Mostrando postagens com marcador frutas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador frutas. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Diário da mudança, café da manhã para encher de Maple Syrup e, para bom entendedor, meia música basta



Quando vieram levar embora nossa mesa de jantar e todas as oito cadeiras da casa, olhei para o espaço vazio na sala, para o rostinho atônito dos meus filhos, e lhes disse, empolgada: "Êeeeee! Um mês de piquenique!!!"

Eles acharam ótimo. Mas logo decidiram que era mais fácil comer na mesinha verde-limão, onde os dois, assim, um de frente para o outro, sentados numa mobília que lhes respeita a proporção, com louça, talheres, guardanapo de pano, pareciam clientes de um mini-restaurante. Morri de fofura.

"Vem fazer companhia pra gente, mamãe!", pediu Laura. E lá fui eu sentar no chão em frente a eles, com meu prato raso, garfo e faca, e o Gnocchi curioso passando com o rabo peludo balançando no meu prato e querendo lamber meu rosto, como ele sempre tenta toda vez que um ser humano resolve dividir o chão com ele.

Rapidamente percebi que isso não daria certo. Então veio um novo anúncio: "Ó, galera, a partir de hoje a gente só come em tigela. One bowl dinners. Ok?" Assim, só um garfo resolve a vida e dá pra comer até em pé, sem correr o risco do cachorro pisar bem no meio do seu prato enquanto você tenta cortar seus legumes.

Exemplo disso foi o Kedgeree do Jamie Oliver, que eu sempre faço para aproveitar sobras de peixe grelhado, frito, empanado, assado, o que for. Fica uma delícia e transforma dois filés de peixe ressecados de geladeira em uma refeição deliciosa para quatro pessoas novamente. Recomendo.


Uns dias depois, meu filho voltou de um passeio da escola à feira do bairro com uma enorme melancia, feliz da vida, e quando ele me pediu suco de melancia, eu disse sim automaticamente, até me dar conta de que não tinha mais liquidificador. Ou mixer. Ou processador. Ou batedeira.
Era já noite escura e não havia nada para o lanche da escola no dia seguinte. Pensei em fazer de novo aquele pound cake de louro e laranja, mas lembrei que tinha uma forma só e não era de bolo inglês. Pensei em outras receitas, mas também lembrei que não tinha nada mais para fazer o bolo além de uma tigela e uma colher de pau. Então puxei da memória o bolo de iogurte de sempre, e, tendo já preparado um dele na semana anterior na versão chocolate (substituindo 1/2 xic. de farinha por cacau em pó, omitindo a casca de laranja e acrescentando uma barra de 100g de chocolate ao leite picado), fiz num piscar de olhos mais uma versão, desta vez com baunilha e extrato de amêndoas. Eu e minha tigela e minha colher. Até pensei... o próximo vou transformar em bolo mármore para terminar de usar o restinho do cacau em pó.

Porque agora tem disso: preciso usar a despensa toda. Mas não é mais como das outras vezes, em que eu precisava esvaziar a geladeira, fazer meu Angel Food Cake com todas as claras congeladas, mas colocar minhas farinhas e temperos numa caixa e levar de carro até a casa nova. Eu abro a gaveta de temperos e sei que aquelas sementes de mostarda não têm a menor chance: eu não vou conseguir usá-las em um mês. E não posso fazer mostarda com elas, pois não há tempo de maturar o condimento ou consumi-lo. É estranho jogar fora as aparas de frutas e legumes ao invés de congelá-las para geleias e caldos. Meu freezer está vazio. Isso nunca aconteceu.

Mais estranho é entrar em casa e se sentir estapeada pela sensação de caos. Há livros empilhados, caixas com itens de cozinha para serem vendidos, mangás separados em fardos, brinquedos para serem doados, os poucos móveis que restam estão fora de lugar, e não há meios de trazer uma noção de ordem a tudo aquilo.

Conforme vou vendendo as coisas e levando ao correio, o vazio vai trazendo paz. O espaço vazio, que normalmente traz inquietude quando nos mudamos para um lugar novo, o espaço vazio que não vemos a hora de ocupar com coisas para apaziguar aquela palpitação no peito, esse espaço vazio me traz calma. Mostra que as coisas estão caminhando. Percebo como hoje gosto mais de espaço do que de móveis. Como quero ter tão menos do que eu tinha no meu próximo lar.

Mas uma coisa é ter poucas coisas que servem a você. Outra é você se ver sem aquelas coisas que não parecem importantes mas faziam parte da sua rotina invisível, aquela parte do seu dia que você faz automaticamente, sem pensar, como prometer suco de melancia para o seu filho. E daí que você entra em casa e pela oitava vez se vê zonza, segurando sua bolsa na ponta dos dedos, se movendo pela sala como uma galinha sem cabeça, confusa, simplesmente porque NÃO TEM ONDE DEIXAR SUA BOLSA. o_O

Isso é ridículo.

Mas eu me pego atordoada pela rotina invisível quebrada, e de repente parece que você tem que voltar a prestar atenção a tudo o que faz novamente. Toda vez que entra em casa tem que procurar um novo espaço vazio para depositar sua bolsa.

Dã.

As crianças às vezes surtam. "Mamãaaaaae! Você NÃO PODE vender as forminhas de picolé!!!" Aí vai mamãe explicar que a gente está vendendo tudo o que não cabe na mala, e que vai usar esse dinheiro para comprar novamente aquilo de que realmente precisamos.

Aí eles apanham um saco e brincam de escolher o que vão levar e o que vão vender. "Mamãe, eu não vou levar meu carrinho de boneca. Ele é muito grande. Eu vou dar para uma menina que não tem. Uma menina da França. Porque as meninas na França não têm carrinho de boneca."

Não, eu NÃO VOU para a França. Sabe-se lá porque diabos ela encasquetou com a França ou com esse problema grave de ausência de carrinhos de boneca que aparentemente acontece por lá. o_O

De qualquer forma, as crianças estão empolgadas. Mas a ansiedade e a insegurança gerada por toda essa movimentação em casa as faz mais agitadas, mais cansadas, um pouco mais briguentas. Há toda uma dose extra de paciência que preciso resgatar dentro de mim para lidar com os dois nesse momento.

Passo meus dias tirando coisas de dentro dos móveis, limpando, embalando, levando ao correio, recebendo gente que leva embora meus armários. Aquele vazio na casa se torna intermitente, pois o caos se instaura a cada armário que vai embora, deixando seu conteúdo no chão da sala, e então esse conteúdo é separado, limpo, embalado, enviado a outras pessoas.

Allex sugere que usemos o método Lean 5S para lidar com a bagunça. Eu fico fula, dizendo que é o que tento fazer na nossa casa há quase dez anos e ninguém deixa. o_O Mas vamos lá. Há muito o que fazer na casa ainda antes de entregá-la ao proprietário. Fiz então o canto do UT - A Fronteira Final (lembra do UT?), e o canto do Vai Na Mala, em polos opostos da sala. Porque isso de ficar separando as coisas que ficam em cada cômodo não estava dando uma noção exata do que teríamos de levar. Já veio o primeiro susto: é muita coisa. Quando a gente brinca de ilha deserta, se convence de que consegue levar só dois livros com você. Quando tira tudo da estante o bicho pega: muitos dos livros são edições que você não acha mais, ou traduções que você gosta muito.

Quando criança, meus pais tinham O Tesouro da Juventude, uma enciclopédia que eu adorava, que continha uma tradução do monólogo de Hamlet feita por Machado de Assis que eu sabia de cor, e versões originais dos contos de fada, com direito a toda a violência e lições de moral típicas das histórias antigas - a Cinderella do Tesouro da Juventude botava Game of Thrones no chinelo, com olhos furados por pássaros e calcanhares serrados fora. Até hoje me dá uma tristeza por terem mandado embora aqueles livros. Nunca mais achei essas histórias ou aquela linda tradução de Hamlet em lugar nenhum. Hoje sei bem quais livros são substituíveis, recompráveis, e quais devem ser mantidos com você.

Convenço-me então de que aquela pilha enorme é apenas uma pré-seleção. Ou que talvez eu precise sim que meus pais levem uma caixa de livros para mim quando forem visitar. >_<

Aviso as crianças que quando o sofá for embora, vamos usar o banco do jardim para ver TV na sala. Tempos estranhos. Compram minha cama. Resta apenas meu colchão.

Gnocchi já está super adaptado à gaiola. Logo no primeiro dia se enfiou lá dentro e dormiu a noite toda, o que nos deixou muito mais tranquilos. Ele adorou seu novo cantinho e acho que fará bem a viagem.

Estou imensamente feliz por estar vendendo todas as minhas obras. Restam muito poucas, e acho que vou conseguir viajar apenas com meus sketchbooks e meus desenhos de infância, para começar toda uma nova fase de pintura por lá.

Neste fim de semana, entrego minhas panelas WMF a quem as comprou, com dor no coração. São panelas maravilhosas. Mas não faz o menor sentido levá-las comigo. Eu sei que com meus panelões vermelho e verde e com as outras duas frigideiras que ficam pelo menos esse mês aqui em casa, consigo cozinhar tudo. Mas é estranho não usar a panela de vapor ou a leiteira. Novamente, uma quebra da sua rotina invisível.

As refeições têm sido extremamente simples. Usando o que tem na despensa ao máximo, e com apenas uma bancadinha para trabalhar. Logo vêm gente pegar minha estante da despensa, e então esse espaço diminuirá ainda mais. Uma grande cozinha vazia sem ter onde apoiar a tigela do bolo. Prometi às crianças que vamos comer pastel na feira toda quinta e domingo até o dia da viagem. Deu-me uma súbita vontade de queijo minas, requeijão e farofa. Farofa de verdade, feita com farinha de mandioca, cebola, uma tonelada de manteiga... não essas farofas compradas prontas, com gosto de serragem e sal. Vai entender como funciona a cabeça da gente. Água de coco e caldo de cana. Só penso nisso. E tenho planos para uma comida mais relaxada e divertida nesse mês de julho.

Estou ansiosa para o fim das aulas, daqui a alguns dias. Para eliminar pelo menos essa correria de manhã e poder tomar café da manhã com calma com as crianças. Novamente inventar mais um pouco, pois esse semestre, com Thomas no primeiro ano, entrando meia hora mais cedo na escola, quebrou completamente esse nosso hábito do café variado.

