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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Tiger cake: bolo mármore dos apressadinhos

Eu vivo jogando bolos fora por conta de minha pressa. Largo o computador de repente, sabendo que tenho pouco tempo livre e munida de uma vontade impetuosa de fazer bolo. Mas as receitas exigem manteiga e ovos em temperatura ambiente, e simplesmente não tenho paciência para isso. Para os ovos há conserto: basta colocá-los em água morninha por alguns minutos. Mas a manteiga... nada que se faça para apressar seu amolecimento traz benefícios. Quando muito, prejudica a receita. Bater a manteiga até que ela amoleça incorpora ar demais, e amolecer no forno ou no microondas parece um atalho que destrói a textura principalmente de biscoitos. E lá vão bolos e quitutes ao lixo.

Este bolo mármore de Alice Medrich [definitivamente minha chef pâtissier favorita] é perfeito para os apressadinhos como eu, ou para um daqueles dias "meu-deus-do-céu-minha-sogra-está-vindo-em-casa-e-não-tenho-nada-para-servir-com-café". Primeiro, o bolo não leva manteiga alguma, mas apenas azeite de oliva. Segundo, os ovos e o leite devem estar gelados. É o bolo perfeito para preparar no fim de um dia chato e exaustivo, para ter algo de doce para beliscar no café-da-manhã e começar um dia melhor.

Uma das coisas que mais gosto nos livros de Alice é o fato de ela incorporar ingredientes às vezes estranhos à confeitaria, transformando o que poderia ser trivial em um doce com personalidade. No caso desse bolo, o algo mais é azeite de oliva e pimenta-do-reino branca. Ao contrário do que parece, os sabores não são escancarados, mas sutis. Você percebe que há algo diferente, mas não sabe identificar exatamente o quê. Ao fim da última garfada, você sente uma suave e agradável picância da pimenta, que, junto do azeite, faz com que se pense, talvez, em amêndoas, segundo a própria autora.

Um alerta: cacau em pó deve ser do tipo natural, pois o alcalinizado reage com o azeite e provoca um gosto desagradável. Mas uma vez que no Brasil parece que ninguém informa nada a respeito de chocolate e cacau nas embalagens, como saber se o cacau que você tem na despensa é natural ou alcalinizado? Pela cor. O cacau natural é mais pálido, com carinha de Nescau, muitas vezes avermelhado, e tem um gosto mais ácido e amargo (que eu saiba todos os nacionais são naturais, como o da Garoto, por exemplo), enquanto o alcalinizado (como o da Callebaut, por exemplo) é marrom escuro como chocolate meio-amargo, e seu sabor é mais neutro. Por causa do tratamento, doces e bolos feitos com cacau em pó alcalinizado (Dutch-process cocoa) ficam mais escuros, marrons e têm sabor mais forte de chocolate. Eu uso o alcalinizado para quase tudo o que faço, a não ser quando a receita pede especificamente pelo cacau natural (que raramente tenho na despensa, para falar a verdade). Pois nesses casos, é a acidez do cacau natural que é benéfica para a receita, uma vez que ela reage com os outros ingredientes e ajuda a massa a fermentar.

Agora, o que eu vou fazer com dois bolos? Um deles vai para o café-da-manhã da corrida, amanhã. Então, Bia e Mana, se vocês estiverem lendo, NÃO FALTEM. ;)

TIGER CAKE
(do livro Bittersweet, de Alice Medrich)
Tempo de preparo: 1h30
Rendimento: 1 bolo grande ou 2 bolos ingleses


Ingredientes:
(1a parte)
  • 1/2 xic. de cacau em pó natural
  • 1/2 xic. açúcar
  • 1/3 xic. água
(2a parte)
  • 3 xic. farinha de trigo
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 2 xic. açúcar
  • 1 xic. azeite de oliva extra-virgem
  • 1 colh. (chá) essência de baunilha
  • 1/2 colh. (chá) pimenta-do-reino branca em pó
  • 5 ovos grandes, gelados
  • 1 xic. leite integral, gelado

Preparo:
  1. Posicione a grade do forno no terço inferior e pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte e enfarinhe uma forma grande de furo no meio com capacidade para 10-12 xícaras ou duas formas de bolo inglês com capacidade de 6 xícaras cada.
  2. Em uma tigela pequena, misture o cacau, o açúcar e a água até que fique homogêneo e reserve.
  3. E uma tigela grande, peneire juntos a farinha, o fermento e o sal.
  4. Na tigela da batedeira, bata (com o batedor de arame da batedeira, se houver) o azeite, o açúcar, a baunilha e a pimenta até que fique tudo bem incorporado.
  5. Junte um ovo de cada vez, batendo bem a cada adição. Ao quinto ovo, bata por 3 a 5 minutos, até que a mistura fique fofa e pálida.
  6. Pare a batedeira e junte 1/3 da farinha. Bata em velocidade baixa apenas até que esteja incorporada. Pare novamente e junte metade do leite. Bata apenas até que esteja incorporado. Repita, com 1/3 de farinha, a outra metade do leite e o outro 1/3 de farinha.
  7. Separe 3 xícaras da massa em uma tigela e misture bem ao creme de cacau.
  8. Coloque 1/3 da massa branca na forma redonda, ou 1/6 em cada forma de bolo inglês. Coloque 1/3 da massa escura por cima, ou 1/6 em cada forma de bolo inglês. Não se preocupe em cobrir ou misturar: a massa é bem líquida e fará o efeito mármore sozinha. Repita as camadas de massa branca e escura, até acabar com elas.
  9. Leve ao forno por 1h-1h10, ou até que um palito inserido no centro saia limpo. Retire do forno e deixe que esfrie na forma por 15 minutos. Então passe uma faquinha ou palito em torno e desenforme, deixando que termine de esfriar sobre uma grade. O bolo fica melhor de um dia para o outro.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Cupcakes de chocolate MUITO bons e MUITO fáceis

Quando meu marido disse que os cupcakes haviam ficado ótimos e quis levá-los para o trabalho, soube imediatamente que tinha algo especial em mãos. Veja bem: ele não é fã de chocolate. E muito menos de bolos. Logo, sua aprovação nesse quesito significa sucesso absoluto.

Depois de uma semana incrivelmente corrida no trabalho [fui praticamente abduzida, razão pela qual os posts fizeram *puft!* e sumiram], resolvi que usaria minha meia hora de folga enquanto os clientes não retornavam os trabalhos para produzir algo doce. Mas precisava ser chocolate. Tinha de ser. Também precisava ser simples e rápido, pois a qualquer momento o trabalho poderia voltar. Esses cupcakes do livro da Ghirardelli foram amor à primeira vista. Ou amor ao meu tempo livre, vai saber. Pois eles são MUITO rápidos de se fazer, uma vez que são preparados como muffins. Enquanto os cupcakes esfriam, você prepara a cobertura. Larga a cobertura na geladeira por meia horinha e pronto: é só lambuzar os bolinhos.

Eu A-DO-REI esses cupcakes. Eles são bastante escuros, macios, leves, amargos e complexos, por conta do café espresso misturado ao cacau. E ficaram ótimos com a ganache mais doce, sem ficarem enjoativos. Acho que ficariam sensacionais com alguma cobertura de caramelo queimado, também. Hmmm... dá para imaginar?

Ontem, trabalho entregue, resolvi colocar em dia todas as tarefas pessoais que haviam sido adiadas por conta do excesso de trabalho das semanas anteriores. Mas quando tudo deu errado e saiu dos eixos, e apenas um cupcake de chocolate salvaria, não havia mais nenhum. Eles estavam tão bons que não ultrapassaram o fim de semana.

