num piscar de olhos mais uma versão, desta vez com baunilha e extrato de amêndoas. Eu e minha tigela e minha colher. Até pensei... o próximo vou transformar em bolo mármore para terminar de usar o restinho do cacau em pó.

Porque agora tem disso: preciso usar a despensa toda. Mas não é mais como das outras vezes, em que eu precisava esvaziar a geladeira, fazer meu Angel Food Cake com todas as claras congeladas, mas colocar minhas farinhas e temperos numa caixa e levar de carro até a casa nova. Eu abro a gaveta de temperos e sei que aquelas sementes de mostarda não têm a menor chance: eu não vou conseguir usá-las em um mês. E não posso fazer mostarda com elas, pois não há tempo de maturar o condimento ou consumi-lo. É estranho jogar fora as aparas de frutas e legumes ao invés de congelá-las para geleias e caldos. Meu freezer está vazio. Isso nunca aconteceu.

Mais estranho é entrar em casa e se sentir estapeada pela sensação de caos. Há livros empilhados, caixas com itens de cozinha para serem vendidos, mangás separados em fardos, brinquedos para serem doados, os poucos móveis que restam estão fora de lugar, e não há meios de trazer uma noção de ordem a tudo aquilo.

Conforme vou vendendo as coisas e levando ao correio, o vazio vai trazendo paz. O espaço vazio, que normalmente traz inquietude quando nos mudamos para um lugar novo, o espaço vazio que não vemos a hora de ocupar com coisas para apaziguar aquela palpitação no peito, esse espaço vazio me traz calma. Mostra que as coisas estão caminhando. Percebo como hoje gosto mais de espaço do que de móveis. Como quero ter tão menos do que eu tinha no meu próximo lar.

Mas uma coisa é ter poucas coisas que servem a você. Outra é você se ver sem aquelas coisas que não parecem importantes mas faziam parte da sua rotina invisível, aquela parte do seu dia que você faz automaticamente, sem pensar, como prometer suco de melancia para o seu filho. E daí que você entra em casa e pela oitava vez se vê zonza, segurando sua bolsa na ponta dos dedos, se movendo pela sala como uma galinha sem cabeça, confusa, simplesmente porque NÃO TEM ONDE DEIXAR SUA BOLSA. o_O

Isso é ridículo.

Mas eu me pego atordoada pela rotina invisível quebrada, e de repente parece que você tem que voltar a prestar atenção a tudo o que faz novamente. Toda vez que entra em casa tem que procurar um novo espaço vazio para depositar sua bolsa.

Dã.

As crianças às vezes surtam. "Mamãaaaaae! Você NÃO PODE vender as forminhas de picolé!!!" Aí vai mamãe explicar que a gente está vendendo tudo o que não cabe na mala, e que vai usar esse dinheiro para comprar novamente aquilo de que realmente precisamos.

Aí eles apanham um saco e brincam de escolher o que vão levar e o que vão vender. "Mamãe, eu não vou levar meu carrinho de boneca. Ele é muito grande. Eu vou dar para uma menina que não tem. Uma menina da França. Porque as meninas na França não têm carrinho de boneca."

Não, eu NÃO VOU para a França. Sabe-se lá porque diabos ela encasquetou com a França ou com esse problema grave de ausência de carrinhos de boneca que aparentemente acontece por lá. o_O

De qualquer forma, as crianças estão empolgadas. Mas a ansiedade e a insegurança gerada por toda essa movimentação em casa as faz mais agitadas, mais cansadas, um pouco mais briguentas. Há toda uma dose extra de paciência que preciso resgatar dentro de mim para lidar com os dois nesse momento.

Passo meus dias tirando coisas de dentro dos móveis, limpando, embalando, levando ao correio, recebendo gente que leva embora meus armários. Aquele vazio na casa se torna intermitente, pois o caos se instaura a cada armário que vai embora, deixando seu conteúdo no chão da sala, e então esse conteúdo é separado, limpo, embalado, enviado a outras pessoas.

Allex sugere que usemos o método Lean 5S para lidar com a bagunça. Eu fico fula, dizendo que é o que tento fazer na nossa casa há quase dez anos e ninguém deixa. o_O Mas vamos lá. Há muito o que fazer na casa ainda antes de entregá-la ao proprietário. Fiz então o canto do UT - A Fronteira Final (lembra do UT?), e o canto do Vai Na Mala, em polos opostos da sala. Porque isso de ficar separando as coisas que ficam em cada cômodo não estava dando uma noção exata do que teríamos de levar. Já veio o primeiro susto: é muita coisa. Quando a gente brinca de ilha deserta, se convence de que consegue levar só dois livros com você. Quando tira tudo da estante o bicho pega: muitos dos livros são edições que você não acha mais, ou traduções que você gosta muito.