Para inspirar vocês nos cafés da manhã das férias, deixo aqui um apanhado das ideias de café da manhã do meu finado Facebook, que ainda estão com os textos originais dos posts. Única coisa que guardei daquela época. Um monte de panquecas e mingaus para besuntar de Maple Syrup.

Vamos ver se por aqui conseguimos fazer um repeteco disso tudo. O objetivo é acabar com o garrafão de Maple que Allex trouxe de viagem. Ele ri da minha cara quando sirvo o xarope sobre as panquecas das crianças, dizendo que ando muito perdulária agora que sei que vou poder comprar disso mais barato depois da mudança. Aliás, por incrível que pareça, Maple Syrup barato e a perspectiva de panquecas e waffles todas as manhãs tem sido o grande selling point da mudança para as crianças. ^_^

E vamos nessa. Respira fundo. Faltam pouco mais de trinta dias. E dia 4 de agosto vamos de casa até o aeroporto ouvindo essa música:

https://www.youtube.com/watch?v=CiCselxgw8s

Para bom entendedor, meia música basta. Quem adivinhar para onde vamos ganha um pirulito de nabo. ;)

OBRIGADA A TODOS pela força, pelo carinho, pelos emails de incentivo, pelas histórias, por nos ajudar nessa transição com cada comprinha de nossas coisas e minhas obras. Fiquei realmente emocionada com a reação de todos vocês. Num mundo que anda tão frio e capenga em termos de empatia, vocês me surpreenderam positivamente e encheram meus olhos de lágrimas.
VOCÊS SÃO SENSACIONAIS!!!  

Agora, de volta à nossa programação normal... ;)

 
Panqueca básica de iogurte

Sexta-feira de panquecas de iogurte. 1 de tudo: 1xic de farinha, 1 colh(sopa) rasinha de fermento, 1 colh (sopa) rasa de açúcar, 1 pitada de sal, 1 xic de iogurte, 1 ovo, 1 colh. (Sopa) manteiga.

Panquecas de banana e quinoa

Usando bananas que estavam na geladeira e me esperaram ir e vir de Trinidad. Dá pra imaginar o estado das pobrezinhas. A parte seca das panquecas leva 3/4xic de farinha de trigo, 1/4xic de farinha de quinua, 1 colh (Sopa) de fermento, 1 pitada de canela e 1 pitada de sal. Parte liquida, 1 ovo, 3/4xic de leite e 1colh (sopa) de manteiga, derretida. Misture secos com molhados e junte 2 bananas bem amassadas, de preferencia já de casca bem marrom. As bananas nesse estado não estão estragadas. Apenas difíceis de comer. ;) Mas elas assim já começando a escurecer por dentro dão às panquecas um sabor caramelado delicioso, que combina bem com os tons terrosos da quinua.


Panquecas de trigo sarraceno

Quando você já não lembra mais se já publicou uma receita ou não... De qualquer forma, essa panqueca de trigo sarraceno vale um repeteco.  :) Numa tigela, 1/2xic de farinha branca, 1/2xic de farinha de sarraceno, 3/4 colh (sopa) fermento, 1/4 colh (Cha) de bicarbonato, 1 pitada de sal. Em outra, 1 ovo, 1 xic de iogurte natural, 1 colh (sopa) de óleo vegetal e outra de melado. Só misturar tudo e dourar em um fio de óleo em porções de 1/4xic.

Panquecas de sarraceno e pera

Panqueca de sarraceno e pera, adaptado do livro lindo da Kim boyce, good to the grain. Uma pera ralada, com seus sucos, um ovo, uma colher de manteiga derretida, 1/4 xic de farinha integral, 1/4 xic de farinha comum, 1/2 xic de farinha de sarraceno, 1 colh sopa rasa de fermento, 2 de açúcar e uma pitada de sal. Leite, começo com meia xícara e acrescento mais conforme a suculência da pera. Delícia absoluta.
German Puff Pancake

Fim de semana teve café da manha diferente: German puff pancake. Basta derreter 3 colh(sopa) de manteiga numa frigideira de 23cm, juntar 1 maçã grande em fatias finas, polvilhada com 1 colh (sopa) de açúcar mascavo, 1 colh (cha) de canela e um pouco de noz moscada. Cozinhe por dois minutos. Em uma tigela, bata 3 ovos, 3/4 xic de leite e 3/4 xic de farinha. Despeje sobre as maçãs e leve ao forno preaquecido a 190oC por 15-20 minutos, ate que esteja inflado e dourado nas laterais. Aí é só espremer umlimaozinho por cima, polvilhar açúcar e mandar ver. Delicioso. De um livro ótimo, mas comum titulo ridículo: yummy mummy.

Waffles com chocolate


Crêpes doces

Outra opção delicia para o café da manhã, principalmente no fim de semana, quando se tem mais tempo. Você prepara a massa dos crepes na noite anterior, deixa ela descansando na geladeira durante a noite, e cozinha de manhã. Só misturar 1 1/2xic de farinha, 1 pitada de açúcar e de sal, 2 ovos e cerca de 2 1/4 xic de leite, misturando ate ficar homogêneo e com consistência de creme de leite fresco, sem bater demais, para os crepes não ficarem borrachudos. Deixe descansar durante a noite na geladeira (isso hidrata e relaxa a farinha e melhora o resultado dos crepes) e no dia seguinte junte mais umas colheradas de leite, se a mistura tiver engrossado muito. Esquente um pouquinho de manteiga numa frigideira de 23cm e cozinhe porções de cerca de 1/3xic de massa, dos dois lados. Recheie como quiser. Eu comi com ricotta e mel. Marido e crianças preferiram apenas uma espremidinha de limão e açúcar de confeiteiro polvilhado por cima. Do lindo livro da Rachel Khoo, The Little Paris Kitchen.

Crepioca

É só misturar 1 ovo, 2 colheres de goma para tapioca, 2 colheres de ricotta ou cottage e uma pitada de sal. Levar à frigideira quente com um pouco de manteiga, coberta com tampa até que firme o bastante para virar com espátula e dourar do outro lado. Receita do meu treinador de Kettlebell, e eu sei que isso virou a comida fit da moda por um bom tempo, mas é uma delícia: parece um pão de queijo de frigideira. :D

Mingau de aveia básico

Eu não canso de postar mingau por aqui, pois é uma das minhas coisas favoritas no mundo. Meus filhos comeram mingau de tudo que é jeito na época em que estavam desmamando, e continuam gostando. Assim, aveia cozida em água com bananas, uvas passas, linhaça, papoula, sal e canela, e depois coberta de mais banana, um naco de manteiga, um nada de leite frio e adoçada com mel, é clássico dos clássicos aqui em casa.

Mingau de trigo sarraceno

Trigo sarraceno cozido em água por uns 10 minutos, junto com frutas secas picadas (no meu caso, Cranberries e damascos orgânicos, marronzinhos e com gosto de caramelo), canela em pau, extrato de baunilha, uma pitada de sal, um nadinha de semente de cardamomo e uma ralada de gengibre fresco. No potinho, acompanhado de um pouco de leite, melado de cana e figos frescos. Do livro Vegetarian Everyday, lá do blog Green Kitchen Stories. Bom dia.

Mingau de sarraceno, coco e chocolate

Mingau de sarraceno de novo. Desta vez batido com linhaça, cozido em leite de coco, água e açúcar baunilha do, e servido com nozes picadas, iogurte e gotas de chocolate.

Mingau de feijão azuki

Estranho comer feijão no café da manhã. Mas gostoso. Pra quem gosta de mingau que parece apenas naturalmente doce. Fãs de Sucrilhos, olhem para o lado. Cozinhe 90g de feijão azuki em 6xic de água até ficar macio, bata no liquidificador deixando um pouco pedaçudo, misture 1/4xic de açúcar, 1/4xic de farinha de arroz glutinoso e cozinhe até engrossar. Coma com passas e nozes picadas. Essa quantidade serviu um adulto e duas crianças curiosas. A receita original estava no Serious Eats:http://www.seriouseats.com/recipes/2010/01/seriously-asian-korean-red-bean-porridge.html

Mingau de aveia com marmelos

Nem só de banana e canela vive um mingau. Aveia em lâminas cozida em agua e leite, com marmelo poche e castanhas de baru picadinhas. Um pouquinho de iogurte natural por cima para arrematar. Marmelos poche feitos assim: http://www.lacucinetta.com.br/2010/05/compre-marmelos-compre-marmelos-compre.html

Iogurte com sarraceno e figos dourados

Figos dourados em quase nada de manteiga, iogurte caseiro, nozes picadas, trigo sarraceno e mel. Bom dia. :)


Iogurte com geleia de nectarina

Simples: um pouco de iogurte caseiro, uma colher de geleia de nectarina, gengibre e cardamomo. 900g nectarinas, descascadas e sem caroço, 3/4 xic açúcar orgânico, suco de um limão, 1 colh sopa gengibre fresco ralado, 4 bagas de cardamomo moídas no pilão. Cozinhar tudo ate dar o ponto quase como uma goiabada cremosa.


Iogurte, frutas e trigo sarraceno cru

Parece esquisito, mas o trigo sarraceno cru assim sobre frutas, iogurte e mel fica uma delícia, crocante como granola.

Suco de pepino, maçã e hortelã

Suco de pepino, maçã e hortelã, de um livro da Heloísa Bacelar que eu adoro, mas que seria ainda melhor com um índice remissivo. Suquinho acompanhou o iogurte com granola das crianças e foi para o lanche da escola. Me sentindo muito virtuosa hoje. 
;


Tartine de Abacate e Grapefruit
 
Pão caseiro tostado, fatias de abacate, segmentos de grapefruit, sal e azeite. Estranho mas bom. O abacate cremoso e gorduroso contrasta com o amargor refrescante do grapefruit. Delícia. 


Tartine de morango e iogurte

Pão caseiro tostado, uma colherada de iogurte, morangos fatiados, menta fresca e um polvilhar de açúcar baunilhado. PERFEITO.