CUPCAKES DE CHOCOLATE
(do livro The Ghirardelli Chocolate CookBook)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 12 cupcakes médios


Ingredientes:
  • 1 xic. + 2 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 1/4 xic. cacau em pó
  • 1 1/4 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1 ovo grande
  • 1/2 xic. açúcar mascavo compactado na xícara
  • 1/2 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/2 xic. + 2 colh. (sopa) leite integral
  • 1/3 xic. café forte ou espresso
  • 1/2 xic. (100g) manteiga sem sal, derretida
(cobertura)
  • 170g chocolate meio-amargo (usei 56% de cacau)
  • 3/4 xic. creme de leite fresco
  • 3 colh. (sopa) manteiga sem sal
  • gotas de chocolate para decorar

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e forre a forma de muffins com forminhas de papel (as forminhas realmente facilitam para desenformar os bolinhos, que saem do forno MUITO frágeis e molinhos).
  2. Peneire a farinha, o cacau, o bicarbonato e o sal em uma tigela.
  3. Em outra tigela, misture o ovo e os açúcares até ficar homogêneo. Junte o leite, o café e a manteiga derretida. Junte os ingredientes secos e misture apenas até que fique homogêneo.
  4. Divida a massa entre as formas, enchendo-as até 3/4 da capacidade. Asse por 15 minutos, ou até que um palito inserido no meio saia limpo. Os bolinhos não vão crescer muito, e ficarão achatados no topo, o que facilita na hora de confeitá-los.
  5. Esfrie nas formas por 10 minutos. Com uma pequena espátula ou faca, desenforme-os com cuidado, deixando que terminem de esfriar sobre uma grade.
  6. Enquanto isso, faça a cobertura: pique o chocolate e derreta-o em banho-maria, mexendo de vez em quando. Tire do fogo. Aqueça o creme de leite e junte ao chocolate, mexendo bem com um fouet. Deixe que amorne um pouco e junte a manteiga, mexendo até que ela esteja bem incorporada. Deixe descansar até firmar o suficiente para espalhar a ganache sobre os bolinhos (1 hora em temperatura ambiente ou 20-30 minutos na geladeira).
  7. Espalhe a cobertura nos bolinhos e enfeite com as gotas de chocolate. Sirva no mesmo dia ou guarde-os num tupperware fechado na geladeira, onde eles se conservam bem por mais alguns dias: a cobertura firma mais um pouco, mas não deixa de ser deliciosa, e ela protege o bolinho do ressecamento.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tralha nova, bolo novo

Na sexta-feira passada, Allex entrou em casa com uma mochila grande, cheia e deformada nas costas. Em tempo: ele vai e volta de moto para o trabalho, o que nesses dias em que os céus vem caindo é quase uma piada, e o pobrezinho chega em casa com cara de cachorro molhado. Bem, como ele mesmo diz, de moto ele chega molhado e de carro ele não chega.

"Feliz Natal", disse ele, abrindo a mochila no chão e retirando peças brancas e azuis embaladas individualmente em plástico.
"What the f...?!"
"Ah, comprei seu processador, mais a caixa não cabia na mochila, então ela foi para a reciclagem e o brinquedo veio em pedaços."
"E eu já posso usar? Ou é só no Natal?"
"Você vai querer fazer coisas com ele agora, não vai?"
"Vou."
"Então... e eu não vou embalar tudo isso de novo em outra caixa. Feliz Natal adiantado."

No fim das contas, baseado nos comentários de vocês e alguma pesquisa, acabei escolhendo um dos modelos mais simples dentre os nacionais mesmo. Achei tentador comprar um processador maior e cheio de tralha, mas a verdade é que eu não preciso de um processador-juicer-batedeira-corta-unha-do-pé-traz-café-na-cama. Já tenho uma bela de uma batedeira, e não sou muito de fazer sucos de frutas (prefiro comê-las), e quando os faço, uso aquele espremedorzinho manual que parece um espremedor de alho, que acho muito prático e funciona muito bem. Ah, mas aqueles cortam fatias de várias espessuras... Argh. Não, não preciso disso. Para falar a verdade, corto os meus legumes com a faca mais rápido do que o tempo que me leva para montar o processador. Para quê então eu realmente precisava de um? Para fazer todos os bolos e massas do tipo "joga tudo dentro e pulsa 30 segundos", e para emergências como o dia em que fiz uma pissaladière para 8 pessoas, e passei 45 minutos cortando quase 2kg de cebolas em meias-luas finas. Acreditem: eu nunca mais quero passar por isso

A dúvida cruel era que o cheio de tralha era de fato bem maior do que o com menos tralha. A psicopata metódica em mim apanhou todos os livros de receita da estante, procurou uma por uma as receitas que usavam processador e, baseado no manual de instruções online dos modelos de processadores e o limite de peso de farinha e número de ovos, calculou se o volume de massa de todas aquelas receitas era suportado pelo tamanho da tigela do modelo menor.

Cu-cooo! Cu-cooo! Louca de pedra.

Bem, o modelo menor era bastante.

Resolvi testar o brinquedo novo na segunda-feira, com uma receita muito, muito simples, mas que sempre foi um verdadeiro desastre aqui em casa: o bolo de cenouras de minha mãe. Ele é um bolo dummy-proof, como já escrevi aqui. É muito difícil ele dar errado, e mesmo quem nunca acertava bolo de cenoura tem ótimos resultados com ele. Por isso me considero muito talentosa: só na minha mão ele dava errado.

Primeiro, era o liquidificador maldito, que não batia direito. Ele não tinha potência e não puxava os ingredientes de cima para a parte debaixo, batendo em falso; e o que teoricamente seria uma atividade muito simples (colocar tudo no liquidificador e apertar o botão "Ligar") virava uma epopeia de abre, mexe com a colher, tira a bolota de farinha presa embaixo da inalcançável lâmina, mistura o ovo que nesse meio tempo foi absorvido pelo açúcar e virou uma papa dura... Muitas vezes tudo isso alterava a textura do produto final, e o bolo não saía como deveria, com o miolo irregular, assado num ponto, cru em outro, com buracos no meio. [É visível a diferença de textura do miolo dos dois bolos, da foto do post antigo e desta foto atual.]

Então tentei a batedeira. Mas também não dava certo. Ela demorava mais do que devia para misturar os ingredientes, incorporava ar demais à massa e o bolo crescia, crescia, transbordava e ia parar no chão do forno, espalhando pela casa um horrível cheiro de queimado e soltando fumaça escura em toda a minha cozinha.

Precisava ser essa receita. Se havia um momento de redenção do bolo de cenoura, seria aquele. Montei o bichinho na bancada, ainda pouco familiarizada e resolvi que, primeiro, claro, ralaria as cenouras nele. Eu fatio e pico coisas numa boa, mas eu detesto ter de ralar cenouras, beterrabas, e principalmente grandes quantidades de queijo, uma vez que, invariavelmente, eu vou acabar ralando os nós dos dedos.

Liguei o menino. E imediatamente comecei a rir. Talvez por ele ser de plástico, ele não tenha o peso necessário para mantê-lo tão estável quanto, por exemplo, minha batedeira, que pesa 10kg e não sai do lugar mesmo batendo as massas mais pesadas. O bichinho me lembrou o movimento daqueles bonecos de vento de postos de gasolina. Iúuuuuuuuhuuuuuu!, imaginei ele gritando, enquanto rebolava loucamente. Coloquei minha mão em cima, para mantê-lo firme e prossegui. No final, apesar do centro de gravidade deslocado, ele é menos barulhento que meu antigo liquidificador (que apesar de pouco potente parecia um ar-condicinado industrial quando ligado), e fez muito bem seu trabalho, ralando as cenouras rapidinho sem ralar meus dedos junto. ;)

O bolo.

Quando terminei de colocar todos os ingredientes na tigela que anunciava ter 2,5l (e tem), mas que na verdade sugere um limite de 1,5l, achei que tinha feito bobagem, que teria sido melhor comprar um modelo maior, mesmo com toda a tralha que viria junto. Os ingredientes ultrapassavam em 1cm o tal do limite proposto. Isso vai explodir para todo lado, pensei, imaginando ovos, farinha e cenouras pelas paredes. Arrisquei. E, para minha felicidade, em 30 segundos o bolo estava batido. E pela primeira vez em quatro anos, o bolo assou maravilhosamente bem, e finalmente ficou com a textura fofa e uniforme dos bolos de minha infância.

Felicidade total.

Levei o bolo para o café da manhã da corrida, na manhã seguinte, e fiquei o tempo todo torcendo para que meus amigos acabassem com ele. Se não houver mais bolo, vou "ser obrigada" a fazer outro. Puxa... ;)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Moelleux au chocolat de Ludivine


Há umas duas semanas atrás, Ludivine levou à aula de aquarela um bolo de chocolate intenso e cremoso, do qual comi muitos pedaços, e que ficou ecoando em minha memória gustativa até hoje. Normalmente não gosto de bolos como esse, pois eles tendem a ser enjoativos. Uma fatia e basta, não quero mais. Este, no entanto, é diferente: feito com manteiga francesa salgada e chocolate a 70% de cacau, ele adquire uma complexidade inesperada, dados os tão poucos ingredientes. O sal da manteiga ao mesmo tempo exalta e controla o chocolate, e foi isso o que me conquistou.

Todos pediram a receita, e Ludivine foi ditando, assim de cor, confundindo termos com seu forte sotaque francês. Fui anotando, mas houve contratempos... Primeiro, ela usa uma forma de silicone não untada, coisa que não tenho. Segundo, ela especificou forno baixo, mas não soube dizer por quanto tempo, uma vez que a mesma receita cozinha em tempos diferentes aqui no Brasil e na França. Logo, tive de imaginar um modo de o bolo não grudar em minhas formas de alumínio e ao mesmo tempo desenformar fácil (uma vez que ele é bem molinho) e tive de ficar de olho no tempo de forno.

No fim, tudo deu certo e o danado ficou muito muito bom. Tanto que eu pretendia dividir com vocês o bolo de limão que preparei na semana passada, mas este de chocolate com certeza mereceu a dianteira. Ele é delicioso em temperatura ambiente, na qual pode ser mantido por 3 dias, ou saído direto da geladeira, onde ele firma um pouco. E é sensacional com sorvete de creme, como qualquer bom bolo de chocolate.