Quando criança, meus pais tinham O Tesouro da Juventude, uma enciclopédia que eu adorava, que continha uma tradução do monólogo de Hamlet feita por Machado de Assis que eu sabia de cor, e versões originais dos contos de fada, com direito a toda a violência e lições de moral típicas das histórias antigas - a Cinderella do Tesouro da Juventude botava Game of Thrones no chinelo, com olhos furados por pássaros e calcanhares serrados fora. Até hoje me dá uma tristeza por terem mandado embora aqueles livros. Nunca mais achei essas histórias ou aquela linda tradução de Hamlet em lugar nenhum. Hoje sei bem quais livros são substituíveis, recompráveis, e quais devem ser mantidos com você.

Convenço-me então de que aquela pilha enorme é apenas uma pré-seleção. Ou que talvez eu precise sim que meus pais levem uma caixa de livros para mim quando forem visitar. >_<

Aviso as crianças que quando o sofá for embora, vamos usar o banco do jardim para ver TV na sala. Tempos estranhos. Compram minha cama. Resta apenas meu colchão.

Gnocchi já está super adaptado à gaiola. Logo no primeiro dia se enfiou lá dentro e dormiu a noite toda, o que nos deixou muito mais tranquilos. Ele adorou seu novo cantinho e acho que fará bem a viagem.

Estou imensamente feliz por estar vendendo todas as minhas obras. Restam muito poucas, e acho que vou conseguir viajar apenas com meus sketchbooks e meus desenhos de infância, para começar toda uma nova fase de pintura por lá.

Neste fim de semana, entrego minhas panelas WMF a quem as comprou, com dor no coração. São panelas maravilhosas. Mas não faz o menor sentido levá-las comigo. Eu sei que com meus panelões vermelho e verde e com as outras duas frigideiras que ficam pelo menos esse mês aqui em casa, consigo cozinhar tudo. Mas é estranho não usar a panela de vapor ou a leiteira. Novamente, uma quebra da sua rotina invisível.

As refeições têm sido extremamente simples. Usando o que tem na despensa ao máximo, e com apenas uma bancadinha para trabalhar. Logo vêm gente pegar minha estante da despensa, e então esse espaço diminuirá ainda mais. Uma grande cozinha vazia sem ter onde apoiar a tigela do bolo. Prometi às crianças que vamos comer pastel na feira toda quinta e domingo até o dia da viagem. Deu-me uma súbita vontade de queijo minas, requeijão e farofa. Farofa de verdade, feita com farinha de mandioca, cebola, uma tonelada de manteiga... não essas farofas compradas prontas, com gosto de serragem e sal. Vai entender como funciona a cabeça da gente. Água de coco e caldo de cana. Só penso nisso. E tenho planos para uma comida mais relaxada e divertida nesse mês de julho.

Estou ansiosa para o fim das aulas, daqui a alguns dias. Para eliminar pelo menos essa correria de manhã e poder tomar café da manhã com calma com as crianças. Novamente inventar mais um pouco, pois esse semestre, com Thomas no primeiro ano, entrando meia hora mais cedo na escola, quebrou completamente esse nosso hábito do café variado.

Para inspirar vocês nos cafés da manhã das férias, deixo aqui um apanhado das ideias de café da manhã do meu finado Facebook, que ainda estão com os textos originais dos posts. Única coisa que guardei daquela época. Um monte de panquecas e mingaus para besuntar de Maple Syrup.

Vamos ver se por aqui conseguimos fazer um repeteco disso tudo. O objetivo é acabar com o garrafão de Maple que Allex trouxe de viagem. Ele ri da minha cara quando sirvo o xarope sobre as panquecas das crianças, dizendo que ando muito perdulária agora que sei que vou poder comprar disso mais barato depois da mudança. Aliás, por incrível que pareça, Maple Syrup barato e a perspectiva de panquecas e waffles todas as manhãs tem sido o grande selling point da mudança para as crianças. ^_^

E vamos nessa. Respira fundo. Faltam pouco mais de trinta dias. E dia 4 de agosto vamos de casa até o aeroporto ouvindo essa música:

https://www.youtube.com/watch?v=CiCselxgw8s

Para bom entendedor, meia música basta. Quem adivinhar para onde vamos ganha um pirulito de nabo. ;)

OBRIGADA A TODOS pela força, pelo carinho, pelos emails de incentivo, pelas histórias, por nos ajudar nessa transição com cada comprinha de nossas coisas e minhas obras. Fiquei realmente emocionada com a reação de todos vocês. Num mundo que anda tão frio e capenga em termos de empatia, vocês me surpreenderam positivamente e encheram meus olhos de lágrimas.
VOCÊS SÃO SENSACIONAIS!!!  

