segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Farmer's Market, inglês e cansaço

 Faltam 3 dias para pegar as chaves de nosso apartamento definitivo. A casa velha alugada cansou. Aos adultos e às crianças. Faz quase 3 meses que vivemos nesse esquema acampamento provisório e toda vez que colocamos os pés na rua sentimos certo alívio.

No meio desse cansaço físico e mental de resolver pepinos burocráticos em outra língua, de ter de lembrar que na casa nova não tem nem vassoura nem lixo do banheiro, de não encontrar suas coisas porque está tudo empacotado e realmente não lembrar se você trouxe o não o abridor de latas, há aqueles momentos tranquilizadores que são um espaço extra para respirar.

Como o dia em que descobri os farmer's markets do bairro. Estava chovendo, as crianças estavam cansadas, e quando os adultos estão cansados, convenhamos, nós ficamos birrentos também.

Vi aquelas tendas brancas à distância, e conforme me aproximei do burburinho, comecei a avistar uma infinidade de cores alegres e folhas e bulbos e flores, e aromas que me atingiram em cheio como um golpe de bom humor.

Havia pêssegos perfumados, e blueberries, pães, queijos, mel, vagens verdes, amarelas e roxas, abobrinhas de formatos diferentes, tomates os mais coloridos e absurdos, couves de todos os tipos, beterrabas cor-de-laranja...

Não fui apenas eu que fiquei encantada. Thomas e Laura queriam levar tudo, experimentar tudo. Sorte minha que havia pouco dinheiro na carteira. Levei o que pude (e o que poderia preparar sem uma tabua de corte decente e sem um ralador ou os temperos que costumava ter no Brasil)
e comecei a planejar as refeições.
 As crianças me ajudaram a desfolhar a couve, que foi picada e temperada com um molhinho de iogurte, azeite, cebola roxa e limão, e misturada a pêssegos, croutons de sourdough, queijo feta e rabanetes.

Abobrinhas verdes e amarelas foram fatiadas. Quando Thomas roubou uma fatia da amarela ainda crua, surpreendeu-se: "mamãe! Tem gosto de melão!" De fato tinha. Já imaginei tiras finíssimas da abobrinha amarela crua em uma salada. Mas sem descascador de legumes, elas foram refogadas em alho e cebola, misturadas a tomates vermelhos picados e serviram de molho de macarrão.

As beterrabas douradas foram fatiadas fino e misturadas a grão de bico cozido, folhas de beterraba refogadas, rabanetes, feta e temperadas com azeite e limão. 

O restante das abobrinhas foi refogada e misturada a feijões brancos pequenos, com gosto de feijão-manteiguinha, salsinha, e acompanhadas de uma salada de tomates diferentes, cor de laranja, listrado, manchado, apenas com sal e o que restara de queijo. 

Não vejo a hora de entrar no apartamento novo para poder de fato montar minha despensa.  

Outra fonte de bom humor tem sido a adaptação das crianças. O modo como vão pegando uma palavra aqui e outra ali, sem resistência, sem vergonha, interessadas no novo idioma, nas novas pessoas, nos novos lugares. Esse interesse às vezes é excessivo: eles querem tocar em tudo e explorar tudo, não importando se é um café, uma farmácia ou um escritório. Isso pode ser uma chateação quando tudo o que você quer é entrar e sair rápido de um lugar. Mas fico feliz por eles não se sentirem intimidados pelo desconhecido. 

Cada Thank you, cada Sorry, cada vez que Laura apreende uma palavra no meio de uma frase, pensa por ela mesma e conclui sozinha a tradução, meu coração se aquece e esquece de todas as dificuldades, todos os contratempos. 

Everything is going to be ok.

Cozinhe isso também!

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