Não estranhe a textura. O bolo deve sair do forno firme nas laterais e ainda tremendo no centro, bem molinho (como o próprio nome diz). Ao esfriar, ele afunda e adensa, ficando mais fácil de cortar. MOELLEUX AU CHOCOLAT DE LUDIVINE
Tempo de preparo: 40 minutos
Rendimento: 8 pessoas


Ingredientes:
  • 200g manteiga COM SAL (de preferência President, mas deve funcionar bem com Aviação, que é bastante salgada)
  • 200g chocolate amargo 70% cacau (sem gordura hidrogenada!)
  • 4-5 ovos (usei 4 extra-grandes)
  • 160g açúcar
  • 1 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 50g chocolate amargo, ao leite ou branco para quebrar dentro da massa
  • 1 colh. (sopa) açúcar para polvilhar

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 160ºC. Se usar uma forma de mola, que vede bem, apenas unte e enfarinhe. Se for uma forma de fundo removível (como eu usei) ou comum, forre com papel alumínio que suba além das laterais e unte e enfarinhe o papel (que evita que a massa bem mole vaze no forno e facilita para desenformar). Se a forma for de silicone, não é preciso untar. Qualquer uma das formas deve ter entre 20 e 22cm de diâmetro (mais alta se for menor, mais baixa se for maior – a minha, de fundo removível, tem 20cm de diâmetro e uns 6cm de altura, e o bolo cresceu até uns 5cm antes de afundar).
  2. Corte a manteiga e o chocolate em pedaços e derreta em banho-maria. Enquanto isso, bata os ovos e o açúcar até que fique mais claro e fofo (uns 5 minutos).
  3. Junte o chocolate derretido aos ovos, misturando bem sem perder muito volume, e em seguida a farinha.
  4. Despeje a massa na forma. Quebre ou pique o outro chocolate em pedaços pequenos e distribua sobre a massa. Leve ao forno por 20-30 minutos, ou até que as laterais estejam firmes ao toque, mas o centro balance como um pudim.
  5. Retire do forno e coloque em uma grade para esfriar. Polvilhe o açúcar por cima, para que ele caramelize um pouco com o próprio calor do bolo. Conforme o bolo esfria, ele afunda no centro e se afasta das laterais. Desenforme quando estiver frio, sem virá-lo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Honey-glazed corn bread de um livro esquecido

Há muito tempo atrás, quando postei uma receita de corn bread, um pão rápido de milho típico do sul dos Estados Unidos, houve quem me massacrasse, dizendo que aquilo não era pão coisa nenhuma, que tinha ficado com textura de bolo, etc e tal. Aaaah, as barreiras da língua... O corn bread, normalmente consumido com outros pratos salgados, está mais para um muffin em textura e preparo do que para um pão. Assim como sua versão doce se parece mais com um bolo de fubá. Acontece que existe toda uma categoria de "quick breads", que ao meu ver ficam naquele meio termo, não tão doces para serem bolos, não tão massudos para sarem pães, geralmente feitos em uma tigela, com colher de pau, e comidos no café-da-manhã, que não temos por aqui. Bolo é bolo, pão é pão.

Então pensem nesse "pão de milho" como um bolinho de fubá muito úmido e com um delicioso equilíbrio entre o sal e o açúcar, excelente para acompanhar o café preto, para ser comido puro ou fatiado mais fino, tostado na torradeira e recoberto de requeijão, como fiz hoje de manhã. Aliás, para quem não costuma gostar de bolos de fubá e pães de milho por eles ficarem muitas vezes sequinhos demais, esse vai conquistá-los, uma vez que, saído do forno, o corn bread é ensopado em uma calda de manteiga e mel que o deixa úmido e macio por muitos dias.

Engraçado que a receita veio de outro livro que andava encostado havia muito muito tempo. Nunca preparara nada dele, principalmente porque, apesar de ter receitas muito interessantes, tanto complexas quanto simples, as fotos são de doer. Parecem ter sido tiradas nos anos 80, e conseguem fazer biscoitos de aveia parecerem ultra-complexos e difíceis. O livro acabou ficando na parte de trás da prateleira, esquecido, apesar de todas as receitas de brownies, flans, cheesecakes, muffins e biscoitos que me esperavam. Ironicamente, a foto deste corn bread é uma das únicas mais simples e contemporâneas do livro. Talvez por isso tenha ido direto a ela.

HONEY-GLAZED CORN BREAD
(do livro Desserts by the Yard, de Sherry Yard)
Tempo de preparo: 50 minutos
Rendimento: 1 assadeira de 22x33cm


Ingredientes:
  • 1 xic. farinha de milho (fina ou polenta/sêmola de milho)
  • 1 xic. farinha de trigo comum
  • 1 xic. farinha de trigo para bolos (cake flour)
  • 1 xic. açúcar
  • 2 colh. (sopa) fermento químico em pó
  • 1 1/2 colh. (chá) sal
  • 4 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 85g manteiga sem sal
  • 1/3 xic. óleo vegetal
  • 1 xic. leite
  • 1/2 xic. buttermilk
(calda)
  • 85g manteiga sem sal
  • 1/4 xic. mel
  • 1/3 xic. água

OBS: substitua a "cake flour" pela mesma quantidade de farinha comum; retire 1 1/2 colh. (chá) da farinha e substitua pela mesma quantidade de amido de milho (maizena). Mais informações sobre a cake flour e sua substituição aqui.
OBS2: substitua o buttermilk, enchendo a 1/2 xíc. com leite, deixando uns 2mm de espaço até a marcação. Preencha o restante com vinagre branco, misture bem e use normalmente.
OBS3: você pode usar azeite extra-virgem no lugar do óleo vegetal, mas o bolo terá um sabor ligeiramente pronunciado do mesmo. Eu usei metade canola, metade azeite, pois meu óleo de canola acabou, e ficou muito gostoso.
OBS4: tanto faz usar farinha de milho fina, ou cornmeal, sêmola de milho ou polenta (bramata). A diferença é que os três últimos dão uma textura mais granulosa e interessante ao bolo. Usei metade farinha de milho fina e metade polenta.


Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Forre uma assadeira de 22x33cm com papel alumínio e unte o papel alumínio com manteiga.
  2. Peneire juntos as farinhas, o fermento, açúcar e sal. Peneire novamente.
  3. Em outra tigela, bata ligeiramente os ovos com um batedor de arame ou um garfo. Derreta a manteiga e junte imediatamente aos ovos, num fio devagar, enquanto mistura bem. Junte o óleo, leite e buttermilk.
  4. Junte os ingredientes secos à tigela, misturando apenas até que estejam combinados. Despeje na assadeira forrada e untada e leve ao forno por 30 minutos.
  5. Abra o forno, gire a assadeira 180ºC, feche e asse por mais 10 minutos, ou até que um palito inserido no centro saia limpo. Meu corn bread não dourou por cima, apesar de estar muito bem assado, enquanto os da foto do livro estavam bem douradinhos. Então, tanto faz. Se estiver seco, está bom.
  6. Retire do forno e espete o palito no corn bread, num intervalo de uns 2cm. Derreta a manteiga numa panelinha. Junte o mel e a água e mexa até dissolver. Despeje a calda sobre o corn bread, de modo uniforme, para que todo ele absorva o líquido. Deixe esfriar completamente antes de desenformar e corte em cubos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Um andar de bolo para cada década de vida

Comecei meu aniversário com um enorme cappuccino, brioches e croissants com geleia no Le Vin. No almoço, levíssimos gnocchi gratinados na Osteria del Petirosso, e panna cotta com morangos e calda de chocolate. Ambas as refeições cortesia de meu marido, que sabe como me fazer feliz... :)

Volto para casa para os últimos preparativos para a reuniãozinha. Quase todo mundo compareceu e ajudou a lotar nossa pequena sala. Eu estava tão distraída conversando, que me esqueci de fotografar a comida, e quando apanhei a máquina era tarde demais. Não experimentei do meu próprio quiche, acho que comi duas torradinhas com tapenade de azeitonas e figo e pasta de pimentão, e meus dedos mal alcançaram os espetinhos de tomate e mozzarella. Aliás, o quiche era de brócolis. Uma brincadeira com um amigo meu, que há seis anos atrás levou uma menina ao meu aniversário que, ao ver um pão com recheio de pesto, fez cara de nojo e disse, sem notar que eu estava logo atrás dela: " Íiiiiuuuh! Quem é que serve brócolis numa festa de aniversário???" Hehehe... Bem... eu sirvo.

Do bolo, sobrou um quarto. Também, pudera, cada fatia era um almoço, assim, com três camadas bojudas. Agora posso comê-lo com calma nos dias pós-festa, em pedaços que se aproveitam do fato de não ter ninguém olhando.