Agora, de volta à nossa programação normal... ;)

 
Panqueca básica de iogurte

Sexta-feira de panquecas de iogurte. 1 de tudo: 1xic de farinha, 1 colh(sopa) rasinha de fermento, 1 colh (sopa) rasa de açúcar, 1 pitada de sal, 1 xic de iogurte, 1 ovo, 1 colh. (Sopa) manteiga.

Panquecas de banana e quinoa

Usando bananas que estavam na geladeira e me esperaram ir e vir de Trinidad. Dá pra imaginar o estado das pobrezinhas. A parte seca das panquecas leva 3/4xic de farinha de trigo, 1/4xic de farinha de quinua, 1 colh (Sopa) de fermento, 1 pitada de canela e 1 pitada de sal. Parte liquida, 1 ovo, 3/4xic de leite e 1colh (sopa) de manteiga, derretida. Misture secos com molhados e junte 2 bananas bem amassadas, de preferencia já de casca bem marrom. As bananas nesse estado não estão estragadas. Apenas difíceis de comer. ;) Mas elas assim já começando a escurecer por dentro dão às panquecas um sabor caramelado delicioso, que combina bem com os tons terrosos da quinua.


Panquecas de trigo sarraceno

Quando você já não lembra mais se já publicou uma receita ou não... De qualquer forma, essa panqueca de trigo sarraceno vale um repeteco.  :) Numa tigela, 1/2xic de farinha branca, 1/2xic de farinha de sarraceno, 3/4 colh (sopa) fermento, 1/4 colh (Cha) de bicarbonato, 1 pitada de sal. Em outra, 1 ovo, 1 xic de iogurte natural, 1 colh (sopa) de óleo vegetal e outra de melado. Só misturar tudo e dourar em um fio de óleo em porções de 1/4xic.

Panquecas de sarraceno e pera

Panqueca de sarraceno e pera, adaptado do livro lindo da Kim boyce, good to the grain. Uma pera ralada, com seus sucos, um ovo, uma colher de manteiga derretida, 1/4 xic de farinha integral, 1/4 xic de farinha comum, 1/2 xic de farinha de sarraceno, 1 colh sopa rasa de fermento, 2 de açúcar e uma pitada de sal. Leite, começo com meia xícara e acrescento mais conforme a suculência da pera. Delícia absoluta.
German Puff Pancake

Fim de semana teve café da manha diferente: German puff pancake. Basta derreter 3 colh(sopa) de manteiga numa frigideira de 23cm, juntar 1 maçã grande em fatias finas, polvilhada com 1 colh (sopa) de açúcar mascavo, 1 colh (cha) de canela e um pouco de noz moscada. Cozinhe por dois minutos. Em uma tigela, bata 3 ovos, 3/4 xic de leite e 3/4 xic de farinha. Despeje sobre as maçãs e leve ao forno preaquecido a 190oC por 15-20 minutos, ate que esteja inflado e dourado nas laterais. Aí é só espremer umlimaozinho por cima, polvilhar açúcar e mandar ver. Delicioso. De um livro ótimo, mas comum titulo ridículo: yummy mummy.

Waffles com chocolate


Crêpes doces

Outra opção delicia para o café da manhã, principalmente no fim de semana, quando se tem mais tempo. Você prepara a massa dos crepes na noite anterior, deixa ela descansando na geladeira durante a noite, e cozinha de manhã. Só misturar 1 1/2xic de farinha, 1 pitada de açúcar e de sal, 2 ovos e cerca de 2 1/4 xic de leite, misturando ate ficar homogêneo e com consistência de creme de leite fresco, sem bater demais, para os crepes não ficarem borrachudos. Deixe descansar durante a noite na geladeira (isso hidrata e relaxa a farinha e melhora o resultado dos crepes) e no dia seguinte junte mais umas colheradas de leite, se a mistura tiver engrossado muito. Esquente um pouquinho de manteiga numa frigideira de 23cm e cozinhe porções de cerca de 1/3xic de massa, dos dois lados. Recheie como quiser. Eu comi com ricotta e mel. Marido e crianças preferiram apenas uma espremidinha de limão e açúcar de confeiteiro polvilhado por cima. Do lindo livro da Rachel Khoo, The Little Paris Kitchen.

