segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Eu não acredito em calorias 2 - Gordura

Há alguns anos, depois de me afundar no trabalho e acompanhar meu namorado em suas constantes incursões no reino obscuro da Junk Food, tentei perder os vários quilos ganhos com donuts e sorvetes da maneira tradicional: franguinho grelhado com salada. Lembro-me de ter entulhado a despensa e a geladeira com margarinas, leite e iogurte desnatado, dezenas de pés de alface e uma centena de produtos light. O resultado da empreitada foi uma perda insignificante de peso, já que eu tinha pouco tempo para me exercitar, e a falta de sabor do alface com limão, laticínios light e frangos grelhados à seco, faziam com que eu comesse mais para me satisfazer e compensar a frustração. Para não dizer que a experiência foi de todo ruim, ela me levou aos livros de receita, pois estava convencida de que a menos que criasse um "molhinho light" diferente todos os dias, não suportaria aquilo por muito tempo (devo dizer que mesmo o gostoso peito de frango ao molho de laranja não me manteve na dieta por muito tempo).

Pouco depois começaram a surgir na mídia polêmicas reportagens sobre o Paradoxo Francês, fenômeno que atinge todos os países mediterrâneos (em especial França e Itália) e que fala sobre a quantidade ínfima de doenças do coração e obesidade nesses países, apesar do consumo alarmante de gorduras consideradas ruins e os "temidos" carboidratos. Os franceses, por exemplo, consomem mais manteiga anualmente do que os americanos. Por que então a França não é nação mais gorda e doente do mundo? Há quem diga que é o consumo de azeite de oliva (no caso dos italianos) que os salva, há quem defenda que o vinho bebido durante as refeições tem uma substância que ajuda a diminuir a absorção de gordura saturada, e há quem fale que é genético e pronto.

O que me interessa é o ponto de vista daqueles que defendem que a RELAÇÃO dos franceses e italianos com a comida é diferente: eles fazem questão de usar ingredientes de qualidade, de gastar tempo preparando uma boa refeição, de sentar à mesa com a família, e priorizam a qualidade em detrimento da quantidade, mesmo em restaurantes, ao contrário dos americanos, inventores do "por mais 35 centavos você leva a porção dupla". O principal é que a comida não é um prazer proibido, que gera culpa, mas um ato de amor próprio, pois envolve cuidado, atenção, prazer sincero. Se o prato foi feito com ingredientes excelentes, excutado maravilhosamente, resultando em uma refeição esplêndida mas em uma porção NORMAL, você não vai engoli-la com pressa, mas saboreá-la, criar uma estratégia para fazê-la durar mais, pensar em qual parte será sua última garfada, porque você quer aquele gosto perdurando na sua boca. Se o prato não tem gosto de nada, você o engole rapidamente, pois não há nada a ser apreciado, e, por isso, come mais, ou acha que precisa comer mais para se sentir satisfeito, já que sequer deu tempo a seu cérebro para que ele processe a informação daquilo que está ingerindo.

Depois de minha viagem à Itália, percebi que isso era verdade, e que eu podia comer deliciosos pratos de massa todos os dias, com queijos e vinhos, e gelati fresquíssimos, sem me sentir uma porca glutona, pois as porções eram surpreendentemente pequenas em relação ao que se serve nas supostas "trattorias" de São Paulo. Voltei decidida a banir qualquer coisa remotamente light da minha vida, e trazer de volta o sabor da manteiga, do iogurte integral, dos queijos, dos doces feitos em casa.

Minha mãe uma vez ficou abismada com a quantidade de ovos e manteiga consumidos em minha casa. Confesso: são aproximadamente 4 barras de manteiga e 2 ou 3 caixas de ovos, mensalmente, para duas pessoas. Mas defendo-me: o único doce industrializado comprado por mim é o ocasional sorvete (já que meu namorado continua rejeitando o meu); faço tortas regularmente, e suas massas e recheios requerem muitos ovos e manteiga; meu freezer não tem mais que hambúrgueres de soja e ervilhas, e, a não ser em situações emergenciais, jamais haverá um prato comprado pronto em minha geladeira. Eu consumo em matéria-prima, na verdade, provavelmente menos do que as pessoas consomem em gordura hidrogenada em seus pratos prontos congelados e comidas processadas.

Aliás, essa foi minha doce vingança em duas partes: a primeira, foi fazer um check-up e ouvir de meu médico que meu colesterol ruim está normal e meu bom está altíssimo (viva o azeite extra-virgem!). Ele ainda tentou me convencer a diminuir a gordura, mas quando lhe disse que era vegetariana, ele riu e disse "então esqueça, continue do jeito que você está". A segunda foi a notícia oficial daquilo que eu já sabia por fontes obscuras: que a gordura vegetal hidrogenada, usada em TODOS os alimentos que deveriam ter gordura animal como matéria-prima (mas não têm, pela gordura animal ser mais cara), faz muito mais mal à saúde do que nossa proscrita manteiga. E digo mais: meu sonho é ver as manteigas nacionais alcançarem a excelência da manteiga italiana, com 83% de gordura, tornando-a tão branquinha que parece leite sólido (se quiser ver a diferença, vá ao mercado e gaste 15 reais em um potinho de manteiga Soresina).

Viva a manteiga! Viva a gordura! Porque sem ela não absorvemos vitaminas! (há! Sabia disso?)

Se quiser saber mais sobre o Paradoxo Francês, leia o excelente artigo de Jeffrey Steingarten, em O homem que comeu de tudo. E se quiser mudar seu jeito de ver a comida, leia o livro Mulheres francesas não engordam, de Mireille Guiliano, que ensina a dieta e a relação com a comida das mulheres francesas. E claro, continue lendo meu blog!
Veja o site de Mireille: http://www.mireilleguiliano.com/

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