A receita é de um de meus livros favoritos, Sky High, e já foi feita também pela Patrícia. Preparei-a exatamente como está em seu blog, com a diferença de ter usado as nozes pecan, como pedia o livro. Pena que deixei a cobertura tempo demais na geladeira, e ela acabou não escorrendo devagar como deveria, mas se dependurando nas laterais de forma pouco estética. Sem problemas, ficou delicioso mesmo assim. :D

Para não deixá-los sem receita nenhuma, no entanto, deixo aqui o que foi o hit da festa, para minha surpresa: a tapenade de azeitonas e figos secos. Achei que seria muito exótico, mas no fim todos gostaram. Como havia uma amiga vegan presente, omiti as anchovas da receita.

TAPENADE DE AZEITONAS PRETAS E FIGOS SECOS
(do livro Sweet Life in Paris, de David Lebovitz)
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 1 xícara bem cheia


Ingredientes:
  • 1/2 xic (85g) figos secos, com cabos retirados
  • 1 xic. água
  • 1 xic. (170g) azeitonas pretas, lavadas e sem caroço
  • 1 dente-de-alho descascado
  • 2 colh. (chá) alcaparras, drenadas
  • 2 filés de anchova (opcional)
  • 2 colh. (chá) mostarda de Dijon com grãos
  • 1 colh. (chá) alecrim ou tomilho fresco (usei tomilho)
  • 1 1/2 colh. (sopa) suco de limão siciliano
  • 1/4 xic. azeite de oliva extra-virgem
  • sal e pimenta-do-reino a gosto

Preparo:
  1. Em uma panela pequena, coloque a água e os figos e cozinhe, parcialmente tampado por 20 minutos, ou até que os figos estejam bem macios. Escorra.
  2. Coloque todos os ingredientes, menos o azeite e o suco, num processador e pulse até obter uma pasta pedaçuda. Junte o azeite e o suco de limão e misture bem, acertando o sal e a pimenta se necessário.
  3. Guarde num pote fechado na geladeira por até 2 semanas. Fica melhor servido pelo menos 1 dia depois de ter sido feita, e combina muito bem com torradas de pão pita. 

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Post nojento, ou a vingança da salsinha


É isso o que acontece quando você está excessivamente confiante na cozinha e começa a parar de prestar atenção no que faz. Um inocente almoço virou uma corrida para o pronto-socorro. Tudo bem, no entanto. Foi mais uma lasca ampla e superficial que fez muita sujeira do que algo profundo e grave. [Tiro o curativo em dois dias, e vai ficar só uma cicatrizinha e um dedo sem unha por alguns meses.]

Quando movi a faca, tive certeza de que cortara algo que não era salsinha. Corri para lavar o dedo em água corrente [água e sabão, segundo o médico; nada de água oxigenada!] e envolver em gaze, mas não tive coragem de olhar para ver o estrago. Ao invés disso, fui fuçar no monte de salsinha para ver se encontrava algum toquinho. Pego uma lasquinha... não, isso é alho. Outra... não, isso também é alho. Ah! Olha aqui, na faca, um pedacinho na minha digital e uma unha! AAAAAAAAAARGH!!!

Minha mãe telefona. "Mãe, cortei o dedo picando salsinha e não pára de sangrar; acho melhor tomar ponto." Mãe vem correndo e, como mãe é tudo igual, resolve levar o teco de dedo num guardanapo, apesar de eu insistir que era minúsculo demais para costurar de volta. No pronto-socorro, o médico explica que não foi nada, mas a área da unha é muito irrigada, e por isso não pára de sangrar nunca. Então ele resolve dar uma injeção na ponta do meu dedo para anestesiar e outra com alguma meleca vaso-constritora, para que ele pudesse fazer o curativo. Na boa, a injeção doeu mais do que tirar o toco de dedo fora. "Corta tudo, logo de uma vez!"

Respira.

"Mãe, o que você ainda tá fazendo com esse teco de dedo??? Joga isso fora, que nojo!"

Corro de volta para casa para almoçar e voltar ao trabalho urgente que tinha de terminar. No primeiro intervalo que tenho, saio correndo para preparar um bolo de chocolate. Não qualquer um. Eu precisava, PRECISAVA, DE VERDADE, de algum bolo muito fácil e com aquele gostinho de bolo de mãe. Algo que não precisasse nem untar a forma. E encontrei. Maravilha das maravilhas. Minha manteiga acabou e o bolo ficou sem cobertura. E verdade seja dita: ficou ótimo sem ela. Não quis nem fotografar, pois o blog original (que é excelente) tem fotos passo-a-passo tão boas, que seria chover no molhado. O bolo ficou leve, macio, úmido e intenso de chocolate – use cacau de boa qualidade, que tenha cor e aroma fortes. É o tipo de bolo que você vai comendo aos bocadinhos, cada vez que passa pela cozinha.

Bom... ninguém vai me culpar se eu abrir um vinhozinho agora... né?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Bolo de limão e creme de lavanda para minha mãe

Ando cozinhando um bocado. Mas ando desenhando um bocado também. E o segundo bocado tem me deixado mais empolgada do que o primeiro bocado. Venho fazendo cursos e experimentando novos materiais e dedicando boa parte de meu tempo à aprimoração de meu traço e minhas técnicas. O resultado disso é que, enquanto ando falando pelos cotovelos a respeito de tintas, cores, papéis e ilustradores, ando um pouco sem paciência para falar sobre comida. Preparo os pratos, tiro meia dúzia de fotos sem inspiração e fico morrendo de preguiça de transcrever receitas. Por isso boa parte do que ando cozinhando está indo direto para a mesa e da mesa para o estômago, sem que eu nem cogite a possibilidade de apanhar a câmera. Isso é ruim por um lado, pois o blog sofre pela falta de posts. Por outro, é fantástico. Havia muito tempo eu estava precisando reencontrar minha paixão pelo desenho, que andava tão sem graça e tão mecânico. E ninguém contrata ilustrador que desenha com a mesma empolgação de quem troca um pneu. Voltar a me apaixonar por minha profissão tem me tornado também muito mais leve e muito mais feliz.

E foi toda feliz e contente que levei esse bolo de aniversário para minha mãe, ontem. Bolo de limão, segundo sua requisição. Aproveitei a deixa para preparar essa receita que havia muito tempo estava em minha lista. O bolo não leva nem manteiga nem leite: é feito com azeite de oliva e aromatizado com limão siciliano. O recheio é um lemon curd bem azedinho, e o bolo é servido com um chantilly de mel e lavanda que ficou surpreendentemente leve e gostoso. Ainda bem, pois eu tinha medo de que o chantilly fosse ter gosto de perfume.

Mamãe aprovou o bolo e comemos metade dele à mesa. :P

BOLO DE LIMÃO COM CREME DE LAVANDA
(da revista Gourmet)
Tempo de preparo: 3h
Rendimento: 8 pessoas


Ingredientes:
(bolo)
  • 2 colh. (sopa) manteiga sem sal derretida para pincelar a forma
  • 5 ovos grandes, separados
  • 3/4 xic. açúcar
  • 3/4 xic. azeite de oliva extra-virgem
  • 1 colh. (sopa) casca ralada de limão siciliano ou galego
  • 3 colh. (sopa) suco de limão siciliano ou galego
  • 1 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) sal
(recheio)
  • 1/2 xic.+1 colh. (sopa) açúcar
  • 3 colh. (sopa) farinha
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 colh. (chá) casca ralada de limão siciliano ou galego
  • 3/4 xíc. suco de limão siciliano ou galego
  • 1 gema grande
  • 1 colh. (sopa) manteiga sem sal
(creme)
  • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 3 colh. (sopa) mel suave
  • 1/2 colh.(sopa) lavanda ou alfazema seca
  • açúcar de confeiteiro para polvilhar