Crepioca

É só misturar 1 ovo, 2 colheres de goma para tapioca, 2 colheres de ricotta ou cottage e uma pitada de sal. Levar à frigideira quente com um pouco de manteiga, coberta com tampa até que firme o bastante para virar com espátula e dourar do outro lado. Receita do meu treinador de Kettlebell, e eu sei que isso virou a comida fit da moda por um bom tempo, mas é uma delícia: parece um pão de queijo de frigideira. :D

Mingau de aveia básico

Eu não canso de postar mingau por aqui, pois é uma das minhas coisas favoritas no mundo. Meus filhos comeram mingau de tudo que é jeito na época em que estavam desmamando, e continuam gostando. Assim, aveia cozida em água com bananas, uvas passas, linhaça, papoula, sal e canela, e depois coberta de mais banana, um naco de manteiga, um nada de leite frio e adoçada com mel, é clássico dos clássicos aqui em casa.

Mingau de trigo sarraceno

Trigo sarraceno cozido em água por uns 10 minutos, junto com frutas secas picadas (no meu caso, Cranberries e damascos orgânicos, marronzinhos e com gosto de caramelo), canela em pau, extrato de baunilha, uma pitada de sal, um nadinha de semente de cardamomo e uma ralada de gengibre fresco. No potinho, acompanhado de um pouco de leite, melado de cana e figos frescos. Do livro Vegetarian Everyday, lá do blog Green Kitchen Stories. Bom dia.

Mingau de sarraceno, coco e chocolate

Mingau de sarraceno de novo. Desta vez batido com linhaça, cozido em leite de coco, água e açúcar baunilha do, e servido com nozes picadas, iogurte e gotas de chocolate.

Mingau de feijão azuki

Estranho comer feijão no café da manhã. Mas gostoso. Pra quem gosta de mingau que parece apenas naturalmente doce. Fãs de Sucrilhos, olhem para o lado. Cozinhe 90g de feijão azuki em 6xic de água até ficar macio, bata no liquidificador deixando um pouco pedaçudo, misture 1/4xic de açúcar, 1/4xic de farinha de arroz glutinoso e cozinhe até engrossar. Coma com passas e nozes picadas. Essa quantidade serviu um adulto e duas crianças curiosas. A receita original estava no Serious Eats:http://www.seriouseats.com/recipes/2010/01/seriously-asian-korean-red-bean-porridge.html

Mingau de aveia com marmelos

Nem só de banana e canela vive um mingau. Aveia em lâminas cozida em agua e leite, com marmelo poche e castanhas de baru picadinhas. Um pouquinho de iogurte natural por cima para arrematar. Marmelos poche feitos assim: http://www.lacucinetta.com.br/2010/05/compre-marmelos-compre-marmelos-compre.html

Iogurte com sarraceno e figos dourados

Figos dourados em quase nada de manteiga, iogurte caseiro, nozes picadas, trigo sarraceno e mel. Bom dia. :)


Iogurte com geleia de nectarina

Simples: um pouco de iogurte caseiro, uma colher de geleia de nectarina, gengibre e cardamomo. 900g nectarinas, descascadas e sem caroço, 3/4 xic açúcar orgânico, suco de um limão, 1 colh sopa gengibre fresco ralado, 4 bagas de cardamomo moídas no pilão. Cozinhar tudo ate dar o ponto quase como uma goiabada cremosa.


Iogurte, frutas e trigo sarraceno cru

Parece esquisito, mas o trigo sarraceno cru assim sobre frutas, iogurte e mel fica uma delícia, crocante como granola.

Suco de pepino, maçã e hortelã

Suco de pepino, maçã e hortelã, de um livro da Heloísa Bacelar que eu adoro, mas que seria ainda melhor com um índice remissivo. Suquinho acompanhou o iogurte com granola das crianças e foi para o lanche da escola. Me sentindo muito virtuosa hoje. 
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Tartine de Abacate e Grapefruit
 
Pão caseiro tostado, fatias de abacate, segmentos de grapefruit, sal e azeite. Estranho mas bom. O abacate cremoso e gorduroso contrasta com o amargor refrescante do grapefruit. Delícia. 


Tartine de morango e iogurte

Pão caseiro tostado, uma colherada de iogurte, morangos fatiados, menta fresca e um polvilhar de açúcar baunilhado. PERFEITO.

Granola

Às vezes gosto de tomar café da manhã mais tarde, com criança na escola e cachorro passeado. Fui dormir ontem à noite contente em saber que tinha iogurte e granola caseiros pro dia seguinte. Uso sempre uma receita da revista do Jamie Oliver. Misturo 2 colh (sopa) de algum óleo vegetal, 6 colh (sopa) mel, 300g de aveia laminada, e um punhado de quaisquer sementes e castanhas que houver em casa. Espalho numa assadeira e levo ao forno a 180oC por 15 minutos. Junto um punhado de frutas secas e asso por mais 10 minutos. Deixo esfriar e guardo num pote fechado. O da foto tem uvas passas, goji berries (também caí nesse conto), castanha de caju, linhaça e sementes de girassol e melão.
(Post republicado. Fui editar o outro e acabei excluindo sem querer. :P)

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Meditando, fazendo menos, fazendo mais. Mais bolo.


