segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Manteiga versus Margarina

A Márcia, do Fouet, Roux et Demi Glace, fez-me uma pergunta que achei melhor responder num post, comprida que é a resposta. Por que eu não como margarina nem amarrada?

Antes de qualquer coisa, preciso dizer que como sim margarina, cada vez que compro um pão de padaria ou um docinho, em que deveria ser usada a manteiga mas em que suas quantidades tornariam o preço do produto impraticável. Não tem jeito, a não ser que se faça tudo em casa, você sempre vai acabar comendo o que não quer sem saber (ou sabendo e fingindo que não liga).

Mas (ahá!) eu SINTO a diferença. Lembro-me até hoje de um dia de calor em que ri muito de um amigo que comprou um picolé de brigadeiro e, logo após a primeira mordida, soltou a frase: "hmmmmm... gostinho de gordura hidrogenada!". Estamos tão acostumados a comer porcaria, que fica difícil treinar o paladar a diferenciar uma gordura saborosa de uma simplesmente mais barata para a indústria. Mas quando começamos a cozinhar e usar ingredientes de primeira, seu cérebro parece ativar uma parte nova que diz "ah, é esse o gosto que massa folhada deveria ter!". E fica fácil identificar uma massa sem manteiga, um sorvete sem gemas, um chocolate sem manteiga de cacau.

Não falemos da diferença de GOSTO entre manteiga e margarina. É óbvio demais dizer que uma é infinitamente superior à outra. Não falemos também de uma ser mais saudável do que a outra, pois esse tipo de atestado científico muda a cada ano, deixando cozinheiros e cardíacos mais confusos que cego em tiroteio. Eu acredito no paradoxo francês, e não creio que manteiga possa fazer mal se você tem uma dieta rica em vegetais, faz exercícios e come moderadamente. Meu grande problema com margarina e outras gorduras vegetais hidrogenadas está, literalmente, na boca. A manteiga quebra-se em saliva humana. A margarina não. Simples assim. O que quer dizer que a primeira, e qualquer produto feito com ela, derreterá em sua boca completamente, espalhando sabor pela sua língua e dissolvendo aveludada em sua garganta. Enquanto isso, a margarina e similares não dissolvem, formando uma película em toda a mucosa da boca, insistente, atrapalhando o saborear da comida, o que me lembra aquelas imagens de pássaros cobertos por petróleo. Essa camada viscosa na boca, que se torna cada vez mais evidente conforme você deixa de comer alimentos que contenham esse tipo de gordura, parece além de tudo deixar um retrogosto ligeiramente amargo na boca, outra característica que considero definitivamente repelente.

Outro ponto contra a margarina é de onde ela vem. Pessoas que trabalharam com extração de óleos vegetais variados para cosméticos e afins disseram-me que a margarina é, praticamente, um refugo industrial, o raspo do tacho, o que sobra depois que todo o bom material do óleo já foi separado e vendido. Se isso é verdade eu não sei, vou ser sincera. Nunca fui atrás de comprovação. Mas minha mente é muito impressionável, e depois que eu crio uma impressão negativa a respeito de um lugar, uma pessoa ou uma comida, é MUITO difícil mudar minha opinião, mesmo que eu SAIBA que estou errada. Foi assim com frango: depois que soube dos antibióticos, adquiri um nojo inenarrável de frangos e nunca mais os comi, mesmo os orgânicos. E foi assim que comecei a parar de comer carne. Margarina está para mim, então, fora de cogitação. Gosto de comprar tabletes de manteiga os mais branquinhos, pois têm mais gordura e menos soro de leite, e que listem apenas "creme de leite" como ingrediente. E ninguém nunca vai me convencer (NUNCA!) a comprar uma margarina com sabor de azeite (!!!!) ou sabor peru (que, tenho certeza, é o produto mais nojento de que já tive notícia).

No entanto, são escolhas pessoais. Se você não pode, de jeito nenhum, comer manteiga, então não pode comer manteiga. Fazer o quê? Digo e repito: tenho autorização do meu médico para abusar do meu amor pela manteiga (hehehe), já que só como gordura animal em laticínios. Meu tio certa vez tentou fazer uns biscoitos que minha avó costumava preparar quando eu era criança; mas não podendo comer nem gordura nem laticínios, tentou substituir a manteiga pela margarina. É claro que não deu certo. Não ficou nem parecido. Principalmente porque minha avó não usava manteiga: ela usava banha. Mas isso é outra história.

Cozinhe isso também!

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