Preparo:
(bolo)
  1. Pré-aqueça o forno a 160ºC. Inverta o fundo de uma forma de mola de 20cm e trave. Pincele a forma com a manteiga derretida e leve ao freezer por 2 minutos. Forre o fundo da forma com papel-manteiga, pincele novamente com manteiga e leve ao freezer por mais 2 minutos. Polvilhe com farinha, bata para tirar o excesso e reserve.
  2. Bata as gemas e 1/2 xic. de açúcar até que a mistura fique clara e fofa. Em velocidade média, misture o azeite, o suco e a casca de limão, até que fique homogêneo.
  3. Peneire a farinha e junte à massa, em baixa velocidade.
  4. Bata as claras com o sal até que espume. Vá juntando o restante do açúcar, batendo em velocidade média-alta, até que que as claras formem picos suaves. Incorpore delicadamente 1/3 das claras à massa e então misture o restante.
  5. Transfira para a forma, alise a superfície com uma espátula, e dê alguns tapinhas na lateral, para tirar as bolhas de ar. Asse por 40-50 minutos, até que esteja dourado e um palito saia limpo qudno inserido no bolo. Deixe esfriar na forma por 10 minutos, e então desenforme e deixe esfriar completamente sobre uma grade. As laterais afundarão um pouco.
(recheio)
  1. Misture numa panela a farinha, o açúcar e o sal. Junte o suco de limão devagar, misturando com um batedor de arame para evitar grumos. Leve à fervura, mexendo constantemente, abaixe o fogo e cozinhe mexendo por uns 3 minutos, até engrossar. Remova do fogo.
  2. Junte à gema 1/4 da mistura de limão e mexa bem. Volte o creme para a panela e, ainda mexendo, leve à fervura por 1 minuto. Desligue e junte a manteiga e a casca ralada. Transfira para um pote, cubra com filme plástico, colando-o à superfície do creme e leve à geladeira por pelo menos 30 minutos.
(creme)
  1. Leve o creme, a lavanda e o mel à fervura, desligue o fogo, tampe e deixe em infusão por 30 minutos. Passe por uma peneira e leve o creme à geladeira para gelar.
(montagem)
  1. Inverta o bolo e retire o papel-manteiga do fundo. Corte o bolo em 3 camadas iguais. Transfira para um prato a primeira camada, espalhe metade do creme de limão de modo uniforme, deixando uma borda de 0,5cm, e cubra com a camada do meio. Espalhe o restante do creme, cubra com a última camada e pressione ligeiramente, para que o recheio vá para as bordas. Polvilhe com o açúcar de confeiteiro. Na hora de servir, bata o creme de lavanda até formar picos suaves e sirva.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Oh, my darling Clementine... cake.


Oh, yeah, eu ousei e fui direto no cliché no título!!! ;)
Bolo de tangerina da Nigella.

Desde que as danadas das mexericas (orgânicas) surgiram no mercado, eu estava pensando em bolo de mexerica. E sempre quis preparar este bolo bizarro de Nigella, que leva mexericas inteiras, com casca, fiozinhos brancos e tudo.

No entanto, como há ainda outras gostosuras na fila, não quis preparar o bolo inteiro, e resolvi cortar a receita pela metade e estrear minha pequenina forma de 16cm. De tudo absolutamente certo, não fosse eu abrir o forno antes do tempo (uma vez que eu não sabia quanto tempo demoraria para assar um bolo tão pequeno), o que fez com que ele afundasse um tantinho no meio.

Sem problemas, o bolo ficou delicioso mesmo assim. Perfumado de mexerica, úmido, macio e com aquele gostinho inconfundível de amêndoas. Ótimo bolo para quem não quiser usar farinha de trigo.

BOLO DE TANGERINA
(adaptado daqui)
Tempo de preparo: 2h + 1h
Rendimento: 6 fatias pequenas ou 4 generosas


Ingredientes:
  • 1-2 mexericas (±190g)
  • 3 ovos
  • 115g açúcar
  • 125g amêndoas moídas
  • 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
Preparo:
  1. Cubra a mexerica inteira com água, leve ao fogo, tampe e deixe cozinhar por 2 horas. Escorra, corte a fruta ao meio e retire as sementes. Bata o restante da fruta (polpa, fiapos, casca) no liquidificador até que fique um purê homogêneo.
  2. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Unte com manteiga e forre com papel-manteiga uma forma redonda e alta, de 16cm de diâmetro.
  3. Bata os ovos na batedeira até que fiquem claros e fofos. Ainda batendo, adicione o açúcar, em seguida as amêndoas e o fermento.
  4. Com uma espátula, incorpore rápida mas delicadamente o purê de mexerica.
  5. Despeje a mistura na forma e leve ao forno por 30-35 minutos, até que esteja dourado e um palito inserido no centro do bolo saia limpo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Bolo de coco e doce-de-leite para meu pai

Assim que o aniversário de meu pai se aproximou, prontifiquei-me a fazer um bolo. Como meu pai não é muito fã de doces, minha mãe ficou chocada quando ele não só deixou que eu lhe preparasse o bolo como ainda escolheu o sabor. Ele o tinha assim, na ponta da língua, tão logo perguntei: "coco com recheio de doce-de-leite".

Como, mas COMO eu poderia ignorar esse pedido?

Confesso que, como os tempos andam meio conturbados, a escolha do tipo de bolo de coco foi um pouco afetada pelos quesitos "tempo" e "dificuldade"... Havia três opções:
  1. preparar minha génoise clássica, adaptando-a para virar uma génoise de coco;
  2. preparar uma receita de bolo de coco da Nigella, despretensioso;
  3. ou preparar o bolo de coco do livro Sky High, que parecia mais rico, por levar leite de coco na massa.
Pensa, pensa, pensa.
  1. Vai que a adaptação torna o bolo seco demais? Se não der certo, não vai dar tempo de fazer outro.
  2. Tem coco ralado e Malibu (rum de coco) na despensa, ambos itens da receita. E o bolo parece simples e direto ao ponto.
  3. Ando meio desestimulada a usar leite de coco, depois que descobri que todas, TODAS as marcas disponíveis em São Paulo engrossam seu leite de coco com Goma Guar. Engraçado, porque, ao meu ver, quando eu compro leite de coco, eu quero leite de coco, e não leite de coco com sementes, algas ou milho, que são as principais matérias-primas das gomas. Aliás, acho que isso é propaganda enganosa, assim como os iogurtes engrossados com amido. Pois é, iogurte de milho. Assim como por lei, requeijão só pode ter esse nome no rótulo se for uma fórmula XYZ, acho que só podia dizer "leite de coco" ou "iogurte" o que tiver SÓ leite de coco na garrafa e APENAS leite e fermento lácteo no potinho. Estou pensando em reclamar no Procon. Mas estou digredindo. Nada de leite de coco, então.
Ok, receita decidida. Nigella é isso aí. Os bolos foram preparados muito facilmente e, ainda que tenham ficado no forno uns 8 minutos a mais que o tempo estipulado na receita, ficaram macios e perfumados. Fiquei com medo, no entanto, que o coco neles, apenas presente em forma ralada, fosse muito pouco, e resolvi banhá-los num xarope de Malibu antes de montar o bolo. Recheei-os com doce-de-leite puro, sem nada mais, e levei à geladeira enquanto preparava a cobertura.

A receita original de Nigella usava glacê instantâneo. Bem, eu gosto de um desafio, e fui atrás da receita do glacê, que, por acaso, estava em outro livro dela. Acabei optando por misturar sua receita com a do Professional Baking, uma vez que Nigella usava glicerina ao invés de cremor tártaro, e apenas o último constava em minha despensa.


Um erro de cálculo durante o preparo, no entanto, fez com que usasse cerca de metade do açúcar de que eu precisava, e o glacê , apesar de saboroso, não secou como deveria, ficando ainda mole como chantilly firme. No entanto, o erro foi para melhor, uma vez que a cobertura ainda mole tornou o bolo mais úmido. Como ele é doce, porém, e o bolo já levava doce-de-leite, fiquei com receio de que muita cobertura o deixasse enjoativo, e acabei não usando tudo, passando apenas uma fina camada do creme, como é possível ver na foto. Bobagem minha, poderia ter usado tudo tranquilamente. Quem não se sentir confortável em usar claras de ovo cruas, pode simplesmente substituir a cobertura por chantilly caseiro aromatizado com Malibu e polvilhar o coco ralado por cima.

O bolo ficou muito gostoso e o coco ficou sutil, apesar de todo o coco ralado com Malibu, cujo teor alcoólico é imperceptível no contexto. Aprovado e anotado, para ser repetido numa próxima vez.


BOLO DE ANIVERSÁRIO DE COCO E DOCE-DE-LEITE

(adaptado do livro How to be a domestic goddess, de Nigella Lawson)
Rendimento: 16 fatias
Tempo de preparo: 3 horas