Sexta-feira é dia de fazer bolos.

Depois do almoço, antes mesmo de lavar a louça, ligo o forno, separo os ingredientes da receita escolhida pela manhã e as crianças põem-se a quebrar ovos. E mamãe depois põe-se a catar casquinhas de ovos da massa.

Às vezes é apenas Laura que participa. Às vezes Thomas também. Depende dos planos deles, que eu também não quero forçar ninguém. Mas Laura mesma já fez um bolo de iogurte tantas vezes, misturando tudo sozinha com a colher de pau, que na minha mente esse já é oficialmente o "Bolo da Laura".

Enquanto o bolo assa, eles lambem a tigela e eu arrumo a bagunça toda. E depois arrumo as crianças, com massa de bolo nos cotovelos e no topo das cabeças.

Experimentamos do bolo fresquinho assim que esfria, na hora do lanche da tarde, e eis que há bolo para o lanche da escola na semana seguinte. A não ser que haja biscoitos. Biscoitos andam ganhando do bolo, principalmente esses de gengibre...

E na última sexta-feira o bolo foi de coco. Uma receita deliciosa de Dorie Greenspan que eu nunca preparara, apesar de ter tido esse livro comigo por todos esses anos. O bolo é úmido, macio, de textura compacta, muito perfumado, do tipo que eu como inteirinho sem deixar pra ninguém. A receita original é feita em uma forma de Bundt Cake, e o bolo sai lindo e decorado. Mas eu não tenho mais um forma Bundt. Porque me dei conta de que todas as receitas que haviam sobrado nos livros que ficaram comigo podiam ser feitas na boa e velha (bota velha nisso) forma de bolo com furo que eu surrupiara de minha mãe, e onde ela assara todos os meus bolos de cenoura de infância. Ela é grande, com o teflon gasto e meio amassadinha de cair no chão, mas é ótima e comporta todo tamanho de bolo, inclusive Angel Food Cakes de 9 claras, porque suas paredes são retinhas e não inclinadas.

E no meu processo de simplificação (de novo, porque ele vai e volta, como dá pra ver se você lê o blog todo), coloquei à venda todas as formas de que eu não precisava mais. Porque meus filhos querem um bolo gostoso e não ligam para os desenhos lindos das formas especiais. E hoje em dia, confesso, eu também não.

Ando não ligando mais para muita coisa que costumava me atormentar. E devo isso a meu marido lindo que me lembrou há uns meses atrás que eu deveria voltar a meditar. E assim voltei. Não digo todo dia, porque nada é perfeito. Mas se dia sim, dia não, o efeito já tem sido fantástico. De tal modo que já não me lembro mais do por quê de ter parado um dia.

E num dia, depois de meditar, olhei à minha volta e me veio uma constatação importante. Besta, óbvia, mas importante. Que era importante simplificar. Que era importante me livrar das tralhas. Mas que se minha mente continuasse focando apenas nas tralhas, então eu continuava com a mente apenas nas coisas. E as coisas eram sintomas e não causas. E que mais importante ainda do que simplificar as coisas, era simplificar a cabeça.

Meditar ajuda um bocado a simplificar a cabeça. Porque faz com que você enxergue a vida com mais nitidez. E aquilo que parecia desordenado e caótico de repente se alinha e você consegue discernir o que é importante do que não é, o que é necessário do que é dispensável, o que é evitável do que precisa ser enfrentado.

E percebi que o mais complica nossa vida é a ansiedade. Não é à toa que metade do mundo moderno anda por aí dopado de ansiolíticos. E ao invés de tomar uma segunda taça de vinho à noite para aplacar a ansiedade do meu dia, resolvi reavaliar minha rotina e definir o que diabos me deixava tão ansiosa. Tão ansiosa que eu dormia mal, tão ansiosa que eu não conseguia curtir o tempo com meus filhos, tão ansiosa que eu me sentia improdutiva, inadequada, inquieta, insegura, insatisfeita. O que me trazia tanta palpitação, tanto medo, tanto descontrole que não me permitia aproveitar minha vida.

Começou pequenininho.

Começou pelo celular. Porque vi como meu dia correu tranquilo quando o Whatsapp teve aquela pane de 24 horas. Por um dia inteiro eu não corri para catar o celular toda vez que ele pirlimpimpava do meu lado. Por um dia inteiro não me senti constantemente interrompida.

E foi assim que eu desliguei para sempre todos os avisos visuais e sonoros do Whatsapp, que agora só averiguo quando lembro que ele existe. E o celular passa o dia na bolsa, e não na minha mão.

