terça-feira, 8 de abril de 2014

Quitutes de aniversário corrido

O caderninho de onde vieram os quitutes.
O dia seguinte.
Semana passada foi aniversário do Matador de Dragões. Festa infantil definitivamente não é meu forte. Confesso que me sinto imensamente intimidada por todos os relatos de festas infantis que vejo por aí. Principalmente do povo empenhado, que de fato produz todos os enfeites manualmente e afins. Já disse isso uma vez: apesar de trabalhar com arte, trabalhos manuais não são meu maior talento.

Daí que decidi que, ainda tendo mais adultos que crianças na festa (há poucos amigos e familiares com filhos, e achei melhor não chamar ainda os colegas da escola, pois a festa ficaria grande demais para o tamanho da minha conta bancária), manteria as coisas simples. Brinquei com meu marido: é bom nivelar por baixo – no dia em que a festa tiver cupcakes e a gente ligar o video-game, Thomas e Laura vão achar que é festa de milionário. ;)

Resolvi que prepararia um bolinho simples de chocolate para que Thomas levasse na escola, para cantar parabéns com os amigos. Um fácil, de preparar numa tigela só e levar na assadeira, pra cortar em quadradinhos na hora. O bolo do livro Sticky Choowey Messy Gooey, da Jill O'Connor, que já fiz em vários momentos de desespero por chocolate e preguiça monumental de fazer bolo. Receita AQUI.  A cobertura, fudge, do livro de baking que mais tenho usado desde que tive filhos: Sinfully Easy Delicious Desserts, da Alice Medrich. Porque a cobertura original do bolo é doce DEMAIS. E essa, da Alice, é perfeita. E fácil. De novo, receita AQUI. Porque como o bolo e a cobertura usam unsweetened chocolate (chocolate a 99%), acho bobagem colocar aqui traduzido algo que muito pouca gente vai encontrar e as autoras não sugerem substituição.

Daí, que para o cardápio da festinha, decidi preparar tudo com antecedência, um quitute por dia, e congelar, para reaquecer no forno no dia da festa. Tudo simples: pão de queijo (receita que já faço de olhos fechados), pastelzinho de palmito, bolinho de mandioca (que acabou saindo de mandioquinha, pois confundi e comprei errado), sanduichinho de presunto cru, cream cheese e alface, e uns patezinhos comprados prontos, com torradinhas compradas prontas.

Faria o pão de queijo num dia, na batedeira, super rápido, e congelaria. A receita que costuma render uns 50 tamanho normal, rendeu o dobro em tamanho coquetel. No mesmo dia, cozinhei as mandioquinhas e fiz os bolinhos, que também foram para o freezer. Enquanto fazia tudo isso, a massa do pão de forma do bertinet crescia, massa sovada por dez minutos e facílima de moldar, e foi ao forno logo antes das crianças dormirem. Do forno para o freezer. Nesse dia, ter mãe aqui em casa pra olhar a pimpolhada ajudou, ainda que boa parte do processo tenha sido feito na hora da soneca.

Os pasteizinhos fiz num fim de semana, num dia em que o pimpolho queria atenção, então o coloquei para ajudar. Ele puxou a cadeira para perto da mesa, colocou os ingredientes na tigela e preparou a massa com minha supervisão. O recheio idem. Na frente do fogão, juntando tudo, mexendo com colher de pau. Agora, com três anos, ele recebe e respeita instruções melhor, e se orgulha do resultado e de ter feito sozinho. Também entende o perigo que é o fogo ou uma faca. Na hora de abrir a massa e rechear, ele ficava com algumas rebarbas e um cortador de biscoito, brincando de massinha enquanto mamãe preparava os pasteis de verdade. Isso foi muito, muito gostoso, e desde então ele tem estado louco de vontade de ajudar na cozinha. ^_^

Para a mãe, pedi que trouxesse seus bolinhos de arroz e os patês comprados.
Para a sogra, pedi que trouxesse brigadeiros e bicho-de-pé.
Minha irmã trouxe balas de coco. E bolinhas de sabão.

O bolo, fiz em ainda outro dia, zás-trás, no processador. Bolo de baunilha pau pra toda obra da Alice Medrich, daquele mesmo livro citado antes. Embalei e botei no freezer, e apenas na noite anterior à festa que abri, reguei com um xarope de açúcar a baunilha, recheei com doce-de-leite comprado e cobri com cobertura de chocolate feita com cacau em pó, também da dona Alice, mas do livro Bittersweet. Não foi o bolo mais bonito que já fiz, mas ficou bem gostoso. Tipo um alfajor gigante. ;)

O entretenimento foi a piscininha de montar que as crianças ganharam da Oma no Natal, cheia de bolinhas de plástico coloridas compradas pela internet. E as bolinhas de sabão da minha irmã. E as poucas bexigas que enchi e joguei dentro do chiqueirinho da Laura. E o excesso de energia de crianças com espaço para correr.