Granola

Às vezes gosto de tomar café da manhã mais tarde, com criança na escola e cachorro passeado. Fui dormir ontem à noite contente em saber que tinha iogurte e granola caseiros pro dia seguinte. Uso sempre uma receita da revista do Jamie Oliver. Misturo 2 colh (sopa) de algum óleo vegetal, 6 colh (sopa) mel, 300g de aveia laminada, e um punhado de quaisquer sementes e castanhas que houver em casa. Espalho numa assadeira e levo ao forno a 180oC por 15 minutos. Junto um punhado de frutas secas e asso por mais 10 minutos. Deixo esfriar e guardo num pote fechado. O da foto tem uvas passas, goji berries (também caí nesse conto), castanha de caju, linhaça e sementes de girassol e melão.
(Post republicado. Fui editar o outro e acabei excluindo sem querer. :P)

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Apfelstrudel de aniversário e taturanas

Eu tinha tirado uma foto linda, com chantilly do lado. Mas ela sumiu. Fué.
Começou no início do mês, quando, após alguns pequenos grandes estresses (ou como canta KT Tunstall, "...my miniature disasters and minor catastrophes..."), ganhei de presente uma gripe querendo virar sinusite, um torcicolo de três dias que não passava nem com o tipo de remédio forte que tenho medo de tomar, e uma série de noites insones por nenhum motivo além do excesso de diálogos inventados em minha cabeça.

Meus músculos e minha vias aéreas só começaram a retornar ao estado natural quando consegui acalmar a mente um pouco e silenciar algumas daquelas vozes. Digo algumas, pois outras tantas ainda me mantêm acordada vez ou outra ou no mínimo me provocam sonhos suficientemente intensos para me fazer acordar cansada.

Santa meditação que me ajuda um bocado.

Santo marido que escuta toda a minha incessante verborragia, pacientemente, e me acalma, me apoia, me ajuda a quebrar correntes e me libertar do que não me permite crescer. Como a música do Paul McCartney

Mas quando eu achava que voltaria a dormir tranquila, foi a vez do Thomas voltar da escola com um febrão de 39,5oC que durou três dias. E um tosse-tosse-tosse ininterrupto. E dor de ouvido. Corre para levar ao médico, porque, da última vez, ele demorou para reclamar do ouvido e a infecção quase lhe perfurou o tímpano. Dá-lhe remédios, noites checando temperatura, dias faltados na escola.

Mencionei que fiquei cuidando do pimpolho com um talho aberto na ponta do dedão, cortado pela lâmina do processador que estava na gaveta?

Pois é. Vai vendo.

No primeiro dia em que Thomas melhorou... Laura teve febre. E lá vamos nós outra vez. Noites de cof-cof-cof, termômetros, narizes entupidos.

Na tarde em que tudo parecia ok, ninguém reclamando muito, mas ainda todo mundo meio borocoxô e entupido, resolvi aproveitar o dia bonito para ir lá fora arrancar as folhas mortas da cúrcuma. Vou juntando tudo num canto, e vejo umas outras folhas da couve-de-bruxelas, todas comidas de bicho, e resolvo arrancá-las também. Sinto algo no dedinho, como o arranhar de um espinho. Recolho rápido a mão e termino de jogar fora as folhas.

Só quando termino o serviço é que a queimação começa a vir. Meus dedos começaram a inchar e se avermelhar e pareciam pegar fogo.

"Me queimei numa taturana...", anunciei à família. 

Não qualquer taturana. Vou descrever só pelo prazer tétrico de causar aflição a outras pessoas... É uma filha da mãe cor-de-laranja peluda com cara de pomponzinho fofo, não maior que um moranguinho, e que calha de ser uma das mais tóxicas que há. Meus dedos queimavam por fora como se os tivesse pelado em água fervente, e corria uma dor no meio dos ossos e nas articulações até meu ombro, como se esmagassem meu braço num torno mecânico.

Nunca senti dor igual. Ela causava enjoos. Não conseguia parar de chorar.

"Putz, Ana, isso demora umas doze horas pra passar", proferiu Allex, pesquisando rapidamente o que fazer naquele caso. Nem consegui responder. Ele apanhou um pote grande na cozinha, virou uma garrafa de água gelada da geladeira, e enfiou minha mão lá dentro. Então me deu o Tylenol mais potente que tínhamos em casa, o mesmo que eu tomara depois de arrancar os dois dentes do siso no mesmo dia, e um copo de Bourbon. E me fez companhia, me mostrando coisas estúpidas da internet para me fazer rir.  E cuidou das crianças, das tosses, dos termômetros, dos narizes escorrendo.

Quando fui dormir, dois Tylenol 750mg e 3 doses de Bourbon depois, a dor no braço diminuíra e se concentrara na mão. Os dedos inchavam muito ainda, a água gelada já não fazia mais efeito, e eu sentia agulhas espetando os dois dedos queimados.

"Está melhor?", perguntou Allex.
"Melhor que antes, mas caramba! Nem aquela vez que eu fiz uma pururuca na minha mão no grill do forno doeu desse jeito! Consegue imaginar o que acontece com um passarinho que tente comer esse bicho?"
"Passarinhos são mais espertos que a gente. Eles sabem que não podem encostar em taturanas."
"Humm... E se fosse uma joaninha? Uma joaninha caindo em cima de uma taturana?"
"Acho que ela fritaria, coitada."
"Essa taturana é a raquete elétrica da natureza."

Eu mencionei as três doses de Bourbon?

E sim, eu já pururuquei minha mão no grill aceso do forno. Um milésimo de segundo. E o dorso da minha mão tinha uma linha grossa de pele cor de carvão com uma espuma branca por cima. Ainda tenho a cicatriz. Não doeu nada em comparação com o estrago dessa maldita taturana.

No dia seguinte, a dor era como se eu tivesse queimado os dedos no forno. Tolerável, dentro do espectro de machucados de cozinha pelos quais eu já passei na vida. Considerando a pururuca na mão, eu digo.

Enquanto Allex preparava meu cappuccino, lembrei-me de agradecer a ele pela ajuda no dia anterior. E enquanto Thomas se arrumava para ir à escola, ainda meio amuado, Laura conseguiu fechar o próprio dedo na dobradiça da porta.

Que acontece? Sério?
Preciso benzer essa família.

Ainda bem que a cozinha, com todas as suas imprevisibilidades, ainda me parece mais estável do que a bagunça da vida em geral. Quando tudo desanda, eu me enfio na cozinha o dia todo e produzo a maior quantidade de pães e bolos que posso, para sentir que ainda tenho algum controle sobre essa bagunça generalizada. Para ter algum conforto.

No meio desses dias caóticos, foi aniversário do Allex, e todo ano é a mesma coisa.

"Você quer bolo de quê?", pergunto.
"Não gosto de bolo."
Fué.
"Mas eu gosto de Apfelstrudel!", ele diz.
"Eba!!"

Pronto. Apfelstrudel de aniversário. Para esse homem lindo, amor da minha vida, melhor amigo, única pessoa que entende meu senso de humor, que me faz cappuccino italiano todas as manhãs há anos, e ouve todas as vozes cheias de caraminholas da minha cabeça quando estou aflita, que me deu meus filhos fantásticos e cuida tão bem deles, que me deu meu cachorro maravilhoso que é a encarnação do amor na Terra, e que cuida de mim com doses de Bourbon e carinho quando eu queimo minha mão numa taturana altamente tóxica. Allex é minha pessoa. Que me ajuda a ir para frente. E eu tento ser essa pessoa para ele também. Às vezes com sábios conselhos. Às vezes com Apfelstrudel.

Sim.

Essa é AQUELA receita de um milhão de anos atrás, dos primórdios do blog, antes das crianças nascerem. A receita da Oma. Que na época eu me senti mal em publicar porque me parecia uma coisa muito da família do Allex, e da qual eu não queria simplesmente me apropriar depois do falecimento da Oma, que havia sido pela época daquele post.

Trocentos anos depois, meus filhos têm o sobrenome da família alemã, e eu já fiz isso vezes o suficiente para, sim, me apropriar. Fora que eu perguntei e ninguém se importou de eu dividir a receita aqui.

Como toda receita de avó, a original eu achava um pouco imprecisa em alguns aspectos, então já naquela época fui pesquisar para tornar a receita um pouco mais confiável para alguém sem tradição alemã e que nunca fez Apfelstrudel na vida. A Oma costumava esquentar uma tigela e deixar a massa descansando embaixo da tigela quente. Quando descobri que o descanso serve para relaxar o glúten, mas que a massa não deve ressecar de maneira nenhuma, troquei isso por pincelá-la com azeite e embrulhá-la em filme plástico. A massa relaxa e sai super macia e pronta para ser esticada ao máximo. A Oma também abria a massa passando os dedos por baixo dela, como se fizesse cócegas. Mas isso pode mais facilmente produzir buracos. Optei por outra técnica, que usa o dorso das mãos e os antebraços, num movimento que parecem os braços de uma dançarina de dança do ventre. Assim é mais difícil rasgar a massa. Oma usava margarina. Eu uso manteiga. Ela usava óleo. Eu uso azeite. Já testei o recheio com a quantidade dada de açúcar e com metade, e descobri que com metade o recheio tende a vazar menos e você não sente diferença na doçura (já que você descarta o líquido açucarado antes de montar o Apfelstrudel. A receita dizia forno forte por 20 minutos, mas não há meios de um Apfelstrudel sair assado por dentro assim. Pelo menos não no meu forno. Eu tentei. Ele fica cru. Não sei se foi escrito errado ou se, como no caso dos suspiros da minha avó, o forno dela era meio mágico. No meu caso, uso forno moderado por pelo menos 45 minutos.

E voilà. Apfelstrudel.
Começando a abrir com o rolo. Nessa hora, a massa é macia como massa de pão.

Eu costumo abrir com o rolo até começar a ficar transparente.
Eu nunca mais consegui abrir a massa tão grande quanto daquela primeira vez. Mas esse tamanho é já muito bom.
Pedacinhos de manteiga sobre a massa a cada rolada que ela der.
Um dia eu vou ter um forno e uma assadeira onde caiba um Apfelstrudel em linha reta.


APFELSTRUDEL DA OMA (quase nada adaptado; família alemã, não fique brava!)
Rendimento: o bastante para um almoço comemorativo de família alemã de tamanho moderado. No caso dos quatro habitantes dessa casa, durou 3 dias de sobremesas e cafés da manhã, porque Apfelstrudel no café da manhã é MUITO bom. 