Ingredientes:
(bolos)
  • 1 xíc. (200g) de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 3/4 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/2 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 4 ovos grandes
  • 1 1/3 xíc. farinha de trigo
  • 2 colh. (sopa) amido de milho
  • 1 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1 pitada generosa de bicarbonato de sódio
  • 1/4 xíc. de coco ralado, de molho em 1/2 xíc. + 2 colh. (sopa) de água fervendo
(xarope)
  • 2 colh. (sopa) açúcar
  • 2 colh. (sopa) água
  • 2 colh. (sopa) Malibu
(recheio)
  • 1/2 xíc. de doce-de-leite
(cobertura)
  • 1 clara de ovo
  • 175g açúcar de confeiteiro
  • 1 colh. (sopa) suco de limão
  • 1 pitada de cremor tártaro
  • 2 colh. (sopa) Malibu
  • coco ralado para polvilhar
Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e unte duas formas redondas de 20cm com manteiga.
  2. Bata a manteiga e o açúcar na batedeira até ficar cremoso e fofo.
  3. Adicione os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Junte a baunilha.
  4. Numa tigela, peneire juntos a farinha, o fermento, bicarbonato e amido. Junte-os em três ou quatro partes ao creme da batedeira, incorporando bem.
  5. Adicione o coco ralado com a água, misture até que fique uniforme e distribua a massa entre as formas. Parecerá que é muito pouco, só um dedinho de massa, mas os bolos vão crescer.
  6. Leve ao forno por 25 minutos, ou até que estejam ligeiramente dourados, afastados das bordas da forma e um palito inserido no meio saia limpo. Deixe que esfriem na forma por 10 minutos, então desenforme sobre uma grade e deixe que esfriem completamente.
  7. Em uma panela, misture os ingredientes do xarope e leve ao fogo médio até que o açúcar tenha se dissolvido. Desligue o fogo e deixe que esfrie. Banhe os bolos frios com o xarope.
  8. Coloque um dos bolos de cabeça para baixo em um prato. Se o doce-de-leite estiver muito firme, bata com uma colher até que fique mais molinho. Espalhe-o de forma uniforme sobre o bolo, deixando 0,5-1cm de borda. Posicione o segundo bolo de cabeça para cima sobre o recheio, com cuidado. Leve à geladeira enquanto prepara a cobertura.
  9. Bata a clara na batedeira até que comece a espumar, e então acrescente metade do açúcar. Quando a mistura tiver crescido um pouco, vá acrescentando o restante do açúcar aos poucos, adicionando o restante dos ingredientes. Bata até atingir uma consistência firme de suspiro.
  10. Retire o bolo da geladeira. Derrame uma parte da cobertura no centro do bolo e espalhe com uma espátula, puxando para as laterais e deixando que escorra. Alise com a espátula para espalhar o creme pela lateral, sempre no mesmo sentido. Vá derramando mais creme e repetindo, até que todo o bolo esteja coberto de modo uniorme. Polvilhe o coco ralado por cima e um pouco nas laterais (ou muito se você quiser) e leve à geladeira até a hora de servir.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um bolo de maçã muito fácil para quando tudo de que você precisa é um bolo de maçã

E esfria. E chove. Chove só um pouco. E as nuvens estão inertes agora, ainda que tenham andado de um lado para o outro atarantadas durante toda a manhã. E mesmo observando o movimento contínuo e ensaiado do escritório em frente à janela de minha sala – porque eles estão sempre trabalhando ali, dia e noite, como se salvassem vidas com seus trabalhos – o universo em si parece ligeiramente suspenso. A vida flutua sem direção e sem apoio em torno de mim, talvez esperando por um movimento meu, talvez apenas... sendo. E venho para o computador e respondo alguns e-mails, tentando manter o foco na importância (importância?)
de meu trabalho. Outros e-mails mantêm-se no limbo, no purgatório das bandeirinhas cor-de-laranja, lembrando-me de que preciso respondê-los. Um dia. Não hoje. Duvido que amanhã. Fecho os olhos por um instante, e quando os abro novamente me surpreendo pelo mundo ainda estar ali.

Não há nada para ver na TV. Não quero ler agora. Sento à minha mesa de desenho, puxo uma folha e ela volta quase que imediatamente ao topo do bloco, ligeiramente amassada na ponta. Não há nada a ser desenhado. Não hoje. Duvido que amanhã. Embrenho os dedos nos cabelos, massageando o couro cabeludo, cotovelos apoiados à mesa, e suspiro. O ar entrando e saindo assim controlada e vagarosamente me lembra de que preciso respirar.

Vou à cozinha sem pressa. O cão me segue, se espreguiçando pelo caminho. Ele é controlador, e gosta de saber onde estou o tempo todo. O splash-splash que ele produz ao beber água de sua tigela é reconfortante contra o zumbido contínuo da geladeira. Preparo um chá. Chá verde, meu favorito. Levo comigo a xícara fumegante e um pratinho vazio até a sala e olho por alguns segundos para aquele bolo quadrado, ainda morno. O cão me distrai ao subir no sofá e despencar ruidosamente em uma de suas posições de soneca favoritas. Mas ao invés de fechar os olhos, ele continua ali, me encarando, esperando que eu me decida enfim por um lugar e fique nele. Você vai cortar esse bolo ou não?

O bolo é macio e faz sujeira ao ser cortado, espalhando migalhas macias e redondas pela mesa. O cheiro de maçãs ainda quentes e amêndoas me desperta. Sinto-me satisfeita, uma satisfação serena, como todas as vezes em que meus bolos dão certo. É mais como um alívio, na verdade. Carrego comigo o chá e o bolo e me acomodo no sofá, ao lado do cão, que suspira — meu cão suspira — e fecha os olhos, relaxando sobre as almofadas.

O bolo tem gosto de café-da-manhã. Como uma tigela de aveia, maçãs, passas e amêndoas, mas transformada em algo melhor. Quando você se sente desconectada de tudo, ele a traz de volta à terra apenas o suficiente para apreciar o perfume de canela e baunilha. O chá quente limpa o paladar para que a próxima mordida seja como se fosse a primeira. Por um breve instante isso é a coisa mais importante do mundo para mim: chá e bolo no sofá.


BOLO MUITO FÁCIL DE MAÇÃ

(Ligeiramente adaptado do livro Baking - From My Home to Yours, de Dorie Greenspan)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 16 pedaços


Ingredientes:
  • 1 xíc. leite integral
  • 1 ovo grande
  • 8 colh. (sopa) manteiga sem sal
  • 1 colh. (chá) essência de baunilha
  • 1/2 colh. (chá) essência de amêndoas
  • 1 3/4 xíc. farinha de trigo
  • 1/2 xíc. açúcar cristal orgânico
  • 1 colh. (sopa) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh. (chá) canela em pó
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/4 xíc. açúcar mascavo
  • 3/4 xíc. aveia em flocos
  • 1 maçã Gala com casca cortada em cubinhos pequenos
  • 1/2 xíc. amêndoas picadas
  • 1/3 xíc. de uvas-passas

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Unte e enfarinhe uma forma ou assadeira quadrada de 20cm.
  2. Derreta a manteiga e deixe que esfrie. Numa tigela, junte a manteiga derretida, o leite, o ovo, as essências, e misture muito bem.
  3. Em outra tigela, junte a farinha, o fermento, o bicarbonato, canela, açúcar cristal e sal e misture muito bem. Junte o açúcar mascavo e misture bem, não deixando nenhuma pelota. Junte a aveia e misture mais uma vez.
  4. Junte a mistura líquida à seca e misture com uma espátula apenas o suficiente para que fique uniforme. Junte a maçã, as amêndoas e as passas e misture pouco, apenas para espalhá-las.
  5. Espalhe a massa na forma, alisando com a espátula, e leve ao forno por 30-35 minutos, ou até que esteja dourado e um palito inserido no meio saia limpo. Transfira a forma para uma grade e deixe esfriar por alguns minutos antes de desenformar. Sirva morno ou em temperatura ambiente.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Bolo de limão em forma que funciona é bem mais gostoso!

Quem passa por aqui com freqüência e há um certo tempo [e eu sei que a trema caiu, mas eu gosto dela e vou ser que nem aquelas velhinhas que ainda escrevem xícara com "ch", que era tão mais bonito que com "x"]... peraí que esse aposto me fez perder o fio do pensamento. [*Suspiro*] Quem passa por aqui com frequência [ó aí, ó: "frequência???" Coisa feia...] e há um certo tempo sabe do nervoso que passo a cada vez que decido fazer um bolo. Passa manteiga, forra com papel, checa a temperatura... e o bolo sai queimado. Sempre. Achava que o problema era o forno, a cozinheira, a receita, o processo, arrancava os cabelos, ficava com raiva, jogava o bolo na parede. Até o dia em que comprei o livro Sky High, apenas de bolos de camadas, e descobri que meu problema eram as formas. Ou melhor, sua cobertura anti-aderente.

Primeiro, que não são anti-aderentes coisa nenhuma. Você continua tendo de untar tudo, corre o risco do seu bolo grudar e ainda por cima não pode passar faquinha para desgrudar, ou corre o risco de riscar a cobertura anti-aderente e estragar a forma. No entanto, elas são pretinhas e lindas, e quando você olha para elas e não sabe muito sobre o assunto, de fato acredita que delas sairão maravilhas da confeitaria. Eu caí na pegadinha. Várias vezes. Todas as minhas formas de bolo eram pretinhas e lindas.

O que dizia no livro, e fazia todo sentido para mim, era que as formas com anti-aderente preto conduzem o calor de forma diferente, nem sempre por igual, o que faz com que muitas vezes o bolo comece a queimar no fundo e nas laterais antes de estar de fato pronto. A autora recomendava usar boas formas de alumínio, ótimos condutores, ou, pelo menos, formas com anti-aderente cinza, essas sim sensacionais.

De fato, as formas com anti-aderente cinza escuro que possuo (muffins, mini-muffins e bundt de 2 tamanhos) são absolutamente perfeitas. Nunca me deram problema nenhum. Já as pretinhas... foram muitas hecatombes na cozinha até que me desse o siricutico final. Percebi que perdera a vontade de fazer determinados bolos por conta delas, e isso para mim era a gota d'água.