A decoração? Festa aqui em casa não costuma ter disso. Decoração, pra mim, é casa limpa. A mesma toalha xadrez vermelha e branca de sempre, que acho festiva. Algumas louças coloridas que tenho. Mas num momento de calmaria, lembrei-me do bloco de papel colorido que há 8 anos habitava minha gaveta. Empilhei tudo, cortei com estilete em triângulos e grampeei numa linha qualquer. Bingo: bandeirinhas coloridas. Um trabalho de meia hora para um visual festivo. Senti-me super orgulhosa do feito e meus filhos adoraram.

De bebida, cerveja, suco de laranja e água de coco.

Parece muita coisa quando escrevo, mas considerando as festas a que eu tenho ido, ficava com a sensação de que era muito... pouco. Mas se eu tinha intenção de passar por esse processo com sossego ou mesmo fazer mais (juro que eu quis planejar lembrancinhas. Ou comprar guardanapos coloridos. No fim, quem comprou copinhos foi minha mãe), o universo foi muito sacana comigo. Primeiro, me deu um bom trabalho, mas com um prazo metade do prazo mínimo que costumo dar para esse tipo de projeto. Com ele, vieram as reuniões em São Paulo e até em Belém, ainda que o avião tenha pousado primeiro em São Luís por causa da chuva e por lá ficado por cinco horas, além da uma hora e meia de atraso que tivera para sair de Guarulhos.

E eventos na escola e reunião de pais, que me tomaram tempo de trabalho, que tive de compensar em horários em que pretendia cuidar da festa.

Daí que no meio da semana anterior à festa, Thomas pegou um febrão inexplicável, que só deu sossego no dia de seu aniversário, ainda que eu o tenha mandado à escola meio borocoxô, para cortar o bolo de chocolate que fiz com o coração na mão. Queria muito que ele se divertisse um pouco. E ele parou de comer. E de beber água. E eu comecei a ficar louca de preocupação. E depois de muita atenção e tentativa de traduzir o pouco que ele andava falando, pensamos: são os molares terminando de nascer. Aí vieram as aftas. E quando falei com o pediatra, ele explicou que era estomatite. Comum, aparentemente, principalmente quando nascem os dentes, pois a resistência baixa.

E quando vem a festinha, ele se diverte, mas não come. Passa o dia todo com o mesmo pão de queijo na mão, e mamãe de coração partido, vê quando ele distribui brigadeiros para a festa inteira mas não come nenhum. Mas me delicio com sua felicidade ao receber os presentes. Eu, tentando me distrair do fato de que todo aquele trabalho que eu tivera não estava beneficiando meu filhote, que estava doente e amuado, esqueci-me até mesmo de tirar fotos.

A festa é boa, a comida dá certo, povo parece se divertir. Eu, de coração partido por Thomas não ter comido dos pasteizinhos que ele mesmo fez, passei uma noite insone. E na noite insone, fiquei pensando nas conversas que tivera sobre festas feitas em casa, e decoração, e lembrancinhas, e toda a sorte de coisas que eu não fizera. E senti-me completamente inadequada. E me incomodou o fato de estar incomodada. Quando minha irmã me perguntou qual era o tema da festa, respondi: colorido. E qual o esquema de cores? Pra comprar os papeizinhos da bala de coco? Ahn... colorido. Cores. Sei lá. Festa de criança da nossa infância. E pensei que se meus pais alguma vez fizeram uma festa para mim com tema de qualquer coisa, eu não me lembro. A única lembrança forte de aniversários de infância que tenho é de uma amiga de minha mãe passar a tarde toda na cozinha batendo papo e ajudando a enrolar brigadeiros. E essa é uma lembrança muito querida, pois para mim queria dizer dia de festa. Como as frutas espalhadas pela casa no Natal.

E pensei que poderia ter feito muito mais pela festa do meu filho. Mas teria sido uma droga, pois ele estava dodói.

No dia seguinte, Thomas, Laura, papai e mamãe fazendo guerrinha de bolinhas na piscininha. O pequeno, enlouquecido com seus dragões novos. A pequena, no entanto, é quem se anima com o patinete, empurrada pelo papai. A futura skatista da família, minha Laura. Brinca-se horrores. Tiro todas as fotos que me esqueci de tirar na festa. Thomas de bom humor. Tasca remédio. Ele consegue comer alguma coisa. Prova um pastelzinho. "Delish!", diz, sem conseguir pronunciar "delícia". Passa patê nas torradinhas e distribui para papai e mamãe. Janta iogurte caseiro. Está radiante com o dia de brincadeiras.