Outra do celular foi desligar o Pinterest, que agora só existe no computador. Porque a sensação de não ter um tempo quieto para mim, para ler e desenhar, era acachapante. E foi assim que voltei a carregar na bolsa o mesmo Kit Tédio que eu carregava comigo antes de os celulares virarem essa ferramenta de controle nosso e dos outros: um bom livro e meu sketchbook. E daí que quaisquer três minutos livres e estou terminando de ler um capítulo ou rabiscando um transeunte desavisado. E o tempo passa mais rápido, e é mais divertido e mais relaxante do que ficar zapeando o telefone. E é tempo meu. Tempo bom e produtivo.

Rapidamente me vi desligando quase todos os aplicativos existentes no celular que tilintavam, interrompiam, controlavam.

Colocar à venda meu Mac (pois fazendo tudo em tinta eu só o usava para pegar emails) causou outra mudança. O PC que era só do marido veio para meu atelier e agora é dos dois. Pode ser a tela, pode ser o teclado, mas não me sinto menos impelida a passar minhas manhãs fuçando na internet.

E a internet, com a vida dos outros que não é a sua, com a próxima grande novidade de ontem para a qual você já está atrasada, e a impressão de que tudo corre e tudo muda numa velocidade que você, maratonista equilibrando pratos não consegue acompanhar, causa uma ansiedade brutal.

Entro na internet para ver alguma coisa específica. Ler o post de um blog que me inspira a ir cada vez mais devagar. Pegar uma receita. Responder email de um cliente. E eu desligo e vou fazer outra coisa.

E estar mais desconectada tem me feito resgatar a sensação de que a vida é minha. Não é de ninguém mais para olhar nem para viver. E consigo olhar para ela com olhares mais atentos e lentos e interessados no que é só meu e não dos outros. E definir o que eu quero de verdade e não o que eu achava que eu queria porque meu ambiente me empurrava a querer, ou porque meus filhos precisam se encaixar na turma, ou porque alguém pode ter a ideia errada a meu respeito.

Fui cortando da minha rotina todas as as variáveis que me deixavam ansiosa, e mudando aquilo que eu podia mudar. O exemplo mais besta foi ter alterado o horário da natação das crianças. Conversei com os dois e agora eles nadam juntos, e não um em cada horário. Eu tenho 40 minutinhos para tomar um café e ler meu livro e depois temos tempo de sobra para ir ao parquinho e fazer nosso piquenique em algum canto quieto do clube. Laura faz questão de levar várias coisinhas diferentes para o piquenique, pois segundo ela, se tem uma coisa só não é piquenique, é lanche. E mesmo quando tempos compromisso no fim da tarde não é mais correria, sensação de estarmos constantemente atrasados.

Passei todos esses anos ansiosa acreditando que eu deveria fazer mais e mais e mais, inclusive trabalhar mais. Porque a vida é assim, porque as mulheres são assim, e ser mulher é fazer tudo ao mesmo tempo.

Pois um dia me dei conta de que ninguém no leito de morte se arrepende de ter trabalhado pouco, ou de ter passado tempo demais com os amigos. Cada dia meu passa e eu me pergunto se ele foi bom. E meu dia é bom de muitas outras formas que não são apenas trabalhando. Desde que eu esteja mergulhada em cada momento. Sem distrações. Sem pensar onde não estou. No que eu deveria estar fazendo. Ou no que eu acho que eu deveria estar fazendo.

E por isso estou me aposentando dessa tarefa ingrata de equilibrar pratos e correr maratonas, como o mundo faz acreditar que toda (boa) mulher deve ser. E estou escolhendo fazer menos. Muito menos. Para viver mais. Para andar mais de bicicleta e ir mais ao parquinho, para pintar no quintal com guache de criança que não é lavável coisa nenhuma, e colecionar pedras durante o passeio do cachorro, e jogar dominó no tapete da sala, e ouvir música no café da manhã e fazer bolos na sexta-feira depois do almoço.

A vida corre tranquila quando a mente não se distrai do que estamos fazendo. Mesmo que a atividade em questão seja apenas dirigir para a natação. Ou varrer o quintal. Ou começar uma aquarela nova. Ou contar uma história na hora de dormir.
Cansei de pensar no que vem depois ou no que poderia estar sendo enquanto não é. Cansei do resultado. Quero apenas o processo, pois ele é muito mais longo do que o resultado. E quando a cabeça não está no resultado, as falhas são menos duras. E a gente não se estressa tanto quando chega atrasado, e não fica fulo quando queima a geleia de maçã no fogão, quando o bolo gruda, quando tem reunião da escola em dia que você tinha se planejado a trabalhar,  quando simplesmente não deu tempo de terminar aquela pintura hoje.