Apanhei meu rico dinheirinho e fui a uma loja especializada em tranqueiras de restaurante com o intuito de substituir as malditas pelas boas e velhas formas de alumínio que nossas avós sempre usaram. Sem frescuras. É lógico que saí da loja com mais do que planejava. Levei para casa 3 formas redondas de 20cm, para que meus bolos finalmente tenham 3 camadas e não apenas 2, uma forma quadrada de 20cm, com fundo removível, para fazer meus brownies devidamente quadradinhos, um salva-bolos (que fará também de pá de pizza), um jogo de canolas de metal para enfim produzir cannoli, uma espátula de confeitar nova, uma assadeira onde de fato cabe meu silpat, um anel de 20cm para montar meus bolos de 3 camadas e uma forma de pão-de-forma com tampa, para que ele fique quadradinho-quadradinho, sem que eu precise ficar empilhando tigelas sobre assadeiras em cima da forma dentro do forno, que além de dar trabalho é um destastre em potencial. [Ainda preciso voltar lá e pegar as redondas de 23cm, e duas de mola, de 20 e 23cm, que eles não tinham àquele dia. Ó o prejú.]

Desde aquele dia estou olhando para minha forminha quadrada, lindinha, esperando que o bustrengo acabasse para que pudesse preparar algo nela. Então, nesse sábado, como quem não quer nada...

"Allex?"
"Diga."
"Se você fosse comer um bolo, ele seria do quê?"
"De limão."
"Limão? Normal? Tipo aqueles de vó? Aqueles de assadeira?"
"É, com a casquinha de açúcar."
"Ok."

Era o bolo perfeito para a forminha quadrada. Fuça, fuça, fuça, procura, procura, procura, e nada de receita de bolinho de limão com casquinha de açúcar. Então lembrei que possuía sim a receita, mas estava nos cadernos de minha avó, emprestados para minha prima. F*ck. Pensa, pensa, pensa. Lembra da minha avó fazendo o bolo. Lembra do bolo em cima da mesa, cortado em quadradinhos. Lembra do gostinho de limão. Lembra da minha vó chamando o bolinho de "pandeló", assim, tudo junto, como ela sempre falava, pronunciando muito bem as consoantes. Pão-de-ló? Sponge cake? Génoise? Ok, é uma receita.

Usei a receita de génoise do Professional Baking, que se tornou minha receita-base sempre que nenhuma receita pronta me satisfaz. Já havia feito as anotações à lápis com as quantidades corretas para um bolo de 20cm, e desta vez apenas acrescentei a manteiga, para uma textura mais fofa, e as raspas de limão. Fiquei insegura em adicionar o suco já na produção, e decidi que seria mais interessante acrescentá-lo como xarope depois do bolo pronto. Isso, no entanto, excluiria automaticamente a casquinha de açúcar que Allex queria. Pensa, pensa, pensa. Ah, vamos fazer o bolo sem o suco. Se ele ficar seco, faço o xarope; se ficar úmido, faço a casquinha.

A génoise assou maravilhosamente bem, desenformou facinho, não queimou [iêeei!!!], e já estava perfumada mesmo sem a adição do suco de limão. No entanto, eu podia ver pela textura que ele se beneficiaria mais da absorção do xarope do que de uma cobertura de açúcar, então abdiquei da casquinha em nome da textura e do perfume. Fiz o xarope, despejei sobre o bolo e deixei que ele o absorvesse durante à noite.

Bom, não preciso falar aqui sobre as maravilhas dos bolos simples de limão. Apenas que é um excelente bolinho de café da manhã. Perfumado, azedinho-doce [refrescante, segundo o marido], e muito, muito leve e macio. Tanto, que se corre o risco de comer o bolo inteiro assim, aos bocadinhos, se ele estiver, digamos, ao seu lado, na mesma mesa em que você deixou seu laptop, e onde está escrevendo um post sobre bolo de limão. Ê, lasqueira. Mas ainda preciso apanhar a receita da vó, para fazer o bolo com a cobertura de açúcar, porque agora quem ficou com saudades daquele bolinho fui eu.

De qualquer forma, agora estou morrendo de vontade de voltar para todas as receitas de bolo que deram errado (em especial as de Pierre Hermé, do livro Larousse do Chocolate), e ver se ele se redime com as formas de alumínio. Será?

BOLO SIMPLES DE LIMÃO
(Adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 1 hora + 4-8 horas para absorção da calda
Rendiemento: 4 fatias


Ingredientes:
  • 2 ovos extra-grandes em temperatura ambiente
  • 110g açúcar cristal orgânico
  • 75g farinha de trigo
  • 25g manteiga sem sal
  • casca ralada de 1 limão grande
  • 1 pitada de sal
(xarope)
  • 4 colh. (sopa) suco de limão
  • 1/2 xíc. açúcar cristal orgânico

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Unte uma forma quadrada de 20cm com manteiga.
  2. Se os ovos não estiverem em temperatura ambiente, deixe-os em água morna por 5 minutos. Cuidado, pois se a água estiver muito quente, você cozinhará os ovos. Derreta a manteiga e reserve.
  3. Bata os ovos em velocidade alta na batedeira, até que comecem a aumentar de volume e ficar claros. Enquanto isso, esfregue as raspas de limão com o açúcar, usando as pontas dos dedos, até que esteja bem misturado e aromático. Junte esse açúcar e o sal aos ovos e continue batendo, até que triplique ou até quadruplique de volume.
  4. Peneire a farinha e acrescente-a aos poucos, misturando bem mas tomando cuidado para não perder o volume. Pode fazer isso com uma espátula se preferir. Junte a manteiga, incorporando bem.
  5. Coloque na forma. Leve ao forno por 20 minutos até que o bolo esteja dourado, afastando-se das laterais da forma, e que um palito inserido em seu centro saia limpo. Retire o bolo e deixe descansar por 15 minutos ainda na forma. Desenforme e deixe esfriar sobre uma grade.
  6. Enquanto isso, coloque o açúcar e o suco de limão em uma panela e leve ao fogo baixo até que o açúcar pareça dissolvido. Deixe amornar um pouco. Fure o bolo em diversos lugares com um palito e despeje o xarope por todo ele, de modo uniforme. Deixe que o bolo absorva o xarope por algumas horas antes de cortá-lo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Bustrengo: o doce italiano com jeito de palavrão


Gosto da cozinha sazonal, e por isso mesmo tinha vontade de preparar um bolo de reis no dia 6. No entanto, bateu em parte preguiça e em parte mão-de-vaquice para comprar os ingredientes que faltavam, e acabei preparando um bustrengo no lugar, porque a única coisa que faltava na despensa eram maçãs.

Acordara ontem com uma vontade preocupante de comer algum doce que levasse os deliciosos figos secos que habitavam minha geladeira. Fuçando em todos os meus livros, fiquei entre um bolo simples de Martha Stewart, o bustrengo de Jamie Oliver e o bostrengo do Culinária Italia. Não, não foi um erro de digitação. Apesar de ambos os nomes derivarem de "bustreng", uma palavra dialetal que se diz de origem "bárbara", são doces diferentes de diferentes regiões. O primeiro, típico da Romagna, é um bolo úmido de polenta e frutas secas. O segundo, de Le Marche, mais ao sul, ainda que leve também frutas secas, tem o arroz como base. Pensei ali, pensei aqui, e escolhi o doce romagnolo.

Apanhei meu rico dinheirinho e fui ao supermercado comprar maçãs. Chegando lá, ao me deparar com a gôndola repleta dos diferentes tipos da fruta, lembrei-me do capítulo sobre maçãs do novo livro de Heloísa Bacellar. Confesso que, numa primeira olhada, tinha achado o livro meio "raspa de tacho". Foi só numa segunda folheada mais minuciosa que descobri que ele tem sim muito a oferecer. Só que a maioria das preciosas informações não estão nas receitas, mas nos longos textos que as precedem... No tal capítulo, ela discorre sobre os diferentes tipos de maçãs, suas características e serventias, de um modo que às vezes sinto que falta em outros livros de culinária. Além disso, ensina a congelar cascas, miolos e cabos das maçãs para que depois virem geléia. Isso muito me interessa. Outro dia mesmo congelei as cascas de um abacaxi inteiro, que posteriormente viraram um chá gelado incrivelmente aromático. Nada se joga fora.

Sempre que compro maçãs é a mesma coisa. Vou direto nas Fuji, minhas (até então) favoritas para comer cruas, crocantes e ácidas. Já tinha provado das Gala, e se tenho certeza de uma coisa em minha vida é de que não gosto de maçã Gala: acho sua textura muito granulosa. Se experimentei de outras maçãs, não me lembro, pois nunca havia prestado atenção a seus nomes, e só sabia que havia maçãs "gostosas" e maçãs "não tão gostosas". Resolvi tirar a prova. Apanhei algumas Red Delicious, outras Granny Smith e umas Fuji como grupo de controle. Voltei para casa e abri-as todas, experimentando um pedacinho de cada uma, dando-me conta de que só assim era possível avaliar suas diferenças de forma mais objetiva.