Ingredientes:
(massa)
  • 3 1/2 a 4 xíc. farinha de trigo e mais para polvilhar
  • 1 pitada de sal
  • 1 colh. (sopa) vinagre
  • 1 colh (sopa) azeite
  • 1 colh (sopa) manteiga, em temperatura ambiente
  • 1 ovo
  • 1 xíc. água morna
(recheio)
  • 5-6 maçãs grandes (de preferência Gala, mas usei até Fuji orgânica, e sempre fica bom - vale a pena experimentar com maçãs mais ácidas também)
  • 1 xic. uvas passas (claras ou escuras)
  • suco de 1 limão tahiti ou siciliano (você pode colocar um pouco das raspas também)
  • 1 colh (chá) canela em pó
  • 1/2 - 1 xíc açúcar (as duas quantidades funcionam, siga sua preferência)
  • 1 xic. nozes picadas (opcional - eu nunca coloco porque o marido odeia nozes)
  • farinha de rosca para polvilhar 
  • uns 50g de manteiga para distribuir na massa

Preparo:
  1. Numa tigela, misture 3 1/2 xic de farinha ao restante dos ingredientes e misture com um garfo até obter uma massa macia e úmida e que se possa sovar sem que grude nos dedos. Se ainda estiver grudenta, junte o restante da farinha. Sove um pouco dentro da tigela, não como um pão, mas simplesmente amassando até que fique bem lisa e uniforme, mais como você faria à massa do macarrão. 
  2. Amasse para que fique já num formato retangular, pincele com azeite toda a superfície e embrulhe em filme plástico. Deixe descansar em temperatura ambiente por meia hora, enquanto você aquece o forno e prepara o recheio. 
  3. Pré-aqueça o forno a 205oC.
  4. Descasque as maçãs, retire os miolos e fatie fino as frutas. Coloque as fatias numa tigela grande e misture com o suco de limão (raspas também, se quiser), as passas, as nozes, se estiver usando, o açúcar e a canela. Deixe descansando um pouco. (Lembre-se de guardar as cascas e os miolos das maçãs para fazer geleia depois!)
  5. Enquanto isso, estenda uma toalha limpa sobre a mesa e polvilhe com um pouco de farinha de trigo. 
  6. Na hora de abrir a massa, saiba que você NÃO PODE PARAR O PROCESSO. Se a massa secar, você não conseguirá abri-la nem enrolá-la. Desembrulhe a massa, que deve estar macia, lisa, uniforme e úmida, mas sem grudar nada. Coloque no centro da mesa e comece a abrir com o rolo, do centro para fora, mantendo o formato retangular e tentando manter a espessura sempre uniforme por toda a massa. O pulo do gato está aqui: quanto mais você conseguir abrir com o rolo, melhor, pois a massa ficará toda na mesma espessura e você evitará o excesso de bordas grossas, que serão aparadas depois.Polvilhe com bem pouca farinha se necessário, mas se a massa estiver na textura certa, não será preciso.
  7. Quando você estiver conseguindo enxergar um pouco através da massa, e ela estiver com pelo menos uns 50cm, enfarinhe um pouco as mãos e os antebraços e enfie-os embaixo da massa, perto do centro. Comece a mover os braços como uma dançarina, deixando que a massa relaxe o peso sobre seus pulsos e seja esticada quando você afasta um braço do outro. É aflitivo, parece que você vai rasgar a massa, mas faça com delicadeza e confiança. Se rasgar, não tem problema, prossiga para outro pedaço. Só NUNCA tente amassar e começar de novo, isso não dá certo. Aprenda a conviver com os buracos. É como a vida. ;) Vá alternando as áreas da massa, andando em torno da mesa, tentando manter mais ou menos a mesma espessura. Se a massa dobrar em algum pedaço, desdobre e estique para que não grude, tente erguê-la e estendê-la como uma toalha, usando as beiradas da mesa para que o próprio peso da massa ajude a deixá-la no lugar e esticá-la. Quando o centro estiver bem transparente, vá trabalhando as bordas puxando delicadamente. Tem alguns videos que podem ajudar a visualizar o processo: https://www.youtube.com/watch?v=dPlBhVCSPfs e https://www.youtube.com/watch?v=rxkzryG-jUc.
  8. Quando a massa estiver bem transparente (no meu caso, consigo ver perfeitamente a estampa da toalha), pois quanto mais fina, mais crocante fica, apare com uma tesoura de cozinha as bordas que ficaram grossas, tentando manter mais ou menos um formato retangular. Minha mesa tem 70x100cm, para se ter uma ideia mais ou menos do tamanho que ficou minha massa na foto. 
  9. Polvilhe a massa com um punhado de farinha de rosca. 
  10. Apanhe o recheio. Escorra o excesso de líquido que ficou no fundo da tigela. (Não jogue fora - congele junto com as cascas e miolos de maçã e use para fazer aquela geleia.) 
  11. Distribua o recheio sobre 1/3 da área da massa mais próxima de você (e que tiver menos buracos), preservando uns 5-8cm de borda.  Lembre-se que você vai enrolar o strudel no sentido do comprimento. O tamanho do strudel será o lado mais curto. 
  12. Apanhe um dos lados compridos da massa e dobre aqueles 5cm de borda por cima do recheio. Repita do outro lado e depois com a borda do lado mais curto. Pense nas dobras de um envelope, pois é exatamente isso.
  13. Agora, volte para a ponta da mesa, segure a toalha firmemente e erga o bastante para que a ponta do strudel role sobre si mesmo uma vez. Distribua belisquinhos de manteiga sobre a massa, apanhe a toalha e faça rolar sobre si mesmo outra vez. A cada vez que a massa rolar, distribua um pouco de manteiga, até que ela termine de rolar sobre toda a massa sem recheio. 
  14. Com cuidado, pegue o strudel e o acomode sobre uma assadeira, com a borda final da massa virada para baixo, para que não solte. Distribua mais manteiga por cima. SE não couber na assadeira,NÃO CORTE. Dobre, enrole, faça uma ferradura, um caracol, tanto faz, tudo funciona.
  15. Leve ao forno quente por uns 45 minutos, até que esteja moderadamente dourado e sequinho. Não importa o que você faça, a tendência é vazar líquido mesmo. E ele VAI queimar. Ignore. Apenas quando você tirar o Strudel do forno, antes que ele esfrie, use duas espátulas grandes para removê-lo e colocá-lo numa assadeira limpa, pois se esse caramelo queimado esfriar, o Strudel vai ficar grudado. Nas próximas vezes, você pode tentar usar mais farinha de rosca  para absorver o líquido. Mas vazando ou não, fica sempre delicioso. A marca do bom cozimento da massa é se ela se quebrar ao ser cortada. O recheio deve estar úmido mas a massa interna não pode estar molenga e com gosto de farinha - isso quer dizer que ficou cru por dentro.
  16. Você pode polvilhar o Apfelstrudel com açúcar de confeiteiro antes de servir. Pode servir morno, acompanhado de sorvete de baunilha, ou frio, com chantilly batido na hora. Depois que esfriar, mantenha na geladeira. Reaquecido no forno ficar com gosto de fresquinho de novo. 

Acredite: é mais difícil explicar do que fazer. Como você tem que abrir a massa bem rápido para que não seque, você leva tanto tempo para preparar quanto uma torta de maçã comum. A parte chata mesmo é descascar as maçãs. 

Espero que gostem. ;)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Verão, refeições colaborativas, cozinhando sem me dar conta

Basler Leckerli depois de cortado.


Ah, o verão.

Esse bafo quente do inferno.
Esse ar parado onde só se movimentam mosquitos.
Essa vontade de me jogar no sofá em frente ao ventilador e permanecer ali até a noite chegar.
Esse asfalto quente que queima as patas do cão quando a gente sai pra passear.
Esse sol escaldante que torra a nossa nuca enquanto a gente tenta ler no parquinho que não tem sombra.
Essa chuva à tarde que frustra todas as minhas tentativas de levar as crianças pra passear na cidade.
As moscas.

Ah.

O verão.

Dezembro passou num piscar de olhos e com alívio. Natal e Reveillon com a família foram muito muito bons, mas parece que mesmo não mexendo minha busanfa para fazer ceia nem nada, ainda assim os compromissos, o trânsito caótico de São Paulo e o preço das cerejas deixa você meio que em estado irritadiço e ansioso o tempo todo. Quando você se dá conta, está de férias há um mês, mas parece que alguém esqueceu de avisá-lo disso, pois você nem passeou nem descansou durante esses trinta dias que passaram voando.

Aquela velha rotina de infindáveis receitas de Natal durante Dezembro com certeza não existiu por aqui. Concentrei mais meu tempo em ficar com as crianças e colocá-las para me ajudar na cozinha do dia-a-dia propriamente dita.

Para não dizer que não fiz NADA-NADA especial para Natal e Reveillon, fiz sim. Coisas bem simples e muito poucas.

Fiz ESSES BISCOITOS de canela da Martha Stewart para dar às professoras no último dia de aula. No fim das contas, as crianças acabaram se animando e correram para escolher os cortadores. Para minha surpresa, eles foram extremamente cuidadosos e organizados, e os biscoitos saíram perfeitos. Tanto, que pensei que as professoras não acreditariam em mim quando dissesse que eles os haviam feito. :P

Também fiz, a pedido do marido, e novamente com a ajuda da pimpolhada empolgada, os Spekulatius de sempre, receita AQUI NO BLOG.

Esse ano combinamos de só dar presentes para as crianças. Mas como minha sogra e meus pais se encarregaram da ceia, e eu não queria ir assim tão de mãos vazias, resolvi fazer um biscoito suíço chamado Basler Leckerli, do livro Minha Cozinha em Berlim, da Luisa Weiss, que fora presente de Natal de minha sogra há uns bons anos atrás, e foi um dos livros que mantive por ter algumas receitas alemãs que eu ainda queria testar - essa entre elas. Os biscoitos, que com o passar dos dias vão ficando mais sequinhos e crocantes, e que meus filhos chamaram de "biscoito de balinhas", por causa das frutas cristalizadas coloridas, para mim tinham gostinho bom de panettone, e foram embalados e dados de presente para a família na noite do dia 24.