E ao invés das palpitações e dos medos, na minha mente encontro o silêncio.

E quando paro para pensar no que eu quero, lembro das respostas que eu tinha antes: quero uma casa assim e assado, quero viajar muito, quero expor meus quadros em tal lugar, quero X reconhecimento no meu trabalho, quero um vestido desse jeito, quero uma cozinha daquele modo.

Então chacoalho a cabeça como um risque-rabisque para desfazer esses desenhos antigos. E no meio do caos e da desordem, tudo se alinha. E o que eu consigo enxergar com nitidez é que eu quero uma vida tranquila. E só.

BOLO DE COCO
(Do sempre maravilhoso Baking FRom My Home do Yours, de Dorie Greenspan)

Ingredientes:
  • 2 xic.  farinha
  • 1 colh. (chá) fermento
  • 1 pitada de sal
  • 1 xic. leite de coco (usei caseiro - se tiver separado, mexa bem antes de medir)
  • 4 colh. (sopa) manteiga sem sal (uns 60g)
  • 4 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 2 xic. açúcar
  • 1 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 2 colh (chá) rum (opcional)
  • 3/4 xic. coco ralado (não adoçado, adoçado, tostado, tanto faz - usei não adoçado)

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180oC. Unte a forma de furo no meio ou Bundt com manteiga.
  2. Peneire a farinha, fermento e sal numa tigela e reserve.
  3. Numa panela, aqueça o leite de coco e a mateiga até que a manteiga derreta e reserve para usar ainda morno.
  4. Na batedeira, bata os ovos inteiros e o açúcar até que fique claro, fofo e tenha dobrado de volume.
  5. Junte e baunilha e o rum. 
  6. Reduza a velocidade e incorpore a mistura de farinha, apenas até que a farinha desapareça.
  7. Ainda em velocidade baixa, junte o coco ralado e por último o leite de coco e manteiga mornos, num fio constante. 
  8. Quando a mistura estiver homogênea, derrame na forma e leve ao forno por 1hora ou até que esteja dourado e um palito inserido no meio saia limpo. Deixe esfriar por dez minutos antes de tentar desenformar. 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Grandes mudanças. De verdade.

Esse dia tinha de chegar, eventualmente. Afinal, uma mesa de desenho, um cachorro e um bebê não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Logo, estamos nos mudando.

O que era para serem férias tornou-se uma maratona de contratação de serviços de mudança e reforma, compra de materiais e todos aqueles extras que surgem quando se muda de casa, e muito, muito empacotamento. Começamos pelos livros, que pareciam ser – e foi confirmado – a maior quantidade de itens do apartamento. Mesmo mandando 84 livros para doação, ainda conseguimos empacotar 10 caixas, sendo 4 só de culinária. Não vou nem dizer que há mais dois livros a caminho via Amazon nesse mesmo instante... vício maldito. Mas, como eu sempre digo, poderia ser pior: poderiam ser sapatos.
Enquanto tiro as coisas de seus lugares, avalio, separo em "fica" e "vai" e empacoto, ainda é preciso fazer um esforço para terminar com toda a comida da geladeira. Para dar fim às 9 claras congeladas, sobras dos sorvetes feitos no Natal, preparei um Angel Food Cake. Assá-lo pela segunda vez [agora confiando no palito limpo e sem a paranóia de querer dourá-lo além da conta] só fez confirmar meu veredito original: esse bolo é delicioso. E fácil, o danado! 

Os mirtilos congelados não são o suficiente para uma sobremesa, mas amanhã pontilharão de azul minhas panquecas. Hoje à noite, o caldo de legumes caseiro congelado se misturará ao restante do arroz arbóreo e virará um risotto de legumes de verão, com vagens, tomates e milho verde. O almoço agora foi o último pezinho de alface americana misturado a tomates, croûtons de ciabatta, mozzarella de búfala e manjericão. E um copão de chá vermelho gelado, que é uma delícia. A partir de hoje, tudo será preparado na única panela e frigideira não empacotadas e consumido nos únicos dois copos e duas tigelas deixadas de fora. E de volta ao empacotamento e ao trabalho, pois as "férias" terminaram. 

Nisso, resolvo empacotar meu armário. Apesar de só me mudar daqui a uma semana, não faz sentido para mim deixar isso para a última hora, se apenas 1/5 do meu guarda-roupa serve no meu momentâneo e crescente barrigão. Melhor que vá para a caixa de uma vez.