A conclusão foi: adoro a Red. Comeria uma bacia delas. Das Granny Smith (maçã verde), já fui mais fã quando nova; hoje em dia elas são um pouco ácidas demais para mim. Agora espero encontrar outras espécies no mercado, para poder continuar a experiência. Tão besta, tão óbvio, que me sinto uma idiota por ter comprado maçãs tão no piloto automático nos últimos anos.

Voltando ao bustrengo, confesso ter começado a receita com certo receio, uma vez que Jamie Oliver nem sempre acerta a mão quando o assunto é panificação e confeitaria. Desta vez, no entanto, ele acertou em cheio. Esse é exatamente o tipo de doce que adoro [assim como minha mãe, que ganhou metade do bolo]: não muito doce, bastante aromático, cheio de frutas secas, e cuja complexidade vai se revelando aos poucos, a cada mordida. Primeiro a textura da polenta, então as raspas de laranja, a maciez da maçã, as sementinhas dos figos explodindo na boca.

Comi, fotografei e não via a hora de escrever a respeito. Mas antes, um pouco de pesquisa. Sabe como é, eu não queria simplesmente repetir o texto do livro, e queria ter certeza da origem do bolo, uma vez que já conhecia a versão de arroz, mas não a de polenta.

Pesquiso aqui, pesquiso ali, descubro um portal da Romagna. E uma receita de bustrengo. Bem... não uma. "A" receita de bustrengo. Igual à do Jamie. Ou seria o contrário?? Tchan-tchaaaan...!

BUSTRENGO
(do livro Jamie's Italy... ou do site da Romagna. Mistério...)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 8-16 fatias


Ingredientes:
  • 100g farinha de milho para polenta
  • 200g farinha de trigo
  • 100g farinha de rosca
  • 100g açúcar cristal orgânico
  • 500ml leite integral
  • 100g mel
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 55ml azeite extra-virgem
  • 100g figos secos cortados em pedaços
  • 100g de passas (claras ou escuras)
  • 500g maçãs firmes, sem casca, cortadas em pedaços pequenos
  • 1/2 colh. (chá) canela em pó
  • casca de 2 laranjas
  • casca de 2 limões
  • 1 colh. (chá) sal

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga uma forma de 28cm, de fundo removível.
  2. Misture a polenta, a farinha, a farinha de rosca, o sal, a canela e o açúcar em uma tigela grande. Em outra, misture o leite, os ovos, o mel e o azeite.
  3. Junte a mistura líquida à seca, mexendo até que fique homogêneo. Adicione o restante dos ingredientes, misture novamente e despeje na forma. Asse por 50 minutos, ou até que um palito saia limpo quando inserido no centro. Polvilhe com açúcar de confeiteiro e sirva morno.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Chega de resoluções. Muitos brownies para você.


O ano novo passou [feliz ano novo, aliás!], minhas mini-férias terminaram, estamos no dia 4 de janeiro e me dei conta de que não tenho resoluções de ano novo. As de 2008 continuam coladas à geladeira por pura displicência. E os resultados?

Meditar mais. Meditei mais? Consideravelmente. Ponto positivo para mim. Mas ainda bem que a resolução não era "meditar todo dia".
Beber menos. Hmmm... pula essa.
Emagrecer (meta 62kg). Emagrecer, emagreci. Um bocado. 8,5kg até o momento. [Ou pelo menos até antes do Natal.] A 62kg não cheguei, mas a nutri disse que isso seria difícil, uma vez que ando ganhando musculatura... Ok, então. Dou essa como cumprida.
Não faltar na corrida. Estrelinha dourada na testa dela! Pelo menos no último semestre...
Ler um livro não culinário por mês. Caca. Não deu. Vergonha. Vergonha enorme. Não sou mais a rata devoradora de livros que costumava ser. Mas esse ano eu fui engolida pelo trabalho, então dou um desconto. Era mais fácil ler o dia todo quando minha única obrigação era estudar.
Duplicar faturamento da empresa. Algo está muito errado quando você trabalha mais e ganha a mesma coisa. :P
Comprar uma casa. Pula. Depressão total.
Reclamar menos e agradecer mais. Check that!
Luv, luv, luv. Com certeza ando mais... hmmm... compreensiva com o mundo, suas idiotices e os idiotas que o habitam.
Terminar de usar pelo menos um livro de cozinha. Peraí que eu preciso de um tempo para parar de rir. Não só não consegui terminar livro nenhum, como ainda acrescentei pelo menos mais dez à minha biblioteca. Alguém conhece um Compradores de Livros de Culinária Anônimos?

Foram... [fazendo contas nos dedinhos] cinco sucessos em dez. Hmmmm... Ok, não foi tão ruim. Mas esse ano será diferente. 2009 será o ano em que Ana Elisa cumprirá todas as suas resoluções:

Cozinhar um bocado – Fácil!
Trabalhar o suficiente – Porque trabalhar muito faz mal à saúde.
Ler bons livros – Se eu comprar os livros certos.
Ver bons filmes – Se houverem. Ultimamente tá difícil...
Brincar com o cachorro – Sussa.
Correr um monte – Não vai ser esforço, porque já sinto falta quando não tem treino.
Meditar o quanto baste – Note como é um objetivo suuuuper mensurável...

Tá bom assim?

Ah, claro, ficou faltando uma: testar tantas receitas de brownies quantas existirem no mundo.

Achava que havia encontrado a melhor receita de brownies já inventada. No entanto, conforme fui comprando livros e vendo as sutis ou gritantes diferenças de uma receita para a outra, fui ficando curiosa, e hoje em dia, ainda que repita aquela primeira versão para quem a requisita, gosto de testar cada vez uma diferente, e ir fazendo notas mentais acerca de minhas favoritas.

Para o reveillon na casa de um amigo, eu ficara responsável por levar algumas pastinhas para comer com pãozinho e, não me contendo, resolvi preparar uma receita de brownies de Alice Medrich. No entanto, a receita pedia uma forma quadrada de 8 polegadas, que é bastante pequena, e, na pressa, errei o cálculo mental da conversão de medidas e acabei usando uma forma muito maior do que deveria. Por conta disso, os brownies ficaram finos e densos como cookies, e queimaram um pouco embaixo. Uma pena.

Quando então vieram amigos almoçar conosco [um deles faz faculdade de gastronomia e resolver cozinhar para nós, o que foi ótimo], quis repetir a dose, mas não quis repetir a receita. Usei uma que estava logo ao lado da primeira, no mesmo livro, e que me havia chamado a atenção por ser um brownie feito apenas de cacau em pó, sem chocolate derretido. O processo é muito fácil, como para qualquer brownie, e perfeito para sobremesas de última hora, uma vez que a manteiga é derretida com o cacau e o açúcar e os ovos devem ser gelados. Como não tinha uma forma quadrada de 8 polegadas, usei uma redonda de bolo, e cortei o brownie pronto em fatias ao invés de quadradinhos. O resultado foi um brownie muito denso, úmido, escuro e saboroso, bem menos doce que a versão a que estou acostumada. Nota mental: um dos meus novos favoritos. Preciso dizer para usar o melhor cacau que você encontrar? E, para os desavisados: CACAU EM PÓ NÃO ADOÇADO. Não chocolate em pó. Pelamordedeus.

BROWNIES DE CACAU
(do livro Bittersweet, de Alice Medrich)
Tempo de preparo: 40minutos
Rendimento: 16 brownies


Ingredientes:
  • 10 colh. (sopa) manteiga sem sal
  • 1 1/4 xíc. açúcar cristal orgânico
  • 3/4 xíc. + 2 colh. (sopa) cacau em pó
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/2 colh. (chá) essência de baunilha
  • 2 ovos grandes gelados
  • 1/2 xíc. farinha de trigo
  • 2/3 xíc. nozes picadas (opicional)

Preparo:
  1. Posicione a grade no terço inferior do forno e pré-aqueça a 160ºC. Forre uma forma quadrada de 20cm com papel alumínio. Não é preciso untar.
  2. Coloque a manteiga, o açúcar, o sal e o cacau em uma tigela e leve a banho-maria, mexendo de vez em quando com uma colher até que esteja derretido e homogêneo. Retire e deixe que amorne um pouco.
  3. Junte os ovos, um a um, misturando bem com uma colher ou espátula até que estejam bem incorporados. Junte a farinha e bata vigorosamente com a colher, até que a massa esteja homogênea, brilhante e grossa. Junte as nozes se estiver usando, e despeje a massa na forma, alisando com a colher para que fique bem espalhada.
  4. Leve ao forno por 20-25 minutos. Teste inserindo um palito no meio: ele deve sair ainda um pouco úmido. Retire e deixe esfriar completamente sobre uma grade. Usando as abas do papel alumínio, desenforme e corte em pedaços para servir.

Cozinhe isso também!

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