Basler Leckerli antes de separar.


BASLER LECKERLI
(Do livro Minha Cozinha em Berlim, de Luisa Weiss)
Rendimento: cerca de 40 biscoitos de 2,5cm

Ingredientes:
  • 3/4 xic mel
  • 1/3 xic açúcar + 1 colh (sopa)
  • 1/4 colh (chá) sal
  • 2 1/2xic. farinha de trigo
  • 2 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1 ovo grande
  • raspas da casca de 1 laranja orgânica
  • raspas da casca de 1 limão-siciliano orgânico (usei taiti)
  • 1/8 colh(chá) noz moscada ralada
  • 1/8 colh (chá) cravo em pó
  • 1 1/2 colh(chá) canela em pó
  • 2/3 xic. (rasa) de amêndoas sem pele, bem picadas
  • 3/4 xic.casca de laranja cristalizada, bem picada (ou substiua as duas cascas cristalizadas pelas mesmas quantidades de frutas cristalizadas sortidas, como eu fiz)
  • 3/4 xic. casca de cidra cristalizada, bem picada 
  • 1/4 xic. açúcar de confeiteiro
Preparo:
  1. Numa panela em fogo médio, derreta o açúcar, mel e sal e passe a mistura para uma tigela. deixe esfriar. 
  2. Aqueça o forno a 190oC. Em outra tigela, peneire a farinha e o fermento.
  3. À mistura de mel, junte o ovo batido, as raspas, as especiarias e 2/3 da farinha. Misture bem enquanto acrescenta as amêndoas e as frutas cristalizadas. Junte o restante da farinha e misture. A massa fica bem dura.
  4. Forre uma assadeira grande (50x30cm) com papel-manteiga ou silpat. Unte as mãos e aperte a massa na assadeira, espalhando, até que fique com pouco menos de 0,5cm de espessura e mais ou menos uniforme. 
  5. Coloque a assadeira no forno e asse por 15 minutos. Abaixe o fogo para 175oC e asse por mais 10 minutos ou até que esteja dourada e ligeiramente inchada. Cuidado para não queimar embaixo. 
  6. Quando a massa estiver quase pronta, prepare o glacê. Numa panela, em fogo médio-alto, coloque o açúcar de confeiteiro e 2 colh (sopa) de água. Cozinhe até que a água tenha evaporado e o glacê esteja formando bolhas grandes. Ainda deve estar mais líquido que grosso, para poder espalhar. 
  7. Retire a massa do forno e imediatamente cubra com o glacê, usando um pincel para ajudar a espalhar. 
  8. Imediatamente corte a massa em quadrados de 2,5cm, sem retirar da assadeira. (Se estiver usando um silpat, use uma espátula ou um raspador de pão, pois uma faca pode danificar o silpat.) Deixe esfriar até temperatura ambiente. Então separe os quadradinhose guarde em um pote hermético por até 2 meses.
Aliás, continuo mandando embora meus livros de cozinha, e às vezes, quando surge um arrependimento, uma receita que eu queria mas não tenho mais, corro para a internert, onde tenho redescoberto alguns blogs. Nisso, reencontrei o Wednesday Chef, da Luisa Weiss, e descobri que ela fizera um livro inteirinho de baking da Alemanha que parece puro amor. Confesso que me deu um comichão imenso para comprar o livro, mas me refreei, pelo menos por enquanto. O processo é de "down sizing" e economia, então não convém botar nada de novo na casa que não seja absolutamente necessário. Ao invés disso, resolvi testar as receitas do livro que encontrei disponíveis por aí net afora. Na própria página da Amazon, fiquei namorando a foto dos pãezinhos em forma de croissants, cobertos de sementes de papoula, mas a única página que se podia visualizar era a dos ingredientes. Sem problemas, pensei. Pelos ingredientes deduzi como deveria ser o preparo, e assim fiz os danados, que nada mais são que pãezinhos de leite que se enrolam como os croissants e se cobrem de sementes. Uma delícia e muito fáceis, presumindo que o preparo dela era o mesmo que o meu... ;)

MOHNHÖRNCHEN
(adaptado do livro Classic German Baking, de Luisa Weiss)
Rendimento: 10-12 pãezinhos

Ingredientes:
  • 2 colh(chá) fermento biológico seco
  • 3 colh(sopa) açúcar
  • 1 colh(chá) sal
  • 3 colh(sopa) manteiga, derretida
  • 1 xic. + 2 colh(sopa) leite morno (ou temperatura ambiente se o dia estiver quente)
  • 1 ovo
  • 500g farinha de trigo
 (cobertura)
  • 1 gema de ovo
  • 1 colh (chá) leite
  • 1-2 colh (sopa) sementes de papoula
Preparo:
  1. Numa tigela grande ou na tigela da batedeira planetária, dissolva o fermento e o açúcar no leite morno e deixe espumar por uns 5-10 minutos.
  2. Junte o sal, a manteiga, o ovo e a farinha e misture bem até formar uma massa. Sove por 5-10 minutos, à mão ou com o gancho da batedeira, até que ela fique lisa e elástica
  3. Forme uma bola, coloque numa tigela untada e cubra com filme plástico.  Deixe fermentar por 1 hora ou até que dobre de tamanho.
  4. Abra a massa com um rolo numa superfície ligeiramente enfarinhada, até obter um retângulo de mais ou menos 50x20cm. Corte 10-12 triângulos (use as sobrinhas da massa para abrir novamente em forma de triângulo). Como com croissants, segure as duas pontas da lateral mais estreita do triângulo e puxe um pouco para fora, fazendo orelhas. Então comece a enrolar em direção à ponta, apertando para que o rolinho fique compacto. Coloque numa assadeira forrada de papel manteiga ou silpat, com a pontinha enrolada para baixo (para que não se abra durante o cozimento) e entorte as pontas externas para que fique curvo como uma meia-lua. Repita com os triângulos restantes. 
  5. Cubra com um pano de linho ou coloque a assadeira dentro de uma sacola plástica grande e deixe fermentar por mais 45 minutos ou até que os crescentes dobrem de tamanho novamente. 
  6. Pré-aqueça o forno a 205oC. 
  7. Misture o ovo e o leite da cobertura num potinho. Pincele a mistura em todos  os pãezinhos e polvilhe com as sementes. Leve ao forno por cerca de 25 minutos, ou até que estejam dourados e emitam um som oco quando lhes bater os nós dos dedos na parte debaixo. Retire-os da assadeira e deixe que esfriem sobre uma grade. Depois de frios podem ser congelados dentro de sacos plásticos ou se mantém frescos de um dia para o outro, bem envoltos num pano de prato. 
Mas ainda para o Natal, a noite do dia 24 fora responsabilidade dos outros, mas o almoço do dia 25 foi a bagunça daqui de casa. Minha irmã me pedira encarecidamente pela PASTINHA DE FIGO SECO E AVELÃS que ela pede todo ano desde aquele almoço de Natal há um milhão de anos, e que, tendo encontrado ambos mais baratinho num mercado de São Paulo (porque onde moro você tem que vender um rim para comprar castanhas e frutas secas), resolvi fazer.

Minha mãe trouxe uma carne de panela da minha infância, um lagarto fatiado fino e comido frio, sempre ótimo pro bafão quente de verão, e eu acompanhei com o clássico Orecchiette al forno do Jamie Oliver que é sempre bom e uma torta de alho poró muito simples da Tessa Kiros, do livro Twelve, que foi devorada. O bom tanto do prato de massa quanto da torta é que eu pude preparar no dia anterior. Então no dia 25 mesmo, pude acordar com calma e me concentrar apenas em deixar a casa em ordem e passar maquiagem o bastante para cobrir a cara de ressaquinha. ;)

Meu pai havia dito que traria casquinha de siri de entrada, um clássico familiar que em tempos difíceis fora feito até com atum em lata, e o que era para ser uma entradinha meio que virou almoço, e todos comemos tanto que quase não sobrou espaço para o almoço de fato.

Quando chegou a hora da sobremesa, já era quase hora do jantar, na verdade. Eu preparara um repeteco de um SORVETE DE LIMÃO simples e refrescante (sorvete é sempre bom de fazer, porque você pode fazer com uma semana de antecedência e ficar sossegada até o dia do evento) e era para ser apenas isso. Não tivesse eu no dia anterior tido um siricotico e resolvido de última hora preparar uma receita de brownies de cappuccino de uma revistinha de Natal da Martha Stewart. Eu adoro aquela revistinha específica e acho que já fiz quase todas as receitas dela. Lembrava desse brownie, que eu jurava que tinha vindo parar no blog, e o que me lembrava era de que ele tinha ficado bom mas meio sequinho. Então resolvi mexer na receita. E troquei metade do açúcar orgânico branco pelo mascavo, para trazer tons de caramelo ao sabor e deixá-lo mais "fudgy". Também omiti as gotas de chocolate. E usei chocolate 80% (tenho usado da marca Casino, do Pão de Açúcar) no lugar do unsweetened. Mas acho que o pulo do gato foi a forma. Da primeira vez que fiz, usei minha forma de alumínio quadrada de 20cm, que eu nunca forro porque tem fundo removível. Desta vez, usei minha forma de vidro quadrada de 21cm e forrei com papel manteiga. Não parece muita coisa, mas o brownie ficou mais fino e não secou tanto. O resultado foi maravilhoso. Tomei cuidado de tirar do forno ainda molinho no meio, e os brownies ficaram perfeitos, dignos de infinitos repetecos. :) Receita AQUI.

No Reveillon, meu pai preparou um belo pernil assado para fazermos sanduíches. Foi todo um exagero em que todos da família trouxeram comida e acabou que no fim da noite não houve uma pessoa sem uma quentinha embaixo do braço cheia de sobras gostosas. Sobrou tanto pernil aqui em casa que ele rendeu diversas refeições. No dia primeiro do ano foi sanduíche no almoço e jantar, pois ainda tinha muito pão e muito vinaigrette do meu pai. No dia 2, refoguei um pouco de cebola, gengibre, cebolinha e pimenta fresca em óleo de gergelim, juntei o pernil desfiado e arroz branco de transantontem, temperei com um pouco de vinagre de arroz e shoyu e comemos esse stir-fry muito bom acompanhado de uma saladinha de repolho roxo, cenoura, cebolinha e amendoim torrado. O restante do pernil já havia sido desfiado e incorporado a um molho de tomate com alecrim e louro, e esse ragù rápido foi congelado em 3 porções generosas para ser comido depois, com pappardelle feito em casa ou polenta quentinha. Isso porque eu já congelara o pernil desfiado ano passado, e ele queimara e estragara. Envolta em molho, não há chance da carne queimar de frio.