Melhora mais um pouco no dia que se segue. Quer almoçar brigadeiro? Manda bala. Felicidade é vê-lo comer, graças a deus. Alívio.

As bandeirinhas continuam lá. Ainda não tive tempo de tirá-las. A piscininha de bolinhas ficou montada por três dias. Desde a festinha ele não quer ver desenhos, apenas brincar com os brinquedos novos. Fico orgulhosa de vê-lo emprestar alguns para a irmã.

Para sempre vou me lembrar desse aniversário corrido, feito às pressas, com aniversariante doentinho que me deu uma dor imensa no coração. Mais do que isso, no entanto, vou me lembrar das interjeições de alegria ao vê-lo abrindo os presentinhos e seu olhar de incredulidade ao perceber que aquilo era dele. Ou de sua alegria nas brincadeiras do dia seguinte, família toda junta.

Pergunto-me do quê ele vai se lembrar, se é que se lembrará de alguma coisa. Se vai ver o video do parabéns e se perguntar do por quê de estar chorando. Ou se vai lembrar do dia em que fez pasteizinhos. Ou da bandeirinha tosca da mamãe.

PASTEIZINHOS DE PALMITO
(de uma edição antiga da Cláudia Cozinha)
Rendimento: cerca de 30 unidades

Ingredientes:
(massa)

  • 2 xic. farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) sal
  • 1/2 xic. manteiga sem sal, gelada
  • 1/2 xic. água gelada

1 gema
(recheio)

  • 1 cebola picada
  • 2 colh. (sopa) azeite
  • 150g palmito em conserva escorrido e picado
  • 3 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 3/4 xic. leite
  • sal a gosto
  • 3 colh. (sopa) salsinha picada
  • 2 gemas para pincelar


Preparo:
(massa)

  1. Misture a farinha, o sal e a manteiga em cubinhos e esfregue com a ponta dos dedos até obter uma farofa. Junte a água e a gema e misture com um garfo, até obter uma massa homogênea. Cubra com filme plástico e deixe descansar na geladeira enquanto faz o recheio.

(recheio)

  1. Numa panela, refogue a cebola no azeite por dois minutos. Acrescente o palmito e mexa bem. 
  2. Misture a farinha com o leite e junte à panela. Cozinhe, mexendo sempre, até engrossar ligeiramente. Tempere com sal e junte a salsa. Deixe esfriar.

(montagem)

  1. Aqueça o forno em temperatura média (180ºC). Abra a massa com um rolo até obter uma espessura de meio centímetro. Corte a massa com um cortador redondo de 9cm de diâmetro (você pode juntar as rebarbas e abrir de novo, para obter mais pastéis).
  2. Recheie cada roda de massa com 1 colh. (chá) da mistura de palmito. Pincele as bordas da massa com um pouquinho de água, e feche em formato de meia-lua. Pressione as bordas com um garfo e coloque o pastel na assadeira. 
  3. Pincele os pastéis com as gemas batidas e leve ao forno por 25 minutos, ou até que estejam levemente dourados. Sirva-os quentes ou deixe que esfriem completamente, guarde em um saco plástico e leve ao freezer por até 3 meses. Basta reaquecê-los em forno médio por alguns minutos.


BOLINHO DE MANDIOCA (ou mandioquinha)
(de uma edição antiga da revista Cláudia Cozinha)
Rendimento: cerca de 60 unidades

Ingredientes:

  • 1kg de mandioca limpa (ou mandioquinha)
  • 1 ovo
  • sal a gosto
  • 2 colh. (sopa) salsinha picada
  • 1 xic. farinha de trigo
  • 1 xic. queijo mussarela cortado em cubinhos
  • 2 ovos batidos ligeiramente, em uma tigela
  • 1 xic. farinha de rosca, em uma tigela
  • óleo para fritar


Preparo:

  1. Corte a mandioca em pedaços, descasque e cozinhe em água suficiente para cobri-la, até ficar macia. 
  2. Escorra e amasse ou esprema no espremedor de batata (ou passa-verdura) para obter um purê. 
  3. Misture ao purê o ovo, a salsinha, sal a gosto e a farinha de trigo. 
  4. Com mãos untadas, ou duas colherinhas de chá, faça bolinhas de meia colh. (sopa) da massa, coloque dentro um cubinho de queijo e feche bem. 
  5. Passe as bolinhas nos ovos batidos e em seguida na farinha de rosca. Reserve em uma assadeira as bolinhas prontas. (Se quiser congelar, leve a assadeira ao freezer por cerca de 2 horas, então retire e coloque as bolinhas congeladas num saco plástico fechado, no freezer, por até 3 meses. Frite-os ainda congelados.)
  6. Frite em óleo quente poucas unidades por vez, até que as bolinhas dourem por igual. Escorra em papel absorvente e sirva quente. 

Cozinhe isso também!

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