Todo mundo que se muda sabe como é: retirar suas coisas dos armários faz você ficar se perguntando por que diabos guardou aquela xícara lascada que ninguém usa, aquela sandália de tira estourada que você nunca mandou consertar, etc... Mais do que mandar embora itens quebrados e sem serventia, estou tentando aplicar alguns conselhos aprendidos no Zero Waste Home e no Apartment Therapy:
  • Não ter nada que você não ame. Se você gosta mais ou menos, mande embora.
  • Se tem valor sentimental, deixe à mostra; se for para guardar numa caixa no fundo de um armário, não faz sentido: jogue fora.
  • Só manter aquilo que você de fato usa regularmente.
Tem sido fácil e interessante exercitar o desapego. Estendemos um lençol na sala e estabelecemos aquele espaço como o "out box" [que acabou virando "UT box", depois que comecei a brincar de falar com um sotaque nórdico inventado].  Viraram "UT" livros de culinária ruins, literatura mequetrefe ou que não pretendemos ler de novo, repetidos, séries de quadrinhos incompletas, livros de referência ou técnicos ultrapassados e mesmo minhas gramáticas de Latim e Grego Antigo, compradas quando eu era nova e tinha tempo para aprender idiomas sozinha, mas que ficarão ainda mais abandonadas depois que meu filho nascer. É preciso ser realista: se eu não tenho tempo agora, terei menos ainda depois.

Também foram pro "UT" canecas sem uso, copos chatos de lavar, TODOS os potes e utensílios de plástico (que já foram ou serão substituídos por vidro e inox), cd's que não ouvimos mais, suas versões "pirata", toalhas velhas, e uma miríade de objetos sem nenhuma utilidade que vinham apenas ocupando o escasso espaço de nosso pequeno apartamento. Minha regra mental é não levar nada que precise ser guardado "lá atrás", no depósito: se não tiver espaço em seu respectivo cômodo é UT.

Quando o cão resolveu tirar um cochilo sobre o lençol, corremos para tirá-lo de lá. "O Gnocchi não é UT! Ele vai com a gente!" ;)

É catártico e um alívio pensar que só estamos levando para o apartamento novo aquilo que é de fato útil. Principalmente pensando que daqui a dois meses e meio teremos um novo membro da família acumulador de tranqueiras.

Mas voltando ao armário. Tenho plena consciência de que faz muitos parágrafos que parei de falar de comida, e eu juro que o próximo post será exclusivamente a respeito de feitos culinários. Mas eu precisava dividir meu espanto com alguém.

Separei as roupas que me servem e que serão usadas pelos próximos sete dias, e comecei a retirar o restante do armário. Conforme fui redobrando as peças, aproveitei para, mais uma vez, separar o que eu não queria mais. Olha, separa, dobra, empilha. Levei minhas poucas malhas para a caixa de papelão e voltei para o quarto. Observei as pilhas de blusas, saias, vestidos e calças. E me parabenizei mentalmente. Parecia pouco, considerando a gaveta de pijama e roupas de ginástica no armário e os poucos casacos de inverno ainda nos cabides. 

Então, só por curiosidade, resolvi contar. 

Eu desafio todo mundo que, como eu, acha que não tem um guarda-roupa imenso, a contar o número exato de peças que tem no armário. Você diria que nessa foto há 54 blusas, 15 vestidos, 8 saias e 7 calças?? O que mais me incomodou foi o número de blusas. No volume parece pouco, pois mulheres usam tecidos fininhos que não ocupam espaço. Mas elas estão lá. Todas elas. E fiquei me perguntando: por que diabos uso todo dia a mesma coisa se tenho 54 opções? Ou pra que demônios tenho 54 blusas se uso sempre as mesmas três ou quatro favoritas? Ou ainda pior: 90% do que está aí já não me serve há 3 meses e não tenho sentido falta de usar quase nada.   

 Choque total.

Se eu, que compro uma roupa nova por ano, tenho tão mais do que preciso, fiquei imaginando o pessoal que não consegue ver liquidação sem entrar. O que me deixou ressabiada foi me dar conta de que eu ando por aí de blusa furada e reclamando, enquanto tenho várias peças bonitinhas guardadas "para uma ocasião especial". :P
Tudo o que está na foto vai para o armário novo. Mas com uma missão: assim que eu voltar a ter cintura [o que eu espero que volte a acontecer, e acho que vai, porque engordei só 1kg por mês até o momento], vou me dar um prazo de 6 meses para usar essa roupaiada. O que não sair do cabide, virará UT.

Engraçado foi ver o guarda-roupa inteiro cabendo em uma única caixa, enquanto há mais três de mesmo tamanho para itens de cozinha, sendo uma APENAS de formas e assadeiras. Dá pra ver bem qual é minha prioridade na vida.

Enquanto eu me livro das tralhas e encaixoto cinco anos da minha vida, resta esperar ansiosa pela cozinha nova, bem maior, finalmente, com espaço para muitas futuras desventuras culinárias. :)

Cozinhe isso também!

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