Os ossos do pernil foram para o Gnocchi, claro, que se esbaldou.

Como todos voltariam dirigindo tarde da noite do Reveillon aqui em casa, pensei numa sobremesa diferente, para dar uma acordada no povo. Nesse calor dantesco, sorvete parecia o mais apropriado outra vez: por ser refrescante e por ser prático de fazer - de novo eu poderia fazer com antecedência. Fiz um SORVETE DE CHOCOLATE REPETIDO DAQUI a pedido das crianças, mas para os motoristas de plantão, o escolhido foi uma GRANITA de café bocoió de fácil, que apesar dos olhares desconfiados de todo mundo, acabou sendo sucesso... até com os pimpolhos! O segredo da granita de café, além de usar café saboroso e forte, é servir com chantilly batido na hora e com quase nada de açúcar, pois a granita já é surpreendentemente doce. O chantilly cremoso é um contraste delicioso aos cristais de gelo da granita, e não houve um só comensal que não tenha sentindo o PUNCH! do café na madrugada.

GRANITA DE CAFÉ
(do livro The Perfect Scoop, do David Leibovitz)
Rendimento: ele diz que dá tipo 6 porções, mas acho que nessa quantidade da foto serve 8-10 pessoas)

Ingredientes:
  • 4 xic. (1 litro) de café espresso ou café bem forte ainda quente
  • 1 1/2 xic. (300g) açúcar

Preparo: 
Dissolva o açúcar no café quente, mexendo com uma colher até que desapareça. Despeje numa assadeira de 20x30cm e bordas altas e leve ao freezer tomando mais cuidado do que eu tomei: fui empurrar a assadeira no freezer, o café balançou lá dentro e derramou no chão do freezer e eu tive de ficar limpando aquela joça naquele calorão de 35oC, torcendo pra tudo lá dentro não derreter enquanto isso. Bom... Deixe 1 hora no freezer. Retire, misture ou raspe com um garfo e leve de novo ao freezer. Vá checando a cada meia hora ou a cada hora, e raspando com o garfo. Vai depender da potência do freezer. Você vai fazer isso acho que umas seis vezes até obter aquela boa consistência de raspadinha. Pode parar e deixar no freezer até a hora de servir. Pronto. Bocoió de fácil. 


No fim, em Dezembro eu descobri que toda aquela alegria das férias de inverno era provocada pelo... inverno. E que no calorão eu realmente não estou afim de brincar de pega-pega ou ficar três horas debaixo do sol no parquinho. Quando mais nova eu brincava que minhas células eram fotovoltaicas, e eu só funcionava em dia de sol. Aparentemente meu organismo evoluiu para sistemas mais avançados e sensíveis e eu claramente preciso de refrigeração para meu melhor funcionamento.

Produtividade zero no verão.

Janeiro portanto começou com as crianças indo passar uns dias na casa da avó. Eles não aguentavam mais olhar para a cara da mãe e essa mãe aqui aproveitou a tranquilidade para... descansar? Não. Trabalhar, que graças à boa vontade do universo esse ano o trabalho promete voltar ao ritmo normal, e fechei três encomendas diferentes durante as festas. Ieeeei!

Antes de a pimpolhada se jogar nos braços dos avós que levam pra tomar sorvete todo dia, mamãe preparou waffles de ano novo para a criançada. A boa e velha receita de sempre, fofinha por dentro, crocante por fora, de quem, de quem? Da Tessa Kiros. Eu jurava que essa receita estava no blog, mas aparentemente foi só para o facebook na época em que eu ainda usava aquela joça. Então deixe-me corrigir isso:


WAFFLES
(do livro Apples for Jam, da Tessa Kiros)

Ingredientes:
  • 2 ovos, separados
  • 1/3 xic. açúcar (uso o baunilhado e omito a baunilha depois) 
  • 1/2 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 4 1/2 colh (sopa) manteiga, derretida
  • 3/4 xic. leite
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh (chá) fermento químico em pó
Preparo:
  1. Numa tigela, bata com um fouet as gemas e o açúcar até que fique homogêneo e claro. 
  2. Junte a baunilha e a manteiga derretida e misture bem.
  3. Junte o leite e quando estiver incorporado, a farinha e o fermento. A massa ficará espessa. 
  4. Bata as claras em neve e incorpore à massa anterior. Aqueça o ferro de waffle e asse cerca de 1/3 xic. por vez. Rende o bastante para uma família de quatro gulosos se esbaldar. 
Pimpolhada continuou no bom e velho maple syrup trazido da Califórnia pela titia Maria Rosa, e eu bati um pouco de chantilly com pouco açúcar e comi meus waffles quentinhos com minha compota de cereja, feita com as cerejas que ganhei de Natal da minha mãe, que sabe do que eu gosto. :) Lembrei imediatamente da viagem a Amsterdam, há tanto tempo, e dos waffles servidos da mesma forma que comi por lá. Delícia.

Daí que no meio da correria louca de dezembro, cada evento pareceu parar um pouco o tempo e durar o bastante para aproveitarmos. Cada um fez um pouco e ninguém ficou (muito) cansado, e acho que esse foi o melhor Natal e Reveillon que tivemos nos últimos anos. Foi um fim de ano caloroso e feliz, cheio de muita comida gostosa.

Acho também que preciso editar esse post e rever aquela frase lá em cima. Que para alguém que disse que não faria nada para o Natal, e que disse que preparara pouca coisa simples, fiquei besta com a quantidade de links para receitas que tive de inserir no meio do texto. Sem a pressão de PRECISAR fazer um monte de comida, acho que fui fazendo e nem me dei conta.

E vamos para 2017 então.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Acreditando em um pessegueiro


Nessa época do ano a gente se empolga (ou sou apenas eu?) com as frutas da estação que lembram Natal, e gasta os tubos em pêssegos, nectarinas, ameixas, cerejas... aliás, bota tubos nisso, pois as cerejas estão valendo ouro nos últimos anos. Aí vem aquela frustração de ter uma caixa inteira de frutas lindas, coloridas, bojudas, perfumadas... e com gosto de coisa nenhuma. Quem nunca passou por isso?

Há uns anos atrás, comprando uma árvore de Natal numa loja de construção, deparei-me com um pessegueiro sendo vendido a 13 reais. TREZE REAIS. Eu precisava levá-lo para casa. Era um PESSEGUEIRO! Ignorei totalmente o fato de que se tratava meramente de um galho mirrado pouco mais longo que minhas pernas, ostentando depressivamente uma única folha verde esmaecida, beirando o amarelado. Veio num torrãozinho de terra do tamanho de um pão francês, esturricado de seco, e o bichinho era tão frágil, tão frágil, que achei que fosse mesmo quebrar durante o transporte até o caixa.

No entanto, ele veio para casa. E em casa, escolhi um cantinho abandonado, do lado da porta de entrada, de onde eu arrancara uma touceira que quase não dava flores e só fazia acumular aranhas e mosquitos. Plantei com carinho, acomodei pedras em torno do seu tronquinho esquelético, e reguei bem. Depois de plantado, dei boas vindas e boa sorte ao pessegueiro e abandonei-o à mesma sorte de todas as outras plantas aqui de casa, que são estimuladas a sobreviver ao ambiente e à minha falta de habilidade em cuidar de mais seres vivos do que dois filhos e um cachorro.

Passaram-se os anos. Para minha surpresa, o pessegueirozinho continuou ali. Não muito firme, não muito forte, mas ali. De vez em quando apareciam mais duas ou três folhinhas verdes brilhantes, e houve mesmo uma vez que surgiu uma florzinha cor-de-rosa delicada, que foi meu grande amor pelo tempo que durou, e chegou mesmo a tornar-se uma bolinha verde aveludada que não chegou a ficar maior que minha unha antes de desprender-se do galho e sumir na grama.

E assim foi. Enquanto o abacateiro em frente crescia forte (esse abacateiro plantado da semente, no mês em que nos mudamos para esta casa, após sonhar que plantava um abacateiro com meu filho), o pessegueiro continuava ali, um galho, meramente um galho, nada mais que um galho.

Então, esse ano - talvez tenha sido o clima louco, as chuvas, a seca, o calor, o frio, ou tão somente a força de vontade e espontaneidade da natureza - o pessegueiro cresceu. Assim, de um dia para o outro, loucamente, inadvertidamente, ele se multiplicou e espalhou, e cresceu, e subiu, e alargou, e aquele galho de repente era uma mini-árvore tão frondosa quanto pode ser uma mini-árvore-quase-arbusto, mas ainda assim muito diferente do galhinho seco que uma vez fora. E de um dia para o outro floresceu uma miríade de gotas cor-de-rosa, que se abriram com vontade para as abelhinhas pretas, e quase não deu tempo para minha filha se encantar com as pétalas delicadas, e já havia bolotinhas verde-aveludadas por todos os galhos.

Meu pé de pipoca quando apareceram os primeiros pêssegos.

Corri para ensacar todos eles, em saquinhos brancos e araminhos pretos, e a piada da família era que se tratava de um pé de pipoca. Todos os dias por meses e meses as crianças se aproximavam para ver a quantas andavam as frutinhas, com a promessa de que quando chegasse o Natal, os pesseguinhos estariam prontos para serem comidos.

Então veio uma tempestade que quase arruinou tudo, com pedras de gelo do tamanho das próprias frutas, que rasgaram saquinhos, derrubaram pêssegos, amassaram, quebraram, destruíram. Salvaram-se dois terços; o resto, tão verdinho, tão delicado, não resistiu.

Troquei-lhes os saquinhos e continuei de olho.

Dá pra ver onde o granizo machucou os frutos.


Um mês depois, eu conseguia divisar através do papel branco o rubor delicado dos pêssegos maduros; e vi aqueles frutos grandes, redondos, amarelo-rosa-avermelhados, perfumadíssimos, e morri de amor por cada um deles, mesmo os bichadinhos, mesmo os machucados. Colhi uma boa braçada de pêssegos, quase uns vinte, e nem acreditei que aquele galhinho mirradinho seria um dia capaz de tal proeza.

Os pêssegos, no entanto, não estavam lá muito doces não. As crianças experimentaram um ou dois e então desistiram em prol das uvas, dos morangos, das mangas. Havia um amargorzinho neles, mesmo nos mais maduros. O que fazer?



Deixei-os na geladeira por uma semana, para que não estragassem, pensando no que fazer com eles. Tentei grelhar um com açúcar, mas o amargor pareceu prevalecer, e por isso achei que uma geleia teria o mesmo efeito.

Então chegou meu aniversário de casamento-juntação-de-trapos. Como sempre, eu esqueci. Foi o marido que lembrou. Onze anos sob o mesmo teto. E ao lembrar do nosso começo naquele apartamentozinho, lembrei-me das cestas de Natal e do pêssego em calda que sempre vinha nelas, e que um dia até virou torta de pêssego aqui no blog.

Pêssego em calda, claro. Talvez o cozimento delicado fizesse sumir aquele amarguinho.

Enquanto os pêssegos cozinhavam naquele xarope cor-de-rosa, fazendo com que um perfume delicioso enchesse a casa, fiquei pensando naquelas latas de pêssego em calda, naquelas cestas de Natal, dos empregos de onze anos atrás, no nosso apartamentinhozinho com nossa cozinhazinha que deu nome a esse blog, La Cucinetta. Quanta coisa eu fiz naquela cozinha.

Lembrei-me de quando nos mudamos para lá, do colchão no chão, dos móveis emprestados, da cozinha toda improvisada. Das manhãs com cafés feitos na Bialetti, dos domingos à noite de mãos dadas assistindo a desenhos japoneses. Pensei em quão pouca coisa tínhamos e de quão pouco precisávamos. Precisávamos da companhia um do outro, daqueles cafés, daquelas mãos dadas, das idas até o teto do prédio para tomar uma cerveja e ver a noite passando lá embaixo, conversando coisas que só nós dois entendemos um do outro.

Onze anos se passaram. Quinze desde o dia em que ele resolveu interromper uma conversa minha sobre Iron Maiden. Quinze anos depois continuamos conversando sobre Iron Maiden. Fomos juntos a três shows deles. Só não fomos a quatro pois eu estava já grávida de nove meses do Thomas.

Onze anos desde o dia em que resolvemos dividir uma casa, e meu coração bate forte com as manhãs de cappuccino feitos na Gaggia e os domingos à noite de mãos dadas assistindo a desenhos japoneses. Hoje temos mais coisas do que naquela época, mas nos damos conta de que não precisamos de quase nada. Apenas da companhia um do o outro, desses cafés, dessas mãos dadas, e das voltas no quarteirão para passear o Gnocchi, tomando uma cerveja e vendo a noite passando à nossa volta, conversando coisas que, mais do que nunca, só nós dois entendemos um do outro.

Minto, há mais, claro que há mais. Precisamos dessas duas crianças lindas, de bochechas rosadas como pêssegos, que ao contrário das frutas do meu pessegueiro mirradinho, são as criaturas mais doces do mundo. E que vêm crescendo fortes mas gentis.

Eu não sabia quantos frutos aquele galhinho de pessegueiro me daria um dia, e eu não sabia que uma conversa sobre heavy metal e filosofia numa quinta à noite um dia me daria uma família. Bastou acreditar. Bastou um pouco de cuidado. Um pouco de amor no coração para deixar as coisas tomarem seu rumo sozinhas, natural e espontaneamente, abandonadas à nossa habilidade de cuidar um do outro.

Para os pesseguinhos não tão doces, um nadinha mais de cuidado e fé em seu potencial. E eles se tornaram muito doces, perfumados, macios e cor-de-rosa, delicados e surpreendentemente deliciosos com uma colherada de iogurte. Seu amargor se foi, e ficou a vontade de ver o que mais o futuro trará a esse meu pequeno pessegueiro.

PÊSSEGOS EM CALDA (ou qualquer outra fruta)
(Adaptado do Apples for Jam, de novo)

Tudo vai depender da quantidade de fruta que você tiver e do quão doce quer a calda, na verdade, Aqueça numa panela água o bastante para cobrir as frutas, com açúcar na proporção de 4 partes de água para 1 parte de açúcar. Aromatize com o que quiser: baunilha, casca de limão, laranja, especiarias... e uma boa espremida de suco de limão para a fruta não escurecer. Frutas mais duras, de inverno, ficam melhores descascadas, e essas de caroço, de verão, podem ser cozidas com casca, que vai se soltar naturalmente. Corte as frutas na metade, e quando o xarope atingir uma fervura branda, abaixe o fogo para o mínimo, coloque as frutas e cozinhe apenas até que fiquem macias, sem se desmancharem. Algo entre 5-10 minutos, dependendo da fruta. Retire a fruta cozida para um prato e leve ao freezer por alguns minutos para parar o cozimento. Leve o xarope à geladeira para que esfrie completamente. Quando tudo estiver frio, volte às frutas ao xarope. Dura 1 semana na geladeira.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Pato, Purê, Paris, Mãe, Maçã, Maquiagem



Título de doido. Mas vem comigo.

Depois de um ano e meio de reeducação alimentar e muita, muita corrida, eu finalmente me sentia bem comigo mesma. Estava em forma, com uma rotina saudável, o trabalho apontava para direções animadoras, e tudo ia muito bem. Tão bem, que decidi que era hora de vir o primeiro pimpolho.

O primeiro pimpolho veio, e com ele aquele choque em perceber que um filho não era apenas mais uma tarefa incorporada ao seu dia, mas meio que o seu dia inteiro. Junto com todo o amor e a coisa doida que é ver aquela fofura se tornando um ser humano independente e com personalidade, veio aquele outro choque: eu sou mãe. Rolou uma bizarrice de sair me livrando de roupas que eu não julgava mais apropriadas para minha nova fase, rolou um stress de querer ser um modelo de perfeição natureba suprema para meu filho, e, como toda a despirocação para um extremo, o pêndulo volta todo o caminho e você despiroca pro lado oposto não muito tempo depois. E de jogar fora minha saia curta e sair vestida igual à minha mãe de sessenta anos, eu comprei um novo par de coturnos, usei meu short jeans até ele ter mais buracos do que jeans de fato, e... pintei o cabelo de roxo. ROXO. Mesmo. Inteiro. Roxo.

Eu quis pintar o cabelo de roxo minha adolescência inteira, mas não conhecia na época um cabeleireiro que tivesse uma tintura mais ousada do que o vermelho que a Claire Danes usou em Minha Vida de Cão. Precisei esperar ter mais de trinta anos, mais coragem e mais saco cheio daquilo que eu achava que esperavam de mim por ser mãe.

Erro.

Pintar cabelo colorido é um comprometimento. E eu já estava comprometida com meu filho e meu trabalho. Cabelo colorido que a gente não tem tempo de cuidar fica um show de horror. E pouco tempo depois de pintar o cabelo, eu engravidei de novo, e tive de passar nove meses com o cabelo descolorido-amarelo-piupiu, manchado de roxo-desbotado e com textura ressecada de cabelo de Barbie enfiada na piscina cheia de cloro.

Olhar para isso no espelho durante quase um ano não foi legal.

O cansaço de trabalhar, cuidar de casa, de criança na fase dos terríveis dois anos e de um bebê recém-nascido também não ajudou.

Passaram-se quatro anos desde o nascimento do meu primeiro filho, e parecia que o trabalho ainda não tinha engatado de novo do jeito que era, eu não conseguira voltar a correr todos os dias, a segunda gravidez deixou meu abdome mais flácido do que a primeira, não dava tempo de ir ao cabeleireiro, e aos poucos eu fui esquecendo de cuidar de mim. A gente fica trancafiada em casa, olhando só pra criança, pra prancheta e pro computador, e começa a achar que dá pra ir buscar os filhos na escola de chinelo e sem pentear o cabelo. Eu tivera aquele plano lindo de vestidos de cintura marcada, mas me via todo dia com o mesmo moletom velho.

:(

A gota d'água foi ir ao supermercado com minha filha, eu vestida de mendigo, ela fazendo uma birra escalafobética porque estava entediada e o moço dos frios estava demorando vinte minutos para cortar 200g de queijo Prato, e aparece, linda, radiante, perfumada, uma das mães da escola, super simpática, e sempre impecável – aquele tipo que você quer muito odiar, porque ela tem tempo de lavar o cabelo e você não. Ela vem, conversa, e eu me sentindo um lixo, tentando impedir a pimpolha revoltada de escalar a prateleira de vinhos. Estrelinha para a mãe simpática que teve a classe de ignorar a birra e agir como se nada estivesse acontecendo. [Sério, você que não tem filhos, nunca, nunca olhe feio para uma mãe tentando conter a birra do filho em local público. Você simplesmente não sabe o que está de fato acontecendo, e a mãe já está se sentindo suficientemente mal sem precisar de olhares de julgamento sobre sua capacidade materna.]

Voltei para casa querendo chorar de raiva. Raiva de mim.

Então, num dia particularmente cansativo, marido chega em casa, liga o rádio e coloca Charles Aznavour. Eu sorri, contente pela delicadeza: ele sabe como gosto de Chanson Française e como esse tipo de música melhora meu humor. Ouço um "pirulim!" vindo do meu celular ao lado, de capinha roxa como um dia fora meu cabelo. Apanho o aparelho para pegar uma mensagem do wasapp e demoro um bocado a entender quando vejo uma imagem de uma confirmação de vôo.

Para Paris.

Amo meu marido, pois nos momentos em que mais preciso, ele sabe como me motivar novamente. Seja com um cafuné, minha cerveja favorita ou uma viagem para um dos lugares que mais quero conhecer na vida.

Comecei a pesquisar loucamente sobre Paris. Coisas pra fazer, para ver, para comer. E o que vestir. Porque no auge do cabelo roxo, eu estava na Itália. Em outra viagem de uma semaninha que marido usou para me resgatar das minhas nóias "Maternidade x Individualidade". E, de cabelo roxo, maquiagem feita, me sentindo estilosa mas meio cheinha (estava na primeira semana da gravidez e não sabia, inchada sem saber por quê), vem um velhinho e, ignorante do fato de que falo italiano, virou pro colega e me chamou de Medusa.

:(

Adoro acreditar que sou o tipo de pessoa que não se importa com a opinião dos outros. Mas eu me importo sim, e aquilo doeu. Então, sim, quis saber o que vestir. Não só para não fazer muito feio, mas porque não fazia ideia do clima de lá na época em que vou.

Acabei caindo em um monte de sites de moda, coisa em que não fuçava havia anos. Eu sempre curti dar uma fuçada em sites de moda e sempre gostei de maquiagem, razão pela qual ninguém da família entendia porque diabos eu andava tão porqueira. Mas no pós-filhos, todas as vezes em que tentei me inspirar nesses sites para me arrumar mais, foi uma frustração atrás da outra. Porque você via um look legal, e percebia que tinha todas as peças menos AQUELA jaqueta que era o que compunha tudo de um jeito fantástico. E a grana pra comprar aquela jaqueta? Quem tem? Eu não. Ou quando você tinha TODAS as peças necessárias para ficar fantástica como aquela foto, mas você então se dava conta de que a razão pela qual a foto era maravilhosa era o fato de a mocinha ali ter dez anos a menos e não ter nenhuma pelanca marcando na camiseta. Todo mundo sabe como isso é troncho e besta, mas como te pega de jeito em momentos em que você está mais insegura. E o pior era perceber que aos trinta e cinco anos eu ainda estava insegura feito meu eu-adolescente. Muito disso vinha do fato de que eu ainda não conseguia me enxergar com meus trinta e cinco anos.

Por isso amei a coisa toda do Parisian Chic, do minimalismo francês e do "capsule wardrobe". Que coisa genial. Finalmente parecia ter encontrado algo que casava minha falta de tempo para ficar pensando em roupa de manhã, minha muquiranice, minha falta de saco para comprar roupa, meu desejo de minimalismo e praticidade e minha vontade de voltar a sair por aí... bonita. Olhei meu guarda-roupa e me dei conta de que já metade dele era preto, branco, cinza e listrado: fácil de combinar. O problema é que havia tantas, tantas outras peças escalafobéticas, difíceis de combinar, velhas capengas, que a vida de manhã cedo andava difícil e eu acabava usando sempre a mesma porcaria fácil e confortável, mas velha e mal ajambrada.

Fiz a rapa nos livros, mas também fiz a rapa no guarda-roupa. Mandei embora uma quantidade absurda de coisas velhas ou que eu não usava, comprei três ou quatro blusas básicas, uma botinha e um tênis para substituir o velho rasgado que fora pro lixo, e reorganizei meu armário, maravilhada com a mudança. Agora tudo combinava, nada tinha cara de farrapo, e, principalmente, tudo vestia bem no meu corpo, mesmo ele ainda não estando do jeito que eu gostaria. Finalmente fui ao cabeleireiro e deixei lá uma aquarela e meia por uma hidratação e um corte perfeito [eu meço coisas caras em termos de quantas aquarelas preciso vender para pagar por aquilo].

E enquanto continuava a fuçar em coisas de Paris, caí num vlog de viagem da Chata de Galocha (de quem eu nunca ouvira falar, veja só como sou alienada com algumas coisas...) e adorei o jeito dela; identifiquei-me com muitas coisas pessoais suas. E ainda que não tenha me interessado muito pela parte da moda, pois acho que temos gostos diferentes e eu realmente gostei da ideia do minimalismo francês, dei-me conta de que eu já havia sido uma pessoa que se dava quinze minutos para passar um creminho, só pra ter aquela coisa gostosa de ir dormir com o cheirinho gostoso que você escolheu. Aquele cuidadinho com você. Aquele cuidado que eu tinha parado de ter nos últimos quatro anos, tão preocupada em cuidar dos outros.

Voltei a usar um creminho. A passar hidratantezinho especial pro rosto. A passar maquiagem antes de sair de casa. E de repente a vontade de correr voltou. Voltou forte o bastante para me forçar a sair e correr e treinar ANTES de cuidar de qualquer tarefa de casa ou de trabalho. Pois eu sempre fui muito responsável, e acreditava que precisava primeiro dar conta das obrigações, para então ter lazer. Nunca me dei conta de que bastava encarar a corrida e os cuidados comigo como uma tarefa tão prioritária quanto responder email de cliente ou lavar a louça.

E voltei a correr de manhã, junto com o cachorro. Coisa pouca por enquanto, 3,5km, que é a volta do muro do condomínio, com direito a duas ladeiras consideráveis. Volto para casa, e faço um treino bom de kettlebell, que sumiu com a corcunda de mãe, tem botado aquela pelanca no lugar e fez meus braços e pernas afinarem super rápido, além da maravilha que é simplesmente ficar mais forte (não grande, que kettlebell não incha músculo, mas FORTE): poder pegar um filho em cada braço sem morrer de dor nas costas, por exemplo, é lindo. Se sentir saudável novamente é fantástico.

De repente me olhei no espelho e pela primeira vez vi aquela pessoa de trinta e cinco anos na minha frente. Mas não era mais uma mulher cansada vestindo as roupas da faculdade. Eu realmente gostei do que vi. :)

Nunca pensei que essa viagem a Paris seria o empurrãozinho que me faltava para voltar a ser Ana Elisa. Busquei a mim mesma durante todos esses anos nas minhas atividades, tentando voltar a ser a Ana que lia, a Ana que trabalhava, a Ana que que ia a museus, a Ana que saía à noite com os amigos, e esqueci completamente que, antes de ser alguém que fazia coisas, eu era simplesmente alguém que precisava de um pouco de carinho de mim mesma, e que eu só precisava olhar no espelho e gostar de mim de novo. E gostando de mim, eu me permito relaxar mais, eu me cobro menos, eu me estresso menos com coisas bestas. Até com a bagunça da casa, veja só.

Claro que a pesquisa sobre Paris rendeu dezenas de anotações sobre lugares e coisas para comer no meu pequeno guiazinho azul. E minha curiosidade foi atiçada a tal ponto, que comecei a ter uma vontade louca de preparar pratos franceses.

Pato é com certeza uma carne bem comum na França, bem menos do que aqui no Brasil. O que é uma pena, pois acho uma delícia, e no que se refere às coxas e sobrecoxas, tão fácil de preparar quanto frango.

Os pimpolhos adoraram, e no dia seguinte o Matador de Dragões veio pedir pra comer pato de novo. As maçãs assadas, as cebolas, o molho, o purê de batatas bem amanteigado, tudo combina e se complementa de um jeito tão perfeito... você precisa colocar no garfo bocados com todos os elementos ao mesmo tempo. E a gordura do pato, que a receita manda retirar duas vezes durante o processo, eu guardei num pote na geladeira para dourar batatas alguns dias depois. Delícia. :D

Às vezes me pergunto se eu compartilho demais das minhas loucuras aqui. Mas então penso que pode ter outra mãe cansada se afundando em obrigações e que possa, de repente, querer um empurrãozinho para voltar a se cuidar também. Eu me enganava dizendo a mim mesma de que não precisava de nada disso. Tentei me enfiar pelas vias naturebas mais extremas, mas eventualmente a gente tem que dar o braço a torcer e admitir que é muito lindo e ecológico o conceito de usar vinagre e bicarbonato pra tudo, mas que eu curto mesmo é um cheirinho de lavanda, e que meu cabelo meio ondulado, meio cacheado, precisa sim de um creminho modelador de vez em quando, e que eu amei o modo como o bb cream tirou um 5 anos do meu rosto (nunca tinha usado nenhum tipo de base antes, e agora estou apaixonada por esse troço). ;) Eu acho que eu mereço algum cuidado, eu mereço um tempo para mim, eu mereço sentar e ler um livro ao invés de tirar pó dos móveis e eu com certeza mereço um jantarzinho de pato assado enquanto a viagem a Paris não chega.

PATO COM MAÇÃS E CEBOLAS
(Ligeiramente adaptado do ótimo Good Things to Eat, de Lucas Hollweg)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

  • 4 cebolas bem pequenas, descascadas e cortadas em quartos
  • azeite de oliva
  • 4 pernas de pato (coxa e sobrecoxa juntas)
  • sal e pimenta-do-reino
  • 2 grandes galhos de alecrim fresco
  • 3 anis-estrelados
  • 1 pau de canela, quebrado ao meio
  • 4 maçãs, sem miolo e cortadas em quartos
  • 200ml vinho branco seco (usei um pouco de Calvados com água, pois não tinha o vinho na hora)
  • 1 colh. (sopa) mel


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 240ºC.
  2. Espalhe as ervas e especiarias em uma assadeira. Misture as cebolas com um pouco de azeite e disponha na assadeira, sobre as ervas. 
  3. Esfregue as pernas de pato com azeite e tempere generosamente com sal e pimenta. (Pode abusar um pouquinho do sal. Eu coloquei bem mais do que costumo usar na comida e mesmo assim havia partes mais internas da carne sem sal.)
  4. Disponha as pernas na assadeira e leve ao forno, imediatamente abaixando a temperatura para 180ºC. Cozinhe por trinta minutos.
  5. Regue o pato com a gordura que tiver se depositado na assadeira, então retire quase toda ela, deixando apenas 2 colh. (sopa), mais ou menos. Junte as maçãs, volte ao forno e cozinhe por mais 30 minutos.
  6. Retire a gordura novamente, deixando qualquer molho escuro ou meleca grudada na assadeira. Misture o vinho ao mel, junte à assadeira, raspando com uma espátula de madeira, para soltar qualquer coisa grudada no fundo que vá formar o molho. Volte ao forno por 15 minutos. 
  7. Cheque o tempero e sirva quente, regado de molho. Lucas Hollweg sugere acompanhar com purê de batatas, batatas assadas ou uma salada de agrião. Eu fui com o purê de batatas e acho que fui bem feliz na minha escolha.  

Cozinhe isso também!

Related Posts with Thumbnails